terça-feira, 25 de maio de 2021

Vespertino

Vespertino...

numa terça.

No sono da tarde,

dentro do sonho,

nunca se perca.

Good afternoon...

Good beforemoon!

Acertei em cheio!

 A vista é bela;

do lado de dentro,

do lado de fora,

de fora para dentro.

E se apresenta como numa tela.

Mas o que realmente importa,

está no centro histórico,

no histórico...

do computador.

No meio,

no interior.

Onde se fuçar pode até ser até feio,

ao revelar o que está escondido.

Acho que dessa vez acertei em cheio!

domingo, 23 de maio de 2021

Não é Velho

Não é velho,

não é antigo,

e sim vivo.

História viva.

Se conservado,

nos leva ao futuro.

Repensa o passado.

E nos faz aprimorar...

A vida. 

E acertar...

os passos.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Coisas que a minha mãe dizia

Se eu dizia ter ouvido alguém me chamar e não via ninguém a minha mãe me mandava gritar: “Não vou não, estou com Deus!” Quando o meu pai vacilava ela dava o vatícinio: “Mas que merda de homem!” Quando caía um garfo no chão: “Vem um homem aí” Se fosse uma colher: “Vem aí uma mulher” Quando as crianças estavam fazendo muita algazarra a minha mãe sempre dizia: “Muito riso e alegria é sinal de choro e de tristeza!” E sobre os invejos após algum feito extraordinário: “Vai ter gente que vai meter o dedo no cu e vai rasgar!” E sobre pessoas metidas: “Não tem merda no cu pra cagar!” Se eu desejava que o meu pai voltasse logo ela me aconselhava: “Diz o nome dele atrás da porta!” E quando eu fazia alguma merda a minha mãe era certeira: “Depois vai chorar na cama que é lugar quente.” Hoje eu teria respondido a tudo o que ela me dizia com: “A voz do povo é a voz de Deus!” A minha mãe é de um tempo e de um Brasil místico em que se acreditava na sabedoria popular e a forma de repassar essa “sabedoria” era através dos seus ditados.

sábado, 15 de maio de 2021

Eu Tenho o Meu Trabalho

Pode ser aqui e agora,

dessarte quando triste,

ou até mesmo solitário.

Eu tenho o meu trabalho.

 

Nas festas de fim de ano,

quando todos comemoram,

e nas noites frias de inverno,

Eu tenho o meu trabalho.

 

Quando falta dinheiro,

quando falta amor,

quando sobra tédio,

Eu tenho o meu trabalho.

 

Caso não seja inteligente,

e não alcance a perfeição,

ou seja, bom o suficiente.

Eu tenho o meu trabalho.

 

Pode não valer a pena,

posso não ter talento,

mas ocupa a minha mente,

e constrói o meu tempo.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Hoje é o dia da língua portuguesa

Hoje é o dia da língua portuguesa

Uma língua complexa

E cheia de recursos

Com um vasto repertório construtora de beleza

Hoje é o dia da língua clássica de Camões

E da língua afiada de Nelson Rodrigues

Toda língua em suas transmutações

Sobrevive

Hoje é o dia da língua brasileira

Da língua angolana

Com as suas nuances

E as suas várias, dramas

Hoje é o dia da língua das ruas

Dos ditados e das gírias

Do informal, da norma culta

Da língua do povo e das academias

terça-feira, 27 de abril de 2021

O Gaudí da Capicua

Na canção Gaudí da cantora de rap portuguesa Capicua, é possível sentir o mal-estar na civilização do mundo pós-moderno e líquido em que vivemos. Tudo se desfaz e desmorona. A solução está longe de ser aquela apresentada pelo capitalismo e consumismo no qual vivemos e do qual não conseguimos fugir. Estamos afundados numa bolha de marketing digital consumidos por ela e por suas exigências de mercado.

Não há mais como ser original. Não adianta tentar vender um novo estilo de vida. É o fim das esperanças e das ideologias. A protagonista da letra se vê num emaranhado de relações que não escolheu; às quais vai sendo levada e quando percebe é alcançada pelo tédio de toda a expectativa da era da ansiedade. Ela correu atrás de tudo e de todos; das “curtidas” à projeção pessoal e no final não alcançou à tão sonhada satisfação permanente.

As relações são superficiais. O mundo é superficial. As fronteiras não são as mesmas de antigamente, como aquela que delimitava se nós seríamos originais ou não. Tudo é vendido e comercializado. Tudo é moda e toda moda é passageira. O seu tempo, o seu sono, e até a comida que você come corresponde à sua persona criada ou inventada. Sobra um resquício de si. A projeção distante do que poderia ter sido. Não há mais o que inventar.

As notícias são falsas porque o mundo é falso. E se antes nos identificávamos com as nossas mentes e com os nossos pensamentos, agora não passamos de joguetes de um espelho onde tentamos interpretar a nós próprios. Sofremos da síndrome do impostor. Do pensamento acelerado. Isso nos consome porque não há saída. Ou a pessoa se faz de tola e finge que ainda existe rebeldia possível, ou ela aceita ser apenas um código de barras.

A ansiedade nos leva aos vícios e a ficar na cama prostrados como ela diz. Alguns não conseguem se movimentar e simplesmente travam. Pois cansaram de trocar as suas máscaras sociais. O ansioso faz tanto e de um momento para o outro chega à exaustão e simplesmente não consegue se mover. Acaba. Nessa hora é preciso morrer um pouco para não desfalecer completamente. Até que surja o próximo guru ou remédio com o alívio.

Não convivemos com as nossas limitações. Não conseguimos ser comuns. Nós, uns vendemos aos outros vidas especiais e tremendamente sublimes, mas não há espaço para todo mundo. Nem todos andarão no tapete vermelho da festa do Oscar. A maioria esmagadora terá de ficar de fora. Para que os ricos, bonitos, e felizes possam acordar todos os dias e aproveitar, pessoas comuns e feias tem de fazer o trabalho sujo de limpar as privadas.

E qual é a solução? O problema numa perspectiva realista; importante frisar, não é pessimista, não há solução. Pois nunca houve, a vida sempre foi assim, e continuará sendo durante toda a eternidade. Porque nós temos uma ou duas coisas que podemos fazer debaixo do sol, sobre a terra, o resto é correr atrás do vento como dizia o profeta. Ninguém vai sacar da cartola uma solução mágica e resolver o problema de “ser humano”.

Nós somos limitados no âmago. Não adianta conquistar Marte. Esta é a única constatação, nós não fazemos diferença alguma para a natureza, e na hora que ela quiser nos chutar daqui ela nos chuta. E ninguém vai nem notar a nossa falta. E os grandes homens do passado da humanidade? Podem ter influenciado muito ou ainda influenciar, mas se nos pusermos num ponto de vista materialista, hoje eles não passam de adubo.

Então fazer o quê? Desistir? Ir morar numa cabana? Meter uma bala na cabeça? Não, nada disso vai resolver. Mas ter consciência de que não é tanto nem tão pouco pode ajudar bastante. És um sortudo por respirar e poder conhecer esta vida apesar dos pesares. Capicua foi certeira em sua divagação. Pena que no meio do excesso de informação que circula no mundo, a profundidade de sua poesia possa passar despercebida.

Talvez assim como a protagonista da música, a solução seja ocupar a mente, ou fazer arte como ela propõe no refrão, para sublimar o seu sofrimento ela vai juntar os seus caquinhos e fazer um Gaudí.