terça-feira, 4 de setembro de 2012

Billy Paul No Parque Madureira

Um cara de uma dessas revistas alternativas me ligou. Qual é cara, você pode escrever uma matéria sobre o show do Billy Paul que vai ter aí no subúrbio? Eu disse: posso. Ele: mas não vai rolar cachê e nem divulgação. Eu perguntei: mas rola algum dinheiro pra um pastel e uma Coca-Cola? Ele respondeu: qual é cara? nós fazemos tudo pelo poder transformador da arte! Desligou. Vou logo avisando. Não sou crítico musical. Não sei se essa profissão existe. Assim como comentarista de futebol que eu acho uma profissão tão dispensável quanto ascensorista de elevador. Nem conheço o vasto trabalho do Billy Paul. Mas era de graça. Perto de casa. E com o agravante de ser em Madureira, que é a casa da música negra no Rio de Janeiro. A capital cultural do Rio de Janeiro. Então, justo. O cara certo no lugar certo. Eu e minha mina assistimos de camarote. Pendurados nas grades do fundo para poder ver o palco. Billy Paul não grita. Ou melhor, dá um grito de vez em quando, quando necessário. Ele é como aquele meio-campo, ou cabeça de área clássico, que joga para servir o time. Puxa a responsabilidade para si. Não é um show para quem não gosta de música e só está preocupado em balançar a bunda. Ele tem um tempo diferente, e Billy Paul sabe disso, pois deixa o cara das teclas, e o guitarrista solar tranquilamente... Fiquei impressionado com a falta de pressa mesmo quando se tratava dos hits. Assisti a shows clássicos nos últimos tempos. As pessoas vivem se repetindo. Billy Paul, não. Ele toca como se fosse desconhecido. Como se estivesse tocando num bar. Eu vi alguma coisa de verdade nessa noite. Não esses shows plásticos, em que a tecnologia é um componente tão importante que deixa tudo frio. E que você sabe de cor a hora em que o vocalista irá dar boa noite. Se o Prince ouvisse a versão de Purple Rain em Madureira, ele nunca mais cantaria essa música. Assim como acho que o Chico Buarque não deveria mais cantar Samba e Amor depois daquela versão do Caetano só com o violão. As backing vocals eram maravilhosas assim como a banda. De vez em quando em época de eleição acontece alguma coisa interessante no subúrbio.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dois Personagens...

Eles passaram por mim na escada. Não reconheci nenhum dos dois. Um deles estava de cabeça baixa e nem pude perceber a sua fisionomia direito. Mas fiquei com a certeza de que os conhecia. Matutei isso durante um bom tempo. Eu tinha certeza que havia uma intimidade imensa entre a gente. No dia seguinte, durante a manhã, aquela encontro me veio a cabeça novamente. Eu fiz aquela força que se faz com o cérebro quando se quer lembrar da letra de uma canção que não se ouve a muito tempo. E aí sim lembrei quem eles eram. Foi muito rápido. Talvez uma fração de segundos, como esbarrar , dar um encontrão no meio da rua com alguém. Mas eu tive certeza absoluta. Eram eles. Eram eles dois. Os meus dois personagens. Eu havia sonhado com eles. Com os dois.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Furúnculo

A briga. Eu acabei rolando por cima da cama. Tentei me esconder. Era uma mulher furiosa com TPM, menopausa, ou sei lá o quê mais. Estava disposta a me trucidar. Depois dessa moda de homem ser picotado por mulher, nunca se sabe não é mesmo? Mas eu consegui fugir e me abrigar no banheiro. Eu sabia que havia cometido um crime. Aquilo não iria ficar barato. Mesmo que eu ficasse a noite inteira ali. Uma hora eu teria que sair. E com certeza ela estaria me esperando lá fora. A marca da traição estava no meio das minhas pernas. Ela sabia disso. Era tarde para apagar aquele rastro. Depois de algum tempo resolvi sair. Ela estava deitada na cama fingindo ler um livro, e olhou por sobre o mesmo, e por cima dos óculos. Ela já havia ralhado seriamente comigo antes. Nem que eu inventasse de dar flores ou caixa de bombons, ou carros com tele-mensagens, a essa altura do campeonato não adiantaria. Mas dessa vez eu pisei na bola realmente. Eu já havia espremido espinhas escondido. Mas o prazer dela em colocar aquele carnegão para fora era inestimável. Ela me agarrou sem dizer nada, puxou a minha calça e viu que eu havia espremido o furúnculo sozinho. Sentou na cama e chorou. Você espremeu teu furúnculo sozinho... buá... eu senti pena.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vício!

Não consigo me controlar. Já foi o meu dinheiro quase todo. Toda vez que estou naquele lugar compro a minha droga. Certamente tenho que ir sem grana. O meu programa de doze passos me diz para evitar lugares e pessoas. Mas eu simplesmente não consigo. Voltei pra casa sem grana nenhuma depois que passou o efeito da viagem. E que viagem! Eu me senti um pinto no lixo, e agora estou jogando no chão, deprimido com o final da festa. E começo a perceber que vício é vício, e não importa qual vício seja, e que um vício sempre vai te levar para o buraco. Seja ele qual for! No começo é sempre assim, você acha que vai ser diferente, e que será aquela pessoa que vai conseguir se controlar. A gente nunca sabe quem vai ser o sorteado. Mas o tempo passa e nada, você é apenas mais um drogado que não come, não dorme, e que vaga pela cidade igual um zumbi, atrás de mais uma dose da maldita. Então que diferença faz ser viciado em cocaína, sexo, ou em qualquer outra droga? Se o processo é sempre o mesmo. O meu psiquiatra diz, o quê é a ansiedade sem a depressão? E qualquer vício sempre vem acompanhado destas duas. Quando percebo que estou duro de novo. E que não fui a praia e que fiquei um dia todo num quarto escuro com um livro na mão, eu percebo que não posso mais frequentar shoppings ou livrarias, e que tenho que manter a distância de sebos e feiras. As minhas costas estão fodidas de tanto ficar sentado escrevendo. Bom, pelo menos, isso é melhor que bebida, não dá ressaca, e quem sabe algum dia eu ganhe alguma coisa.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sexo!

Eu espero a minha mina na estação. E vejo um grupo de adolescentes. Eles parecem ser de uma igreja dessas. E se revezam na hora de abordar os passageiros. Eu acompanho a cara e o sofrimento de cada um dos “escolhidos”. Sofro junto com eles, que estão vestidos de adultos “almofadinhas”. Três meninos e três meninas, que provavelmente devem ter algo melhor para fazer, do que ficar importunando as pessoas, com aquele papo de que deus vai resolver os problemas que a gente criou. Eu começo a acompanhar os seus gestos e movimentos, e penso que há algo errado no paraíso, como dizem os Paralamas do Sucesso. E pergunto a minha mina, por que eles não estão em outro lugar namorando, ou fazendo coisas que “adolescentes normais” fazem?  Ela me responde: obviamente os pais deles não deixam. E provavelmente eles vão se casar muito cedo por causa disso. Eles têm duas opções, ou ficam com os “irmãos” da igreja, ou ficam com os “irmãos” da igreja. Eu pergunto a ela: por quê? Ela me diz: sei lá, cara! Aí é querer saber demais...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Drive, ou Taxi Driver?

Aquele escritor idiota vai na tevê dizer que é uma cidade turística linda. O taxista me diz: esse lixo está por todo lado. Alguém tem que limpar essa cidade. Esses putos infestam as ruas. Os putos são os travestis que fazem ponto de ponta a ponta na orla de uma das praias mais famosas do país. Não vejo travestis no meio da rua durante o dia. A barra deve ser pesada para eles aqui. Eu penso no quanto a maioria deles são machistas. Preconceituosos. Bebem demais. Enfiam a porrada nas mulheres. Só lavam a sua honra com sangue. Devem estar em primeiro lugar na estatística do crime passional. Também devem comer travestis. Alguém deve comer esses travestis. Senão eles não estariam ali. Estrangeiros. A cidade está cheia deles. Quando você para numa fila para fazer um jogo de loteria, consegue ouvir os seus sotaques. Eles são donos de restaurantes, de lojas, são donos de quase tudo. Provavelmente não vão para outra cidade aonde as coisas sejam mais difíceis, e as mulheres mais espertas. Por falar em mulheres espertas, volta e meia, uma delas consegue se casar com um deles. Basta adentrar um cibercafé para ouvir uma delas falando em outro idioma. Eu ouço uma mulher falando sobre o quarto onde eu vou ficar hospedado. Ela me diz: você vai ter que pagar uma taxa se perder a chave do apartamento. Homem não pode circular sem camisa pelos corredores. E me vem a cena na cabeça. Um homem branco, 50 anos, quase vermelho, parece um camarão queimado de praia. Eu já vi essa cena de madrugada. Mas ela se repete durante o dia. Ele abre o portão para duas meninas ainda adolescentes. Se tiverem quinze anos completos, cada uma, é muito. Ele vai até a cabine do porteiro que abre o enorme portão de ferro. Na tevê diz que nesta cidade, o que as câmeras de segurança mais flagram depois do uso de entorpecentes, é o atendado violento ao pudor. Eu desligo a tevê. A minha cabeça está doendo. Engulo um comprimido de Melhoral junto do meu antidepressivo. E desmaio.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Se Não Bebe, Usa Droga!

O moleque tem 16 anos. Toca guitarra pra cacete. Ele pensa que o Nirvana foi a última coisa boa da música pop. Nem sabe que a Amy Winehouse lançou um disco foda depois que o Kurt Cobain se matou. Ele se acha a última bolacha do pacote com aquela camisa do Ramones. O moleque não gosta de beber pois sente dor de cabeça. Ele deu um tapinha num baseado uma vez, mas não sentiu nada. Odeia o cheiro do cigarro. Nem quer sonhar com outras drogas. A namorada dele, não. Essa adora uma erva. Ele é obrigado a ficar se cagando esperando por ela em frente a boca de fumo. Ela com aquela camisa do Sex Pistols. Ela nem sabe que existem os Strokes e os Monkeys. Ela pensa que o Sex é melhor do que os Beatles. Só porque eles eram punks e os Beatles não. Quando ela apresenta o moleque a sua mãe, ele se esforça para dar um boa tarde senhora. A mãe dela responde com um mugido. Ou será um rugido. Melhor. Ela faz um barulho estranho com a boca. O moleque diz a menina. A sua mãe não falou comigo direito. Ela diz. Deixa isso pra lá, ela é assim com todo mundo. Quando o casal sai. A mãe da menina diz para o pai que está com a cara enfiada no jornal. Esse aí, se não bebe, usa droga!