domingo, 25 de outubro de 2015

Depressão...

eu tenho depressão desde criança. só que eu não sabia disso. por isso que algumas reações minhas, sobre alguns acontecimentos, eram descabidas. decidi frequentar aquelas reuniões de doze passos. li algo aqui, outro ali, foi abrindo a minha mente. fui a um primeiro psiquiatra incentivado por minha esposa. ele me mandou tomar remédio. há anos já estava convencido de que tinha depressão. e mesmo assim relutava em tomar remédio. por puro preconceito. o segundo psiquiatra me disse para que tomasse remédio. aí eu confiei nele, aceitei. e a minha vida passou a ter alguma esperança. mas ainda tenho crises de depressão. passei a fazer terapia. as pessoas não tomam remédio. nós brasileiros somos preconceituosos. e não temos educação. nem cultura. eu mesmo sou um exemplar de machão suburbano latino americano de escola pública. e como eu vou chegar na roda dos malucos, e dizer que tomo remédio? e que tenho depressão, que é doença de fresco, doença de rico? depois eu pensei que fosse frescura minha. um charme de artista. mas não. os números da organização mundial de saúde são alarmantes. ninguém sabe porquê. nem os médicos. ninguém sabe nada. eu desconfio que nosso modelo de sociedade seja um clima bastante propicio para deixar o sujeito pinel. com todo ódio ciúme inveja. mas aí na terapia eu contei a psicóloga sobre acontecimentos da minha vida. da minha vida em comunidade. da minha vida em família. coisas que na minha concepção pareciam acontecimentos normais da vida de uma criança. mas que na verdade, provocavam bem mais sofrimento do que aparentavam. eu fui um moleque normal. assumindo até uma atitude de liderança  em alguns momentos, em atividades na rua e na escola. mas tinha depressão. que na minha cabeça era doença de fraco. deveria tomar remédio. não que eu tenha vergonha de ser fraco. ou medroso. que na verdade eu sou. pois sei da fragilidade humana. pior do que ser fraco, é os outros ficarem sabendo que você é fraco. descobri em minha pesquisa, que nas civilizações mais evoluídas, os médicos são obrigados a receitar o remédio para quem tem depressão. aqui depressão ainda é coisa de maluco. não é. quem dera que fosse! o maluco não sabe que está maluco. você sabe porque está sofrendo. ou melhor, nem sempre... mas tem consciência de que está sofrendo. se é que o maluco está sofrendo. depois que você volta de uma crise de depressão fica de ressaca. envergonhado. com remorso, do que disse na hora do nervoso. da crise de choro. no Brasil normalmente depressão é curada com sexo, crack, pó, maconha, cerveja, internet, televisão, churrasco, aplicativos, violência, açúcar, sal, velocidade, dinheiro, popularidade... e muitos remédios tomados a torto e a direito. mas a depressão está bombando no mundo todo. e a conclusão de uma depressão desviada, para um outro local, um vício por exemplo. creio eu, que não sou especialista de nada. que seja triste! que seja um fiasco... depressão têm motivos. acontecimentos. ou não. cada um reage de uma forma. e só quem tem depressão. sabe o que quem tem depressão sente. é igual ser preto e pobre no Brasil. não adianta explicar que você não vai entender. você vê tudo cinza. você que foi criado para ser o macho. o provedor. o protetor. se vê chorando igual uma criança em frente a sua esposa. impotente. pois a depressão é incapacitante. aquela à qual teoricamente nessa sociedade machista você deveria proteger. você se sente o elo fraco da corrente. a minha depressão é pública. mas poucas pessoas com quem eu comentei algo, disseram alguma coisa de volta. o número de pessoas que sabe, é maior do que o número que finge que não sabe. em sua maioria me disseram para que não tomasse remédio. e me sugeriram que haviam feito um feitiço pra mim. o que não foram poucas vezes. e já sugeriram que eu estivesse impotente sexualmente. algumas vezes me desencorajaram da terapia. depressão carrega o estigma da doença mental. e além do mais ninguém quer ouvir choro. ainda mais de quem está aparentemente saudável. você se sente um cafajeste, num mundo com tanta criancinha sendo triturada. esse cara que está na rua. e quê você vê na cachaça. no crack. talvez tenha começado com uma depressão. depressão não tem cura. mas tem tratamento. manutenção para que não piore. esse maluco que mora na calçada da sua rua. que fala sozinho. todo sujo. cabelo grande. tudo bem que você chega no posto de saúde. e fica junto dos malucos, não existe uma triagem, muito doido! não que eu não seja maluco, ou que tenha algum problema com isso, e do qual a sociedade quer empurrar para debaixo do tapete. vamos nos livrar da vergonha dos malucos e dos suicidas que temos na nossa grande família complicada. só que aí vamos ter de nos livrar de muito mais gente do que a gente imagina. não é Simão Bacamarte? ninguém quer carregar o estigma de ser anormal. ainda mais na sociedade do rebanho. porque o número de gente que tem depressão, e não sabe não está no gibi! eu falo sobre depressão, porque é importante falar. pois se consegue apoio. porque eu sou artista também, e muitos, mas muitos artistas que eu gosto, morreram ou se mataram por causa da depressão. Não vai acontecer comigo. Melhorei, e continuo o tratamento.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Fatmagul... 2

Fatmagul... vai catar o feijão! Mukaddes grita. Fatmagul sai de perto do fogão. a cozinha é pequenina. Fatmagul deixa o que estava fazendo para ir fazer o que a outra mandou. Fatmagul vai catar o feijão. Fatmagul dorme espremida num sofá cama com o sobrinho de quem ela cuida. o sobrinho é filho do seu irmão. Rahmi.  que chama. Fatmagul... E filho da cunhada que aqui faz o papel de bruxa. antes de dormir Fatmagul olha para os lados. ela vê se todos na pequena casa já estão dormindo. Fatmagul aspira ao silêncio. sente o ar. enfia a mão embaixo do sofá. tateia. ela ainda está lá. que alivio! A cartinha que está ensebada de tanto ser manuseada. Fatamagul sente o cheiro da carta escrita em folha de caderno. e a guarda novamente... é de se imaginar que aquela carta pardacenta seja o seu refúgio. o seu descanso. o seu álibi para o presente. o seu paraíso. o seu pequeno segredo de estimação. desses que compõe a vida. Kerim ouviu da boca de Mukaddes ela gosta de você!  se não gostasse não guardaria esta carta! Fatmagul guarda a carta com unhas e dentes. Kerim diz a Mukaddes que devolva a carta de volta ao lugar onde a encontrou. Aquela frase de Mukaddes fica indo e vindo a cabeça de Kerim. e sempre que ele quer se ver livre de todo aquele sofrimento... ele aciona a frase de Mukaddes que fica pululando em seu cérebro. enquanto o coração de Fatmagul acelera. Kerim sente a calmaria. ele está feliz por ter um emprego. por poder trabalhar e ajudar em casa. por poder pagar seus pecados. numa daquelas conversas de quartinho com a tia, Kerim diz que sonha levar todos para o estrangeiro. para que eles possam ter paz. ou melhor, para que ele possa ficar em paz com Fatmagul. era o que Mustafa sonhava. apenas ter o seu recanto de paz com a sua amada... uma casinha no subúrbio com flores. chegar com o dia claro, ainda. trazendo o pão debaixo do braço. Mustafa só queria que as coisas permanecessem como estavam. as vezes é apenas isso que a gente deseja. Kerim quer ir para longe dali. sem a sombra de Mustafa... e daqueles vampiros! Ninguém nunca desejou o perdão como Kerim. a sua frase fica valsando na cabecinha de Fatmagul. eu não fiz nada! você estava inconsciente, por isso não se lembra! ele era cúmplice. não fez nada para impedir. Ebe Nine, a tia, ficará feliz se ele for perdoado. Fatmagul representa o sonho da inocência campestre. do interior. Fatmagul é a inocência em tudo. na roupa. no olhar. Na pessoa... nos olhinhos verdes. ou claros. a simplicidade... Fatmagul é um anjinho. Uma santinha que precisa ser protegida. Mustafa não entendeu isso. ele vive por uma vingança... Kerim entra na loja. lembra do sapato de Fatmagul. ele nunca comprou nada com tanto ardor em sua vida. nunca trabalhar um dia inteiro pregando, e martelando, fez tão bem a uma pessoa! ele pergunta se tem desconto ao cara da loja. tem. Kerim olha para o vestido. imagina Fatmagul vestida com ele... Fatmagul não pode saber que foi Kerim quem comprou. cabelo solto. ano novo! e só o Kerim sabe o quê sentiu...

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Amelinha...

não era qualquer música. era Frevo Mulher. do Zé Ramalho. e isso para um suburbano que gostava de festa junina e quadrilha, deveria dizer muita coisa, sendo que essa era uma das músicas mais tocadas. e uma das preferidas dos grupos folclóricos. penso que aquela gravação é impecável. uma das melhores da música brasileira! musique. music. Amelinha é esta cantora. eu conheço a sua voz. a sua voz única. Amelinha deu sorte com a natureza. pois tem um timbre peculiar. e seu estilo não é aquele, você canta em lugar tal... num camelô no Ceará numa negociação em que envolveu uma coletânea do Moreira da Silva, consegui negociar uma coletânea da Amelinha. não era apenas uma cantora que me lembrava a minha infância. a sua música é viva. ela não deixa nada a desejar aos seus conterrâneos, contemporâneos. já ouviu aquele disco O Pessoal do Ceará com Amelinha, Belchior e Ednardo? e essa gravação do Dia Branco de Geraldo Azevedo? ela está ligada ao que existe de melhor da música brasileira, moderna, original. assim como a música de Minas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Henry Miller...

Henry Miller vai para o inferno e arrasta o leitor junto. e depois ele te mostra a luz. talvez por isso o nome de sua trilogia se chame A Crucificação Encarnada. ele mesmo diz que um homem para chegar ao paraíso tem de conhecer o inferno primeiro. sendo ele o narrador, memorialista, até onde é possível, Henry Miller divide o ponto de vista com você. fazendo com que experimente suas vivências. você se vê transladado para os sentimentos de Miller. em algum momento se sente confortável. Henry Miller disse que um homem que nunca sofreu com as suas próprias neuroses, não sabe o quê é sofrer. é isso que ele nos apresenta. as suas neuroses. da mesma forma que o esgoto exposto do Brooklyn em A Primavera Negra. Henry Miller disse que se tivesse lido o Tao Te Ching antes não teria sofrido com todos aqueles conflitos. acredito que no Big Sur ele tenha dito que não guardava mágoa de ninguém do passado. essa é a mesma impressão que se tem ao ler Henry Miller. a insatisfação de não ter lido, ou compreendido Henry Miller antes. Henry Miller é libertário. leia o início de Trópico de Câncer em que ele se diz. não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. ele afirma. sou o mais feliz dos homens vivos! ou aquela passagem de Marússia. em que ele responde ao homem que diz que os americanos são ricos, Henry Miller diz que eles são ricos, sim, ricos de espírito, que ele não tem dinheiro, mas que irá para Atenas, e que vai conseguir o dinheiro para comprar a passagem. Henry Miller ficava feliz por qualquer coisa, pois sabia que não tinha nada. uma passagem de um livro. uma paisagem. o cheiro de uma comida. um rosto de uma mulher. tudo é sublime porque estar vivo é uma sorte. ele destruía o mundo para depois edificá-lo ao máximo. era forte como Walt Whitman, ou Blaise Cendrars, homens que admirava. o seu ponto de vista é sem maquiagem. para Henry Miller não existe gênero, raça, cor, nacionalidade. ele ri de si mesmo. detesta a si mesmo. e ama o ser humano, fingido e patético. ele amava viver. simples. talvez por isso continue vivo em seus livros. clichê. Henry Miller publicou seu primeiro livro depois dos quarenta anos. incentivado por Mona ele foi para a França. havia abandonando tudo para escrever. emprego, família. aprendeu uma nova língua. depois recomeçou a vida em Big Sur. com as dificuldades de se morar em um local isolado, criar crianças, e levar uma vida simples. com a qual se aprende muito. Henry Miller encarou a si próprio para recomeçar. E morreu velho. como morrem os homens sábios.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Rio de Janeiro Lugar Limpo e Pacífico...

você olha a manhã pela janela. faz um dia bonito. você diz. eu vou comprar pão, e aproveitar para pegar um solzinho. os pássaros estão cantando em frente a sua janela. o beija-flor bebe a água que você deixou para ele num daqueles troços de plástico que vende na feira, e que têm flores artificiais em volta. você caminha olhando o céu azul. na esquina da padaria um caminhão arrasta um carro e uma árvore. começa a esquentar. a temperatura. e as pessoas. você vê o trocador do ônibus dizendo ao motorista, que palhaço! o motorista olha para o retrovisor com aquele olhar de gavião. de rabo de olho. ele bufa atrás do volante. parece que vai jogar o ônibus em cima do carro do cara. na entrada da favela você vê os policiais abordarem três moleques pretos. de mão pra parede. eles devem ter entre treze, e quinze anos. o moleque do banco da frente diz. tenso. o senhor está discutindo com três mulheres com uniforme da Claro. ele grita. você não é a gerente! você é a gerente?! a mulher grita ao telefone. manda ele pro inferno, Soraia! os camelôs saem correndo. aconteceu alguma coisa. mais, mas, o quê? você olha as imagens do arrastão na tevê. você está em pé em frente aquele pé-sujo. você olha as pessoas correndo na praia. você diz pra mulher. caralho, anos noventa!

sábado, 19 de setembro de 2015

Fatmagul! 3

Resat Yasaran cospe para o filho. e para o sobrinho. idiotas! nós demos tudo a vocês para quê? para que no final vocês se comportassem como animais! a decoração da sala é suntuosa. Yasaran parece um bicheiro. ele tem relógio e cordões. anda de camisa com o botão de cima aberto. e sempre põe a mão no quadril e a outra para o alto quando dá esporro. o velho de barbicha branca insinua. ele é o dono do vilarejo. ele é o dono da cidade. o playboy de olhos verdes e barbicha serrada, primo de Selim Yasaran, ele não tá nem aí! ele olha para a secretaria. Resat Yasaran é grisalho. magro. Resat tem uma presença imponente. ele é impetuoso. implacável com os inimigos. ele estraçalha. bate na cara do filho. a noiva do filho viu. ele olha para eles, e diz que se eles saírem da linha outra vez, eles não imaginam do quê ele será capaz. de maneira intrínseca insinua de que pode passar por cima do vagabundo miserável. ele seria capaz de matar o próprio filho. é isso que ele quer dizer. o irmão fala no mesmo tom. o primo de Selim olha para a secretaria com olhos de gavião, mal sabe ele que ela é a comidinha de Resat. eles são uma família de mafiosos. o irmão de Resat fala com o filho, e com o sobrinho no mesmo tom. antes de sair da sala eles ficam sabendo que irão trabalhar. e trabalhar. a mãe de Selim sofre tremendamente. o pai da noiva liga para saber que história é aquela nos jornais. é impressionante o diálogo de Selim com o pai. é um pingue-pongue. a mãe de Selim sofre horrores por causa do filho. ela vê o quanto o filho se parece com o marido. o filho só está preocupado em proteger seu casamento e o negócio do pai. e o pai consequentemente. em nenhum momento eles pensam em Kerim ou em Fatmagul. Da mesma forma que Mustafá só se preocupa com a sua honra. que ele diz que está manchada, mas que ele irá limpar com sangue. em nenhum momento se refere ao sofrimento de Fatmagul a mãe morrendo pede que ele jure a ela que não vai fazer nada. mas Mustafá é sangue no olho. só pensa em vingança. ele diz que não pode prometer algo que não vai cumprir. Mustafá queimou a casa em que ele ia morar com Fatmagul. tão grande é seu ódio. a noiva já sabe. sofre. o seu pai liga para Resat. ele quer esclarecimentos. tanto ele quanto o filho negam aquela história. quando uma mulher vai a casa de Fatamagul pegar de volta a aliança, ela diz, não mate o mensageiro! Kerim marcou uma conversa com os playboys. eles estão dentro de um iate. o clima fica tenso como num filme de Hitchcock vira um tríler psicológico. Kerim diz que não suporta ficar perto da garota. que fica olhando para ele. ele não suporta ficar perto dela. ele está atrelado a ela. eles não. ele diz que eles são uns vermes. depois que o Kerim saí e deixa os parasitas sozinhos. eles conversam entre si. nenhum deles tem conseguido dormir. na hora em que Kerim avança a mão para segurar o copo. Fatmagul vê a marca em seu braço. a marca daquela noite. ele puxa a manga da camisa. ela olha para ele com ódio. eles estão naquela pensão em Istambul. Fatmagul está sentada numa cadeira. de costas para janela. é possível ouvir a voz do seu irmão em off. Fatmagul, onde você vai? espera Fatmagul! Mustafá acorda o careca com as duas mãos em seu pescoço. Mustafá diz, você vai me dizer tudinho o quê aconteceu aquela noite. o careca diz para os playboys. idiotas! ele é um advogado de porta de cadeia. será tio de Selim? o careca logo se recompõe, e com a sua frieza leva Mustafá na conversa. a trilha sonora é passional. o cenário da pequena cidade praiana de pescadores, é paradisíaco. idílico. mas eles sofrem. a pressão psicológica é insuportável. o careca diz a Mustafá que não é nada disso. e que Fatmagul é que armou aquela história de estupro. Mustafá leu o jornal. em sua fúria só ele havia dado uma passada na casa de Kerim. ele só não bateu em sua tia. mas quebrou tudo que viu pela frente. e com todo ódio cortou o nome de Kerim escrito na árvore. Fatmagul olha para o canivete em cima da cama. ela pega o canivete. e vai enfiar em Kerim que dorme. ele acorda. e segura a sua mão. saí batendo a porta. logo após, ou antes. Fatmagul se senta de costas para a janela. é tão linda Fatmagul... parece uma menina brasileira de verdade. deve ter uns vinte anos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Samo Está Morto Basquiat Está Vivo!

Samo is dead. Basquiat está vivo. andando por aí. Basquiat caminha no centro da cidade. anda de um lado para o outro com a pilot na mão. rabisca frases aparentemente desconexas nas paredes. no banco do busão. breath teeth. Basquiat vaga pela cidade. dorme pouco a noite. no sofá de amigos. aqui e ali. mal tem onde dormir. come sanduíches de queijo. anda com roupas folgadas para o seu corpo. o seu cabelo tem um corte peculiar. reconhecível. Basquiat diz que não tem nada diferente para falar. diz que não se lembra do quê sente raiva. Basquiat deu uns pegas na Madonna antes dela ficar famosa. Madonna tem apenas três músicas na época. Basquiat já tem uma obre imensa. sua namorada Vênus, Suzzane, parte pra cima da Madonna na Roxy. Basquiat pinta sobre a briga. Basquiat tem uma banda de jazz. instrumental. e ele quem nomeia as músicas. uma delas se chama Mona Lisa. Basquiat tem uma banda chamada Gray. é um som experimental. será minimalista. não sei. Basquiat caminha sobre os corpos dos viciados em Heroína que infestam o Soho. Basquiat dorme e trabalha no estúdio. vende seus cartões postais com embalagens de bala. Basquiat pinta ouvindo jazz. John Coltrane. escuta David Byrne. pinta ao som da música. faz isso compulsivamente como se fosse a única coisa interessante a ser feita sobre a Terra. Basquiat começa a usar cocaína. fica paranoico. cobre as paredes do estúdio de preto e branco para não ser visto. diz que o serviço secreto está atrás de si. desconfia das pessoas. começa a usar heroína. saí na capa da New York Sunday Times. Basquiat está de terno. mas do mesmo jeito em que podemos encontrá-lo quando pinta. o cara que promove a arte de Basquiat chega ao estúdio. não necessariamente nessa ordem cronológica. Basquiat está chapado de ópio. Suzzane diz que quando Basquiat usa cocaína a sua pintura é mais detalhada e que quando ele está chapado de heroína, a sua pintura é mais expressionista. Ela consegue perceber. Basquiat vende um de seus postcards para Andy Warhol. um desses que valiam dois dólares e que hoje valem uma fortuna. Basquiat decora apartamentos de yuppies de Wall Street viciados em cocaína. que recebem o pó no açucareiro. a sua arte se torna um comodities. Basquiat expõe junto com Andy Warhol. a crítica detona a exposição. Basquiat está deprimido. paranoico. parecendo um velho de oitenta anos. Basquiat morre de overdose. Basquiat morre aos vinte e sete anos. assim como todos os grandes. Jimi Hendrix. Kurt Cobain. Jim Morrison. Janis Joplin. Amy Winehouse...