eu gosto de um livro chamado Amsterdã Blues. eu esbarrei com ele a primeira vez numa bienal. mas não pude levá-lo. pois já havia estourado o dinheiro com biografias dos Beatles. é um livro de um holandês de cabelos desgrenhados na capa. dos livros “recentes” é um livro que eu gostaria de ter escrito, como dizem. era óbvio que eu fosse gostar desse livro. então quando esbarrei com ele a segunda vez em uma biblioteca eu o levei comigo. é um livro sobre o tédio. os grandes escritores tiram historias de qualquer coisa. e esse escritor tirou uma historia do tédio. não me lembro de detalhes do livro. mas como diz Leonardo da Vinci, todo nosso conhecimento vem do que sentimos. e eu sempre me lembro desse livro. eu me lembro que o personagem ficava num bar, e que ele empurrava a cadeira de rodas do pai doente. eu me lembro que os diálogos do pai dele com os outros personagens no bar eram incríveis. o personagem principal frequentava prostitutas diariamente. E com elas ele mantinha uma relação blasé. que é a mesma relação que o personagem mantém com todo o mundo. a prosa desse escritor é uma prosa de mestre, e falar aqui sobre o miolo da historia, isso que chamam de roteiro, para os grandes escritores é apenas um detalhe. então não se iluda com a aparência da sinopse. o livro é grandioso e de uma profundidade abissal. e o autor tem o controle da pena. eu não me lembro se é o seu livro de estreia. a tradução às vezes pode acabar com um livro. o livro não é econômico, ele não tem uma edição seca daquelas em que nenhuma palavra parece sobrar na frase. mas, apesar de suntuoso, ele não é pomposo. Leia tranquilamente.