Agora é só porrada é só filme de ação
É só sangue jorrando a saga de Lampião
Tiro pra todo lado carro virado explosão!
No morro na favela ou no deserto do sertão
O cinema americano é igual o Rio de Janeiro
Tem morte o tempo inteiro tem trabalho pra coveiro
Aqui só tem bala perdida e lá só tem tiro certeiro
Explode a mão do suicida a pólvora do morteiro
Mas igual acontece aqui nas ruas do Brasil
Não há vítima que morra com um tiro de fuzil
Morreu-se num “frame” num piscar você num viu
E o mocinho sempre mata o bandido e sua “crew”
Em filme de ação mãe de bandido não chora
A polícia é veloz e sempre chega na hora
E o rabecão que anda por lá por aqui sempre demora
E se a justiça falha a vingança vigora
Quando se aproxima o descer dos créditos
A vitória é sempre do policial honesto
A moral do filme te leva a agir correto
E fica aquela sensação “porra tudo vai dar certo1”
Se existe omissão, apatia e preguiça
E não há educação, a saúde, e a justiça
Entra em cena, a polícia, o bandido, e a milícia
É então que se produz mais presunto que linguiça!
Agora é só porrada é só filme de ação
Estado Islâmico Al Qaeda Penha Afeganistão!
Cai uma marquise e voa um bueiro
Pois se compra o fiscal e se compra o engenheiro
Uma é morta à facadas outra é apedrejada
Milhares de mulheres todos os dias são estupradas
E o gringo que vem pra cá arriscar a própria vida
Adora à vista da cidade que está suja e poluída
Onde pedofilia é coisa de televisão
Tem menina que engravida com o corpo ainda em formação
A gente dá uma moral, a gente paga propina
E depois a gente reclama que leva tiro na esquina
A gente reclama de político, mas ah se ele me desse um emprego...
A gente joga guimba no chão, mas anda morrendo de medo
Quem paga mais imposto tem sempre mais desgosto
Tem cristão que estaciona o carro na porta dos outros!
Tem intelectual que não perde um emprego público
Uma Lei Rouanet ou uma bolsa de estudos
Existem políticos mais ignorantes que seus próprios eleitores
Ao invés de técnicos profissionais apenas amadores
Mas também existe o medo, a apatia, e a preguiça
Quando não há educação, saúde e justiça
Entra em cena a polícia o bandido e a milícia
É quando se produz mais presunto do que linguiça
sexta-feira, 15 de julho de 2016
quarta-feira, 13 de julho de 2016
O Melhor Amigo Do Cão!
Trata gente igual bicho
Trata bicho igual gente
Diz que é o seu melhor amigo
Mas o cão é inocente!
Se ao invés de latir
Ele pudesse falar
Você ia ouvir
E não sei se ia gostar
De saber que o coitado
Odeia andar no colo
Que inveja o vira lata
Quatro patas no solo!
Lógico que é bacana
Poder dormir na cama
Não diz que ele é seu filho
O espelho não se engana
Você ama seu pupilo
Gato que não caça rato
Não falta é pretinho
Sofrendo no orfanato
Dá azar ter gato preto
Quer ter parto natural
Que dirá um filho negro
É você que é o animal!
Eu conheço esse Canil
Ele não se chama Suíça
Abandonado no Brasil!
Sofrendo na SUIPA!
Bicho tem aniversário
Tem velório tem enterro
O playboy queima o mendigo
E se enterra aí mesmo!
É só sacanagem
Ou falta vergonha na cara
No meio de uma crise
Comprando ração cara
O animal deve pensar
Não sabe como eu me sinto
Não posso me desenvolver
Nem usar o meu instinto
E com a sua moda pet
Ele se sente um engomado
Com a roupa do seu time
E o sapatinho apertado
Antigamente cachorro
Comia resto de comida
Quanto animal de pedigree
Viveu assim por toda a vida
O cachorro era da rua...
Não era de ninguém!
Hoje pode reparar
Que ninguém vira lata tem
Se pudesse responder
O que ele acha do frufru
Muito cão ia dizer.
Dono vai tomar no cu!
terça-feira, 12 de julho de 2016
Lapa de Luís Martins...
“Cinco horas da manhã. Depois de uma noite perdida nas pensões do amor barato...”. É desse jeito que Luís Martins inicia o seu livro Lapa. Ele te joga num ambiente sórdido apenas na primeira frase. Luís Martins foi mais um autor vítima da inveja e do falso moralismo brasileiro. O autor teve livro recolhido e tudo. Na introdução do seu livro Noturno da Lapa, ele narra magistralmente esse episódio de sua vida. O Lapa de Luís Martins pertence ao apagar das luzes do cabaré. Aconteceu no fim da época de ouro da Lapa. O Lapa de Luís Martins é um livro sobre o baixo meretrício. Um personagem vai se casar com uma das prostitutas. E isso fará fazer com que ele perca o emprego. Uma censura moral. Assim como aconteceu com o autor e seu livro. A Lapa de Luís Martins não é a futura Lapa dos turistas. É a Lapa da desesperança. Não existem descrições sexuais. O narrador Luís Martins é um romântico. Ele é aquele cara que no final da “festa” sente a depressão. Luís analisa a vida das prostitutas a fundo. Envolve-se com elas emocionalmente, as ajuda, e vê uma namorada sua, a qual ele negou fogo trocá-lo por outro para em seguida estrear na prostituição. Ele se apaixona. E se alguém esperava um boêmio garanhão, ou um malandro... O malandro só aparece para dar um bico na barriga de uma das prostitutas. e para apunhalar o rosto de outra. Não há glamour aqui. Não lembro se ele deixa explícito, mas bem diferente das prostitutas que frequenta, o narrador tem boas "condições". Mesmo que seu pai não seja rico, como ele diz, a sua situação era ótima para aquela época. A sua penúria é mais por não dançar conforme a música dos pais. A descrição dos lucros, da decadência, e da mudança de status dentro da prostituição são impressionantes. O livro não é um canto ao prazer. Ele está mais para denuncia e o desabafo. Nada do escritor que se apaixonou por uma prostituta e escreveu uma linda historia romântica. Nada do vivant feliz. Quando o narrador volta depois de um período de dois anos em que foi "estudar" em outro estado., ele percebe que a vida das mulheres mudou drasticamente. Agora ele sente pena de Odette por quem foi apaixonado, e a quem agora presta auxílio. Ele recebe o conselho de Odette para que abandone seu novo caso, pois ele não é precisa viver na zona com gente como elas... Soa como um medo de que ele se torne "homem de mulheres". Odette ateou fogo às vestes. Odette. Ela corre tentando se segurar nas companheiras... É terrível... Mas ela não era a única. Como existia aquela "personagem" do samba de Wilson Batista que também pôs fogo às vestes...
domingo, 10 de julho de 2016
A Fantástica Fábrica De Cadáver! Carlos Eduardo Taddeo...
você já ouviu esses tiros? quando são de armas de calibre trinta e oito são secos. explodem. explodem. pipocam. se forem de calibre quarenta cinco eles são mais graves. eles vêm em sequência primeiro. e depois de segundos infinitos se tornam espaçados. depois de um silêncio constrangedor. começa a se ouvir passos. alguém surge primeiro na esquina com a cabeça esticada. depois aparecem mais e mais pessoas. os passos se tornam mais rápido. já se ouvem vozes. e lá se vem algum nome familiar. um novo silêncio. esse amedrontador. normalmente vêm os gritos, e os choros das mulheres. aí vem a pior parte. a hora dos choros das mulheres. e aquele último choro, que é o da mãe, ele é insuportável, saí do fundo da alma, é uma dor sem cura essa da partida. A dor do adeus...
na entrada da favela existe uma máquina. está tocando Eduardo o tempo todo. uma crackuda tá dançando sozinha. ela tem uma garrafa vazia na mão. um coroa caquético aperta um baseado. um grupo entra num beco que dá para o outro lado. mutilados. esfacelados. todos estão por ali. naquele lugar tão filmado, tão comentado, mas tão pouco frequentado por aqueles que deveriam, muito frequentado, muito “mal frequentado”. enquanto a voz do Eduardo ecoa...
antigamente os moleques balançavam a cabeça ouvindo rap, olhavam para o lado, e diziam: “Só a realidade!”. ninguém fala mais a realidade. Atualmente só o Eduardo fala a realidade. talvez alguns outros... eu sou um que não digo a realidade. ainda sou muito egoísta. mas reconheço que o Eduardo diz a realidade. antigamente eu ficava feliz quando ouvia um disco de rap com dez músicas boas, vai que fossem oito, mas duas horas?!... ele exagerou, e é como se dissesse quem sair por último apague a luz. Eduardo é uma metralhadora de palavras. e que porra é essa de cultura que ele tem que ele vem citando todos os teóricos revolucionários, e anarquistas, e mistura tudo isso com gírias das favelas de São Paulo, com a história do Brasil, com a história do mundo, eu nem tenho tempo de pesquisar todas aquelas citações. calibres. policias. leis. documentos. mas se tem aula sobre tanta coisa. ele parece um jornalista falando. para que o playboy entenda tem de explicar que ele é uma espécie de Ricardo Boechat. para que o playboy entenda tem de explicar que ele é uma espécie de Chico Buarque para a poesia. você tem de ouvir o disco com uma enciclopédia e um dicionário do lado. vai aprender muita coisa. a história do Brasil. tudo que ele fala só não vê quem não quer. Eduardo é bacharel na história do Brasil contemporânea. esse seu disco é o Dom Casmurro do rap. ele dá nome aos bois. as siglas. numa das músicas ele diz que se tornou o patinho feio do rap porque não é comercial. ele é mesmo! “enquanto o rap põe gelo no balde da ostentação...” Eduardo conta sobre tudo aquilo que nós, os brasileiros, sabemos, mas não podemos falar. tudo que está por debaixo do pano. e que não pode se revelado, pois, amamos nossas vidas. Eduardo cita de questões ecológicas, avanços da ciência... eu nem consigo ficar citando frases. porque são duas horas delas de frases de rap. seco. rap de verdade. para quem não gosta de mentira. para quem gosta da verdade que liberta. e é um disco para maluco, para todo mundo que olha pro outro lado da rua e pensa. porque a gente aceita viver assim? eu gosto de rap. de texto. Eduardo superou todo mundo. atropelou. mas é porque ele é bem mais do que um rapper, ele é um menestrel, está combatendo em contato com os revolucionários do mundo inteiro, creio eu, deve se conectar com eles telepaticamente, quando vejo os grandes raps do mundo, parecem crianças inocentes de frente para o Eduardo. Como ele diz, enquanto estão preocupados com flou. o Eduardo é o único que não se preocupa com nada. nem com ninguém. só com aquela missão que ele tem que cumprir. e a qual me parece nasceu destinado... é um herói que nós simples mortais vamos viver sonhando ter a mesma coragem. ele sempre irá nos inspirar. quando eu pensei que o rap ia acabar. Veio o Eduardo e renovou tudo aquilo que eu mais amava no rap. aquele lado havia me feito entrar no rap. Eduardo mostrou um caminho que chega a ser ridículo ficar olhando para o próprio umbigo. Ele fala a verdade. a sua verdade? não! a nossa verdade! a verdade que nós não queremos aceitar. tudo começou porque vi pichada A Era Das Chacinas... depois das dez todo excluído... vira alvo vivo!
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Nelson Rodrigues - A Mentira.
Lúcia vai arrumar o inferno naquela casa. A descrição da menina de Nelson Rodrigues nesse livro é tão viva, que enquanto se lê é quase possível ouvi-la respirar, ou sentir a sua brancura lívida... Ele é um mestre dos personagens, através de pequenos gestos, diálogos e atitudes. Lúcia é um desses casos. Ela é uma heroína de Nelson. Assim como Silene, de Asfalto Selvagem, ou qualquer outra, talvez Glorinha, ela é mais uma de suas personagens cínicas, e vilãs sem igual da literatura, e ao mesmo tempo heroínas. Mais uma Bonitinha, mas Ordinária. Os personagens de Nelson são encurralados entre o lema do prazer arrebatador, e incontrolável, e a culpa incutida em seu íntimo, e o quê os outros vão dizer. O quê os vizinhos irão pensar. O Doutor Godofredo diz que Lúcia está grávida. Dona Ana vai ter de contar ao marido. Lúcia tem duas irmãs. Dora, e Isabel que tem maior participação no drama. Toda a família vai morar na Barra da Tijuca. É vontade da mãe que deseja cuidar das filhas. Então a casa acolhe as filhas com os genros, e essa caçula. Que é a obsessão do pai, que é Doutor coisíssima nenhuma. É apenas um título que imputou a si mesmo. Quando vem a notícia, a mulher quer saber, filho de quem? Todos querem saber, mas filho de quem? A menina não nega, Lúcia começa a fazer um jogo psicológico com todos, e a manipular a história do filho. O pai em sua fúria, odiosa, de quem detesta as outras filhas, e ama somente a essa como deixa bem claro, mostra toda a sua fraqueza no episodio. Culpa a mulher pela “desgraça” da filha, e consequentemente da família. Quando ele descarrega na esposa que seu amor por aquela filha, é de um longe um amor maior do que ele sente por ela, que ele diz sentir amor nenhum, e pelas outras filhas. Isabel, essa que aparece como esposa de três dos cunhados em situações diferentes, diz ter herdado uma úlcera por causa do pai. O pai em sua fúria acaba com a mulher, que Nelson diz ser pusilânime, com fraqueza de caráter, ou sem caráter, que nunca enfrentara o marido. A mulher dona Ana diz ao marido que Lúcia não é sua filha. Lembra-se daquela viagem a Curitiba. Lúcia veio depois de todo mundo. Era uma filha temporã. Ninguém acreditou quando Lúcia veio. Pois dona Ana já ia com idade avançada para engravidar. O homem insiste, diz que não tem ciúmes nem nada. Mas foi o Cláudio. Um amigo de Doutor Maciel já falecido. Um homem fraco, e com aspecto de doente. muitas vezes esse personagem do homem doente que ninguém dá nada por ele vai aparecer na obra de Nelson Rodrigues, vitima de um romantismo de uma mulher que sonha com um príncipe encantado, e que contrariando a todos, podendo escolher a quem quiser, algumas vezes opta pelo mais fragilizado, aquele que aparentemente não oferece perigo, e traz a tristeza no olhar, como se esse gesto elevasse a mulher, como se com aquele homem tudo fosse permitido, e com o canalha não. Lógico que na obra de Nelson existem muitas mulheres obcecadas por esse canalha. A história que se desenrola num ritmo alucinante e sem tempo para um suspiro. Leva a revelação de que o namorado de Lúcia, quem ela gosta? Como eles perguntam a ela o tempo inteiro você tem de gostar de alguém? Um filho não aparece assim, do nada. Eles nunca se referem ao ato, como se a simples menção fosse imoral. Mesmo que o escritor se sentisse pressionado, a escrever dessa forma por causa da moral vigente, a minha interpretação é que nesse caso, era isso mesmo que ele queria sublinhar, quem ela gosta, e não com quem ela “dormiu”, “deitou”, ou qualquer outro eufemismo. O namorado de Lúcia é o paralítico da casa ao lado. Nesse caso, ele é o inválido. Como dizem. Mas agora. Lúcia tem certeza de que o filho é dele. Mas ela não conta. O paralítico que odeia a todos e se odeia. Nonô. Diz a Lúcia que ela esteve com ele por pena. E ele insiste que todas as mulheres são iguais. Ele não aceita de forma alguma que a menina o tenha desejado. Ele tem dezenove. Ela tem catorze. Quando a mãe diz que ela é apenas uma criança. Uma das irmãs grita criança coisa nenhuma! Lúcia se fecha e aterroriza a todos com o seu cinismo. Menos o pai que insiste em sua defesa. Depois que a mulher diz ao pai que Lúcia não é sua filha. Tudo muda. É a mulher que lê seus pensamentos. E que o chama de monstro. Diz que sabe muito bem o que ele está tramando com aquela viagem para ficar sozinho com a filha. O argumento é que eles têm que tirar a filha dali. Para que não vire um escândalo e para que ninguém fique sabendo. A mulher percebe a manobra do marido, que agora não tem de encarar o incesto pela frente, assim como o ato de Lúcia mexe com a imaginação do pai, ele destroça com a dos genros, e com um deles em especial, Aparício, Marido de Isabel, a irmã da úlcera. Então se a menina fez isso, o quê mais ela poderia fazer, o velho como é tratado no diálogo dos genros que são excelentes, em seu cinismo, arma uma trama de que a velha está pirando, vendo se aproximar o dia da viagem Dona Ana tentar matar o marido. Que diz que a mulher está enlouquecendo, e faz de tudo para levá-la a um hospício, no quê a mulher jura ao marido que ele será morto pelo pai do filho de sua filha, o paralítico se derrama ao saber da gravidez, e de que a menina vai viajar, ela diz que tudo que fez foi por pena. Ela inventa uma mentira para o pai. Que a pressiona, com a praga de dona Ana na cabeça. Ela inventa uma história que na festa que aconteceu na casa de Nonô, num casamento, ela havia bebido e que não sabia quem fizera aquilo com ela. O pai que tanto insistira no nome do namorado, parece se resignar com aquela mentira. Que não dá a ele a obrigação de ter de saber quem é o pai, e que pode viver agora para cuidar da sua “filha” adorada. Que dona Ana diz, a única que não é a sua filha. Aparício, o genro, começa a pirar, se encontra com a garota. E sabendo da história toda que a esposa conta para ele dentro do quarto. Ele intercepta Lúcia que se despedira do vizinho na rua. Nonô. E diz a ela que ele é o pai da criança. e dizem sua loucura se declara apaixonado. Ela ameaça contar ao pai. Ele propõe a fuga. A menina parece gostar do assédio. Aquele era o genro que ela mais gostava. Aparício segue para cima do velho. E o ameaça. Ele confessa tudo. Diz que está apaixonado e enfrenta o velho. Ele diz, nós somos rivais! E dispara quatro tiros no velho. E diz. O que dona Ana não conseguiu fazer eu faço. Um amigo chamado Telêmaco tentou avisar a Aparício que o Doutor Godofredo estava louco. Aquela semana em que Lúcia fora se consultar com ele, o doutor havia dito que uma senhora de oitenta anos estava grávida, e uma menina de oito anos também. Era oito ou oitenta. O velho estava pirado. Aparício que gritava por Lúcia na cadeia. Ao saber da boca do outro que ela não era uma mulher feita. Como em muitos momentos os personagens se referem à Lúcia com a sua posição após o ato consumado. Em sua decepção de que ela não era apenas uma menina, Aparício mete uma bala na cabeça.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
John Fante, Charles Bukowski, Henry Miller e Louis-Ferdinand Céline!
eu li Pergunte Ao Pó por causa de uma introdução de Bukowski. eu não gostava de Bukowski porque a maior parte das pessoas que lêem Bukowski não entendem a sua literatura. então elas pensam que Bukowski é apenas sexual e alcoólico. e os cátedras moralistas se aproveitam disso para censurar Bukowski. embora não se encontre Bukowski nos sebos nem nas bibliotecas. pois está sempre esgotado. de Bukowski só se encontra livros novos e mesmo assim não é fácil. de segunda mão é mais através da internet. mas caiu essa introdução de Bukowski sobre John Fante em minhas mãos. Eu li os romances de Fante. não os contos. os romances. eu gosto de romances com Arturo Bandini. Eu sou Arturo Bandini! eu já gritei. quem leu esses livros e não gritou essa frase? Eu li Pergunte Ao Pó num sábado de tarde ensolarado. depois li Bunker-Hill, e Espere A Primavera, Bandini. Rumo A Los Angeles, esse último foi o primeiro que ele escreveu, e que só apareceu após sua morte. permaneceu inédito enquanto Fante esteve vivo (Assim como Diário de Um Jornalista Bêbado de Hunter Thompson que é maravilhoso.) o livro mostra o antes de Bandini. ele ainda em casa não conseguindo se enquadrar. depois disso eu li Bukowski. todos os romances de Bukowski. não li poesia porque não é meu o forte. quanto aos romances, contos, crônicas, eu li tudo. e depois que senti os mesmo engulhos daquela mulher que vomitou ao ter uma relação sexual com Bukowski, o vômito havia curado a ressaca, e eu estava livre. ele não me assustava mais. é a mesma sensação libertária que eu tive ao ler o Henry Miller. bem mais erudito que Bukowski, é claro. mais profundo. Henry Miller o memorialista. gosto dos livros de viagem. do Big-Sur... de tudo! Não li apenas algum ensaio e o livro sobre o palhaço. Amo Big-Sur, o livro sobre a Grécia, o Colosso de Marússia, e lógico a trilogia, a Crucificação Encarnada. Todos que eu li. Câncer, Capricórnio, Sexo, Clichy. Primavera Negra. Os Livros da Minha Vida, com esse livro Henry Miller me ensinou a ler. A Crucificação Encarnada é a libertação, como quando ele diz que um homem para chegar ao paraíso tem que chegar ao inferno primeiro. é uma catarse ler Henry Miller. ele rompe todas as barreiras morais, filosóficas, toda essa ladainha mentirosa que os autômatos conseguem manter junto com os seus senhores feudais através dos tempos. Henry Miller não deixa pedra sobre pedra. Sábio... Miller escreveu um texto aos oitenta anos em que dizia que a vida não era boa, nem má, nem uma coisa, nem outra. ele admirava o estilo de vida de Picasso. e se dizia um adolescente. Eu li os livros de Miller na sequência. li aqueles livros crus do começo. Moloc. Crazy Cook. que não foram lançados em vida. Henry Miller é uma paixão antiga que encontrei na biblioteca por acaso. eu vi que o distrito que ele descrevia era igual ao distrito que eu vivia tanto tempo depois. assim como Bukowski encontrou John Fante. Já o Céline que é o pai de todos eles, inclusive influenciou os beats, que foram também influenciados pelo misantropo Salinger? os quais eu fui a procura. Bukowski falava sobre Céline. em um de seus livros. Céline é um personagem. no Pulp. creio que fosse seu escritor preferido. e lendo uma introdução sobre o livro Viagem Ao Fundo Da Noite, eu li que Henry Miller havia reescrito Trópico de Câncer, após ler esse livro. eu li. e cheguei a conclusão de que o grande autor era Céline. Céline não escreveu tanto como Nelson Rodrigues, por exemplo. mas esse livro é o melhor livro que sobre o ser humano. é um livro sobre a guerra. eu duvido que exista um romance que me agrade mais. se descobrir eu anuncio. o velho Céline ficou louco na guerra. assim como o meu avô que não podia ouvir barulho de bomba. mas ele continuou vivendo e escrevendo. com todas as perturbações. será que ele teve a Síndrome de Estocolmo? era neurótico de guerra. eu li Viagem Ao Fim da Noite. Morte A Crédito.que realmente é tão bom quanto Viagem como as pessoas juravam. existem escritores que escreveram mais que Céline. mas poucos alcançaram a velocidade da fala e do pensamento como Céline conseguiu. e que desnuda o mundo para qualquer incauto. ele nos conheceu profundamente. ele sabe que estamos mentindo. como ele diz em Morte A Crédito, ah, minhas inclinações...não li Norte. graças a Deus! ainda falta um belo livro de Céline... vou ter o prazer de ler uma página por dia. como tenho feito com o Lapa de Luis Martins. outro escritor injustiçado. por esses mesmos motivos. censura moral. inveja. panela. e o cacete a quatro! mas um conselho que dou, acho que se não tivesse lido Viagem primeiro, eu não teria viajado no Morte! Eu já li Marcel Proust que é um escultor de catedrais da palavra que amo. li Flaubert, Kafka, Dostoiévski, Machado, mas nada no mundo nada me toca tanto, e tão profundamente quanto esse famigerado Céline. é uma pena que o seu nome tenha sido associado ao nazismo. é uma pena que as pessoas não entendam a loucura da guerra. o meu avô não podia ouvir barulho de bomba. uma vez falei sobre Céline e ouvi uma pergunta. ele num era nazista? que pena. a força da literatura dele é de poucos. ele põe o ser humano em seu devido lugar. embora os puritanos. os atrasados. as pessoas comuns. normais. os burros. os carentes de inteligência, de imaginação. de sensibilidade. os insensíveis. os chatos. os caretas. os janotas. que são a maioria esmagadora do planeta, não entendam que é libertador. assim como entrar num trem fantasma. e no final dele, novamente, poder respirar, e ver a luz do dia. é uma pena que não entendam que assim como Cristo, o Henry Miller de a Crucificação Encarnada sofre por você. Céline ouvia barulhos. e escrevia. devia ter insônia e tudo. ele foi o maior pacifista que existiu. o escritor que escreveu sobre a guerra e a odiou mais profundamente. e um dos que mais sofreu com ela. por isso ele me impressiona. ele foi para o inferno e escreveu sobre ele. e através de sua leitura, podemos purificar nossos pecados, e nos ver sem ilusão. límpidos e claros como água. como num espelho. eles não oferecem o fim dos sofrimentos. esses escritores cruéis e realistas. assim como Nelson Rodrigues (outro injustiçado em alguns momentos), e que assim como Bukowski, que é um poço de desejos e que sucumbe a todos eles... . através da saturação nos mostram o caminho para sossegar os instintos por alguns instantes. eles não nos vendem o fim do sofrimento e sim o fim das ilusões quanto ao ser humano. ou melhor, quanto a si mesmo!
quarta-feira, 13 de abril de 2016
A Praça...
no começo havia aquele espaço vazio. e um dos caras que estava no bar em frente jogando cartas, e bebendo deve ter dito. a prefeitura deixou aquele espaço vazio. aquele espaço vazio fica no entroncamento das ruas. então eles decidiram. vamos fazer as mesas, e as cadeiras de cimento. a gente faz uma vaquinha na rua. alguém deve ter dito. fechou! e lá estava a mesa. os banquinhos que sempre exibiam a sua utilidade. ou era o descanso no trajeto dos que vinham com as bolsas de supermercado. e a natureza colaborou enchendo as arvores, e deixando uma sombrinha. quando chovia parte do pessoal improvisava uma lona. até que alguém deu a ideia de que eles fizessem uma cobertura. e novamente eles se cotizaram para tal. e aí apareceu a cobertura. e começaram os churrascos comunitários, pois boa parte daqueles moradores eram criados na área. ou moravam ali fazia algum tempo. então alguém deu a ideia. porque a gente não faz uma churrasqueira. da churrasqueira nasceu o pagode improvisado. e do pagode improvisado nasceu o bloco. e a festinha do dia das crianças. e a festinha junina. e sempre que eu passo por ali, eu me lembro que aquela pracinha era apenas um espaço vazio.
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