Monika é a puta. A Vagabunda… A piranha! A nora que nenhuma sogra
deseja. A destruidora de lares. Desviadora de destinos e índoles. A vadia!
Harry é à sua presa mais fácil. Monika é à adolescente eternamente entediada;
que acende o cigarro logo que acorda, e que mastiga o chiclete enquanto a tia
do noivo fala. É uma espécie de Madame Bovary em seu tédio profundo, e
depressão. Ela tem um ataque dos nervos quando começa a chorar naquele barco.
Monika quer mais. Monika sonha ser uma mocinha do cinema clássico americano,
onde galã encantado sempre aparece. Mas, volta e meia tem de voltar para o
muquifo onde dorme com à família; à sua triste realidade de menina pobre,
completamente diferente daquela exposta na tela, no breu do cinema ao fundo
onde acontecem os amassos. Mas ela é uma Lolita encapetada. Tem o diabo no
corpo! Aquela vida é um tédio. O que mais Monika deseja além de Harry? O
príncipe que abandona tudo para fugir com ela? O que mais se pode desejar além
de uma amor e uma cabana? Nada. Ninguém sabe. Quando chega lá Monika já deseja
outra coisa. Parece até essas adolescentes atuais que sonham o tempo todo com a
festa, e quando chegam na festa enfurnam a cara no celular e só levantam o
rosto para bocejar de vez em quando. O objectivo foi alcançado. Não há mais
caminho a percorrer. É uma fome de tudo. Uma insatisfação infinita. A libido
nunca é saciada. Os desejos são mórbidos. Quanto mais se deseja mais se vai
desejar. Somos seres insatisfeitos por natureza. Harry aceita a vida. Ele gosta
dela. Ela diz: saia! Ele sai. Do emprego. Da sua vida. De tudo. É o corno não conformado.
Monika agora quer um casaco novo. Monika tardiamente descobriu que não tem
nada. Monika diz que quer se divertir. Ela vai dar para Lelle novamente. Àquele
vagabundo do bairro onde ela cresceu e por quem viverá apaixonada. Monika vai
abandonar o bebê. Os bebês só são bonitos nos filmes. São fofinhos. Berrando de
madrugada são insuportáveis. Harry está resignado. Vai cuidar da criança.
Talvez entre para uma igreja e case com uma outra mulher menos esbelta que
Monika. Talvez ela não se mantenha em forma com o passar do tempo. Talvez o seu
corpo irresistível que levou Bergman à loucura naquela praia, ceda ao tempo. Um
dia desses, talvez, Monika esteja sentada num bar, e seja aquela senhora
gordinha ao canto. Longe dos seus dias de glória. Com a voz enrouquecida. O
cigarro entre dedos. Vai lembrar de Harry, e mostrar fotos para alguém. E
dizer, ele cuidou do meu filho, o pai do meu filho é bom! E Harry vai ter uma
família feliz. Ou quem sabe não aconteça nada disso, e Monika vire uma carola
com uma família feliz assim como à de Harry. Talvez seja Harry que comece a
beber, enquanto a sua criança anda sozinha pelas ruas. Talvez ele morra de
cirrose. Talvez o destino seja diferente de tudo isto. Pois assim como o cinema
de Bergman... A vida um final sempre aberto!
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