sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Um Dia, Sabotage...

quando eu peguei o disco do Sabotage pela primeira vez, tive certeza que ia gostar daquilo. não sei porque, era a capa, os nomes das músicas. País da Fome, por exemplo, é um nome sintético. foda. do caralho, porra! resume o Brasil. conheci gente que não gostava de rap, mas que gostava do Sabotage. agora, se você não é, vai ficar de bigode na pista. dificilmente vai entender o que Sabotage diz. já teve comedia que me disse não gostar do Sabotage porque ele só falava de um "cara" chamado Brooklin. mas vai pegar frases antológicas como. desencana. a fama que matou Daiana. El Ninho na Itália, na sul polícia mata. ele é um perito em comparações, não sei quem mata mais, a fome, o fuzil, ou Ebola, quem sofre mais, os pretos daqui, ou de Angola. muitos que estão com o pensamento ao contrário. e no seu trabalho com a imagem, o meu pivete se diverte. reparo o jeito dele, quando ouve o som do rap, esquece. Sabotage vem a público falar de pó. e a gente sabe que tem muitos irmãozinhos derramado, mesmo. o Sabotage diz que tem de parar de cheirar, ele fala isso com a maior naturalidade. não deixa de ser um pedido de ajuda. sem o pó, só verdim. sou Sabotage, para ter mais humildade, só tomando Sustagen! Sabotage dispara a sua metralhadora giratória. são muitas palavras por metro quadrado. é muito rápido. é muita gíria. muita palavra cortada pela metade. Sabotage era gente boa. falava com todo mundo. conheço que gente que teve contato com o Sabotage, é unânime que o cara era gente boa mesmo no meio artístico, que é um lugar aonde a vaidade impera. é lógico que sempre existem os invejosos. vou longe, não preciso de capataz, dou meu sangue! até loki sente. é muito triste. é difícil ser feliz. Sabotage provavelmente era aquele cara que nas ruas das favelas é chamado de tio. e que todo mundo gosta. tanto os velhos quanto as crianças. Sabotage da religigiosidade afro. sobre os orixás. é de uma religiosidade brasileira... olhe por mais um nessa terra, senhor do Bonfim! sincretismo religioso. subiu para cantar num show de terno branco, e de blusa vermelha. e se vivesse no nordeste provavelmente ia falar do Padre Cícero. Sabotage fala de saudade do irmão, e das dificuldades de quem é pobre. mas fala isso como num blues. num tom de lamento. Sabotage não é agressivo. apesar da revolta é sereno. não é como a maioria de nós. por isso que para além dos palavrões. das gírias. e das histórias do crime, todo mundo gosta do Sabotage. velho, ou criança. a sua filosofia é básica, e funciona. é só fazer o bem para todo mundo ficar bem. ele tem a classe do Cartola. Sabotage deve ter tido uma iluminação na cadeia. Sabotage fez filmes. Até que um dia Sabotage ia levar a sua esposa ao trabalho, veio um cara, atirou no Sabotage, e acabou com a sua vida física. mas o Sabota já deve tê-lo perdoado.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Nicholas Cage...

Nicholas Cage caminha pelas ruas do centro. Nicholas Cage dirigi ali pela Lapa. Nicholas Cage pega uma mina que é a cara da Eva Mendes. Nicholas Cage dá uma dura num casal. e diz: eu quero um naco desse baseado! o rapaz olha para o Nicholas Cage. ele faz parte da máfia. da máfia dos italianos, tá ligado? Nicholas Cage namora a Eva Mendes que mora num daqueles cortiços do centro da cidade, esses cortiços antigos que são bucólicos durante as tardes de domingo, e tristes durante os dias de carnaval, quando ficam mais tristes pois parecem estar mais expostos aos nossos olhares, assim como os barrigões de chopp. Nicholas Cage é todo malandreado. macumbeiro. Nicholas Cage fez capoeira na juventude, e hoje ele está um pouco enferrujado. Nicholas Cage é malandro a moda antiga. se vivesse antigamente ele ia usar chapéu panamá na cabeça e andar de tamanco. Nicholas Cage desce do carro. Nicholas Cage diz: me dá o cachimbo de crack. Nicholas Cage fuma o cachimbo de crack igual aquele advogado. Nicholas Cage é do povo da rua. Nicholas Cage entra na favela e diz. eu quero maconha, e pó, eu quero maconha e pó. Nicholas Cage é carioca. deixa o radio do carro ligado numa radio que toca pagode. Nicholas Cage ouve A Patrulha da Cidade. Nicholas Cage diz rindo: enfia os vinte centavos no rabo! Nicholas Cage foi a um jogo no Maracanã. Nicholas Cage ouve o Maracanã dizendo: Nicholas Cage! Nicholas Cage ficou sentado perto da Charanga do Flamengo, curtindo o jogo chapado com o sorriso no rosto. Nicholas Cage anda bêbado pela cidade enquanto rola um blues ao fundo. Nicholas Cage vai beber até morrer. Nicholas Cage bêbado na Praça Onze durante o carnaval, ele diz. o Rio é foda, uh! Nicholas Cage ouve a música Naquela Mesa numa barraquinha de camelô, e diz para o rapaz, essa me lembra o meu avô! Nicholas Cage pega um disco do Benito de Paula de um viciado. ele diz: esse, fica comigo...Nicholas Cage vai buscar o pão com mortadela e o jornal. Nicholas Cage diz para o bandido. me dá só a maconha, e rala! Nicholas Cage passa no carro. eu atravesso no sinal aberto. Nicholas Cage balança o dedo na minha cara me ameaçando por ter avançado o sinal. ele faz como se fosse me pegar. Nicholas Cage entra num grupo de anônimos. Nicholas Cage se mata? Nicholas Cage, morre? não, ele não morre. ele para com tudo, e fica com o a Eva Mendes. hum... e diz: o meu nome é Nicholas Cage. estou em recuperação... e depois Nicholas Cage se converte. só não consegue parar de fumar cigarro. é, maldito cigarro.

Subúrbio...

uma menina preta passa com o namorado preto. ele diz: cala a boca, oh, você só fala merda! ela mete a mão na cara do filho da puta e diz, cala a boca é o caralho! corta pra ele de novo. subúrbio. pô, cara, eu queria ler um livro que eu vi naquele sebo que fica embaixo do viaduto da Lobo Júnior...  ele se chama O Porteiro da Noite... dei mole. subúrbio. o Thiago da Dulcineia. o Thiago da Conceição. o Leandro da Belisário. o Leandro do Prédio. subúrbio. plataforma. subúrbio. o cara no buraco da Penha. o cara paga vinte reais em dois bifes desse tamanho! subúrbio. como é que tá o rap? tá bem! como é que tá o charme? tá bem! como é que tá o rock? tá bem, também! subúrbio. corta pra um bêbado no bar, eu conheço esse cara, é o cara do rap! subúrbio. vai lá assistir o jogo com nós... subúrbio. toca a bola, sangue bom. caralho, da antiga, aí! só relíquia. subúrbio. pai, vai com essa barriga do lado de fora? maior micão, aí! você vai me buscar assim? maior micão, aí! subúrbio. Parque Shangai, subúrbio. você só anda de tênis? só. subúrbio. aí aquele cara começou a dançar caindo em cima de mim. gente, medo. subúrbio. eu cortei o meu dedo cortando laranja, vi o sangue escorrer, e saí gritando e chorando no meio da rua... ah, o meu dedo! oh, o meu dedo! subúrbio. como é que tá o livro? o livro tá bem! subúrbio. e a banda? tá indo bem! subúrbio. vai chupar, ou vai lamber! senta, senta, senta na piroca! subúrbio. menina, você acredita que no casamento do Naldo... subúrbio. O Dia. O Meia-Hora. O Extra. O Globo. Na Globo todo dia. uma colher de açúcar. uma colher de sal. o dia da eleição. Festa da Couto. subúrbio. feira da Montevidéu. subúrbio. Feirinha de Itaipava. católico. macumbeiro. espírita. budista. crente. subúrbio. a menina me olha, e diz. ter de ver esse tipo de coisa no meio da rua! lembro Cartola que dizia, quando eu passo, a gurizada pasma, horrorizada, como quem vê um fantasma, e o esqueleto humano, assim, vai cambaleando, quase cai, não cai. esse cara estudou comigo. ele é casado com uma prima minha. um moleque fala com a mãe cantando: mãe, eu posso ficar com o troco do pão? maquininha de música. Maluco Beleza. Vida Louca. Papel de Pão. subúrbio. bicho. corrida de cavalo. Nextel. Tablet. vamos circular. circulando, rapaziada! subúrbio. subúrbio. subúrbio...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tipo, Rolando Boldrin!

este cara que eu conheço é um bom contador de causos. pouco importa se é história ou se é estória. ela te prende. gosto de bons contadores de causos. tipo, Rolando Boldrin. ser um bom contador de causos independe de profissão, ou formação didática. o cara não precisa nem saber escrever. no caso dele, ele lê, e escreve bastante. e também já viajou um bocado. o que com certeza ajudou no seu conhecimento. então paro e fico ouvindo esse cara durante todo o tempo. ele diz: o cara apareceu na rua. ele tava com uma Kombi da firma em que trabalhava, e queria que a gente fosse com ele no centro. aí nós fomos, eu, ele, e mais dois moleques. aí num dos sinais da Leopoldina um cara disse de outro carro: pô, que cheiro de maconha, hein! o motorista olhou pro lado com a cara mais cínica do mundo, e disse: num tô sentindo, não! aí a fumaça começou a sair da Kombi. pô, como é que tu não tá sentindo? o motorista não deu mais ideia a ele. o cara olhou pro sinal, e disse: polícia! encosta... aí todo mundo desceu da Kombi. o parceiro dele ficou olhando os documentos, e ele ficou fazendo pergunta. nisso o motorista disse: esses caras ficam tudo no meio da rua de bobeira. aqui tá tendo muito assalto... não deixa de ser uma segurança, doutor. e o policial disse: mas, fumando maconha! o policial me perguntou: o que você faz? eu disse: sou estudante. ele virou pro outro moleque, e perguntou. e você, o que faz? ele disse: também sou estudante. e quando virou pra esse moleque que eu tava te falando, ele perguntou: e você, faz o que? ele respondeu assim: eu não faço nada... e o policial perguntou: como assim você não faz nada?! ele disse: eu não faço nada! o policial disse: você não trabalha? ele disse: não, eu nunca trabalhei! aí o policial perguntou indignado. e como você, vive? o meu pai me banca! o policial bufou, e desistiu. o parceiro dele devolveu os documentos e entrou no carro. o carro saindo, ele pôs os braços pra fora da janela do carona, e perguntou: você nunca trabalhou? aí esse moleque reafirmou: não, eu nunca trabalhei! ele sorri e dá um trago no cigarro...

Perdi a Minha Primeira Gravação...

era um rap. gravei uma fitinha demo. quem conhecia a música a chamava pelo nome de Terra Encantada. mas na verdade a música se chama Uma Jogada Do Destino, porque era o título de um filme que eu gostava. a estória não tem nada demais. um turista se perde, esbarra com um bandido "consciente" (sem piadas, por favor), e vai para o desenrolo. gravei a música com um ódio que nunca mais consegui repetir. como um crente fanático gritava que a gente estava tudo ferrado, e que ia tudo morrer de fome. depois fui descobrir que a maior parte de nós não está nem aí para o apocalipse, ou pra hecatombe que provocamos com nossa indiferença perante a vida. mas gosto daquela performance. depois disso me transfigurei numa porção de coisas, do romântico suburbano ao piadista sem graça. popular ao extremo. obviamente, que essa, por ser a minha primeira gravação, tem para mim um valor sentimental. levava as copias desta fitinha para as rádios comunitárias num tempo em que praticamente não existia internet. não passei a música para o CD. ela é de uma época em que me perguntavam: você é do hip-rock? eu parava festinhas juninas, e festinhas de pegação em escolas para gritar palavras de ordem! e assim como um Tim Maia raquítico, e anônimo, abandonei palcos. fui expulso. boicotado. fiz inimigos. dei lição de moral em gente da plateia. parei bailes funk. bailes charme. festivais de rock. importunei pessoas. quanta besteira, meu deus! quantas vezes desafinei no underground, como diz meu tio músico, e sai do tempo com essa mania de querer fazer, apesar de tudo. mas se algum doido que não consegue se desfazer das coisas, não por sua qualidade, (risada nervosa.) e sim pelo valor emocional que elas têm, e se tiver uma fitinha dessas, ou se tiver esse material digitalizado, entre em contato comigo. não tenho a música porque assim como hoje, naquela época acreditava que tudo é o registro de um momento, e por mais que não seja perfeito, é para ser compartilhado com os outros, para que eles possam compartilhar comigo também. mas, nem a esperança, nem o texto, morrem com o ponto final.

domingo, 21 de julho de 2013

Recorde de Curtidas do Facebook é de um Brasileiro!

Eugênio é um pacato garçom de 23 anos, carioca, e morador do bairro da Penha no subúrbio. mas ele tem uma façanha histórica para o mundo moderno. conseguiu ficar sentado durante vinte e quatro horas consecutivas, compartilhando, curtindo, compartilhando, e consequentemente sendo curtido. o primeiro desses recordes estranhos do mundo virtual, era de um australiano que havia ficado o mesmo tempo que Eugênio em frente ao computador, só que tuitando, que atualmente já é um verbo reconhecido pelo corretor ortográfico. Eugênio preferiu o micro tradicional aos outros aparelhos, pois o australiano do Twitter havia feito o mesmo. talvez para dificultar um pouco. lógico que tanto o brasileiro quanto o australiano tiveram uma boa alimentação, eram hidratados de hora em hora, e passaram por uma correção da postura corporal. eles urinaram através de uma sonda. mais nada seria permitido pelo motivo óbvio de tomar mais tempo. também foram acompanhados por nutricionistas semanas antes das respectivas empreitadas. e uma junta médica os acompanhou durante a prova. perguntei a ele como foi ter que compartilhar tudo, até coisas com as quais não concordava? ele disse: foi como tratamento de choque, rapaz, lobotomia. troço pesado. Eugênio tuitou desde coisas como gente xingando deus, pornografia, e apologia ao crime e as drogas. até mesmo curiosidades como a filha pedindo a mãe para dar uma ligada para ela, ou uma irmã pedindo ao irmão que pusesse o feijão no fogo. e muito adolescente se dizendo entediado na própria internet. que nas palavras de Eugênio serve para matar o tempo. a diversidade religiosa do brasileiro também foi uma das coisas que o assustou. pois ao mesmo tempo em que uma pessoa compartilhava algo extremo sobre sua religião, vinha outra pessoa compartilhando algo no mesmo nível sobre a sua. Eugênio disse ainda que no mesmo momento em que repassava um baita protesto pelos direitos dos gays, vinha um homofóbico atrás, algo bem radical. ele disse não ter parado para pensar que isso existia com tanta intensidade no Brasil. essa diversidade, brasileira. perguntei a ele: mas porque você fez isso? e a sinceridade não faltou: olha, não vou mentir pra você, não, rapaz. fiz isso pra aparecer, mesmo. não ia ficar famoso. não tenho nada a perder. perguntei a ele: e se alguém quebrar o seu recorde? ele respondeu rindo: invento outro. e para finalizar pergunto:  o que ele ganhou com isso? ele diz: apareci na televisão, ora! você veio aqui me entrevistar. não sei se é motivo de orgulho. mas este recorde é nosso!

Que Porra é Essa de Funk Ostentação?

ligo pro meu pai. pai, tudo bem? ele diz: fala! pergunto: o que é funk ostentação? ele responde. num sei não, aí. e me pergunta: era só isso? digo: só. ouço o sinal de desligado. depois eu ligo prum amigo gangsta rap. digo: e aí, cara, tranquilo? ele diz: tranquilo. pergunto: o que é funk ostentação? ele rebate: qual é, cara? tá me tirando! ouço o sinal de desligado. viro para o lado. balanço minha mina. pergunto: o que é funk ostentação? ela pergunta: que horas são? digo: cinco da manhã. ela se vira. resolvo ligar pra minha irmã. aqui é o irmão, me responde uma coisa, o que é funk ostentação? ela diz: vai a merda cara! ouço o sinal de desligado. ela se vira para o lado, e responde: era um babaca se passando por meu irmão, meu irmão tá nem aqui, meu irmão tá lá na Antártida!