Está é a solidão laboral
É a solidão de não ter alguém
É a solidão de não ter alguém
A quem mostrar o seu trabalho
A solidão de estar redundantemente,
Sozinho
Na solidão dos pleonasmos
Do chover no molhado
É a mesma solidão dos loucos do Largo da Carioca
Daqueles que gritam sobre o Apocalipse
Sem conseguir com isto chamar a atenção de ninguém
É a mesma solidão do artista,
Sozinho
A solidão de estar só
Produzindo igual mouro
Mas sem a capacidade de se comunicar
Mesmo com todos os meios de comunicação que existem,
Atualmente,
Nos jornais
Eles dizem
Mesmo assim,
Sozinho
É o mesmo que não falar a mesma língua
Escrever, escrever e escrever…
E não ser lido por ninguém
Nem a família aguenta mais tanta leitura
Ninguém tem tempo
Enquanto o artista acumula uma pilha de livros impublicáveis
Uma porção de palavras perdidas num dicionário
Palavras que ninguém procura
Para as quais ninguém atenta,
Sem nenhuma utilidade
O artista canta
E os vizinhos ouvem a contragosto
Um outro presta atenção
Para reclamar do artista rouco
De tanto gritar
No meio da multidão
Os filmes que faz
Apenas ele,
De vez em quando,
Sozinho
Assiste
E diz, é isto mesmo,
Ele repete para si mesmo,
É por aí…
Não tem mais coragem de importunar ninguém
Foram anos importunando as pessoas
Ele espera uma e-mail que nunca chega
Um telefonema que nunca toca
O artista levou o seu trabalho a sério demais
E foi ficando triste,
Ficando triste
Até que se isolou
Ficou cada vez mais isolado
E nem sabe o que as pessoas pensam de si
E como um velho elefante se retirou de cena
Mas continuou,
Trabalhando
Até morrer…
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