eu acordei com dor de cabeça e supus que estava com vontade de vomitar. fui a cozinha beber água. e rapidamente algo veio lá do fundo com uma força enorme. como se fosse um daqueles “aliens” dos filmes que se instalam nos corpos das pessoas. ainda pus a minha mão a frente da boca para poder conter aquela enxurrada até que chegasse ao banheiro. não deu tempo. explodiu e caiu sobre a tampa da privada. “sujou o chão todo, melecou tudo, nossa!” e vinha com tanta força. “a fúria da natureza!” “a gente não é nada nessa vida, menina!” “é mesmo, é sim!” e vinha cada vez mais forte. todas aquelas porcarias voavam. lógico que eu já vomitei. mas nunca com tanta força. quando eu fazia longas viagens de ônibus sempre passava mal. mas eu enfiava o dedo na goela e vomitava. eu havia aprendido aquilo com os alcoólatras que vomitavam para depois beber mais. eu não me lembrava dessa sensação do corpo tomando as rédeas da ação, e dizendo “quem manda aqui sou eu!” ele estava expulsando todas aquela mazelas, todas as porcarias que eu havia ingerido. “foi a cereja do bolo?” “foi à azeitona da empada?”. não importava. “contra a azia, má digestão, e irritação no estômago experimente...” e vinha com toda a força de novo. e de novo. eu tentava tomar banho. limpar as coisas. não conseguia. “a gente não é nada nessa vida, menina!” “é mesmo, é sim!”. a natureza é quem diz chega. ela que detecta o erro. se havia algum animal microscópico dentro do meu corpo querendo zoar, ela não achou graça na brincadeira. não havia filosofia naquela hora. na hora em que somos impotentes. não há problemas morais. pecados. culpa. dívida. no livro Uma Longa Queda, do inglês Nick Hornby, um homem fracassa ao tentar cometer o suicídio. e depois do episódio ele diz algo como, “naquele momento em que eu caía, eu vi que o único problema que eu tinha era a morte” depois a mão da minha esposa brilhou no escuro com o chá de orégano e o remédio. Eu vomitei o remédio. numa sessão menor, mas não menos extenuante. acordei com a ressaca da noite, o corpo dolorido, e a garganta doendo! e suponho que tenha sido um pão de forma dentro da validade.