Eu percebo que a maior parte dos humanistas tem dificuldade em aceitar que as execuções que ocorreram na Penha aconteceram com o apoio da maioria da população. E que esse apoio, embora velado, acaba por embasar, mesmo que contra a lei, a ação do governo e das forças de segurança.
A maioria que apoia ações como essa justifica o seu apoio dizendo-se vítima ou possível vítima de criminosos – o que é verdade – e teme a violência e a exploração territorial dos traficantes.
É possível argumentar que, para punir crimes, existem leis e prisões, mas essa maioria pode contra-argumentar que elas não têm funcionado no Brasil.
Por outro lado, os humanistas pensam numa saída pacífica para o conflito, onde nenhuma das partes seja prejudicada, nem por seus resultados, nem por seus reveses, crendo que o melhor caminho é sempre aquele em que o cálculo venha a ser positivo, somando menos mortes e agressões e prevalecendo a união em prol da preservação da espécie.
A maioria, que apoia as agressões, diz que elas, além de legítimas, são a solução mais adequada, tendo em vista a gravidade da situação.
A maioria acredita que a violência é uma saída onde o menos é mais. Essa opinião causa desapontamento em quem só consegue conceber a humanidade sendo a favor da vida. Existe a negação em aceitar que a maioria pense assim, então é sempre mais fácil reduzir a culpabilidade aos governos e às forças de segurança, como se esses agissem sozinhos, e não tivessem o aval da maioria.
É impossível acreditar que um morticínio dessa magnitude fosse possível apenas com a vontade de um grupo reduzido de cidadãos. Se fosse assim, ataques como esses seriam enfraquecidos em seus nascedouros, pois a resposta viria imediatamente.
Ainda em planejamento, é sabido que ações como essas serão condenadas por setores da sociedade, assim como foram as outras anteriores, mas é sabido também que não haverá condenações de fato, o que motiva as ações de governos e forças de segurança. Estes não conseguiriam sustentar seus argumentos, nem evitar suas punições, se tivessem contra si a maioria.
Lidar com este fato, de que uma maioria entre nós tem um impulso quase que unânime à violência, causa desconforto e descontentamento. Mas o contrário disso seria como querer acreditar que tiranos se fazem sozinhos. É um duro golpe em quem tenta racionalizar o mundo.
Talvez o ódio pelo outro se esconda em subterrâneos inacessíveis à nossa racionalização e às análises de fenômenos sociais, apenas por vias do que é palpável a olho nu, e que também não conseguem explicar a falta de empatia diante do sofrimento de uma mãe que chora sobre o corpo de seu filho morto.
Pode ser que os estudos desses fenômenos estejam mais relacionados a estudos de filosofia, psicologia, biologia e matérias correlatas do que a análises meramente políticas e observacionais que não conseguem alcançar o escopo mais profundo. Contudo, é preciso admitir, o mais provável é que não exista uma resposta, pois ao longo da história não foram poucos os estudiosos que se debruçaram sobre questões como essa.
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