quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Dita...

Amor bandido escuta o quê eu digo, eu continuo vivo tô falando contigo
Copacabana tem aquela má fama, mas dá muita grana trepar com bacana
Honorário farto o ano inteiro esperar pelos gringos chegar fevereiro
Febre da selva favela de pedra noite suja nome de guerra
Nossa Senhora Barata Ribeiro tecla virtual quanto puteiro
Banho de espuma que porra nenhuma quem não cheira fuma não se apruma
Ipanema Gávea Barra Leblon promessa de muito ganho pura ilusão
O leão de chácara vai te esperar até o último centavo nada irá sobrar
Tá na resenha da luta ferrenha ponha camisinha não fique prenha
Escravas brancas cabelos louros, escrava negras, boca de ouro
Um anjo um broto que já nasce morto pensamento torto clínica de aborto
Cargo chulo carro de luxo o lucro é pouco mas tem muito custo
Caia na agência, sem experiência rosto bonito dê a preferência
Bunda de saúva você tá uma uva, mas vai ficar viúva cedendo à vulva
Arrebenta o hímen da virgem feliz agora um clitóris de qualquer infeliz
Fetish script boquete internet mundo hi-tech AIDS site kitinetch
Regime detenção semiescravidão na lei do ilegal também tem exploração
O dia inteiro num apartamento o telefone toca a qualquer momento
Direto pro motel fora do bordel sem a proteção do Arcanjo Miguel
Beijo na boca é o que gama o demente na cama ele diz que te ama
Dependente químico paciente clínico usuário do crônico do caixa eletrônico
Quando o corpo murcha você cai na pista dar pra taxista brigar com as bichas
Minissaia preta, vermelho batom em frente à praia azul gás neon
Polícia militar polícia civil faz o que faz e diz que ninguém viu
Meu bem toma cuidado com a playboyzada que quando drogada quer dar porrada
Hoje a sua foto nos classificados logo mais você num bar de viciados
Puta rampeira acordada a noite inteira a mesma choradeira cheia de olheira
Oh! Dita me liga me diga como você tá como é que vai a sua vida?
Dita me liga
Dita me diga
Como vai você
Como é que vai a sua vida?
Eu já não posso mais julgar ninguém o sexo é a sua arma é o que você tem
Eu sei que nunca terá uma justificativa o que no desespero é uma alternativa
A sua amiga diz para sair se divertir vamos curtir! Vai ficar parada aí?
A mente padece a vista perece o corpo fenece a gente falece
Na loja do shopping a grana não via o salário não rendia a maior covardia
Eu ainda tô moço e cachorro quer osso não dá pra viver sem um puto no bolso
Seu tempo é louco e ainda e já é tarde pra estudar esperar faculdade
O segundo grau feito nas cochas nem que a prova fosse tão frouxa
Sua família não pode esperar comidas e roupas contas pra pagar
Você não confiou não acreditou em mim e a sua ansiedade decretou o nosso fim
Com uma dor no peito eu sigo cantando pra que nossa gente continue respirando
Um abraço na minha tia outro na sua irmã a minha Pingalã garanta o seu dia de amanhã
Ouça o meu coração e fique sabendo que por mim você não estaria se vendendo
Eu fiz o que pude o que eu pude eu fiz desculpe se não deu para fazer você feliz
Eu não sei o que é pior eu não queria estar só o caminho mais rápido nunca é o melhor
Tempo perdido vida bandida algo de errado, tendência suicida
Eu perdi você para o dinheiro o que posso dizer cuide bem dela parceiro
Conto urbano poesia urbana criaturas da noite a primeira dama
Santa Rita Escrava Anastácia Escravo de Ogum Santa Engrácia
No antebraço a tatuagem no canto da sala a tua imagem
Mas a que fica na minha lembrança é a daquela garota cheia de esperança
É muito difícil trair os meus princípios com seus artifícios de parco sacrifício
Eu sei como é que é a vida de gente pobre cada um se vira da maneira que pode
E o que a gente capta dessa bravata é que ninguém gosta, todo mundo se adapta
Oh! Dita me liga me diga como você tá como é que vai a sua vida?
Dita me liga
Dita me diga
Como vai você
Como é que vai a sua vida?

A Menina Branca da Piscina...

A menina da piscina é toda branca

E faz de tudo para pegar uma cor

Ah, se a água da piscina fosse santa

Se fosse santo esse seu bronzeador

A menina da piscina é muito branca

Mas eu sei o quanto ela quer se queimar

Com o fone no ouvido ela canta

Enquanto passa o seu protetor solar

Eu vou viver no fundo dessa piscina

Eu vou viver alucinado pelo cloro

Eu vou viver bem dentro dessa menina

Eu vou viver dentro de quem tanto choro

A menina da piscina é tão branca

E vê no mar uma bela tatuagem

Subo de escada ou então pulo da prancha

Fico na borda à mercê da sua margem

A menina da piscina é demais branca

Só que tem óculos de sol e viseira

Eu tenho um preto excluído na garganta

Desses que estão cansados de viver à beira

Eu vou viver no fundo dessa piscina

Eu vou viver alucinado pelo cloro

Eu vou viver bem dentro dessa menina

Eu vou viver dentro de quem tanto choro

Amor Internacional...

Eu sou brasileiro
Ela é portuguesa
E com sua pele alva
Ela parece uma princesa
Ela é do tipo
Que pertence a realeza
Ela é frágil igual cristal
Com sua imponente beleza
Ela diz nem por isso
E a gente fica a toa
E vagamos sem rumo
Nessas ruas de Lisboa
Um drible do Ronaldo
Uma frase do Pessoa
Vamos a Cidade Alta
Pra poder ficar de boa
Eu e ela
Um amor internacional
Eu e ela
Paixão transcontinental
Ela me diz que o Rio é gira
Eu digo que é sensacional
Mas é que por você
Eu vou ficar em Portugal
Ela diz que eu sou fixe
E me leva ao seu castelo
Você minha Desdêmona
Sem ciúme eu sou Otelo
Ela me leva a conhecer
O seu universo paralelo
Ela é verde e vermelho
Eu sou verde e amarelo
Eu atravesso um oceano
Eu atravesso os verdes mares
E quando estamos juntos
Vamos a todos os lugares
Eu a levo a Ipanema
Ela me leva ao Algarve
É então que nosso amor
Vai se espalhar pelos ares

domingo, 14 de maio de 2017

Paralamas no Olaria!

>No alto de uma igrejinha iluminada seis horas tocou a Ave Maria que banhou toda a Penha e região. A lua cheia brilhava tremendamente no céu. Era uma noite dessas agradáveis em que se pode respirar o ar puro da Zona-Norte e sentir o odor das flores independente da estação. Antes do show um DJ tocava músicas que se estão por aí “Desde os anos oitenta...” como se diz por aqui. New Wave, Funk Melody, Miami bass. Então rolava Simple Minds, The Smiths, The Cure, Information Society, Stevie B, e com certeza o Toni Garcia deve ter pintado por lá. Havia um clima de flashback no ar... Os mesmos passinhos de antes. A pausa do DJ no mesmo lugar que se fazia na época em que os Paralamas foram lançados. O Olaria estava lotado. A iluminação era ótima. A temperatura da bebida e a simpatia no atendimento também. Quando Os Paralamas entraram no palco me veio à mente aquela época em que eles apareceram, e o Herbert e o Renato Russo, que entre tantos outros bons letristas do rock Brasileiro já eram idolatrados. Mas o clima de nostalgia começa a ser quebrado. E você vai entendendo porque nessas três décadas de historia musical eles estiveram presentes. Na plateia gente de todas as idades. Os músicos da fila do gargarejo com os pescoços esticados e boquiabertos. As músicas recentes, e aquelas que se apresentam como clássicos acompanhados por crianças. “Palavras duras, em voz de veludo, e tudo muda, adeus velho mundo, há um segundo, tudo estava em paz...” e adolescentes roqueiros cantando. Eles são amigos. E tem prazer de tocar juntos. O Herbert é um grande guitarrista que faz arranjos memoráveis para seus shows. O Barone parece uma bateria de escola de samba. As imagens do solo do Barone no telão... E o grave do Bi Ribeiro... Eles tocam com o mesmo fervor de sempre. E se você gosta dos Paralamas vai ao show e ainda se surpreende com os arranjos das músicas. A história no telão sendo passada. E ali embaixo a história da música brasileira acontecendo. Agora não me lembro dos Paralamas terem tocado Uns Dias? Que creio eu dá nome ao show. A versão de Caleidoscópio. A velha guitarra de blues. Ela Disse Adeus. A bateria de Perplexo. Os vocais do Herbert. A sua simpatia jogando as pessoas para cima. Sempre celebrando com palavras de incentivo. O João Fera nos teclados, sempre. Os outros dois amigos do sopro também. Eles nos passam uma boa energia, o grupo todo, os seis. É visível o quanto são amigos. Talvez por isso estejam nesse longo caminho. Eles respeitam o público que deseja ouvir seus sucessos. Ou pelo menos esse show é isso. E eles tocam Meu Erro e Lanterna dos Afogados com o mesmo apreço. O Calibre... que rock and roll! E Trac-Trac ao vivo? É lógico que também gosto de Brasília, O Trem Da Juventude, e Foi O Mordomo... Músicas que não sei com qual frequência os Paralamas tocam. E aquela guitarra de Herbert que acompanha os sopros de O Beco? Tudo ao vivo é jogado para cima e executado com precisão, como dizem. Herbert acenou para a rapaziada e olhou nos olhos das pessoas. Enquanto alguém empurrava a mesma cadeira a qual ele se refere, “em cima dessas rodas também bate um coração.” Alterando a letra de óculos. Eles tocaram tanto, e de repente acabou. Passou rápido. Deu esse gostinho de quero mais...

sábado, 6 de maio de 2017

Férias na Prisão!

Quando ele chegou à cadeia a primeira frase que ouviu foi: no crime todo mundo tem um vulgo! Ele ficou entre Ode. E Brecht. Ele escolheu o dramaturgo. Antes do almoço, Fernandinho Beira-Rio companheiro de cela de Brecht disse. Vai rolar um aperitivo, uma cachaça de arroz... Depois da bóia rola um fino de cadeia, o digestivo. O homem magro e de óculos. Disse: não, obrigado... Se tivesse uma pancadinha de Uísque. Fernandinho disse. Uísque é horrível! É pior que cachaça! Brecht perguntou à Beira-Rio. Porque você tá aqui? Tráfico! E você? Por causa do meu vício! Qual? Beira-Rio pôde ver o olhar lunático de Brecht para as grades, ele disse. O meu vicio era comprar as pessoas. Eu estava viciado em comprar as pessoas. Um amigo seu da firma disse isso no depoimento, Beira-Rio respondeu. Ele disse que o pessoal da empresa estava viciado em comprar os outros. Eu vi na Globonews. Beira-Rio balançou o cigarro. Quando a gente olha pra você não imagina que tenha esse poder todo! Nem eu quando comecei imaginava que pudesse ter esse poder todo. Você não entendeu... Eu era o homem da mala preta. E chega uma hora que você não tem mais quem comprar, e você fica de saco cheio! É fácil demais... É como um jogo. Depois que você conhece os macetes. E que não tem mais para onde ir, você começa a se sentir entediado. Eu não aguentava mais aquela mala. Ela havia se tornado pesada demais. Era hora de dar a vez para outro. Beira-Rio disse: você tem que me contar uma coisa. Advinha sobre o quê é que eu quero saber... Eu quero saber sobre aquelas festas. Eu tinha uma amiga que trabalhava como garota... O carcereiro passou o cassetete na grade. Ele diz: o nosso amigo do Deus Supremo, disse que vai rolar um habeas corpus. O Brecht abre um riso.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Um Livro no Bolso de Trás da Calça...

Um livro na fila do consultório. No elevador. No trem. Um livro no bolso de trás da calça. Ou no bolso de lado da bermuda. Uma edição de bolso. Um pocket book. Você quer um calhamaço ou uma brochura? Eu carrego um tijolão dentro da mochila! Um livro encadernado. Um livro sentado na privada... Eu fico triste por sentir enjoo com a leitura no ônibus. Por isso admiro quem consegue ler em pé no ônibus. E admiro quem consegue ler no trem... Outro dia fiquei impressionado com uma menina lendo andando. Mas a verdade é que eu faço o mesmo quando o livro é bom, e não dá para esperar o trajeto de volta da biblioteca... Um livro dentro do avião enquanto avisos incessantes disputam com a leitura. Um livro como uma única companhia. Numa casa vazia. Ou num leito de hospital... Quantos escritores começaram a escrever quando estavam doentes. Quantos escritores escreveram durante a guerra. E quantos em campos de batalha. Em prisões. Convalescendo. Passando fome. Sem dinheiro no bolso ou na conta. Cegos ditando para os outros. Escrevendo apenas com uma das mãos. Comendo comida de cachorro. Quantos tinham esquizofrenia. E quantos deles tinham depressão, epilepsia. Vícios. Quantos morreram de pneumonia ou tuberculose. E quantos mestres morreram sem ter a oportunidade de publicar um único livro. E quantos não quiseram aparecer. Quantos para que um livro repousasse em nossas mãos... Eu conheço gente que lê um livro de seiscentas páginas de um dia para outro. E não é leitura dinâmica, não. O negócio é sério! Mas dependendo do livro... Eu era só uma criança naquela época. E me lembro como se fosse hoje quando um livro se iluminou em minhas mãos. Eu nunca mais me senti sozinho. Ou entediado.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Mundo Pet...

Junto de uma tomada de consciência maior sobre os direitos dos animais o mundo pet cresceu tremendamente. Hoje se percebe mesmo na televisão onde parte dos noticiários se dedica a vida dos animais. Não a vida dos animais em seu habitat natural ou coisa assim. Mas sim, a vida social do animal doméstico. A sua relação com o seu dono e com o mundo em que vive. Normalmente os donos dizem que os animais os amam e os compreendem incondicionalmente. De maneira que nos dão a entender que nenhum ser humano seria capaz de ouvi-lo como o seu cachorro ou gato. Mas eu cheguei a essa reflexão caminhando pelo bairro onde moro. Pois aqui, como nunca se viu antes, aumentou consideravelmente o número de dejetos de animais nas calçadas. É impossível caminhar sem prestar atenção única e exclusivamente onde se pisa. Esse status social do animal que hoje anda no colo. Veste camisa do time preferido. Tem enterro. Identificação. E creche. Ainda é uma novidade cá por essas bandas. Aquele animal de rua que não tinha pedigree, que era chamado de vira-lata, comia resto de comida, e corria atrás dos carros praticamente evaporou. Ele que era o cachorro da vizinhança. O cachorro de todo mundo. Hoje esse animal seria visto como um mendigo. Um indigente. Como se não fosse ninguém. Alguém que não tem vida, e que não tem uma história. Por falar em indigentes, existem bilhões deles pelas ruas dessa cidade. A maioria pelos mais variados motivos, coroados com algum vício mais degradante que os nossos na esperança de amenizar a dor dessa cidade cheia de órfãos. E por falar em órfãos, existem até casais que brigam na justiça por seus animas, e que obtém a guarda compartilhada. Vou limpar a sola do meu sapato. Até mais...