Deus ajuda quem cedo madruga.
Quem fica parado é poste.
Quem para enferruja.
Quem vive de passado é museu.
Pra frente é que se anda.
A voz do povo é a voz de Deus.
Deus ajuda quem cedo madruga.
Quem fica parado é poste.
Quem para enferruja.
Quem vive de passado é museu.
Pra frente é que se anda.
A voz do povo é a voz de Deus.
Não quero opiniões irrefutáveis.
Ou posições que não se alterem.
Não quero ser especialista,
ou autoridade.
Clamo pelo direito da dúvida,
e oportunidade de existir.
Não quero crenças absolutas.
Preciso duvidar de tudo.
Preciso duvidar de mim mesmo,
e do meu nome.
Preciso desconfiar da minha própria existência.
Pois apenas com o mínimo de imparcialidade,
mesmo que não muita,
é possível existir.
Na
praia de Ipanema atrás do homem magro de óculos escuros e camisa branca aberta
está um povo antiquado com as suas calças boca-de-sino e cabelos démodés, como se
não tivessem acompanhado o mundo. Surge a linda repórter Glória Maria com um
microfone na mão. Ela pergunta:
-
Raul, você que defende a natureza, o que acha dessa ressaca?
A
câmera flagra um Corcel 73 com uma das laterais amassadas.
-
Eu acho que é uma coisa profética, já tá na profecia. – Raul Seixas responde – Inclusive todo mundo sabe que o Rio de Janeiro está abaixo do nível do mar.
Esse foi um primeiro vômito! Um primeiro anúncio! Ah, lá, rapaz! aterrou? Então
vamos lá, as portas dos edifícios estão fechadas, e quem dançou fui eu, o meu
carro foi jogado e arrebentou todo! Ainda bem que foi pra segurar a barra de
onda. O que tá errado é esse negócio de aterro aí! Tomara que arrebente tudo
aí! A natureza tá certa!
A
câmera se volta para Glória e às suas costas um rapaz gritou:
- Toca, Raul!
Vai, avante!
Para ser vaiado por dez.
Achincalhado por mil.
Ignorado por todos.
Invejado por meia dúzia de lunáticos.
"Vocês não entenderam nada.
Só quem entendeu, fomos eu...
e o Gilberto Gil."
Caetano, disse...
Lima Barreto:
"A pior reação para um artista é o silêncio."
No ostracismo, ostracizado.
Deprimido.
Jogado num canto.
Fingir que não viu.
Não ouviu.
Nelson Rodrigues, que foi vaiado, disse:
"Se eles te vaiaram é porque você está no caminho certo"
Os Beatles foram vaiados num boteco na Alemanha.
Eu fui vaiado num carnaval em Caxias.
Quebra o violão, Sérgio Ricardo.
Abandonei o palco,
"Aqui, eu não canto."
Dei as costas para a plateia.
Igual o Jim Morrisson.
Fui embora.
Jards Macalé, Tom Jobim, Chico Buarque, Manoel de Oliveira, tudo vaiado!
Até Bob Dylan
Pula daí, Charly Garcia.
Desaparece, Belchior...
Joga o microfone no chão.
Fura, Tim Maia!
Toca fogo na guitarra Hendrix.
Quebra, Cobain.
Aí já é demais!
Mas, volta!
Se expõe.
Não por ódio.
Mas, por amor.
Por prazer.
Ah, polímata sem vergonha!
Querendo ser polivalente num mundo de especialistas...
Eu estava numa tasca imunda no centro de Guayaquil encostado num balcão tomando uma Imperial. Esse senhor pediu um abatanado e bebericava a olhar a TV. Perto do caixa, o dono cuspiu no chão coberto por escarros e beatas, o odor nauseabundo de urina exalava do mictório exíguo atrás das caixas de Brahma. Ele enxugou o suor da testa com o pano de prato. Quando este cara apareceu na tela, o velhote de boina jogou um gole de abatanado para o santo e disse: "Esse gajo é cheio de ares messiânicos, mas não possui ventura nenhuma." Então deu outro gole e continuou: "Antigamente quando um cachopo queria se revoltar contra os pais e a sociedade; virava hippie, punk, rapper etc. Hoje em dia o cara se tranca no quarto, vai jogar videogame e abraça uma ideologia exótica. E como a maior parte da sociedade hoje tende ao humanismo, ele tem de a ser do contra, sonha entrar numa escola atirando." O velhote se virou para o homem que agora assoava o nariz e disse: "Pendura na minha conta." E saiu. Não entendi nada do que ele falou.
Hoje não há poema.
Não há inspiração.
Não haver o fato,
nāo quer dizer:
não exista!
Para compor..
à vida!
Das confluências de incongruências.
Isto pode, não, ser bom.
Inspirador.
Inspira, a dor!
Abrasador.
À brasa! À dor!
Abraçador...
Abraça! A dor!