sexta-feira, 28 de maio de 2021

Vaiados

Vai, avante!
Para ser vaiado por dez.
Achincalhado por mil.
Ignorado por todos.
Invejado por meia dúzia de lunáticos.
"Vocês não entenderam nada.
Só quem entendeu, fomos eu...
e o Gilberto Gil."
Caetano, disse...
Lima Barreto:
"A pior reação para um artista é o silêncio."
No ostracismo, ostracizado.
Deprimido.
Jogado num canto.
Fingir que não viu.
Não ouviu.
Nelson Rodrigues, que foi vaiado, disse:
"Se eles te vaiaram é porque você está no caminho certo"
Os Beatles foram vaiados num boteco na Alemanha.
Eu fui vaiado num carnaval em Caxias.
Quebra o violão, Sérgio Ricardo.
Abandonei o palco,
"Aqui, eu não canto."
Dei as costas para a plateia.
Igual o Jim Morrisson.
Fui embora.
Jards Macalé, Tom Jobim, Chico Buarque, Manoel de Oliveira, tudo vaiado!
Até Bob Dylan
Pula daí, Charly Garcia.
Desaparece, Belchior...
Joga o microfone no chão.
Fura, Tim Maia!
Toca fogo na guitarra Hendrix.
Quebra, Cobain.
Aí já é demais!
Mas, volta!
Se expõe.
Não por ódio.
Mas, por amor.
Por prazer.
Ah, polímata sem vergonha!
Querendo ser polivalente num mundo de especialistas...

Não Entendi Nada

 Eu estava numa tasca imunda no centro de Guayaquil encostado num balcão tomando uma Imperial. Esse senhor pediu um abatanado e bebericava a olhar a TV. Perto do caixa, o dono cuspiu no chão coberto por escarros e beatas, o odor nauseabundo de urina exalava do mictório exíguo atrás das caixas de Brahma. Ele enxugou o suor da testa com o pano de prato. Quando este cara apareceu na tela, o velhote de boina jogou um gole de abatanado para o santo e disse: "Esse gajo é cheio de ares messiânicos, mas não possui ventura nenhuma." Então deu outro gole e continuou: "Antigamente quando um cachopo queria se revoltar contra os pais e a sociedade; virava hippie, punk, rapper etc. Hoje em dia o cara se tranca no quarto, vai jogar videogame e abraça uma ideologia exótica. E como a maior parte da sociedade hoje tende ao humanismo, ele tem de a ser do contra, sonha entrar numa escola atirando." O velhote se virou para o homem que agora assoava o nariz e disse: "Pendura na minha conta." E saiu. Não entendi nada do que ele falou.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Inspira: ação!

Hoje não há poema.
Não há inspiração.
Não haver o fato,
nāo quer dizer:
não exista!
Para compor..
à vida!
Das confluências de incongruências.
Isto pode, não, ser bom.
Inspirador.
Inspira, a dor!
Abrasador.
À brasa! À dor!
Abraçador...
Abraça! A dor!

terça-feira, 25 de maio de 2021

Vespertino

Vespertino...

numa terça.

No sono da tarde,

dentro do sonho,

nunca se perca.

Good afternoon...

Good beforemoon!

Acertei em cheio!

 A vista é bela;

do lado de dentro,

do lado de fora,

de fora para dentro.

E se apresenta como numa tela.

Mas o que realmente importa,

está no centro histórico,

no histórico...

do computador.

No meio,

no interior.

Onde se fuçar pode até ser até feio,

ao revelar o que está escondido.

Acho que dessa vez acertei em cheio!

domingo, 23 de maio de 2021

Não é Velho

Não é velho,

não é antigo,

e sim vivo.

História viva.

Se conservado,

nos leva ao futuro.

Repensa o passado.

E nos faz aprimorar...

A vida. 

E acertar...

os passos.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Coisas que a minha mãe dizia

Se eu dizia ter ouvido alguém me chamar e não via ninguém a minha mãe me mandava gritar: “Não vou não, estou com Deus!” Quando o meu pai vacilava ela dava o vatícinio: “Mas que merda de homem!” Quando caía um garfo no chão: “Vem um homem aí” Se fosse uma colher: “Vem aí uma mulher” Quando as crianças estavam fazendo muita algazarra a minha mãe sempre dizia: “Muito riso e alegria é sinal de choro e de tristeza!” E sobre os invejos após algum feito extraordinário: “Vai ter gente que vai meter o dedo no cu e vai rasgar!” E sobre pessoas metidas: “Não tem merda no cu pra cagar!” Se eu desejava que o meu pai voltasse logo ela me aconselhava: “Diz o nome dele atrás da porta!” E quando eu fazia alguma merda a minha mãe era certeira: “Depois vai chorar na cama que é lugar quente.” Hoje eu teria respondido a tudo o que ela me dizia com: “A voz do povo é a voz de Deus!” A minha mãe é de um tempo e de um Brasil místico em que se acreditava na sabedoria popular e a forma de repassar essa “sabedoria” era através dos seus ditados.