o segurança em frente a loja. o camelô desmonta a barraca de CDs e DVDs originais. ela olha para o meu black. para o meu casaco que parece ter saído de dentro de uma garrafa. pra minha cara de chapado. pros meus olhos vermelhos e gigantes como os do Lobo Mau, e me pergunta sobre o papelão em frente ao banco. fico em silêncio. ela estala a língua irritada, e diz para o menino: eu, hein... parece um retardado! eles desistem, e vão embora. graças a Deus. eu penso, quem me dera fosse um catador de papelão nesta cidade! um carro passa tocando funk. outro policial me pergunta: ocupação? e respondo: se disser escritor o senhor vai acreditar? ele me olha com pena, e me libera. acho que eles temem mais os terroristas. eu espero por minha mina em frente ao buraco de uma das estações do metrô de Nova Iorque. e o cara do transporte alternativo berra em nossas orelhas: Brooklyn, Bronx, Manhattan, Harlem!
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
domingo, 29 de setembro de 2013
O Julgamento...
mete a mão no bolso.
gesto rápido. frio. cara suja. cabelo ensebado. alguém faz cara de nojo. dá um
empurrão. perco o rastro. aperto o passo. vai tudo que cabe em seu trapo. a
multidão fica hipnotizada com o espetáculo. seguro o seu punho. ela se desvencilha,
e diz: eu quero assistir até ao final! eu olho ao nosso redor, e respondo: por
hoje é o suficiente! longe dali ela me mostra. olha o quê eu trouxe para o
vovô! e me exibe feliz um pedaço de pão. sussurro: esconde isso! ela me diz com
pesar... o ladrão vai ser executado...
sábado, 28 de setembro de 2013
Sem Anestesia, Michael Jackson!
sem anestesia fica difícil Michael Jackson. encarar o mundo assim. frente a frente. cara a cara. botar a cara. bater de frente. sem religião. sem grana. sem ideologia. sem nada. no puro. no duro. careta. sem tomar um remedinho. sem beber um negocinho. sem fumar um Hollywood. botam na gente sem vaselina. a gente enlouquece. no pelo. liso. sem preservativo. sem uma musiquinha romântica. num vê essas passeatas que criaram toda essa expectativa e não deram em nada. vou ter que desligar, Michael Jackson da Silva! lá vem o carcereiro! pego o celular e coloco na entoca. onde alguém me disse que era melhor para alguém não ver.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
O Fim da Privacidade...
fotografa. grampeado. leitura labial. pede a Deus uma namorada. tapa a boca. escuta. sendo filmado sorria. cinco contra um. descasca a banana. ela também. mão direita. mão esquerda. na batida do funk. no ritmo do axé. tira a meleca. põe a mãozinha na boca. cospe a bebida. coça o saco. traje de banho. praia de nudismo. clube das mulheres. termas. em plenas sanitas. assistindo filmes impróprios para menores. sem as peças íntimas. com as peças íntimas. lendo contos proibidos. entrando em hotel. saindo de hotel. dançando sem roupa. medalha no bolso. malote na cueca. fuzil na mão. posa com bandido. vai na festa. mulher de silicone. mulher maravilha tecnológica. no flagra chama o outro pra fumar. choque. cacetada. tiro. gás. mata. esfola. pisoteia. corrompe. é corrompido. rouba. é roubado. preso na chaminé. ela é interrompida no meio da cópula em que perdia o velcro. enquanto produzia um ser mutante num coito avançado. uma espécie de ciborgue. talvez um ser alterado geneticamente. descendente. dependente químico. tóxicos. agro-tóxicos. agronegócios. agro-indústria. drogaria. farmácia. boteco. boca da estagiária da casa rosa no estacionamento.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Um Mergulho na Noite Chinesa...
ele balança o bebê que
parece um embrulho que sorri. eu digo: posso segurá-lo um pouco? ele me passa o
bebê que entorta os lábios, e chora como quem vê uma assombração. ele tem olhos
grandes e luminosos. eu me viro e digo a sua mãe: acho que se assustou
comigo... o moleque não gosta de mim! ela diz: ela não tem do que gostar... e o
pega e me passa. é manhã. ele quer é farra... balança ele! balanço o bebê que
volta a sorrir. olho o seu rosto e penso, meu Deus, parece um homem da minha
família! pela primeira vez vejo os passos do outro. e grito em êxtase a sua
mãe: ele anda igual ao pai dele! a mãe responde num muxoxo: todo mundo fala
isso... fico assustado com a herança genética. o outro me puxa pela perna como
quem diz querer participar da festa. e vejo o seu sorriso lindo de banho de
chuva. o outro diz: o meu pai só que andar de táxi! o meu pai quer andar de
táxi o dia inteiro.... só porque recebeu hoje! então todo mundo para no ponto
de ônibus. eu me lembro da Pais e Filhos da Legião Urbana, e da All You Need Is
Love dos Beatles... e beijo cada cabeça e digo. inclusive para o embrulho que
dorme. te amo. o meu coração palpita ao caminhar para casa e saber que ela está
me esperando. desço a ruazinha que termina com o muro. e dou um mergulho na
noite chinesa...
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Máquina de Escrever...
ela fuma, e diz: tem aquela festa! ele fuma, e diz: vai rolar aquele evento... ela fuma, e diz: aquele lançamento! ela fuma, e diz: e mais o sarau... ele fuma, e diz: vai tá todo mundo lá! ela fuma, e diz: vamu fazê muito contato... ele fuma, e diz: ainda tem a reunião... ele me pergunta: e você vai? do canto da sala eu berro até sufocar o som do aparelho. vou continuar escrevendo... e peço: tranquem a porta por favor! eles saem... e ao fechar a porta me atrapalham. penso, foda-se. batuco nas teclas da máquina. desligo o som. a pior coisa que existe para um escritor é o silêncio.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
O Fim da Novela...
um cara é atropelado por uma mulher que se apaixona por ele. uma esposa descobre que na verdade é irmã do marido. o casal principal tem um relacionamento vai e vem. um personagem é assassinado e todos os personagens são suspeitos do crime. dois irmãos brigam por causa de uma herança. dois irmãos brigam pela presidência de uma empresa. alguém vai se revelar viado ou sapatão. uma bicha afetada vai fazer fofoca. a empregada preta e pobre vai se meter na vida da família rica. alguém que todo mundo pensava ter morrido vai reaparecer para se vingar. uma irmã vai tentar roubar o namorado da outra. no último capítulo o assassino é descoberto, e o casal principal se casa numa cerimônia com todos os personagens. eu digo, não posso me esquecer do filho rejeitado. ele grita: ele pode ser filho da empregada! falo: eu não havia pensado nisso antes... afirmo: fechou. ele diz. toca aqui. bato em sua mão. bicho, dú caralho! dú caralho, bicho! foda! ele dá um giro. uh! já pensou enviar essa porra pra televisão? eu digo: mas a minha intenção é essa!
domingo, 22 de setembro de 2013
Que Horas Começa o Nacional Kid?
acorda no cubículo. apertado. acende o primeiro do dia. liga a tevê. olha para a garota que está conversando com uma de suas amigas. pensa igual alguns homens pensam... como as duas! a garota diz: gostou do meu bumbum? a outra fecha as duas mãos, e responde animada. ih, garota, adorei... você tem it! (aqui ela balança a cabeça) que sex appeal! depois pergunta: fez onde? ela conta. esfrega na cara da amiga. no Doutor Igor Maguari! diz a frase como uma máxima. e a amiga responde: ah, ficou lindo... você está cheia de bossa! e dos meus seios, gostou? está de arromba! a outra responde. a garota diz num muxoxo. só achei o da esquerda um pouco torto... a outra diz: que nada, você está um estrondo! eu, por exemplo, quero comprar um cérebro novinho, na caixa, lacrado! ele coça o saco. desliga a tevê. e diz: porra, têm uns filmes de ficção que são mentirosos pra caralho! que horas começa o Nacional Kid?
sábado, 21 de setembro de 2013
Acumulador Compulsivo Virtual...
John Smith com apenas 15 anos recebeu o diagnostico de acumulador compulsivo virtual. em sua casa todas as máquinas são infestadas de vírus. a mãe do John, Mary Smith, diz que precisou contratar um técnico para fazer manutenção semanal. a família sofre com o problema. são inúmeros programas e aplicativos que John sabe que nunca irá usar, ou músicas que nunca irá ouvir. pois considera velha qualquer canção que tenha um ano. mas seriam necessários anos, e mais anos, para que John ouvisse todas as músicas que estão em seus aparelhos. as fotos nunca serão reveladas. sobre os livros John admite. não gosto de ler. mas eu baixo porque todo mundo viu o filme. tá lendo. comentando. sobre os filmes John precisaria mais do que seus quinze jovens anos para assisti-los todos. na mesma velocidade em que tecla com o polegar esquerdo, John envia fotos para as redes sociais com o direito. fico surpreso: uau, como você consegue! começo a dizer: John, e se talvez você tivesse vivido... ele me corta. já ouvi esse papo, mas acho que hoje em dia as coisas são assim. faço aquilo que a maioria das pessoas já fazem normalmente, digamos, um pouco mais. eu insisto: isso não te incomoda? John responde: nas festas é um saco. pois eu não vivo. apenas registro o momento.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Os Órfãos do Mangue...
quando a antiga Zona do
Mangue foi removida do centro perdeu todo glamour. e se transformou no que hoje
chamamos de Vila-Mimosa. o Mangue era frequentado por escritores, músicos e
jornalistas. e lá se encontravam alguma gringas fugidas da guerra, ou não.
dizem que muitas ex-prostitutas daquela época, após remoção forçada,
sucumbiram. como acontece hoje com pessoas que perdem suas casas para a
construção de mais estradas. os terrenos são avaliados. não o imóvel. o valor
sentimental não tem valor algum. chega alguém, e fala: você tem dias pra cair
fora! ela diz. DEMOcracia é isso! deve ser o menos mal... num cortiço do centro
da cidade converso com dois velhinhos centenários para a gravação de um filme
sobre filhos de ex-prostitutas do Mangue que morreram deprimidas. o seu Bob de
cabeça branca, brinca. dois filhos de Maria, um de Mary Jane, assim mesmo, em
inglês, coisa de pobre, ele diz. Peter tem olhos claros e fala, eu sou filho de
Maria Joana! e conclui: que eles acabassem com a zona! que acabassem com a
prostituição! mas que não acabem com nossas mães... pois não temos nada com os
problemas dos outros! os órfãos do Mangue olham tristes para a parede do muro
em frente.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Os Homens do Vagão Feminino!
ele se equilibra e me diz: ler é melhor que tudo. ler é melhor que escrever. vai por mim, escritor. eu digo: tô ligado! quando passa um cara gritando. dois mil louvor num DVD! uma música toca no último volume. o barulho de ferro velho se chocando. alguém grita. o fim do mundo está próximo! um novo grito: costelinha de porco! uma mulher diz: hoje eu mato o meu marido. ah, se não mato! picoto ele todinho e ponho dentro da mala! ninguém vai saber que fui eu... balança as pernas. pulamos na estação. ele diz: ler é mais importante do que ficar estudando 2, mais dois. faz sinais com as mãos. aponta com o nariz. olha esses caras que viajam todos os dias no vagão feminino. você acha que se eles tivessem lido alguma coisa em suas vidas fariam isso? estala a língua com insatisfação. que nada! faço cara de dúvida. nos despedimos.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Na Boca da Favela...
o velho Ernest pergunta ao moleque: tem mulher nessa punheta? sem tirar os olhos do aparelho o moleque diz: várias... o velho Ernest, tosse, cospe e diz: vocês são do piru, vocês são do piru, mesmo! vô te contar, hein! num canto fica o pessoal da porrinha. na mesa do meio o pessoal do carteado. que é o pessoal do velho Ernest. que faça chuva, ou faça sol, está ali. o velho Ernest diz: dormem a pamparra... é um entra e sai danado. calor. alunos. sexta-feira. feirinha. funk. crente. remanescentes de religiões afro. o velho Ernest diz: foda-se. eu contribuí com a previdência social a vida toda. com a providência divina. paguei por tudo o quê me foi imposto. tenho direito de tomar uma cerveja sossegado! essa preta vai falar na casa do... cigarro. hambúrguer. refrigerante. barraca de fruta. o velho Ernest lembra do tempo exército quando visitava as favelas dos amigos, mas isso foi antes da guerra. reclamando o velho Ernest diz: boca de favela americana é tudo igual! um policial aparece na esquina e fala num radio. tudo tranquilo na entrada da favela!
sábado, 14 de setembro de 2013
Sábado, Sozinho em Casa!
consegue se livrar da mãe. dois dias. evento da igreja. abre os olhos. uh, hoje é meu dia! pensa em cagar de porta aberta. porque não? sozinho em casa, pô! dá um chute na porta. se limpa. arrota. e peida sem necessidade. anda de cueca pela casa. diz para si: quando quiser tomo banho! ignora o Nescau preparado pela mãe. dá uma mordida no pão. tô sem fome. como quando quiser! pega o telefone. liga para o cupincha. diz: e aí, tô sozinho em casa... arruma umas putas pra trazer pra cá... (acende um cigarro!). o outro, como quem toma um susto diz: que isso, rapá! tá pensando que eu sou agenciador de puta? num prometo nada, não, mas vô tentar! ele insiste por causa de uma história boa sobre essa cara. vai para a internet ver se tem uma puta online. tem uma porção. mas nenhuma delas dá ideia para ele. as horas passam. o outro não aparece. pensa, foda-se, ainda tenho dinheiro para sair. conta a merreca deixada pela mãe em cima da mesa. dá pra tirar uma onda na festa. e arrastar uma puta para casa. quem sabe. mas mal sabe ele, que no final da nossa estória, o mocinho chega a casa de manhã, sozinho. bêbado. toca uma punheta. e vai dormir.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Uma Garrafa de Big Apple...
passa um viado... um deles diz, olha ali a tua menina, olha ali! e força as risadas. passa o gordão... ele pergunta: e aí gordão, quando você vai arrumar uma namorada? o gordão responde: quando você arrumar um trabalho! ele faz cara de decepção, e diz, estalando a língua: ah! passa a magrela... ele diz: vem cá, magrela, feia pra caralho! a magrela lança o dedo. lá vem o retardado da rua... ele faz o gesto de quem tá de olho no retardado. o outro digita rápido, sem tirar os olhos do aparelho, diz: esse maluco não tem o que fazer da vida, não? fica zanzando o dia todo pra lá e pra cá! passa a gostosa da rua... ele tira os olhos do aparelho, e diz: gostosa pra caralho, puta que pariu! o outro diz: gostosa é o caralho! isso é uma vadia, o namorado dela é um bucha... a gostosa ignora a existência dos dois. ele digita. sexta-feira, qual é a boa? o outro diz: sei lá, num sei de boa, não aí. maior tédio, aí. maior tédio. ele começa a caminhar com os dedos ainda em ação. o outro acompanha automaticamente, e puxa seu aparelho do bolso. a esquina fica vazia. ele diz. vamos ao supermercado comprar uma garrafa de Big Apple.... depois a gente decide o que fazer... ambos mantêm os olhos em seus respectivos aparelhos.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Walter Mosley e Chester Himes na Penha!
Walter Mosley diz: essa favela tá um saco, tá parecendo um campo de concentração... cheia de soldado... Chester Himes responde: tá parecendo é um quartel, isso sim! daqui a pouco eu vou começar a bater continência! ele diz isso, e ri sozinho. eles voltam para o assunto anterior. Walter Mosley diz para Chester Himes: não me venha com essa de que sabia que o Adriano seria craque desde o Campo do Ordem, Joe! (não sei o porque desses apelidos.), dizer isso aqui na Penha, é o mesmo que dizer que apostava na estrela do Zeca desde a época do Cacique. todo mundo fala isso! Chester Himes diz: Joseph, você é um velho que fala de Carlos Lacerda! Eu digo a Walter Mosley: dizem que Lacerda era um bom orador... Walter Mosley dá um tapinha em minhas costas, e diz: tá por dentro hein, rapaz? Chester Himes fala: daqui a pouco esse velho vai querer falar do tempo em que o Tenório mandava em Caxias. Walter Mosley grita: mas eu morava lá! Chester Himes responde, num disse? vou cair fora! esse papo vai terminar na trama do Getúlio com o Prestes... Walter Mosley me aponta o espelho. gostou do corte? saindo da barbearia Chester Himes levanta o Meia-Hora para cumprimentar uma senhora que passa na calçada com bolsas de feira. ele diz: tudo bom, com a senhora?
domingo, 1 de setembro de 2013
Eu Queria Ser Um Vândalo...
ele me pergunta: qual a diferença de vagabundo pra desocupado? eu digo: acho que o desocupado é o desempregado. é o cara que tá atrás de um trampo, tá ligado? já o vagabundo, esse não quer nada com o basquete! ele me pergunta: então você é vagabundo, ou desocupado? digo a ele: não sou vagabundo, nem desocupado. sou, um artista! (arregalo os olhos e levanto o dedo), continuo, você não entende isso porque você acha que todo artista é famoso. o jornal na mão esquerda. ele fica o tempo todo se balançando. a cinza imensa no cigarro. a chama alcança o dedo. ele pergunta: porque esses cretinos cismaram com esse tal de cheirinho da loló? porque esses putos não fumam maconha? quando ele diz cretinos está se referindo aos adolescentes. eu digo: talvez seja mais prático. maconha tem fumaça. chama atenção. dá trabalho. respiro. normalmente esse pessoal já cheira outra coisa, ou bebe. agora superexcitado me pergunta aos gritos: qual a diferença de vândalo para arruaceiro? pigarreio, e digo. o vândalo é o cara que quebra as coisas, que dá prejuízo nos outros. os arruaceiros devem ser aqueles caras que ficam jogando lixo no meio da rua. desisto. ah, sei, lá! ele diz: eu queria ser um vândalo... quando chega o guarda do manicômio judiciário, e diz: vão bora retardados!
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