Às vezes o silêncio.
Nenhuma trilha sonora.
Nenhum som ambiente.
Nada.
Nada mais que o silêncio.
Às vezes o silêncio.
Sem nenhum trator.
Sem nenhum motor.
Sem sol, lá, ou dó.
Só.
Só.
Só.
O silêncio.
Às vezes o silêncio.
Nenhuma trilha sonora.
Nenhum som ambiente.
Nada.
Nada mais que o silêncio.
Às vezes o silêncio.
Sem nenhum trator.
Sem nenhum motor.
Sem sol, lá, ou dó.
Só.
Só.
Só.
O silêncio.
Nós somos os órfãos da beatlemania. Nós que acompanhamos os Beatles desde o Cavern Club. Não ficamos tristes apenas quando a banda acabou. Nós estamos tristes desde quando eles deixaram de tocar exclusivamente, e deixamos de ser o seu público alvo e cativo. Antes daquela treta de John Lennon e o sonho acabou. Só nos resta ouvir Martha My Dear no rádio nessas manhãs de sol. A começar por seu piano de introdução … e sair a caminhar debaixo das árvores.
Eu converso com a tela em branco. Quando se escreve para ninguém é isso que se faz. Como num diálogo interno. Ninguém sabe porque um escritor cisma em escrever, mesmo não tendo a mais remota chance de publicar. São tantos. Eu não sou o único. Parece que arriscamos alguma companhia. Deve ser isto o que almejamos: ter alguém com quem conversar. O tempo todo. Falam também do prazer. Um satisfazer solitário, talvez. Como a masturbação. Qual graça tem praticar esse hobby na solidão do quarto como se fosse um dever. Entupir caixas de livros, os armários de contos, e os blogs de crônicas. Talvez por não ter a mínima habilidade social para puxar assunto. Mesmo fantasiando conversar com inúmeras pessoas ao mesmo tempo. Só nos resta escrever. Talvez seja destino. Outros irão romantizar e dizer que é o que eles conseguem fazer. A verdade é que ninguém sabe o porquê disso.
Eu já escrevi textos falando que os animais de estimação não podem ser considerados como filhos, e fui massacrado nas redes sociais. Não tenho um animal em casa, pois sei que vou querer viajar e não vou poder. Mas percebo que o mesmo tipo de gente que reclama tal maternidade e paternidade abandona os seus supostos filhos chorando e latindo nos finais de semana. Então reforço o que disse. Não, eles não são os seus filhos. Se abandonar uma criança como abandona um animal em casa você vai preso.
Os pecados pesam uma tonelada em minhas costas e eu preciso carregá-los por aí. Pois sempre que são acionados pela memória eles me fazem sofrer. Não ficam mais leves. O tempo não cura nada. Com o tempo, o que acontece com eles, é que são esquecidos mais rápido. Antes de voltarem novamente. É incrível chegar aos 128 anos.
Sequência de dias quase felizes.
Isso não é normal.
Uma hora ela volta.
E não é que ela voltou com força total?
Mas dessa vez teve um motivo.
Ela sempre carrega uns motivos.
Antes de me jogar na cama.
É bom ter o sol no rosto.
O sol entra pela janela.
Ela entra pela janela.
Eu não consigo trabalhar.
Eu não consigo estudar.
Mas confesso que não estou tentando.
Pois eu não consigo.
Sinto vontade de ver pessoas.
Não sinto coragem de falar com ninguém.
E lá se vai mais um objetivo abandonado.
Eu acordo dormindo e durmo acordado.
Ela deita ao meu lado e rouba meus sonhos.
Os meus clichês.