era um rap. gravei uma fitinha demo. quem conhecia a música a chamava pelo nome de Terra Encantada. mas na verdade a música se chama Uma Jogada Do Destino, porque era o título de um filme que eu gostava. a estória não tem nada demais. um turista se perde, esbarra com um bandido "consciente" (sem piadas, por favor), e vai para o desenrolo. gravei a música com um ódio que nunca mais consegui repetir. como um crente fanático gritava que a gente estava tudo ferrado, e que ia tudo morrer de fome. depois fui descobrir que a maior parte de nós não está nem aí para o apocalipse, ou pra hecatombe que provocamos com nossa indiferença perante a vida. mas gosto daquela performance. depois disso me transfigurei numa porção de coisas, do romântico suburbano ao piadista sem graça. popular ao extremo. obviamente, que essa, por ser a minha primeira gravação, tem para mim um valor sentimental. levava as copias desta fitinha para as rádios comunitárias num tempo em que praticamente não existia internet. não passei a música para o CD. ela é de uma época em que me perguntavam: você é do hip-rock? eu parava festinhas juninas, e festinhas de pegação em escolas para gritar palavras de ordem! e assim como um Tim Maia raquítico, e anônimo, abandonei palcos. fui expulso. boicotado. fiz inimigos. dei lição de moral em gente da plateia. parei bailes funk. bailes charme. festivais de rock. importunei pessoas. quanta besteira, meu deus! quantas vezes desafinei no underground, como diz meu tio músico, e sai do tempo com essa mania de querer fazer, apesar de tudo. mas se algum doido que não consegue se desfazer das coisas, não por sua qualidade, (risada nervosa.) e sim pelo valor emocional que elas têm, e se tiver uma fitinha dessas, ou se tiver esse material digitalizado, entre em contato comigo. não tenho a música porque assim como hoje, naquela época acreditava que tudo é o registro de um momento, e por mais que não seja perfeito, é para ser compartilhado com os outros, para que eles possam compartilhar comigo também. mas, nem a esperança, nem o texto, morrem com o ponto final.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
domingo, 21 de julho de 2013
Recorde de Curtidas do Facebook é de um Brasileiro!
Eugênio é um pacato garçom de 23 anos, carioca, e morador do bairro da Penha no subúrbio. mas ele tem uma façanha histórica para o mundo moderno. conseguiu ficar sentado durante vinte e quatro horas consecutivas, compartilhando, curtindo, compartilhando, e consequentemente sendo curtido. o primeiro desses recordes estranhos do mundo virtual, era de um australiano que havia ficado o mesmo tempo que Eugênio em frente ao computador, só que tuitando, que atualmente já é um verbo reconhecido pelo corretor ortográfico. Eugênio preferiu o micro tradicional aos outros aparelhos, pois o australiano do Twitter havia feito o mesmo. talvez para dificultar um pouco. lógico que tanto o brasileiro quanto o australiano tiveram uma boa alimentação, eram hidratados de hora em hora, e passaram por uma correção da postura corporal. eles urinaram através de uma sonda. mais nada seria permitido pelo motivo óbvio de tomar mais tempo. também foram acompanhados por nutricionistas semanas antes das respectivas empreitadas. e uma junta médica os acompanhou durante a prova. perguntei a ele como foi ter que compartilhar tudo, até coisas com as quais não concordava? ele disse: foi como tratamento de choque, rapaz, lobotomia. troço pesado. Eugênio tuitou desde coisas como gente xingando deus, pornografia, e apologia ao crime e as drogas. até mesmo curiosidades como a filha pedindo a mãe para dar uma ligada para ela, ou uma irmã pedindo ao irmão que pusesse o feijão no fogo. e muito adolescente se dizendo entediado na própria internet. que nas palavras de Eugênio serve para matar o tempo. a diversidade religiosa do brasileiro também foi uma das coisas que o assustou. pois ao mesmo tempo em que uma pessoa compartilhava algo extremo sobre sua religião, vinha outra pessoa compartilhando algo no mesmo nível sobre a sua. Eugênio disse ainda que no mesmo momento em que repassava um baita protesto pelos direitos dos gays, vinha um homofóbico atrás, algo bem radical. ele disse não ter parado para pensar que isso existia com tanta intensidade no Brasil. essa diversidade, brasileira. perguntei a ele: mas porque você fez isso? e a sinceridade não faltou: olha, não vou mentir pra você, não, rapaz. fiz isso pra aparecer, mesmo. não ia ficar famoso. não tenho nada a perder. perguntei a ele: e se alguém quebrar o seu recorde? ele respondeu rindo: invento outro. e para finalizar pergunto: o que ele ganhou com isso? ele diz: apareci na televisão, ora! você veio aqui me entrevistar. não sei se é motivo de orgulho. mas este recorde é nosso!
Que Porra é Essa de Funk Ostentação?
ligo pro meu pai. pai, tudo bem? ele diz: fala! pergunto: o que é funk ostentação? ele responde. num sei não, aí. e me pergunta: era só isso? digo: só. ouço o sinal de desligado. depois eu ligo prum amigo gangsta rap. digo: e aí, cara, tranquilo? ele diz: tranquilo. pergunto: o que é funk ostentação? ele rebate: qual é, cara? tá me tirando! ouço o sinal de desligado. viro para o lado. balanço minha mina. pergunto: o que é funk ostentação? ela pergunta: que horas são? digo: cinco da manhã. ela se vira. resolvo ligar pra minha irmã. aqui é o irmão, me responde uma coisa, o que é funk ostentação? ela diz: vai a merda cara! ouço o sinal de desligado. ela se vira para o lado, e responde: era um babaca se passando por meu irmão, meu irmão tá nem aqui, meu irmão tá lá na Antártida!
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Whisky Nacional é Cachaça!
tem um vândalo no meu portão. tenho andando com medo dos vândalos, doutor. não consigo mais sair de casa, doutor. tenho medo de quebra-quebra. a televisão me diz que os vândalos estão chegando, doutor. o Brasil é um país pacífico... o estado não vai permitir que esses vândalos tomem conta da cidade. atos de vandalismos não serão tolerados. o cidadão comum, sabe que esses não são manifestantes e sim, bandidos. criminosos. tem um vândalo em cima da árvore. um vândalo depredou o patrimônio público, doutor. um vândalo foi acusado de apropriação indébita. o patrimônio público não pode ser depredado. o nosso país é um país livre, doutor. os vândalos tiram o nosso direito de ir, e vir. um vândalo matou... não, doutor, um vândalo não matou. mas é de matar. tem um vândalo sentado na praça comendo pipoca. tenho pesadelos com vândalos, doutor. eles descem de helicópteros. saem dos esgotos. tem um vândalo com uma camisa do Papa. quem sabe um vândalo peregrino. os baderneiros e os vândalos estão provocando arruaças. tento dormir. não consigo. ouço aquela voz vinda debaixo da minha cama. vândalos... vândalos... e aí coloco o meu travesseiro na cabeça. teremos uma comissão para cuidar dos atos de vandalismos. tem um vândalo mascarado no meu espelho. o vândalo mascarado fumando charuto, dá um trago no Whisky, cospe e diz: eca, nossa, Whisky nacional é cachaça!
A Molecada do Lava a Jato...
...sempre tem um sofá e um sonzinho rolando ao fundo. na maioria rola Racionais, ou Arlindo Cruz de leve para não contrariar ninguém. ah, às vezes, funk. mas dependendo do dono rola até uma Plebe Rude, Black Alien, eu já ouvi. encosta a tua bike, senta naquele sofá e fica a tarde inteira. depois do almoço, é claro. olha pro valão em frente, e sente aquela fedentina, olha para a parede em frente, e diz: que merda. de vez em quando alguém fala: me empresta a bike que eu vou dar um pulo na farmácia. some na esquina. e você apenas balança a cabeça. as vezes a rapaziada do lava a jato mergulha num silêncio prolongadíssimo. as vezes depois da rodada de domingo todo mundo dana a falar. as vezes no final de semana rola um churrasco. uma churrasqueira, e um isoporzinho. as vezes cola até algum velho que fica jogando buraco na praça. algum velho que não conseguiu entrar na internet. como dizem. mas a molecada do lava a jato está sempre ali. naquele sofá, faça chuva, ou faça sol. me empresta a bike aí que eu vou lá no meu primo pegar a máquina de cortar cabelo!
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Eu Sei que Eles Sabem que Eu Existo!
eu pergunto a minha mina. você viu um furgão lá fora? digo olhando pelo canto da cortina. ela diz: deve ser a CIA atrás de você... ela abre a janela, que calor aqui... que cheiro ruim! tudo fechado. eu me jogo no chão e ponho a mão em frente a boca como fazem os jogadores tentando evitar a leitura labial. falo por sussurros. devem existir escutas por toda a casa.... ponho o telefone no ouvido e ouço um chiado ao fundo. ela me diz: você tá delirando! eu digo: tô cercado! os meus companheiros me abandonaram... ela diz: é impressão sua, amor. eles me boicotaram. disseram que eu sou um dissidente. entrei para a lista de traidores. ou será que eu sou apenas um capital dissidente? não sei! não rolou nem um sentimento de classe. consideração racial ou algo que o valha. disseram que sou uma ameaça. falo por códigos. sinais. driblo. não posso ser muito explícito para que não me descubram. passo na rua. alguém diz: esse cara com essa mulher de cabelo vermelho, não sei não! eu me escondo no supermercado. a câmera do supermercado me persegue. eles sabem que envio mensagens secretas. sou censurado. torturado. quero ir exilado para a França, Estados Unidos, Inglaterra. eles vigiam os meus passos. o meu vizinho me espreita do olho mágico na madrugada. alguém diz: é um artista do bairro que sequelou. outro diz: incapaz de fazer mal a uma formiga! alguém diz: tem de se relacionar. eu digo: sou tímido. o rapaz que recolhe o lixo faz sinal para alguém quando eu passo. o mesmo acontece com o cara falando no orelhão. o entregador de flores parece me apontar. mas um passarinho me traz notícias de campo da fronte. do campo de batalha. onde sempre há algo novo. ele me diz: você foi citado. eu digo: sério? ele diz: sério, num relatório da ONU! Obama tá na tua cola, malandro! eu digo: mentira! ele diz: eu lá sou homem de jogar conversa fora, rapaz!? tem caroço neste angu.... e eu vou descobrir o que é. ele reforça: aí, tem! eu digo: já avisaste ao Joaquim Barbosa? ele diz: sim. mas não mija fora do penico, não, rapaz, se não a coisa esquenta pro teu lado! vai sobrar pra mim, e não há quem te tire de lá! eu pergunto: batata? ele diz: batatíssima! eu digo: você vai me ajudar. ele diz: eu sou bem relacionado no jet set, como você sabe. vou ver o que posso fazer por você. mas não prometo nada! ele pigarreia, e diz: mas por enquanto segura a tua onda, que a tua batata tá assando! a minha mina diz: elas têm alucinações. e amigos imaginários. (e inimigos também, ela pensa). eu digo: amor, é verdade, o meu amigo intelectual, ele não cresce! ele nunca cresce! permanece do mesmo tamanho. com a mesma idade, desde que eu o conheci!
quarta-feira, 17 de julho de 2013
O Caçador de Androides - Philip K. Dick
eu li o caçador de
androides. e gostei da caixa de empatia. do Mercerismo. ou seria Cristianismo,
Budismo, ou Islamismo... são metáforas do livro. e o teste Voight-Kampf para
detectar os androides que ao que me parece são psicopatas, assim com a maioria
de nós, que assim como psicopatas, nós homens da sociedade moderna somos mais
inteligentes. e o preconceito contra os especias, que ao que me parece tem uma
especie de esquizofrenia. assim como a maioria de nós. eu sei disso porque me
observo. e o observo os outros. ainda existem homens "santos" que
conseguem suportar todo esse estresse de viver numa grande cidade, competitiva,
perigosa e veloz. as vezes corremos sem saber porquê. e na maioria das vezes
nossa correria não nos leva a nada. ao invés de desejar mais, desejar menos,
cada vez, menos. mas com a mídia nos aplicando um tratamento de choque, em que
logo depois caímos numa Síndrome de Estocolmo amando aos nossos inimigos. mas
na maioria das vezes, reagimos de maneira violenta. temos uma crise dos nervos,
entramos numa escola atirando, temos um enfarto, ou esganamos o pescoço mais
próximo. a gente segue comendo mais, bebendo mais, fantasiando mais, se
drogando mais, trepando mais, consumindo mais, rezando mais, fazendo cada vez
mais festa, e se entediando cada vez mais com todo o excesso. pois ninguém pode
ser tão feliz. a nossa caixa de empatia é a nossa caixa de remédio tarja preta.
é só engolir uma pílula. assim que funciona a caixa. é só apertar um botão. até
a nossa tristeza normal, por causa do nosso vazio que a certeza da morte causa,
estamos tratando com remédio. seja ele, sexo, cerveja, videogame,
antidepressivo, ou esporte radical. para um tratamento com menos drogas é
preciso tempo. e tempo é tudo o que nós não temos. pois somos uma sociedade
dedicada ao prazer imediato. você pode até trepar com uma androide como fez
Rick Deckard. não, é verdade? quantas pessoas acordam todos os dias ao lado de
androides. androides com botox, bombas, enchimentos, silicones, recauchutadas,
reinventadas, plásticas. bonecas infláveis. assim como no Mercerismo nos
ligamos a todos. todos estamos conectados a internet que funciona como uma
espécie de inconsciente coletivo. virtual. física quântica. androides incapazes
de formular um raciocínio assim como os nossos analfabetos funcionais que
acreditam no que o repórter, ou o pastor diz a eles. que tem como exemplo
de vida o empresário boçal. que teme os vândalos, e os quebra-quebras. o que eu
mais gosto é da depressão do Rick Deckard, e de sua esposa Iran. e a falta de
autoestima que é curada com a compra do animal de estimação. será que Deckard
desejaria tanto qualquer animal de estimação, se eles não estivessem extintos?
é parecido com nosso consumismo que paga por exclusividade. que diz que não sei
o que é uma pedra preciosa só porque é rara. e a nossa incapacidade de lidar
com outros seres humanos, e com outras culturas, descarregando todo nosso amor
aos nossos animai de estimação. mesmo estando conectados com outros seres
humanos 23 horas por dia. o que leva Rick Deckard a entrar em crise, é
justamente uma trepadinha como uma androide. ah, nossos escândalos sexuais, e
quem nunca pecou que atire a primeira pedra! como aquelas atiradas, Wilbur
Mercer. que talvez seja uma fraude. um bufão. apesar de muito coerente em
algumas colocações insatisfatórias. a polícia cobra a Rick Deckard que ele não
sinta empatia por androides, para que isso não atrapalhe o seu trabalho. será
por isso que amamos essas lutas em que se dá porrada no outro, e que o deixa
retardado para o resto da vida, assim como ficou John Isidore. Buster Friendly
que é o comediante que fica vinte e três horas por dia no ar, e que é a pessoa
pública mais importante do mundo, declarou que a terra morreria debaixo de uma
camada, não de pó radioativo. mas de traste. não duvido nada!
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