ele chegou no primeiro dia novamente. assim como assistiu ao filme na estreia. sentado na primeira fila. se o diretor estivesse lá, provavelmente estaria ao seu lado. caso os diretores não fiquem na última fila. ele passou um ano renovando aquela ansiedade. um ano pensando o que dizer, e nada. um ano para criar coragem. a cada dia pensava que a menina pudesse simplesmente morrer... o grande dia era a última das hipóteses, mas seu inconsciente tinha como a mais provável. ou seja, covardia iria prevalecer novamente. o quê ele diria, oi, vim aqui num dia do ano passado, lembra de mim? não, ela não lembra. não pode lembrar. já naquela época ela podia ter namorado, sabia? ou mesmo ser casada... quando entrou foi direto a prateleira. não quis olhar a caixa da livraria. pegou o livro com o mesmo orgulho. e pensou a mesma coisa de todos os dias. ficar um ano inteiro pensando numa mulher com quem não se teve um contato de mais de cinco minutos é loucura. é uma obsessão. eu sou doente. quando olhou pro caixa ela estava... lá... um pouco mais gordinha... grávida. uma aliança dourada enorme no dedo anelar. ele se odiou por aquilo. quando ela o viu, o rosto teve a mesma expressão de quando revemos alguém que gostamos depois de muito tempo. ela disse: eu me lembro de você, e aí, gostou do livro. e do filme? o que ele respondeu não importa. foi pra casa chorando.
sábado, 26 de janeiro de 2013
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
A Trilogia (Primeira-Parte)
o rapaz usa óculos de míope, previsivelmente. compro no primeiro dia, não deixo esquentar a prateleira! acompanhou a notícia na internet. espera que façam logo um filme. tímido, previsivelmente. ele sabe que para os outros é apenas um nerd que sofreu bullying. e que tem o perfil de um esquizofrênico. se é que esquizofrênico tem perfil. pode ser um psicopata desses que atiram em todo mundo. chega a se compadecer de alguns. motivos é que não faltam para fazer o mesmo. quem sabe seja um tipo suicida. remoeu a hipótese várias vezes. quando olha para os outros na rua, tem a impressão que dizem. esse aí mata alguém... ah, se mata! vai de encontro ao objeto de desejo, como se não tivesse sido informado da existência de outros livros. só consegue enxergar o tijolão de capa colorida. cheio de monstros dentro, magias, sábios compreensivos, e lugares fantásticos. uma boa fuga pra quem não consegue encarar a realidade. se encaminha cegamente pro caixa. quando vê a atendente atrás do balcão vem o pânico. o medo de ter esquecido o dinheiro. ou da menina rir da sua cara por causa do livro que comprou. ou simplesmente de não conseguir pronunciar uma palavra. ela levanta a cabeça. tem todo o perfil de quem não daria um bom dia a ele em outro lugar. alta. olhos claros. tatuagem no braço. postura imponente. ao ver o livro ela diz. que legal! já separei o meu! ele sente alívio. e medo por ter que falar. ga-gue-jan-do, é claro. diz forçosamente. deve ser bom... ela complementa. deve ser ótimo! agora na rua respira com dificuldade. tem que criar coragem para voltar a livraria amanhã. pensa no que ela pensa sobre ele. quer terminar o livro imediatamente. e desde já torce para que a segunda parte seja lançada. continua...
domingo, 20 de janeiro de 2013
A Pílula Do Dia Seguinte (Parte-Final)
o garoto entrou na farmácia atabalhoado, como diriam escritores antigos. dessa vez ele tava muito mais nervoso do que da outra. tinha medo da mãe, do pai, da mãe da menina, e sobretudo do possível filho, ou filha, que deixava todo o mundo mais perigoso. e que agora havia caído como uma bomba em cima dos dois. acabando de vez com todos os seus sonhos de viver intensamente a adolescência a que tinham direito , apenas algumas horas antes, beijando todo mundo e... seriam escorraçados de casa e teriam que trabalhar e abandonar aquelas tardes sem aula em que vagavam pelos shoppings. para o cara da farmácia era a hora da vingança. o moleque perguntou entredentes. tem a pílula do dia seguinte? ele respondeu. antes de pensar em pílula, procure as camisinhas, pra não acabar vindo aqui comprar fraldas. todos ouviram. dessa vez para a desgraça do garoto a farmácia estava cheia. o homem puxou a nota da mão do moleque e a jogou na registradora. o moleque corou. as pílulas foram colocadas em frente a ele. a garota bufou. as bochechas ficaram vermelhas. o moleque respirou aliviado. aquela era a vingança do homem da farmácia. a vingança contra si mesmo. por não ser mais um moleque. por ter uma filha adolescente grávida. e por nunca ter usado uma camisinha.
sábado, 19 de janeiro de 2013
A Pílula do Dia Seguinte - Parte 2
a noite foi maravilhosa como sempre acontece na maioria das primeiras vezes. ele achou que não havia se saído tão bem. e a performance dela também não ajudou muito. mas finalmente havia virado um homem. era isso que importava. e agora poderia falar de igual pra igual com os moleques dos prédios. ele gozou rápido por causa da ansiedade. e a menina não ia contar isso a ninguém. ele contou uma historinha pro seu melhor amigo, que tinha outro melhor amigo, que... e concluiu que iria viver o resto da vida com aquela menina. ela pensou que a mãe só falava merda. ele perguntou se ela havia gostado. ela disse. sim, claro. eu amei. mas no fundo sabia que pouco importava. pois era a sua primeira vez, e ela o amava. simples assim. igual na novela. ele chegou a conclusão de que não podia pegar doença de uma menina que há pouco era virgem. e pensou que seria azar demais se ela ficasse grávida. justamente dessa vez. da próxima vez eles usariam camisinha. foi o clima, o momento, sabe como é. mas ela quebrou o silêncio e disse: fudeu. ele disse: fudeu! continua...
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
A Pílula Do Dia Seguinte
o moleque entrou na farmácia. o frangote não tinha 16 anos. a menina aparentava uns catorze. mas pelo tipo de atitude podia ter mais idade que o pivete. ela havia dito: te espero aqui. e odiava ouvir a voz da mãe na cabeça dizendo. se fizer isso, vai acabar com a tua vida! a mãe dele dizia. cuidado pra não engravidar a filha dos outros! e o pai: prendam as suas cabritas, que o meu bode tá solto! entra e pede ao cara da farmácia. um pacote de preservativos, por favor. fez uma voz casual como se pedisse chicletes. ensaiou a frase várias vezes mentalmente. o homem jogou a embalagem no balcão. cinco real. mas pensou. até parece que vai comer alguém! o moleque levantou os olhos, e esperou o riso que não veio. perseguiu o cliente com o olhar. quando ganhou a rua na presença da menina, o balconista tentou ver a bunda da garota. não conseguindo se redimiu. saidinho! continua...
Ansiedade
um dia encontrei com ela numa esquina. um médico me disse que a tal senhora normalmente vinha acompanhada da sua amiga depressão, ou vice-versa. depois de algum tempo tomando medicamento, e sendo acompanhado por um profissional, percebo que lutar contra ela é burrice. assim como lutar contra a sua amiga. não penso que devemos nos entregar as duas. mas é bom termos uma convivência pacífica com a tal senhora. podemos dizer, pode entrar, senta, fica aí, toma um chá. você é uma doença como outra qualquer. se eu fosse diabético não teria que conviver com o diabetes? esse vazio que nós sentimos talvez seja necessário, e inerente ao ser humano que não consegue explicar tudo. pelo menos os que não são arrogantes. hoje deixo minha depressão a vontade. só peço a ela que não traga junto o seu amigo stress. em outras palavras, só não me encha o saco! até curto um pouquinho dessa fossa poética. sem remoer nada. apenas acreditando que esse problema é meu. não dá pra ter tudo. não dá pra querer tudo. nem dá pra agradar todo mundo. ou melhor, não dá pra agradar a quase ninguém. e quem disse que devemos agradar alguém? e quem disse que devemos ser legais, felizes, simpáticos, vitoriosos, e ter um milhão de amigos? alto lá! temos sim que seguir em frente e tentar evoluir. porque? eu não sei! mas não devemos carregar todo esse peso. não quero ser um bobo alegre. já percebeu como as pessoas que se dizem felizes parecem histéricas com seus tiques e suas risadas nervosas? o bobo quer descontar toda frustração de uma vida em uma noite. mas logo após, vem a ressaca do dia seguinte. da noite de esbórnia. nem sempre... só na maioria das vezes. é a mesma coisa que tentar lutar contra uma compulsão. o problema é que não é luta. não se luta contra nada. o que tem que se buscar é a compreensão. simplesmente vire as costas e não dê bola. se tentar exterminar o inimigo da noite para o dia irá sempre perder. psicologicamente falando. virá sempre o efeito colateral. tente dar uma ignorada. e dizer a si mesmo que ele não é tão importante quanto parece. não tenho conhecimento científico. li apenas alguns livros de autoajuda. e a minha precipitação em escrever, é apenas mais uma prova da minha ansiedade. olá senhora, seja bem vinda!
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