Vespertino...
numa terça.
No sono da tarde,
dentro do sonho,
nunca se perca.
Good afternoon...
Good beforemoon!
Vespertino...
numa terça.
No sono da tarde,
dentro do sonho,
nunca se perca.
Good afternoon...
Good beforemoon!
A vista é bela;
do lado de dentro,
do lado de fora,
de fora para dentro.
E se apresenta como numa tela.
Mas o que realmente importa,
está no centro histórico,
no histórico...
do computador.
No meio,
no interior.
Onde se fuçar pode até ser até feio,
ao revelar o que está escondido.
Acho que dessa vez acertei em cheio!
Não é velho,
não é antigo,
e sim vivo.
História viva.
Se conservado,
nos leva ao futuro.
Repensa o passado.
E nos faz aprimorar...
A vida.
E acertar...
os passos.
Se eu dizia ter ouvido alguém me chamar e não via ninguém a minha mãe me mandava gritar: “Não vou não, estou com Deus!” Quando o meu pai vacilava ela dava o vatícinio: “Mas que merda de homem!” Quando caía um garfo no chão: “Vem um homem aí” Se fosse uma colher: “Vem aí uma mulher” Quando as crianças estavam fazendo muita algazarra a minha mãe sempre dizia: “Muito riso e alegria é sinal de choro e de tristeza!” E sobre os invejos após algum feito extraordinário: “Vai ter gente que vai meter o dedo no cu e vai rasgar!” E sobre pessoas metidas: “Não tem merda no cu pra cagar!” Se eu desejava que o meu pai voltasse logo ela me aconselhava: “Diz o nome dele atrás da porta!” E quando eu fazia alguma merda a minha mãe era certeira: “Depois vai chorar na cama que é lugar quente.” Hoje eu teria respondido a tudo o que ela me dizia com: “A voz do povo é a voz de Deus!” A minha mãe é de um tempo e de um Brasil místico em que se acreditava na sabedoria popular e a forma de repassar essa “sabedoria” era através dos seus ditados.
Pode ser aqui e agora,
dessarte quando triste,
ou até mesmo solitário.
Eu tenho o meu trabalho.
Nas festas de fim de ano,
quando todos comemoram,
e nas noites frias de inverno,
Eu tenho o meu trabalho.
Quando falta dinheiro,
quando falta amor,
quando sobra tédio,
Eu tenho o meu trabalho.
Caso não seja inteligente,
e não alcance a perfeição,
ou seja, bom o suficiente.
Eu tenho o meu trabalho.
Pode não valer a pena,
posso não ter talento,
mas ocupa a minha mente,
e constrói o meu tempo.
Hoje é o dia da língua portuguesa
Uma língua complexa
E cheia de recursos
Com um vasto repertório construtora de
beleza
Hoje é o dia da língua clássica de Camões
E da língua afiada de Nelson Rodrigues
Toda língua em suas transmutações
Sobrevive
Hoje é o dia da língua brasileira
Da língua angolana
Com as suas nuances
E as suas várias, dramas
Hoje é o dia da língua das ruas
Dos ditados e das gírias
Do informal, da norma culta
Da língua do povo e das academias
Na canção Gaudí da cantora de rap portuguesa
Capicua, é possível sentir o mal-estar na civilização do mundo pós-moderno e
líquido em que vivemos. Tudo se desfaz e desmorona. A solução está longe de ser
aquela apresentada pelo capitalismo e consumismo no qual vivemos e do qual não
conseguimos fugir. Estamos afundados numa bolha de marketing digital consumidos
por ela e por suas exigências de mercado.
Não há mais como ser original. Não adianta tentar
vender um novo estilo de vida. É o fim das esperanças e das ideologias. A protagonista
da letra se vê num emaranhado de relações que não escolheu; às quais vai sendo
levada e quando percebe é alcançada pelo tédio de toda a expectativa da era da
ansiedade. Ela correu atrás de tudo e de todos; das “curtidas” à projeção
pessoal e no final não alcançou à tão sonhada satisfação permanente.
As relações são superficiais. O mundo é superficial. As
fronteiras não são as mesmas de antigamente, como aquela que delimitava se nós
seríamos originais ou não. Tudo é vendido e comercializado. Tudo é moda e toda
moda é passageira. O seu tempo, o seu sono, e até a comida que você come
corresponde à sua persona criada ou inventada. Sobra um resquício de si. A
projeção distante do que poderia ter sido. Não há mais o que inventar.
As notícias são falsas porque o mundo é falso. E se
antes nos identificávamos com as nossas mentes e com os nossos pensamentos,
agora não passamos de joguetes de um espelho onde tentamos interpretar a nós
próprios. Sofremos da síndrome do impostor. Do pensamento acelerado. Isso nos
consome porque não há saída. Ou a pessoa se faz de tola e finge que ainda
existe rebeldia possível, ou ela aceita ser apenas um código de barras.
A ansiedade nos leva aos vícios e a ficar na cama
prostrados como ela diz. Alguns não conseguem se movimentar e simplesmente
travam. Pois cansaram de trocar as suas máscaras sociais. O ansioso faz tanto e
de um momento para o outro chega à exaustão e simplesmente não consegue se
mover. Acaba. Nessa hora é preciso morrer um pouco para não desfalecer
completamente. Até que surja o próximo guru ou remédio com o alívio.
Não convivemos com as nossas limitações. Não
conseguimos ser comuns. Nós, uns vendemos aos outros vidas especiais e tremendamente
sublimes, mas não há espaço para todo mundo. Nem todos andarão no tapete
vermelho da festa do Oscar. A maioria esmagadora terá de ficar de fora. Para
que os ricos, bonitos, e felizes possam acordar todos os dias e aproveitar,
pessoas comuns e feias tem de fazer o trabalho sujo de limpar as privadas.
E qual é a solução? O problema numa perspectiva
realista; importante frisar, não é pessimista, não há solução. Pois nunca
houve, a vida sempre foi assim, e continuará sendo durante toda a eternidade.
Porque nós temos uma ou duas coisas que podemos fazer debaixo do sol, sobre a
terra, o resto é correr atrás do vento como dizia o profeta. Ninguém vai sacar
da cartola uma solução mágica e resolver o problema de “ser humano”.
Nós somos limitados no âmago. Não adianta conquistar
Marte. Esta é a única constatação, nós não fazemos diferença alguma para a
natureza, e na hora que ela quiser nos chutar daqui ela nos chuta. E ninguém
vai nem notar a nossa falta. E os grandes homens do passado da humanidade?
Podem ter influenciado muito ou ainda influenciar, mas se nos pusermos num
ponto de vista materialista, hoje eles não passam de adubo.
Então fazer o quê? Desistir? Ir morar numa cabana?
Meter uma bala na cabeça? Não, nada disso vai resolver. Mas ter consciência de
que não é tanto nem tão pouco pode ajudar bastante. És um sortudo por respirar
e poder conhecer esta vida apesar dos pesares. Capicua foi certeira em sua
divagação. Pena que no meio do excesso de informação que circula no mundo, a
profundidade de sua poesia possa passar despercebida.
Talvez assim como a protagonista da música, a solução seja ocupar a mente, ou fazer arte como ela propõe no refrão, para sublimar o seu sofrimento ela vai juntar os seus caquinhos e fazer um Gaudí.