sexta-feira, 3 de abril de 2020

A Monika de Bergman...

Monika é a puta. A Vagabunda… A piranha! A nora que nenhuma sogra deseja. A destruidora de lares. Desviadora de destinos e índoles. A vadia! Harry é à sua presa mais fácil. Monika é à adolescente eternamente entediada; que acende o cigarro logo que acorda, e que mastiga o chiclete enquanto a tia do noivo fala. É uma espécie de Madame Bovary em seu tédio profundo, e depressão. Ela tem um ataque dos nervos quando começa a chorar naquele barco. Monika quer mais. Monika sonha ser uma mocinha do cinema clássico americano, onde galã encantado sempre aparece. Mas, volta e meia tem de voltar para o muquifo onde dorme com à família; à sua triste realidade de menina pobre, completamente diferente daquela exposta na tela, no breu do cinema ao fundo onde acontecem os amassos. Mas ela é uma Lolita encapetada. Tem o diabo no corpo! Aquela vida é um tédio. O que mais Monika deseja além de Harry? O príncipe que abandona tudo para fugir com ela? O que mais se pode desejar além de uma amor e uma cabana? Nada. Ninguém sabe. Quando chega lá Monika já deseja outra coisa. Parece até essas adolescentes atuais que sonham o tempo todo com a festa, e quando chegam na festa enfurnam a cara no celular e só levantam o rosto para bocejar de vez em quando. O objectivo foi alcançado. Não há mais caminho a percorrer. É uma fome de tudo. Uma insatisfação infinita. A libido nunca é saciada. Os desejos são mórbidos. Quanto mais se deseja mais se vai desejar. Somos seres insatisfeitos por natureza. Harry aceita a vida. Ele gosta dela. Ela diz: saia! Ele sai. Do emprego. Da sua vida. De tudo. É o corno não conformado. Monika agora quer um casaco novo. Monika tardiamente descobriu que não tem nada. Monika diz que quer se divertir. Ela vai dar para Lelle novamente. Àquele vagabundo do bairro onde ela cresceu e por quem viverá apaixonada. Monika vai abandonar o bebê. Os bebês só são bonitos nos filmes. São fofinhos. Berrando de madrugada são insuportáveis. Harry está resignado. Vai cuidar da criança. Talvez entre para uma igreja e case com uma outra mulher menos esbelta que Monika. Talvez ela não se mantenha em forma com o passar do tempo. Talvez o seu corpo irresistível que levou Bergman à loucura naquela praia, ceda ao tempo. Um dia desses, talvez, Monika esteja sentada num bar, e seja aquela senhora gordinha ao canto. Longe dos seus dias de glória. Com a voz enrouquecida. O cigarro entre dedos. Vai lembrar de Harry, e mostrar fotos para alguém. E dizer, ele cuidou do meu filho, o pai do meu filho é bom! E Harry vai ter uma família feliz. Ou quem sabe não aconteça nada disso, e Monika vire uma carola com uma família feliz assim como à de Harry. Talvez seja Harry que comece a beber, enquanto a sua criança anda sozinha pelas ruas. Talvez ele morra de cirrose. Talvez o destino seja diferente de tudo isto. Pois assim como o cinema de Bergman... A vida um final sempre aberto!

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