quarta-feira, 29 de abril de 2020

Boca Suja...

O seu lábio leporino
O seu olhar felino
Musa do meu desatino
Do meu sonho ferino

Nessa tua estranha dança
Dessa nossa aliança
Que da noite para o dia
Eu deixei de ser criança

Eu vou atrás de você
Até você não me querer
Até me mandar embora
Mesmo sem saber porquê

O teu vestido curto
Em cima do que eu surto
Se for para ficar contigo
Meu amor eu não me escuto

A sua boca suja
A nossa cama suja
O corpo em cima do outro
Que o outro sobrepuja

Eu vou atrás de você
Até você não me querer
Até me mandar embora
Mesmo sem saber porquê

terça-feira, 28 de abril de 2020

Gente…

Resto de comida na beira da calçada,
a gente passa e não diz nada.
Resto de gente na beira da calçada,
a gente passa e não diz nada.

Gente que é gente por aqui não é ninguém.
Daqui a pouco se contar nem mais gente tem.
Gente que é gente por aqui não é ninguém.
Daqui a pouco se contar nem mais gente tem.

Será que eu entrei na rua errada?
Ou foi meu carro que parou na contramão?
Será que a minha mente está perturbada?
Ou sou eu que estou perdendo a razão?

Lugar onde se come ou se mata gente,
onde se fica louco ou indiferente.
Lugar onde se come ou se mata gente
onde se fica louco ou indiferente.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Especulação Imobiliária...

o maluco em pé que bate a cinza do cigarro no muro diz. cara, você viu o preço dos alugueis. o maluco do lado de dentro do muro diz, eu vi. viu o preço dos depósitos? eu vi. e tem que ter fiador né? é, e tem que ter fiador. e o fiador tem que ter dois imóveis às vezes. o cara diz, é, mas o aluguel está caro. o outro entende e concorda. é mesmo. tudo isso porque, o outro responde, especulação imobiliária. especulação imobiliária, porra nenhuma, rapa! embarca nessa mesmo, é isso que eles querem te fazer acreditar, tudo isso é por causa de um contêiner! só porque colocaram um contêiner da policia lá do outro lado, eles pensam que o lugar está mais seguro. engraçado que a tevê todo dia exibe a lista de inadimplentes! o outro sem graça encostou o pé no muro, e completou. Pode ser...

Sila - A Prisioneira Do Amor...

Sila saí da piscina, ela está de biquíni. Oh, Sila! com as suas feições finas. o seu narizinho empinado. arrebitado. Sila sai da piscina de biquíni! como só uma menina criada em Istambul no meio dos ricos poderia fazer. o seu corpo está encharcado, a água desce contornado sua silhueta. ela jogas os cabelos para trás tentando se livrar da água. e joga a toalha. Sila tem aquele ar que só as meninas cínicas tem. ela força a simpatia. você olha para Sila, e pensa que ela é um mar de simpatia, o seu rosto harmonioso, e o tom correto da sua voz, ela parece uma candidata a miss, a sua beleza está em sua postura de modelo. mas se observar bem, você irá perceber, que ela sempre deixa subentendido que talvez ela não seja isso tudo, ou talvez ela seja apenas uma menina mimada. Boran está na fonte. ele sempre leva rosas para sua amada...

Liberdade...

Não há ninguém na sala
Não há ninguém no quarto
Não há ninguém na mesa
Há um prato e um garfo

Não há ninguém na cozinha
Há bagunça na pia
Nenhuma mulher sozinha
Nenhuma alegria

Estou no banheiro
Ninguém reclama lá fora
Posso ficar o tempo inteiro
Ninguém vai gritar a hora

Eu posso sair
Ir para onde eu quiser
Mas o que eu queria mesmo
Ah, você, mulher…

Quem diria
Eu não sabia
Que a minha liberdade
Ia ser assim, um dia...

domingo, 26 de abril de 2020

A Curva Achatada...

A Curva Achatada será uma curta metragem documental de Delano Valentim, com duração de 5 minutos, retratando o dia a dia do artista durante à pandemia. O filme irá mostrar a atitude do personagem perante a quarentena. É a segunda curta de uma sequência de três filmes; que foi iniciada com Quarentena 369, e será finalizada com um último capítulo composto de imagens de arquivos.
A curta mostra o artista a trabalhar. Ele escreve, e compõe canções. Alguns desses textos serão publicados em seu blog homônimo. Assim como algumas das músicas que virão a ser lançadas em seu canal no YouTube. Parte do material o artista irá enviar para festivais e concursos de música e literatura. A Curva Achatada também exibe imagens inéditas de um futuro videoclipe.
O diretor apropria-se da metalinguagem e pensa a própria produção da curta que é exibida. Com imagens de si próprio com a câmera. Além da inclusão de sons que surgem da realidade, como as marteladas e barulhos de uma obra na casa vizinha, que serão inseridos na composição do filme, dando muitas vezes o ritmo dos cortes.
Toda a ação será composta por uma estrutura não linear, sem narração, mas que deixa evidente às intenções da obra. Não serão feitas entrevistas nem haverá um narrador. A curta irá privilegiar às imagens para contar a história e apresentar o personagem. Uma imagem que junto de outra compõe um terceiro sentido. Como no experimento do cineasta russo Lev Kuleshov.
Algumas cenas sobre o momento histórico em que estamos vivendo serão apresentadas; como a reação do artista perante às notícias, e mesmo a arte que é produzida a partir delas, presenteando à audiência com os meandros da inspiração. Assim como serão mostradas algumas influências literárias, cinematográficas e musicais; através de livros, fotografias e camisas. O diretor opta esteticamente pelo preto e branco com um filtro clássico que dialoga com antigas vanguardas cinematográficas e seus trabalhos quase artesanais.
A curta acontece no espaço confinado da casa de Delano Valentim. A obra frisa o momento atual de uma pessoa confinada, ao mostrar o dia a dia do funcionamento da casa, e certos cuidados necessários durante o período. Além de ser um filme sobre como uma pessoa reage ao confinamento, ele apresenta um artista inquieto em sua ebulição durante o seu processo criativo.
https://www.youtube.com/watch?v=9F5peLXblD0

O Lençol Molhado na Cama Molhada...

Você me disse isso
E eu te dei aquilo
Mas não é nada disso
Eu estou tranquilo

Me disse que não
Depois disse que sim
E eu caí no chão
Quando chegou no fim

No quarto de despejo
Por falta de aluguel
Quem nega o desejo
Furta a cor do céu

De um ponto final
Eu disse uma vírgula
Não me leve a mal
Eu estou tranquila

Depois do cigarro
Depois da bebida
Para o que era nada
Você ficou caída

A gente sonha um pouco
Passa uma noite inteira
Depois fica louco
Chega segunda feira

Dá um beijo na boca
Digo que é cedo
Quem coloca a roupa
Diz que não com o dedo

E volta para a rotina
Volta para o trabalho
Quem ficou por cima
Agora escangalho

Você me implora
Você me chama
Eu vejo a hora
Pulo da cama

Um chá de boldo
Na ressaca do amor
Percebi muito tarde
A segunda chegou

Mas fiquei suado
Você suada
O lençol molhado
Na cama molhada

A gente sonha um pouco
Passa uma noite inteira
Depois fica louco
Chega segunda feira