consegue se livrar da mãe. dois dias. evento da igreja. abre os olhos. uh, hoje é meu dia! pensa em cagar de porta aberta. porque não? sozinho em casa, pô! dá um chute na porta. se limpa. arrota. e peida sem necessidade. anda de cueca pela casa. diz para si: quando quiser tomo banho! ignora o Nescau preparado pela mãe. dá uma mordida no pão. tô sem fome. como quando quiser! pega o telefone. liga para o cupincha. diz: e aí, tô sozinho em casa... arruma umas putas pra trazer pra cá... (acende um cigarro!). o outro, como quem toma um susto diz: que isso, rapá! tá pensando que eu sou agenciador de puta? num prometo nada, não, mas vô tentar! ele insiste por causa de uma história boa sobre essa cara. vai para a internet ver se tem uma puta online. tem uma porção. mas nenhuma delas dá ideia para ele. as horas passam. o outro não aparece. pensa, foda-se, ainda tenho dinheiro para sair. conta a merreca deixada pela mãe em cima da mesa. dá pra tirar uma onda na festa. e arrastar uma puta para casa. quem sabe. mas mal sabe ele, que no final da nossa estória, o mocinho chega a casa de manhã, sozinho. bêbado. toca uma punheta. e vai dormir.
sábado, 14 de setembro de 2013
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Uma Garrafa de Big Apple...
passa um viado... um deles diz, olha ali a tua menina, olha ali! e força as risadas. passa o gordão... ele pergunta: e aí gordão, quando você vai arrumar uma namorada? o gordão responde: quando você arrumar um trabalho! ele faz cara de decepção, e diz, estalando a língua: ah! passa a magrela... ele diz: vem cá, magrela, feia pra caralho! a magrela lança o dedo. lá vem o retardado da rua... ele faz o gesto de quem tá de olho no retardado. o outro digita rápido, sem tirar os olhos do aparelho, diz: esse maluco não tem o que fazer da vida, não? fica zanzando o dia todo pra lá e pra cá! passa a gostosa da rua... ele tira os olhos do aparelho, e diz: gostosa pra caralho, puta que pariu! o outro diz: gostosa é o caralho! isso é uma vadia, o namorado dela é um bucha... a gostosa ignora a existência dos dois. ele digita. sexta-feira, qual é a boa? o outro diz: sei lá, num sei de boa, não aí. maior tédio, aí. maior tédio. ele começa a caminhar com os dedos ainda em ação. o outro acompanha automaticamente, e puxa seu aparelho do bolso. a esquina fica vazia. ele diz. vamos ao supermercado comprar uma garrafa de Big Apple.... depois a gente decide o que fazer... ambos mantêm os olhos em seus respectivos aparelhos.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Walter Mosley e Chester Himes na Penha!
Walter Mosley diz: essa favela tá um saco, tá parecendo um campo de concentração... cheia de soldado... Chester Himes responde: tá parecendo é um quartel, isso sim! daqui a pouco eu vou começar a bater continência! ele diz isso, e ri sozinho. eles voltam para o assunto anterior. Walter Mosley diz para Chester Himes: não me venha com essa de que sabia que o Adriano seria craque desde o Campo do Ordem, Joe! (não sei o porque desses apelidos.), dizer isso aqui na Penha, é o mesmo que dizer que apostava na estrela do Zeca desde a época do Cacique. todo mundo fala isso! Chester Himes diz: Joseph, você é um velho que fala de Carlos Lacerda! Eu digo a Walter Mosley: dizem que Lacerda era um bom orador... Walter Mosley dá um tapinha em minhas costas, e diz: tá por dentro hein, rapaz? Chester Himes fala: daqui a pouco esse velho vai querer falar do tempo em que o Tenório mandava em Caxias. Walter Mosley grita: mas eu morava lá! Chester Himes responde, num disse? vou cair fora! esse papo vai terminar na trama do Getúlio com o Prestes... Walter Mosley me aponta o espelho. gostou do corte? saindo da barbearia Chester Himes levanta o Meia-Hora para cumprimentar uma senhora que passa na calçada com bolsas de feira. ele diz: tudo bom, com a senhora?
domingo, 1 de setembro de 2013
Eu Queria Ser Um Vândalo...
ele me pergunta: qual a diferença de vagabundo pra desocupado? eu digo: acho que o desocupado é o desempregado. é o cara que tá atrás de um trampo, tá ligado? já o vagabundo, esse não quer nada com o basquete! ele me pergunta: então você é vagabundo, ou desocupado? digo a ele: não sou vagabundo, nem desocupado. sou, um artista! (arregalo os olhos e levanto o dedo), continuo, você não entende isso porque você acha que todo artista é famoso. o jornal na mão esquerda. ele fica o tempo todo se balançando. a cinza imensa no cigarro. a chama alcança o dedo. ele pergunta: porque esses cretinos cismaram com esse tal de cheirinho da loló? porque esses putos não fumam maconha? quando ele diz cretinos está se referindo aos adolescentes. eu digo: talvez seja mais prático. maconha tem fumaça. chama atenção. dá trabalho. respiro. normalmente esse pessoal já cheira outra coisa, ou bebe. agora superexcitado me pergunta aos gritos: qual a diferença de vândalo para arruaceiro? pigarreio, e digo. o vândalo é o cara que quebra as coisas, que dá prejuízo nos outros. os arruaceiros devem ser aqueles caras que ficam jogando lixo no meio da rua. desisto. ah, sei, lá! ele diz: eu queria ser um vândalo... quando chega o guarda do manicômio judiciário, e diz: vão bora retardados!
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Ele Fala Brasileiro!
ele disse: ele veio aqui.... tem que vê... humildão, ele... num foi, Charles? eu disse: foi... ele disse: ele é lá da Itália (e fez um gesto para longe). eu disse: é, ele é italiano. balançando as pernas. ele se mexeu, deu um tapa no braço do outro, e disse: ih, ele é maneirão! ele fala até nossa língua, ele! sentimos um vento frio. cruzei os braços. ele pôs a mão no rosto e disse: ele fala brasileiro. eu disse: é, ele fala brasileiro. depois fiquei pensando porque ele disse ele fala brasileiro. será porque ele é de algum grupo secreto ultranacionalista, ou porque ele segue a lógica do brasileiro fala brasileiro, português fala português, alemão fala alemão, e por aí vai. quando ele grita: evém o busão! nós, pulamos, dentro. a minha mãe diria: você entendeu o que eu falei, não entendeu? e logo após ela balançaria a cabeça.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Ninguém Vê Nada, Todo Mundo Filma Tudo...
a hora do beijo. Antônio Fagundes se aproxima da Ângela Vieira. é cena que Hollywood produz, duas, ou três vezes ao ano. vai rolar, o beijo. pronto. todo mundo levanta o celular, o computador, e seja o quê for em direção ao casal. você não vê mais nada. apenas as costas dos outros que não conseguem ver o planeta a olho nu. é assim na hora do batizado. é assim na hora do aniversário. é assim na hora da formatura. todo mundo está ocupado registrando o momento. num show que fui assistir tive a impressão de que todo mundo era jornalista, ou celebridade, porque parte do público estava filmando o show, e a outra parte tirando fotos e enviando para o ciberespaço. filmar e assistir é a mesma coisa? uma vez assisti ao vídeo de uma mulher se afogando, um cara ajudava com uma das mãos, e com a outra segurava a câmera. quanta briga e estupro podiam ser evitados se o cinegrafista amador esquecesse o YouTube. o gol do Fio Maravilha da música do Jorge Ben Jor, hoje, teria sido filmado, mas não, assistido.
domingo, 25 de agosto de 2013
A Geração dos Polegares Tortos...
o neguinho tá sentado na calçada da esquina embaixo da marquise. ele cruza as pernas longas como se estivesse em casa. o sorriso congelado no rosto. o moleque branco de óculos escuros tecla com os polegares que parecem mais longos, e ágeis. ele faz parte da geração dos polegares tortos. alguém passa de bike e grita alguma coisa pro neguinho que responde: viado, tu tá me devendo. aquela aposta! pensa que esqueci... o neguinho balança o dedo de forma negativa. a bike desce a rua. quando chega esse cara. tem isqueiro? o neguinho tira o isqueiro do bolso, dá ao cara, e continua em silêncio. o isqueiro prateado faz uma enorme chama. o cara fuma. devolve o isqueiro. o neguinho tá sem camisa, de chinelos, de bermuda, e o sorriso congelado no rosto. o cara fuma. o cara fala. domingo é chato pra burro, aí! o moleque branco tecla e responde: nada pra fazer, aí. na net. no Face. mó, tédio. o cara fuma. o cara fala. que horas é o jogo, hein? o branco tecla e responde: sei de jogo não, aí! e agora passa a teclar com apenas um dos dedos. e diz sem deixar de olhar pro aparelho. vou sair. dá um tapa na mão do cara. e um tapa na mão do neguinho. tecla atravessando a rua. ele diz: tenho de ir almoçar com a minha avó. o neguinho diz: ah, moleque, vai comer a gororoba daquela velha?! o branco diz: padrão Fifa. o cara fuma. o cara fala. Almoço de domingo... o neguinho sorriso congelado.
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