o moleque entrou na farmácia. o frangote não tinha 16 anos. a menina aparentava uns catorze. mas pelo tipo de atitude podia ter mais idade que o pivete. ela havia dito: te espero aqui. e odiava ouvir a voz da mãe na cabeça dizendo. se fizer isso, vai acabar com a tua vida! a mãe dele dizia. cuidado pra não engravidar a filha dos outros! e o pai: prendam as suas cabritas, que o meu bode tá solto! entra e pede ao cara da farmácia. um pacote de preservativos, por favor. fez uma voz casual como se pedisse chicletes. ensaiou a frase várias vezes mentalmente. o homem jogou a embalagem no balcão. cinco real. mas pensou. até parece que vai comer alguém! o moleque levantou os olhos, e esperou o riso que não veio. perseguiu o cliente com o olhar. quando ganhou a rua na presença da menina, o balconista tentou ver a bunda da garota. não conseguindo se redimiu. saidinho! continua...
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Ansiedade
um dia encontrei com ela numa esquina. um médico me disse que a tal senhora normalmente vinha acompanhada da sua amiga depressão, ou vice-versa. depois de algum tempo tomando medicamento, e sendo acompanhado por um profissional, percebo que lutar contra ela é burrice. assim como lutar contra a sua amiga. não penso que devemos nos entregar as duas. mas é bom termos uma convivência pacífica com a tal senhora. podemos dizer, pode entrar, senta, fica aí, toma um chá. você é uma doença como outra qualquer. se eu fosse diabético não teria que conviver com o diabetes? esse vazio que nós sentimos talvez seja necessário, e inerente ao ser humano que não consegue explicar tudo. pelo menos os que não são arrogantes. hoje deixo minha depressão a vontade. só peço a ela que não traga junto o seu amigo stress. em outras palavras, só não me encha o saco! até curto um pouquinho dessa fossa poética. sem remoer nada. apenas acreditando que esse problema é meu. não dá pra ter tudo. não dá pra querer tudo. nem dá pra agradar todo mundo. ou melhor, não dá pra agradar a quase ninguém. e quem disse que devemos agradar alguém? e quem disse que devemos ser legais, felizes, simpáticos, vitoriosos, e ter um milhão de amigos? alto lá! temos sim que seguir em frente e tentar evoluir. porque? eu não sei! mas não devemos carregar todo esse peso. não quero ser um bobo alegre. já percebeu como as pessoas que se dizem felizes parecem histéricas com seus tiques e suas risadas nervosas? o bobo quer descontar toda frustração de uma vida em uma noite. mas logo após, vem a ressaca do dia seguinte. da noite de esbórnia. nem sempre... só na maioria das vezes. é a mesma coisa que tentar lutar contra uma compulsão. o problema é que não é luta. não se luta contra nada. o que tem que se buscar é a compreensão. simplesmente vire as costas e não dê bola. se tentar exterminar o inimigo da noite para o dia irá sempre perder. psicologicamente falando. virá sempre o efeito colateral. tente dar uma ignorada. e dizer a si mesmo que ele não é tão importante quanto parece. não tenho conhecimento científico. li apenas alguns livros de autoajuda. e a minha precipitação em escrever, é apenas mais uma prova da minha ansiedade. olá senhora, seja bem vinda!
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A Lei José Da Penha
o Facebook fez mais uma vítima. ontem o pedreiro José da Silva, morador do Complexo do Alemão, foi assassinado por sua esposa enfurecida. segundo relatos de vizinhos que não quiseram se identificar, Maria da Silva, que ao adentrar as dependências da página do marido, descobriu que a ex-namorada de José Roberto havia curtido uma foto sua. a mulher ficou irritada e jogou ácido no rosto do companheiro, logo após ateou fogo ao seu pijama. ela foi presa em flagrante e levada para a delegacia. o pedreiro foi enviado ao hospital Getúlio Vargas na Penha, mas não resistiu aos ferimentos, deixando dois filhos menores. é o quinto caso de assassinato de homens por suas companheiras esta semana, o delegado titular da 22 DP confirma os números. em 2013 no Brasil, já foram registrados cem assassinatos de homens por suas mulheres. muitas delas tem se aproveitado do estado de embriaguez das vítimas. outra parcela destes homens sofre com a mutilação do pênis. prática que tem se tornado comum por essas criminosas. o governador do estado comentou o caso, dizendo que, essas facínoras não ficarão impunes! a polícia militar do estado do Rio de Janeiro tem trabalhado diariamente para coibir esta covardia. em Brasília tramita uma projeto de lei a qual a presidenta parece não estar muito interessada em sancionar. mas alguns deputados, depois desse caso emblemático, pensam em batizar a lei como José da Penha.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Eu Matei Duas Pessoas Com Um Tiro!
eu não atirei pra matar. só queria dar um susto. não sei como acontece com os assassinos profissionais. embora hoje não veja diferença entre quem matou uma, ou cem pessoas. sabe aqueles caras que aparecem na televisão dizendo que no meio de uma briga perderam o controle e esganaram a outra pessoa, durante todo a discussão você fica cego de ódio. por isso que aqueles idiotas que frequentam essas igrejas nojentas dizem que estavam possuídos. quando na verdade não conseguiram raciocinar direito. se tivessem saído pra tomar um sorvete ou fumar um cigarro, a historia seria diferente. depois que o corpo está lá jogado, sem vida, você consegue pensar claramente. e chega a conclusão de que não havia motivo pra tanto. podia simplesmente ter dado as costas e ido embora. ou então calado a boca. cometeu um ato banal que vai marcar a tua vida pra sempre. mesmo que fosse em legitima defesa seria assim. o trauma. os pesadelos... não dá pra matar a família e ir ao cinema. a não ser que você seja um psicopata. embora hoje eu também me considere um deles. não vim aqui pra me desculpar. cometi um erro que não se tem o direito de cometer. nem perante a justiça dos homens. nem perante a justiça da natureza. eu matei duas pessoas com um tiro.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
A Minha Vó Tá No Facebook!
pode ser brincadeira de algum primo. eu sei o quanto nós brasileiros somos preconceituosos. mas é que a minha avó tem cara de vovó que cuida de netos e cachorros. o pior dos poodles não é nem o latido ensurdecedor. embora te veja todo dia o infeliz ainda late pra você. mas aquela lambida que pega do calcanhar em direção a batata da perna é nojenta. antes o desgraçado tivesse me mordido. mas nem sempre a minha avó foi essa vovozinha de comercial de supermercado. a minha avó não é nenhuma Ângela Vieira, que tem idade pra ser a tua avó, e moral pra posar na Playboy. já imaginou os teus amigos da facul tudo querendo pegar a tua avó. dizem que a minha vó era a maior pé de valsa da Casa do Marinheiro na Penha. isso depois do falecimento do meu avô tenente da marinha brasileira na segunda guerra mundial. eu a vi na tevê desfilando pela Caprichosos de Pilares, vestida de prisioneira, com uma bola amarrada nos pés. e vi também uma foto em que ela estava vestida de índia. ela se casou com um rapaz mais jovem e escandalizou a comunidade local da época. a minha avó é culpada por eu ter me tornado escritor. por culpa da liberdade excessiva e ótima que ela me deu. por causa de sua crença de que o mundo vai ensinar, como disseram que ela disse um dia. a minha avó me deixava assistindo a extinta TV Machete até tarde. Documento Especial, e aqueles filmes que pertencem ao tempo do cinema nacional que eu mais gosto, e que felizmente eram impróprios para menores. depois que a programação acabava a insônia aparecia. eu sempre odiei estudar ou ser obrigado a estudar, e nessa época aproveitava para descontar o sono na sala de aula. naqueles dias, uma tia que não sei se, a Neli, ou a Cristina, que eram boazinhas e que não tinham culpa da minha ociosidade, pediu que a turma lesse um livro chamado O Rapto da Coroa, de Helenice Machado de Almeida. nunca mais parei de ler na vida minha vida. a literatura me ajudou a ocupar o tempo insone, e por acidentes ela me mostrou o meu destino. a minha irmã teve o meu sobrinho maravilhoso com dezesseis. ela é da nova geração e não tem perfil de que será uma vovó igual a minha. há tempo o mundo já tem as suas vovós tatuadas ouvindo rock, reggae, e MPB. vai ser legal ver um mundo de avós falando com seus netos de igual pra igual. mas essas vovós fofinhas iguais a minha irão deixar saudade... e não que as outras não sejam fofinhas...
A Mãe
ela queria saber realmente porque seu filho fumava aquela porcaria todos os dias. era contra aquilo, inequivocamente. não gostava nem de pronunciar o nome da maldita. talvez fosse contra pelo simples fato de ser um prazer desnecessário, igual a maior parte dos prazeres, por mais que o filho argumentasse não causar mal algum. e principalmente por estar fora da lei. não viu grandes mudanças que chegassem a comprometer o comportamento do progenitor. dane-se que diminuísse a ansiedade ou deixasse a pessoa lesada a ponto de não reagir a um tapa. a questão é, não faz o menor sentido você optar por algo que a maioria condena. quando pode frequentar estádios como a maioria dos homens fazem, ou se ocupar com os carros e lutas na televisão, ora bolas! todas aquelas discussões e passeatas, parecia algo de quem queria se revoltar contra alguma coisa de qualquer jeito. então nesse sentido talvez a proibição fosse ruim. a mãe em seu tempo não foi nenhuma riponga. era apenas uma namoradinha do subúrbio que frequentava os bailes da jovem guarda. e adorou quando o Roberto Carlos aderiu ao catolicismo. ela havia se tornado uma dona de casa. mas queria experimentar aquela porcaria. depois de ver tanto artista que gostava na televisão dizendo que já havia experimentado, decidiu experimentar. não acreditava que fosse ficar viciada. nem estava experimentando para poder debater com o filho, igual ele propunha. ela queria apenas saber o que havia de tão maravilhoso naquilo, a ponto de tanta gente falar tanto. um dia esperou o filho sair e foi lá fumar um dos seus cigarrinhos de artista que ele não fazia questão de esconder. e fumou um dele de tarde. quando o filho chegou em casa, a noite, a mãe perguntou a ele: posso fumar com você? ele respondeu: hã?!
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Jorge Selarón
Selarón, eu estava ouvindo sobre a sua morte aqui no meu radinho de pilha. e me lembrei de tantas noites que fui me sentar em sua escadaria. e com a fumaça adocicada nos pulmões a olhar a lua e respirar aquele cheiro de noite gostoso que só essa cidade parece ter. a sua escadaria, a da Penha, e o falecido Escadinha são os degraus mais famosos do Rio. Na sua escadaria cosmopolita, troquei ideias com gente de vários países. de australianos a peruanos. um amigo dia desses, lá mesmo na Lapa, relembrando um fato dos anos noventa, me disse: no tempo em que Lapa era Lapa! eu me lembro daquela Lapa em que o pessoal do hip-hop se sentava ali em frente aos arcos. eu frequentava o Circo Voador sujo. e era ótimo ver todo mundo lá em cima pendurado. e ter a sensação de que no meio do centro da cidade se estava dentro da Sociedade Alternativa. eu peguei aquela Lapa sitiada por travecos, punks cachaceiros, e moleques de rua que em sua maioria ainda cheirava cola. não que todos tenham sumido. mas engraçado que não acho que a Lapa verdadeira fosse essa. uma vez num terreiro de macumba o Seu Zé Pelintra me disse que a Lapa não era mais a Lapa fazia tempo. eu concordei com ele, que é uma sumidade no assunto. tem uma música que o Moreira da Silva diz que ele sonha com essa Lapa. cada um tem a Lapa que merece. e talvez os ingleses agora tenha a deles. eu tive a minha que nem foi tão boa assim. pois sou da geração rabo de foguete. a geração traumatizada pela internet. e pra quem chamava a geração de oitenta de geração perdida não sabia as proporções que a falta de criatividade iria tomar. mesmo daqueles que se dizem de vanguarda. e há de convir comigo que a gente era feliz e não sabia. da mesma maneira que se reclamava dos funkeiros dos anos noventa e, hoje se pede que eles voltem. embora acredite que o artista também veja o que todo mundo vê, e não só, o que é conveniente. mas o melhor lugar do mundo é aqui e agora, como diria Gilberto Gil. e como Woody Allen deixo claro no Meia Noite em Paris. mas a minha capital cultural do Rio continua sendo Madureira, não sei ainda por quanto tempo. a capital da música negra e do meu subúrbio. eu me lembro muito bem que foi uma novela que popularizou a Lapa. junto de interesses legítimos, financeiros, olímpicos e carnavalescos. mas seria tão bom se os lugares crescessem e as festas como o carnaval, mudando, evoluindo mas sem perder a essência. igual a preservação de alguns prédios antigos europeus como não acontece aqui no Rio. Selarón, não cheguei a trocar ideias com você. mas te ouvi falar e te conhecia de vista. e soube que você não tinha filhos. será que era na linha do, os meus filhos são os meus filmes. eu optei por não ter filhos. talvez para um artista, por causa de sua obra, seja mais fácil não ter esse pensamento preconceituoso de que, eu tenho que deixar a minha semente no mundo. até porque tanto a arte quanto a filosofia demandam um tempo imenso. e as duas parecem caminhar de mão dadas. provavelmente por isso muitos filósofos não foram casados. o escritor Bukowiski dizia não ter tempo nem para cortar as unhas. e será que era isso que você pensava. ainda não se sabe se foi suicídio. mas se foi, será que existiu algum simbolismo nesse ato de morrer queimado, em plena na obra em que parecia ser sua vida pelos depoimentos, e pela qual você mesmo zelava. pois você vivia, trabalhava, e porque não, amava a ela, e nela. o suicídio é uma bobagem. uma vingança contra quem se ama. e uma bandeira branca estendida ao inimigo. não aquele inimigo das igrejas. e o assassinato não depende de nós. as vezes, é até uma fatalidade. estar no lugar errado, na hora errada, em frente ao psicopata errado. dizem que o fogo é purificador. e se isso é verdade, você não morreu crucificado, como um assassino possa pensar. como seria a intenção do assassino. e se foi suicídio, eu entendo. você se purificou para poder ascender. vai na paz, amigo artista.
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