Ele mastigou duas aspirinas e as engoliu. Sempre fazia isso quando estava com enxaqueca. Nunca ficou provada a eficácia daquilo que a vovozinha que morreu com 100 anos havia lhe ensinado. A saudade da avó o levou a sentir saudade daquela primeira desova. Ele se lembra de ter carregado o corpo por um local ermo até a beira do lago. O mais velho naquela época o havia ensinado a carregar o corpo, e disse: é como carregar sacos de batatas! E essa saudade o levou a sentir saudades de quando podiam levar sacos de lixo pretos e enormes dentro da viatura. Ultimamente até com o kit vela vinham implicando. Uma arma e uma peteca de pó para quem bancasse o engraçadinho com aquele discurso de que eu sou cidadão. Ou de que por alguma espécie de escolha do destino, aparecesse na hora em que as coisas estavam acontecendo. Quando alguém pediu a ele que se levantasse, ele se lembrou daquele jogador de futebol flagrado com o travesti. E de um comentário na internet. Câmera não escolhe quem filmar! E elas também filmam policiais, ele pensou enquanto ouvia a sentença da boca do juiz.
domingo, 9 de setembro de 2012
sábado, 8 de setembro de 2012
Assassinatos
Ele foi chamado no portão da casa da namorada para ajudar a carregar um sofá. Na esquina levou uma porção de tiros. Estava devendo. Ele havia acabado de sair da cadeia depois de amargar uma pena de quase sete anos por roubo. Foi até a padaria com o sobrinho. Queria comer algo. A mãe disse, não vá. Mandaram o sobrinho correr. O menino correu. Ele foi assassinado ali na esquina em frente a padaria durante o dia. Estava devendo. Ele apareceu numa vala. Dizem que estava viciado em crack. E que morreu de overdose. Estava devendo. Ela sumiu e apareceu numa vala. Cheia de tiros. O que chamou a atenção era o fato de ser uma mulher já com certa idade e cheia de filhos. Dizem que era viciada. Estava devendo. Ele jogava bola e fazia uma linha de passe bonita. Foi espancado até a morte a madeiradas. Dizem que saiu com a mulher de um bandido. Estava devendo. Disseram pra gente, ele tá na lista. Eu fiquei com medo de ir embora da festa com ele que foi espancado até a morte. E ainda passaram com o carro por cima do corpo dele. Estava devendo. Ele foi fuzilado, e junto dele um moleque de dezesseis anos que não tinha com o troço. Ele estava devendo. Dizem que moleque não, moleque não estava devendo.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Feliz Dia Da Independência!
Você está olhando para o seu filho no retrovisor. O moleque é o capeta e ele vai enfiar o Ben 10 nos cornos da menina. Você se antecipa a jogada como um bom atacante de futebol. Ele é igual a você quando batia nas criancinhas, a tua mãe diz. Mas foda-se, você era responsabilidade dela e do seu pai nessa época. Então você grita: não faz isso com a tua irmã! Ele recua. Volta com mais força. A menina abre um bocão que ocupa todo o espelho. Parece que vai te engolir. O seu marido enfiou a cara no jornal, e é como se qualquer coisa que aconteça fora daquelas páginas não seja de sua responsabilidade. O príncipe encantado da sua adolescência não está falando com você. E talvez seja por causa dos filhos, como se você os tivesse feito, sozinha, ou como se o que existe de errado com eles fosse justamente herança do teu DNA. Você quer perguntar se ele quer dirigir. Mas essa não será uma boa pergunta, já que pelos cálculos dele, os seus vinte minutos de atraso procurando as tralhas das crianças fez toda a diferença. Vinte minutos antes não havia engarrafamento algum. Você não se imaginou com trinta e poucos anos parada num engarrafamento com um príncipe que está virando um sapo com uma barriga enorme de chopp. Não era essa a viagem dos sonhos com o seu carro novo. Ficar parada durante horas junto de uma porção de gente que você não conhece. E depois levar mais meia hora procurando um local para estacionar. Para chegar numa casa lotada de parentes fofoqueiros, querendo saber quanto você está ganhando e jogando na sua cara o fracasso que você é e que sua prima... bom deixa pra lá. Mas vai ter água salobra. Fila para o banheiro. Falta de silêncio, e de privacidade. Você queria estar em casa comendo aquela pizza caseira e bebendo vinho. Quem sabe baixar um vídeo. Mas toda a família vai! Não podemos fazer desfeita... Você vai abrir a porta e começar a gritar. Feliz Dia da Independência. Mas que nada, vamos tentar de novo. Você não vai fazer isso. Maldito dia da Independência... você diz entredentes.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
A Propaganda Eleitoral Gratuita
A propaganda eleitoral apesar de previsível, ainda é a melhor opção da tevê brasileira no gênero comédia. O figurino está impecável. Ainda mais quando surgem os candidatos de partidos radicais que prometem estatizar o país, com seus uniformes de velhos comunistas, com camisas do Che Guevara que fazem sucesso no meio universitário revolucionário que não sabe que essa moda já passou. O figurino do ator principal que faz o papel do prefeito, é no velho estilo almofadinha. A trilha sonora deixa a desejar com sambas batidos por grupos de pagodes que ganham uma bufunfa, e não tem a mínima noção do que estão apoiando, ou que fingem não ter. E os funks exibindo os candidatos, senhores da área nobre da cidade já em idade avançada, tentando se aproximar dos jovens e do povão, também não convence. A fotografia promete, mas não traz nenhuma novidade. Focalizando sempre os canteiros de obras. O roteiro peca nos diálogos dos candidatos que tem menos tempo, e quase não conseguem dizer seus nomes que vem acompanhados de do gás, do churrasquinho, do posto, e por aí vai. Eles se equivocam pensando que são tão conhecidos a ponto de conseguir um trampo melhor. A velha piada da celebridade, do atleta, do comediante, e do pipoqueiro, não funciona mais. É o mesmo que torta na cara e jogar água nos outros. Nem as alianças de partidos que antigamente eram inimigos. O ponto alto do filme é o ator principal com a sua interpretação brilhante. Ele consegue convencer no papel de salvador da pátria. E deixa o público com a sensação de que está em Genebra. O diretor que também é publicitário garante a sua marca. A montagem e edição tem os cortes exatos, que levam o público a acreditar naquilo que o diretor quer passar. O telespectador tem a sensação que viajou realmente naquele mundo de fantasia. O que é bem melhor que ficar assistindo os mesmos pastores engraçados pedindo dinheiro. Os mesmos programas de comédia em que se leva meia hora para se dar uma risada. E os tais dos Stand Up Comedy que em sua maioria não passam de um bando de mauricinhos preconceituosos, e metidos a intelectuais, que só fazem piadas diminuindo as outras pessoas, e se acham a última bolacha do pacote com a sua sabedoria de querer ajudar esse país de ignorantes. Quando eles provavelmente foram beneficiados por nossa ignorância. Em meio a tudo isso, A Propaganda Eleitoral Gratuita ainda é promessa de boas gargalhadas. Divirta-se!
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Billy Paul No Parque Madureira
Um cara de uma dessas revistas alternativas me ligou. Qual é cara, você pode escrever uma matéria sobre o show do Billy Paul que vai ter aí no subúrbio? Eu disse: posso. Ele: mas não vai rolar cachê e nem divulgação. Eu perguntei: mas rola algum dinheiro pra um pastel e uma Coca-Cola? Ele respondeu: qual é cara? nós fazemos tudo pelo poder transformador da arte! Desligou. Vou logo avisando. Não sou crítico musical. Não sei se essa profissão existe. Assim como comentarista de futebol que eu acho uma profissão tão dispensável quanto ascensorista de elevador. Nem conheço o vasto trabalho do Billy Paul. Mas era de graça. Perto de casa. E com o agravante de ser em Madureira, que é a casa da música negra no Rio de Janeiro. A capital cultural do Rio de Janeiro. Então, justo. O cara certo no lugar certo. Eu e minha mina assistimos de camarote. Pendurados nas grades do fundo para poder ver o palco. Billy Paul não grita. Ou melhor, dá um grito de vez em quando, quando necessário. Ele é como aquele meio-campo, ou cabeça de área clássico, que joga para servir o time. Puxa a responsabilidade para si. Não é um show para quem não gosta de música e só está preocupado em balançar a bunda. Ele tem um tempo diferente, e Billy Paul sabe disso, pois deixa o cara das teclas, e o guitarrista solar tranquilamente... Fiquei impressionado com a falta de pressa mesmo quando se tratava dos hits. Assisti a shows clássicos nos últimos tempos. As pessoas vivem se repetindo. Billy Paul, não. Ele toca como se fosse desconhecido. Como se estivesse tocando num bar. Eu vi alguma coisa de verdade nessa noite. Não esses shows plásticos, em que a tecnologia é um componente tão importante que deixa tudo frio. E que você sabe de cor a hora em que o vocalista irá dar boa noite. Se o Prince ouvisse a versão de Purple Rain em Madureira, ele nunca mais cantaria essa música. Assim como acho que o Chico Buarque não deveria mais cantar Samba e Amor depois daquela versão do Caetano só com o violão. As backing vocals eram maravilhosas assim como a banda. De vez em quando em época de eleição acontece alguma coisa interessante no subúrbio.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Dois Personagens...
Eles passaram por mim na escada. Não reconheci nenhum dos dois. Um deles estava de cabeça baixa e nem pude perceber a sua fisionomia direito. Mas fiquei com a certeza de que os conhecia. Matutei isso durante um bom tempo. Eu tinha certeza que havia uma intimidade imensa entre a gente. No dia seguinte, durante a manhã, aquela encontro me veio a cabeça novamente. Eu fiz aquela força que se faz com o cérebro quando se quer lembrar da letra de uma canção que não se ouve a muito tempo. E aí sim lembrei quem eles eram. Foi muito rápido. Talvez uma fração de segundos, como esbarrar , dar um encontrão no meio da rua com alguém. Mas eu tive certeza absoluta. Eram eles. Eram eles dois. Os meus dois personagens. Eu havia sonhado com eles. Com os dois.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
O Furúnculo
A briga. Eu acabei rolando por cima da cama. Tentei me esconder. Era uma mulher furiosa com TPM, menopausa, ou sei lá o quê mais. Estava disposta a me trucidar. Depois dessa moda de homem ser picotado por mulher, nunca se sabe não é mesmo? Mas eu consegui fugir e me abrigar no banheiro. Eu sabia que havia cometido um crime. Aquilo não iria ficar barato. Mesmo que eu ficasse a noite inteira ali. Uma hora eu teria que sair. E com certeza ela estaria me esperando lá fora. A marca da traição estava no meio das minhas pernas. Ela sabia disso. Era tarde para apagar aquele rastro. Depois de algum tempo resolvi sair. Ela estava deitada na cama fingindo ler um livro, e olhou por sobre o mesmo, e por cima dos óculos. Ela já havia ralhado seriamente comigo antes. Nem que eu inventasse de dar flores ou caixa de bombons, ou carros com tele-mensagens, a essa altura do campeonato não adiantaria. Mas dessa vez eu pisei na bola realmente. Eu já havia espremido espinhas escondido. Mas o prazer dela em colocar aquele carnegão para fora era inestimável. Ela me agarrou sem dizer nada, puxou a minha calça e viu que eu havia espremido o furúnculo sozinho. Sentou na cama e chorou. Você espremeu teu furúnculo sozinho... buá... eu senti pena.
Assinar:
Postagens (Atom)