quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O Outro Lado da Maçã...

No começo é uma voz que a noite te chama aí você se derrama deita e rola na cama

É o cheiro do corpo o beijo no pescoço o cabelo sedoso você fica louco

Quando se lembra daquela boca do aroma da roupa da risada louca

O avião bronzeado de torso torneado de peito empinado bumbum arrebitado

E começa procurar até encontrar dorme cedo pra poder sonhar

Igual a todo homem se toca o telefone quase enlouquece se ela diz teu nome

Aquela voz suave baixa e um pouco grave o pensamento voa você vira uma ave

É toda diferente derruba de presidente para o trânsito causa um acidente

Rola uma simpatia um momento de alegria unir o útil ao agradável é tudo que você queria

Fica viciado parece um tarado o coração começa a bater acelerado

Vira poeta, contempla a lua vaga pela rua ela tem que ser sua

Na televisão, na ejaculação na internet na masturbação

Quem é a menina a tua heroína aquela pela qual você desatina

Novo ou velho caindo os cabelos cuida do visual malha o dia inteiro

Abandona de emprego abandona da tua família a mãe do teu filho da tua novilha

Sente tesão igual toda nação tem gente que vai parar na prisão

É o quê me deixa puto o ato corrupto o defloramento o tormento do estupro

Se isso é amor quem pode me dizer eu só posso te dizer que isso mexe com meu ser

Se isso é paixão quem é que dirá que não se bate no pênis e sobe pro coração

É a fome da droga, o poder do vício, conheço cum cara que parou num hospício,

Que sofreu a crise da privação, da separação, e hoje está em depressão,

Toma Lexotan, Prozac e Diasepan, Adão, comeu da maçã agora vive no divã

Você tá na loucura Você tá na procura, tá na fissura, e saí à procura com a pica dura

O homem machão, da globalização, onde não há pecado, não há traição,

É o quê olho não vê e o coração não sente, cada vez mais gente se entrega a serpente

Senão tem dinheiro entra em desespero ela não pode saber que tú tá no vermelho

Não é passatempo ou coisa de momento, esqueça o passado acabou o casamento

Joga fora o anel sorri no motel, depois do gozo se sente no céu...

A aliança fica na lembrança daquele dia de pura bonança

Aconteceu como tinha que ser... comigo, com ele, e com você...

Tiro no ouvido, pulo precipício, tomou veneno, cometeu suicídio

Crime passional, gesto sensual, no leito conjugal aonde é que tá o mal

Que o mundo muçulmano cobre de pano, naquela cabeça de apenas dez anos

Na capa da revista na vizinha adventista na tia na puta ou na artista

Na modelo magrela na passarela na atriz de novela na garota da favela

No que deus nos dá na nossa costela e até o demônio sofre por ela

Sonha tem miragem ninguém quer ficar virgem uma foto uma imagem uma vertigem

Só ela te diverte você se derrete pensa o tempo todo num se esquece

Sempre o mesmo motivo, começa a emagrecer para de comer e todos sabem por quê

Tiraram o doce de uma criança que não seguiu os passos da nova dança

Foi com o teu melhor amigo ou com um desconhecido com um cara pobre com um cara rico

Um dia ficou cansada? se sentiu entediada? Ou simplesmente saiu sem dizer nada!

Voltou pro ex-namorado? Voltou pro ex-marido saiu reclamando do tempo perdido?

Foi por amor ou foi por pura ilusão, disse alguma deu alguma explicação?

E você o quê irá fazer, continuar sonhando ou tentar viver?

Nessa postura sempre a procura do gosto do começo de uma nova aventura

Todo mundo explica tudo se complica amor de vagina bate e fica

Na verdade na realidade enquanto há tempo até mais tarde

Vai esperar ou vai ver no lema de arrumar um novo problema

Me disseram que é gostoso um prato apetitoso de um paladar muito saboroso

Claro que provei que comi e que gostei e posso até te dizer que me senti um rei

Que se pudesse voltaria no tempo talvez amenizasse o teu sofrimento

Elas estão no colégio elas estão no trabalho em todos os lugares em todos os horários

É a chama que incendeia a aranha em sua teia a mais bela sereia o top less na areia

E você pare de beber ponha um cd e hoje à noite nós vamos fazer o quê?

Uma cama dividida acaba com uma vida e cria outras mal concebidas

Vai sair vai se divertir já tem o quê fazer já tem pra onde ir

Agradece a deus fica de joelhos levanta essa cabeça se olha no espelho

Mais uma madrugada uma noite enluarada, e a mulherada daqui não te diz nada

Vai falar com ela veja como é bela sorriu pra você então é aquela!

Aconteceu como tinha que ser... comigo, com ele, e com você...

Dita...

Amor bandido escuta o quê eu digo, eu continuo vivo tô falando contigo
Copacabana tem aquela má fama, mas dá muita grana trepar com bacana
Honorário farto o ano inteiro esperar pelos gringos chegar fevereiro
Febre da selva favela de pedra noite suja nome de guerra
Nossa Senhora Barata Ribeiro tecla virtual quanto puteiro
Banho de espuma que porra nenhuma quem não cheira fuma não se apruma
Ipanema Gávea Barra Leblon promessa de muito ganho pura ilusão
O leão de chácara vai te esperar até o último centavo nada irá sobrar
Tá na resenha da luta ferrenha ponha camisinha não fique prenha
Escravas brancas cabelos louros, escrava negras, boca de ouro
Um anjo um broto que já nasce morto pensamento torto clínica de aborto
Cargo chulo carro de luxo o lucro é pouco mas tem muito custo
Caia na agência, sem experiência rosto bonito dê a preferência
Bunda de saúva você tá uma uva, mas vai ficar viúva cedendo à vulva
Arrebenta o hímen da virgem feliz agora um clitóris de qualquer infeliz
Fetish script boquete internet mundo hi-tech AIDS site kitinetch
Regime detenção semiescravidão na lei do ilegal também tem exploração
O dia inteiro num apartamento o telefone toca a qualquer momento
Direto pro motel fora do bordel sem a proteção do Arcanjo Miguel
Beijo na boca é o que gama o demente na cama ele diz que te ama
Dependente químico paciente clínico usuário do crônico do caixa eletrônico
Quando o corpo murcha você cai na pista dar pra taxista brigar com as bichas
Minissaia preta, vermelho batom em frente à praia azul gás neon
Polícia militar polícia civil faz o que faz e diz que ninguém viu
Meu bem toma cuidado com a playboyzada que quando drogada quer dar porrada
Hoje a sua foto nos classificados logo mais você num bar de viciados
Puta rampeira acordada a noite inteira a mesma choradeira cheia de olheira
Oh! Dita me liga me diga como você tá como é que vai a sua vida?
Dita me liga
Dita me diga
Como vai você
Como é que vai a sua vida?
Eu já não posso mais julgar ninguém o sexo é a sua arma é o que você tem
Eu sei que nunca terá uma justificativa o que no desespero é uma alternativa
A sua amiga diz para sair se divertir vamos curtir! Vai ficar parada aí?
A mente padece a vista perece o corpo fenece a gente falece
Na loja do shopping a grana não via o salário não rendia a maior covardia
Eu ainda tô moço e cachorro quer osso não dá pra viver sem um puto no bolso
Seu tempo é louco e ainda e já é tarde pra estudar esperar faculdade
O segundo grau feito nas cochas nem que a prova fosse tão frouxa
Sua família não pode esperar comidas e roupas contas pra pagar
Você não confiou não acreditou em mim e a sua ansiedade decretou o nosso fim
Com uma dor no peito eu sigo cantando pra que nossa gente continue respirando
Um abraço na minha tia outro na sua irmã a minha Pingalã garanta o seu dia de amanhã
Ouça o meu coração e fique sabendo que por mim você não estaria se vendendo
Eu fiz o que pude o que eu pude eu fiz desculpe se não deu para fazer você feliz
Eu não sei o que é pior eu não queria estar só o caminho mais rápido nunca é o melhor
Tempo perdido vida bandida algo de errado, tendência suicida
Eu perdi você para o dinheiro o que posso dizer cuide bem dela parceiro
Conto urbano poesia urbana criaturas da noite a primeira dama
Santa Rita Escrava Anastácia Escravo de Ogum Santa Engrácia
No antebraço a tatuagem no canto da sala a tua imagem
Mas a que fica na minha lembrança é a daquela garota cheia de esperança
É muito difícil trair os meus princípios com seus artifícios de parco sacrifício
Eu sei como é que é a vida de gente pobre cada um se vira da maneira que pode
E o que a gente capta dessa bravata é que ninguém gosta, todo mundo se adapta
Oh! Dita me liga me diga como você tá como é que vai a sua vida?
Dita me liga
Dita me diga
Como vai você
Como é que vai a sua vida?

A Menina Branca da Piscina...

A menina da piscina é toda branca

E faz de tudo para pegar uma cor

Ah, se a água da piscina fosse santa

Se fosse santo esse seu bronzeador

A menina da piscina é muito branca

Mas eu sei o quanto ela quer se queimar

Com o fone no ouvido ela canta

Enquanto passa o seu protetor solar

Eu vou viver no fundo dessa piscina

Eu vou viver alucinado pelo cloro

Eu vou viver bem dentro dessa menina

Eu vou viver dentro de quem tanto choro

A menina da piscina é tão branca

E vê no mar uma bela tatuagem

Subo de escada ou então pulo da prancha

Fico na borda à mercê da sua margem

A menina da piscina é demais branca

Só que tem óculos de sol e viseira

Eu tenho um preto excluído na garganta

Desses que estão cansados de viver à beira

Eu vou viver no fundo dessa piscina

Eu vou viver alucinado pelo cloro

Eu vou viver bem dentro dessa menina

Eu vou viver dentro de quem tanto choro

Amor Internacional...

Eu sou brasileiro
Ela é portuguesa
E com sua pele alva
Ela parece uma princesa
Ela é do tipo
Que pertence a realeza
Ela é frágil igual cristal
Com sua imponente beleza
Ela diz nem por isso
E a gente fica a toa
E vagamos sem rumo
Nessas ruas de Lisboa
Um drible do Ronaldo
Uma frase do Pessoa
Vamos a Cidade Alta
Pra poder ficar de boa
Eu e ela
Um amor internacional
Eu e ela
Paixão transcontinental
Ela me diz que o Rio é gira
Eu digo que é sensacional
Mas é que por você
Eu vou ficar em Portugal
Ela diz que eu sou fixe
E me leva ao seu castelo
Você minha Desdêmona
Sem ciúme eu sou Otelo
Ela me leva a conhecer
O seu universo paralelo
Ela é verde e vermelho
Eu sou verde e amarelo
Eu atravesso um oceano
Eu atravesso os verdes mares
E quando estamos juntos
Vamos a todos os lugares
Eu a levo a Ipanema
Ela me leva ao Algarve
É então que nosso amor
Vai se espalhar pelos ares

domingo, 14 de maio de 2017

Paralamas no Olaria!

>No alto de uma igrejinha iluminada seis horas tocou a Ave Maria que banhou toda a Penha e região. A lua cheia brilhava tremendamente no céu. Era uma noite dessas agradáveis em que se pode respirar o ar puro da Zona-Norte e sentir o odor das flores independente da estação. Antes do show um DJ tocava músicas que se estão por aí “Desde os anos oitenta...” como se diz por aqui. New Wave, Funk Melody, Miami bass. Então rolava Simple Minds, The Smiths, The Cure, Information Society, Stevie B, e com certeza o Toni Garcia deve ter pintado por lá. Havia um clima de flashback no ar... Os mesmos passinhos de antes. A pausa do DJ no mesmo lugar que se fazia na época em que os Paralamas foram lançados. O Olaria estava lotado. A iluminação era ótima. A temperatura da bebida e a simpatia no atendimento também. Quando Os Paralamas entraram no palco me veio à mente aquela época em que eles apareceram, e o Herbert e o Renato Russo, que entre tantos outros bons letristas do rock Brasileiro já eram idolatrados. Mas o clima de nostalgia começa a ser quebrado. E você vai entendendo porque nessas três décadas de historia musical eles estiveram presentes. Na plateia gente de todas as idades. Os músicos da fila do gargarejo com os pescoços esticados e boquiabertos. As músicas recentes, e aquelas que se apresentam como clássicos acompanhados por crianças. “Palavras duras, em voz de veludo, e tudo muda, adeus velho mundo, há um segundo, tudo estava em paz...” e adolescentes roqueiros cantando. Eles são amigos. E tem prazer de tocar juntos. O Herbert é um grande guitarrista que faz arranjos memoráveis para seus shows. O Barone parece uma bateria de escola de samba. As imagens do solo do Barone no telão... E o grave do Bi Ribeiro... Eles tocam com o mesmo fervor de sempre. E se você gosta dos Paralamas vai ao show e ainda se surpreende com os arranjos das músicas. A história no telão sendo passada. E ali embaixo a história da música brasileira acontecendo. Agora não me lembro dos Paralamas terem tocado Uns Dias? Que creio eu dá nome ao show. A versão de Caleidoscópio. A velha guitarra de blues. Ela Disse Adeus. A bateria de Perplexo. Os vocais do Herbert. A sua simpatia jogando as pessoas para cima. Sempre celebrando com palavras de incentivo. O João Fera nos teclados, sempre. Os outros dois amigos do sopro também. Eles nos passam uma boa energia, o grupo todo, os seis. É visível o quanto são amigos. Talvez por isso estejam nesse longo caminho. Eles respeitam o público que deseja ouvir seus sucessos. Ou pelo menos esse show é isso. E eles tocam Meu Erro e Lanterna dos Afogados com o mesmo apreço. O Calibre... que rock and roll! E Trac-Trac ao vivo? É lógico que também gosto de Brasília, O Trem Da Juventude, e Foi O Mordomo... Músicas que não sei com qual frequência os Paralamas tocam. E aquela guitarra de Herbert que acompanha os sopros de O Beco? Tudo ao vivo é jogado para cima e executado com precisão, como dizem. Herbert acenou para a rapaziada e olhou nos olhos das pessoas. Enquanto alguém empurrava a mesma cadeira a qual ele se refere, “em cima dessas rodas também bate um coração.” Alterando a letra de óculos. Eles tocaram tanto, e de repente acabou. Passou rápido. Deu esse gostinho de quero mais...

sábado, 6 de maio de 2017

Férias na Prisão!

Quando ele chegou à cadeia a primeira frase que ouviu foi: no crime todo mundo tem um vulgo! Ele ficou entre Ode. E Brecht. Ele escolheu o dramaturgo. Antes do almoço, Fernandinho Beira-Rio companheiro de cela de Brecht disse. Vai rolar um aperitivo, uma cachaça de arroz... Depois da bóia rola um fino de cadeia, o digestivo. O homem magro e de óculos. Disse: não, obrigado... Se tivesse uma pancadinha de Uísque. Fernandinho disse. Uísque é horrível! É pior que cachaça! Brecht perguntou à Beira-Rio. Porque você tá aqui? Tráfico! E você? Por causa do meu vício! Qual? Beira-Rio pôde ver o olhar lunático de Brecht para as grades, ele disse. O meu vicio era comprar as pessoas. Eu estava viciado em comprar as pessoas. Um amigo seu da firma disse isso no depoimento, Beira-Rio respondeu. Ele disse que o pessoal da empresa estava viciado em comprar os outros. Eu vi na Globonews. Beira-Rio balançou o cigarro. Quando a gente olha pra você não imagina que tenha esse poder todo! Nem eu quando comecei imaginava que pudesse ter esse poder todo. Você não entendeu... Eu era o homem da mala preta. E chega uma hora que você não tem mais quem comprar, e você fica de saco cheio! É fácil demais... É como um jogo. Depois que você conhece os macetes. E que não tem mais para onde ir, você começa a se sentir entediado. Eu não aguentava mais aquela mala. Ela havia se tornado pesada demais. Era hora de dar a vez para outro. Beira-Rio disse: você tem que me contar uma coisa. Advinha sobre o quê é que eu quero saber... Eu quero saber sobre aquelas festas. Eu tinha uma amiga que trabalhava como garota... O carcereiro passou o cassetete na grade. Ele diz: o nosso amigo do Deus Supremo, disse que vai rolar um habeas corpus. O Brecht abre um riso.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Um Livro no Bolso de Trás da Calça...

Um livro na fila do consultório. No elevador. No trem. Um livro no bolso de trás da calça. Ou no bolso de lado da bermuda. Uma edição de bolso. Um pocket book. Você quer um calhamaço ou uma brochura? Eu carrego um tijolão dentro da mochila! Um livro encadernado. Um livro sentado na privada... Eu fico triste por sentir enjoo com a leitura no ônibus. Por isso admiro quem consegue ler em pé no ônibus. E admiro quem consegue ler no trem... Outro dia fiquei impressionado com uma menina lendo andando. Mas a verdade é que eu faço o mesmo quando o livro é bom, e não dá para esperar o trajeto de volta da biblioteca... Um livro dentro do avião enquanto avisos incessantes disputam com a leitura. Um livro como uma única companhia. Numa casa vazia. Ou num leito de hospital... Quantos escritores começaram a escrever quando estavam doentes. Quantos escritores escreveram durante a guerra. E quantos em campos de batalha. Em prisões. Convalescendo. Passando fome. Sem dinheiro no bolso ou na conta. Cegos ditando para os outros. Escrevendo apenas com uma das mãos. Comendo comida de cachorro. Quantos tinham esquizofrenia. E quantos deles tinham depressão, epilepsia. Vícios. Quantos morreram de pneumonia ou tuberculose. E quantos mestres morreram sem ter a oportunidade de publicar um único livro. E quantos não quiseram aparecer. Quantos para que um livro repousasse em nossas mãos... Eu conheço gente que lê um livro de seiscentas páginas de um dia para outro. E não é leitura dinâmica, não. O negócio é sério! Mas dependendo do livro... Eu era só uma criança naquela época. E me lembro como se fosse hoje quando um livro se iluminou em minhas mãos. Eu nunca mais me senti sozinho. Ou entediado.