parte um - ele disse, não. eu não sabia. e o outro disse, vai aumentar a passagem dús treins do Rio, e vai aumentar a passagem dús metrô. ele diz, aumentarú a passagem dus ônibus, tú num acha qui elis num vaum aumentar dus trem, não, coé! e dús metrô, naum? e surgem aquelas risadas sem graça ao fundo. fala tú? e vai aumentanú, aumentanú, e eu já tô ficandú boladú, moro? i só no nosso lombo, só no nosso courú, eu já tô ficando agúniado, ele gesticula, e já num tô vendo a hora de tê um colapso total nesse país, uma guerra civil, por causa dessa palhaçada, por causa dessa ninharia, que eles roubam da gente, é ninharia! ele corta, mas de grão em grão a galinha enche o bico! e diz, você acredita nisso, eu não acredito, aqui, não, no Brasil, não. nós já demos prova que somos pessoas pacíficas várias vezes, ele disse, é mesmo... besteira. vai tê copa do mundú aí, vamu comemorá, vamu comemorá! diz o ator fantasiado de negro na tela do aparelho da menina. ele mudou de assunto. parte dois - ele disse, eu me lembro de quando eu pegava esse 485 com um vale transporte de quarenta e cinco centavos. e o outro continuou, você conhece as vítimas do 485? ele diz, não. vítimas de quê? o cara vem pro Rio, e aí ele fica hospedado na Penha, vamos supor,ele fica na sua casa, e ele pega o 485 indo em direção a Copacabana, mas antes disso, mas ele não lê que aquele 485 vai para o Fundão. ele disse, mas isso acontece tanto assim, meu amigo? é, mesmo, eu estou sabendo disso, não. ele disse, é, acontece direto, pô... ele continua, caramba, caraca, aconteceu com todo mundo que ficou hospedado lá em casa. eles descem em Olaria. olham para um grafite do Amor. e saem andando.
sábado, 22 de março de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
A Filhinha da Cláudia...
eu queria ser como a filhinha da Cláudia, ela não ficou choramingando como eu faria, e dizendo esperar que justiça seja feita, nós sabemos que justiça não será feita, nunca, mas a filhinha da Cláudia, não tem nada a perder, ela já perdeu tudo, ela já perdeu a sua mamãezinha que cuidava dos oito filhos, e na dor ela tem sido forte, creio que ainda nem teve tempo de chorar a morte da sua mamãezinha, mas ela já diz aquela verdade que está entalada em nossas gargantas, e mesmo estando filmado, nos falta coragem, dá medo dos tiros, dos ternos, das unhas bem cuidadas, das mãos lisas, dos dedos com alianças douradas, fardas, diplomas, cadeia, morte, pratos vazios, livros ultrapassados, hospitais sem anestesia, trens lotados, nós precismos da filhinha da Cláudia, nós precisamos mais dela do que ela precisa da gente, chega de ficar contando com o Joaquim Barbosa, lá, sozinho, feito uma voz solitária no fundo do mar, com aqueles ministros mandados perto dele, vem mais uma copa no Brasil, o gigante cochilou, e mais uma vez nós queremos jogar todas as responsabilidades em cima de um só Barbosa, mesmo na dor, a filhinha da Cláudia não teme os cargos públicos, as autoridades, a fala pomposa, e requintada, o suprassumo do saber como diria Bezerra da Silva, a filhinha da Cláudia tem a mesma força dos índios que resistem a nossa falta de cultura, essa guerra já deu no saco, já deu o que tinha que dar, já deixou vítimas demais, de todos os lados possíveis, e quem está na linha de frente do campo de batalha, nunca está na linha de frente das decisões, e vice-versa, para que tomar partido numa guerra que não é sua, vamos deixar a nossa breguice de lado, ninguém vai parar de usar drogas, é mentira, nós já nos entupimos o tempo todo, por todos os poros, assistindo, ouvindo, comendo, respirando esse ar poluído, vamos descriminalizar as drogas para que acabe essa guerra maldita, e ao invés de ficar correndo atrás de traficantes varejistas, vamos correr atrás dos nossos irmãozinhos que correm o dia inteiro atrás do crack, vamos cuidar da nossa depressão de outra maneira, das nossas compulsões, e psicopatias, já sabemos que o homem nasce mau, e que talvez o meio o faça bom, tem uma porção que diz que não usa droga, e se encharca de bebida, e com droga, ou sem droga, mata, armado, de carro, com arma branca, às favas com as suas condolências! e que as suas malas cheias do nosso dinheiro, pesem em suas mãos, e que com todo o seu poder, vocês afundem até os seus infernos, demônios, já que é isso que vocês desejam, cheirem do melhor pó, bebam do melhor uísque, se deliciem com os melhores corpos, mandem seus filhos estudar fora, sejam felizes, enfim, mas deixem as nossas vidinhas em paz, e jornalistas Playboy`s, não é no morro de Congonhas, é morro da Congonha! errado ou não, eu tenho certeza que Deus existe, e que a filhinha da Cláudia, um dia, vai poder se reencontrar com a sua mamãezinha, no céu.
sexta-feira, 14 de março de 2014
O Frank Enlouqueceu o Maluco!
a mosca posa na borda do copo. o ventilador sopra, preguiçoso. o cachorro lambe as pernas em que o gato se enrosca. você dá cabeçadas no ar. o rapaz se agita, e diz ao policial, eu não aguento mais esses vizinhos... eles ficam batendo na parede a madrugada inteira! é como se tivessem batendo na minha cabeça, tum, tum, tum, e eles ficam ouvindo o Frank! eles sabem que eu não gosto dele... eles sabem que eu gosto do Raul, do Zé... o Policial olha para o rapaz que parece perturbado, e pergunta a ele, o quê eles fazem senhor? o rapaz responde, o quê eles fazem? você quer realmente saber o quê eles fazem?! eles ficam ouvindo o Frank o tempo inteiro, e ele dá aqueles gritinhos... é só isso que eles sabem fazer! pausa. e isso é enlouquecedor! eu sei que eu sou maluco, mas eu sou um maluco... a mãe dele diz, não diz isso, me deixa falar... ele continua, não, mãe, agora eu vou falar, agora eu tenho que falar! eu não gosto daquele tecladinho de churrascaria, aquilo é sofrível! você pensa, o Frank enlouqueceu o maluco. o cachorro lambe a sua cara. você tira a mão de dentro do copo. desliga a televisão. mergulha na tarde sonífera do subúrbio. colorento. a mosca posa em seu nariz. você cochila. sonha que está colhendo morangos num calor de cinquenta graus. o policial se vira para a câmera, e diz, como vocês podem verificar, a vizinhança dorme, silenciosamente...
quarta-feira, 12 de março de 2014
Volta, Elias...
volta Elias... porque o
seu sorriso, e o sorriso do seu filho Davi, me lembram o sorriso dos meus
sobrinhos, que parecem nos iluminar. porque tudo ficou mais difícil sem você, o
calor voltou, e as pessoas estão mais estressadas, e só faltam esganar umas as
outras no meio da rua. e voltaram aqueles linchamentos terríveis aqui no Rio de
Janeiro. e as brigas nos estádios, e o racismo nos estádios. volta, Elias. nós
prometemos te blindar contra os racistas. volta, Elias, pois sem você fica
muito mais difícil aturar as ruas sujas, e ver os irmãozinhos viciados em
crack. volta, Elias, pois os meus netinhos portugueses me disseram que eles
também querem te ver em campo, jogando. e porque inocentemente, eles acreditam
que dessa forma, talvez consigam reparar alguns equívocos de seus ancestrais.
volta, Elias, porque os braços do Cristo estão sempre abertos para você. volta,
Elias, porque sem você nós vemos o quanto as ruas estão sujas. volta, Elias,
porque depois que você foi embora, o gigante cochilou novamente. volta, Elias,
porque aumentaram a passagem depois que você foi embora, e chegar ao trabalho
virou uma aventura. volta, Elias, para que a gente não fique pensando que o
futebol é só dinheiro, e que a vontade dos jogadores, e dos torcedores
não importa. volta, Elias, e quando você voltar, aproveita para diminuir o
preço dos ingressos, por favor. volta, Elias, porque sem você, nós ficamos cada
vez mais deprimidos, e sendo assim bebemos mais, fumamos mais, tomamos mais
remédios, mulheres são agredidas, falta escola, creche, leitura, e o número de
vítimas da violência, aumenta, sem você. volta, Elias, volta para nos consolar
um pouco. e para que os gringos não usem o futebol brasileiro para fazer
turismo sexual, e que nenhum estrangeiro tenha de passar pelo que a gente tem
passado nos dias que eles estiveram aqui. volta, Elias, porque sem você a obra
tem acabado com a Penha. e a poeria tem sujado os nossos pulmões. porque não há
vaga nos presídios que não recuperam ninguém. volta, Elias, se ajoelha, pede a
Deus, deve existir algum jeito de se alcançar o coração desses homens de terno,
que conseguiram acabar com a música, e agora querem acabar com o futebol.
volta, Elias, porque o Seu Elias quer que você volte. volta, Elias, para que
hoje a gente não tenha um buraco em campo, e outro no coração. volta, Elias,
porque você está aí sozinho, e tem uma multidão aqui, sonhando com a sua volta.
volta, Elias, porque quando você faz um gol, ou dá um passe para um gol, tudo
aquilo que é ruim, desaparece naqueles breves minutos, que poderiam durar a
vida inteira, e que são um refrigério para as nossas almas. volta, Elias, pois
quem perde é o futebol. volta, Elias, porque senão, quem vai embora sou eu!
sexta-feira, 7 de março de 2014
O Mirrole...
ele entrou, e disse, eu posso fazer um mirrole? o outro disse, pode, ele foi até o cinzeiro, e catou todas as bitucas, e começou a enrolar o mirrole. o outro estava viciado em Investigação Criminal, e começou a dar uma de detetive, então ele ficava o tempo todo congelando a imagem do prefeito jogando o caroço de fruta, indo, e voltando. e pensando se conseguiria solucionar aquele caso. seria possível que dali de onde o prefeito estava, ele conseguisse acertar a lixeira? ele congelava, e voltava, e pensava que aquela historia de que ele jogou o caroço para um amigo segurar, talvez fosse verdadeira... então ele começou a pensar que talvez o prefeito seria um ótimo jogador de basquete, ele seria um baita dum cestinha, assim como é na prefeitura. quando o outro terminou o mirrole, na hora ele pensou em lixo reciclável, na greve dos garis, e em coleta seletiva. O Mirrole disse, eu vou sair... e o outro respondeu, valeu Mirrole! e o Mirrole saiu pela rua lateral que é a Rua do Lixo. e ao olhar para o prefeito na tevê de plasma, ele conseguiu desvendar o caso, e comemorou ao ficar sozinho no barraco, o apelido do cara é... Me-Enrole, prefeito!
domingo, 26 de janeiro de 2014
Em Frente ao Guanabara...
o barbeiro corta o meu black. a Gata da Hora nos olha. ele pula para dentro da loja. aí, rapaz, eu fui hoje ali no Guanabara... e está a maior loucura... tá todo mundo doido aí... quase que eu fui atropelado! maior gritaria... todo mundo brigando... até no telefone aí... fiquei de bobeira. o barbeiro diz: é que calor nesse calor bate maior neurose, e eles estão tudo sem dinheiro... ele continua, rapaz, que loucura! no radio o Roberto Carlos, parafraseando Romário, que é um dos maiores frasistas do Brasil, diz, esse cara sou eu... ele permanece em sua agitação, rapaz, quando a pista ficar pronta, vai morrer muita gente, cara! o barbeiro diz: eu acho que vai ter passarela... o outro diz: você acha que o cara que tá acostumado, a parar os carros na marra com o sinal fechado pra ele, ele faz isto há trina anos, você acha que agora... ele vai andar cem metros que seja para atravessar a passarela? tem maluco que morre na Avenida Brasil. e não é crackudo, não, tá... que crackudo é atropelado direto... o Leandro está olhando pro lado. o Renato Gaúcho conseguiu abraçar o Zico. e o Leonardo me olha com seriedade. O barbeiro diz: acho que ficou bom... a Gata do hora, olha com enfado para a minha careca.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Só Falta Cair Fogo do Céu!
a senhora que vende
ervas medicinais dorme com o cachimbo na boca em frente ao supermercado Prix.
eu leio a capa do Meia Hora em pé no trem. neste calor fica todo mundo bêbado.
e nervoso. os carros cobrem as calçadas. empurro o carrinho de bebê do meu
sobrinho pelo meio da rua. com medo. mas se pedisse alguma coisa ao prefeito,
ele perguntaria onde eu moro, e depois daria uma gargalhada encerrando o
assunto. como se eu fosse muito engraçado. a cidade tá pegando fogo. funk,
tiro, só pedrada! e bala quase sempre perdida. vejo a correria da cidade, que
alarde, Chico Buarque! formigas que trafegam sem porquê, Raulzito! eu sempre
vou contra o fluxo. ou ando de trem o máximo possível... quer dizer, quando sou
obrigado. embora a SuperVia seja do peru, vou te contar, hein?! meu Deus do
céu! sei que não vou por aí, José Régio. não se devia mais construir estradas.
é preciso acabar com os carros. e impedir que os carros entrem no centro. e
preservar os prédios antigos que contam a nossa história (lá fora tem
pontezinha da idade media preservada). aqui dá cem anos, alguém bufa,
bota-abaixo esta merda... e a nossa língua, e nossa cultura. mas é preciso
olhar para o mundo, e para o futuro. e se preocupar com os menos favorecidos em
suas capacidades. é preciso incentivar a leitura. justiça sem corrupção. saúde
humanizada. é preciso uma escola que funcione, e que tenha tempo para educar, e
lidar com as diferenças. mas é preciso antes de tudo deixar de ser hipócrita.
os japoneses reconstroem o país todo ano. a gente não consegue acabar com a
mesma seca de sempre. e com os mesmos deslizamentos de sempre. nada mudou, e
será que alguma coisa mudará? se na última rodada aconteceu aquilo, imagina
depois que terminar a copa? eu amei a atitude do Luiz Alberto do Atlético
Paranaense que gritava, são seres humanos! ele tremia em seu estarrecimento
como todos nós devíamos tremer perante aquelas cenas que a televisão não se
cansava de reprisar. mas o Haiti é aqui sim, Gil, e Caetano, o Haiti, o México,
a Índia, nós somos os pobres do mundo... e dentro do supermercado um coroa
grita, só falta cair fogo do céu!
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