Eu fui abandonado por minha mãe… Ela deixou que um sádico me puxasse de dentro do seu ventre aconchegante e luminoso para esta terra. Ele me agrediu com uns tapas humilhantes na bunda, e quando eu comecei a chorar uma de suas capangas me levou para junto de outros pobres coitados enfileirados distinguidos apenas por pequenas placas de identificação. Depois a minha mãe me deixou com uma mulher que os outros chamavam de "tia" e que me puxava pela mão enquanto eu berrava para que ela não me abandonasse. Eu fui levado para um edifício onde dizem que formam seres humanos melhores e que nos preparam para a vida… mas, como podem perceber, esse não foi o meu caso. Eu pulava de uma instituição para outra e depois ia para esses lugares onde pagam uma miséria para que compre seu uniforme, coma, e volte no dia seguinte. Eu insistia para que a minha mãe fosse comigo; mas ela negava dizendo que eu precisava aprender a me virar, e eu me virava para outro lado. A última vez que minha mãe me abandonou ela se foi sem previsão de volta. Mas próximo a ela pude sentir o céu onde poderemos ficar juntos de novo, dessa vez eternamente. Enquanto isso eu espero aqui neste purgatório com outros milhões de pobres diabos órfãos que vagam sem pai nem mãe por este mundo onde a vida é dura e a morte é certa.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024
Na Academia
Na academia você percebe que não malha nada. Até que de tão fraco descobre que os mais fortes são os que frequentam os concursos de halterofelista.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
O Estudante
O estudante lê o mesmo parágrafo novamente. Ele está na solidão no silêncio do quarto. Procura o significado de dois conceitos e três palavras. Uma pássaro canta lá fora. Ele se distraí. Lê o mesmo parágrafo novamente. Caí a noite. O mesmo parágrafo novamente…
domingo, 28 de janeiro de 2024
Cidade Nova
A motivação para a escrita veio quando por curiosidade passei a ler sobre a história do samba e cheguei às suas raízes. Desci à Belle Époque com o seu encanto e as suas mazelas. Isso com o apoio de inúmeros autores; entre pesquisadores, jornalistas, cronistas, memorialistas, romancistas, e poetas. Inclusive conversei com guias e malandros vivos. Creio ter escrito do ponto de vista dos pobres; da malandragem, dos capoeiras, dos moradores dos cortiços, dos moradores dos morros, dos artistas, da cidade cosmopolita, das mulheres da vida, e dos boêmios. Além da inclusão de personalidades importantes da época e personagens de sua ficção. Com exceção de alguns autores daquele tempo, não conheço romances produzidos com esse enfoque. Não estou dizendo que não existam. O livro abrange o final do século dezenove e início do século vinte. Mas os acontecimentos nele resgatados nem sempre são fiéis ao tempo histórico. Por isso não pode ser definido como histórico e muito menos jornalístico. Nem era essa a minha intenção. Não sou historiador ou jornalista. A proposta era escrever um livro em que as pessoas pudessem viver por alguns momentos as fantasias e a realidade sombria pouco conhecida daquele tempo do centro da cidade do Rio de Janeiro. Após uma pesquisa de dez anos para Cidade Nova, eu perdi toda a mágoa que sentia por minha cidade ser tão desigual e violenta. Serviu de consolo saber que ela sempre foi assim.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2024
Eu leio Henry Miller escondido
É melhor falar...
É melhor falar. Sabemos que a maioria não entende ou não está preparada para ouvir. Mas o pouco apoio que se recebe já vale a pena. Fraco é o que se fingindo de forte não se fortalece, e sozinho implode. Não viva sob uma carapaça que não é sua. Ela pode pesar. Aparentar força não é ser forte. Mostrar fraqueza não é ser fraco. Pode vir a ser robustez.