terça-feira, 23 de junho de 2020

A Solidão dos Loucos do Largo da Carioca...

Está é a solidão laboral

É a solidão de não ter alguém

A quem mostrar o seu trabalho

A solidão de estar redundantemente,

Sozinho

Na solidão dos pleonasmos

Do chover no molhado

É a mesma solidão dos loucos do Largo da Carioca

Daqueles que gritam sobre o Apocalipse

Sem conseguir com isto chamar a atenção de ninguém

É a mesma solidão do artista,

Sozinho

A solidão de estar só

Produzindo igual mouro

Mas sem a capacidade de se comunicar

Mesmo com todos os meios de comunicação que existem,

Atualmente,

Nos jornais

Eles dizem

Mesmo assim,

Sozinho

É o mesmo que não falar a mesma língua

Escrever, escrever e escrever…

E não ser lido por ninguém

Nem a família aguenta mais tanta leitura

Ninguém tem tempo

Enquanto o artista acumula uma pilha de livros impublicáveis

Uma porção de palavras perdidas num dicionário

Palavras que ninguém procura

Para as quais ninguém atenta,

Sem nenhuma utilidade

O artista canta

E os vizinhos ouvem a contragosto

Um outro presta atenção

Para reclamar do artista rouco

De tanto gritar

No meio da multidão

Os filmes que faz

Apenas ele,

De vez em quando,

Sozinho

Assiste

E diz, é isto mesmo,

Ele repete para si mesmo,

É por aí…

Não tem mais coragem de importunar ninguém

Foram anos importunando as pessoas

Ele espera uma e-mail que nunca chega

Um telefonema que nunca toca

O artista levou o seu trabalho a sério demais

E foi ficando triste,

Ficando triste

Até que se isolou

Ficou cada vez mais isolado

E nem sabe o que as pessoas pensam de si

E como um velho elefante se retirou de cena

Mas continuou,

Trabalhando

Até morrer…

Nenhum comentário:

Postar um comentário