terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Pistola Automática Cromada

eu tenho uma arma na mão. e não é um livro. pois se fosse um livro eu jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. mas não é um microfone. que se fosse um microfone, eu também jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. e não é uma megafone. que se fosse um megafone, eu começaria a xingar todo mundo. eu tenho uma arma na mão. e ela é tão sedutora quanto a Sharon Stone naquele filme Basic Instinct. e ela faz mal a saúde. assim como doces de confeitaria, a minha arma mata. eu tenho uma arma na mão. e não é um carro. pois se fosse um carro, eu tomava uns goles, tomava coragem, e passava por cima de quem não gosto. e aí depois ia pra delegacia, pagava fiança, pois uma morte não custa caro no Brasil, ainda mais se for morte de pobre, é bem mais barata. no outro dia eu estaria solto para atropelar novamente. eu tenho uma arma na mão. e assim como aqueles infelizes estadunidenses que estão pirados com toda essa sociedade, eu também posso entrar em algum local atirando. numa tentativa de me vingar de mim mesmo. eu tenho uma arma na mão. pois diferente do Reino Unido, eu posso ter uma arma na mão. e a minha arma é uma pistola automática cromada que me diz que eu posso matar quem eu quiser. eu estou no fundo daquele teatro, com aquela porção de gente. e todos eles ficam me remedando e olhando pra minha cara com ojeriza. eu olho os policiais na rua. e sei que não terei como escapar. eles pensam que essa arma é de brinquedo. e começo a ficar confuso e ansioso. trêmulo. escorre suor. mas eu quero ir me embora. eu digo a ela. vamos embora. ela me pergunta: você está se sentindo mal. eu digo sim. vamos embora. ela insiste: você não vai participar do espetáculo. Eu digo: não. e nós saímos.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Depressão Pós-Parto

passei um tempo dedicado a um livro que me deu esta depressão ao terminar. acredito que outros escritores já tenham sentido isso. não sei nada sobre escritores. desta vez o processo de criação, como dizem por aí, foi diferente. parei tudo para escrever o tal livro. o que não havia acontecido anteriormente durante nenhuma outra criação. sofri por ter que conviver com aquele personagem noite e dia. o que me levava a ter pesadelos constantes. talvez por causa do meu consciente que era detonado por seus consciente e  inconsciente. todos os dias terminava de escrever exausto. mas estupidamente feliz por escrever o que realmente queria. então ao me deitar sentia aquele vazio satisfatório. como se todas as as minhas mazelas, e as mazelas da sociedade tivessem sido expurgadas através da minha pena. e de repente me senti perdido com esta ansiedade descomunal, que me dá com vontade de fazer tudo que ficou suspenso. Mas não consigo fazer nada. como se a minha função social não tivesse mais utilidade. e como se não houvesse nada mais interessante debaixo do sol. o livro me leva a um êxtase difícil de ser substituído. embora precise de um tempo para tocar os meus outros projetos como dizem esses artistas que não tem projeto algum. mas eu sei que daqui a pouco me vem um momento na cabeça... alguém diz uma frase estranha.... um rosto começa a se formar e bola pra frente...

sábado, 5 de janeiro de 2013

A Cidade Mais Linda Do Mundo

eu passei a virada do ano na cidade mais bonita do mundo. na praia mais linda da cidade mais bonita do mundo. onde tem o povo mais simpático e mais sexy do mundo. que coincidentemente é o povo que mais copula e que mais trai no mundo. onde tem as mulheres mais lindas do mundo. onde tem a maior festa popular do mundo. onde tem o time de futebol que tem a maior torcida no mundo (fato). onde tem o povo mais feliz do mundo. onde tem a queima de fogos mais linda do mundo. tudo aqui é o melhor do mundo. não sou eu quem diz. são as pesquisas. fiquei na areia vendo aquela profusão de alcoólicos em alegria histérica.  rolando na areia e no final parecendo bife a milanesa. abrindo champanhe dentro da água e gritando. eu sou feliz. como se para que a sentença se tornasse verdadeira fosse necessário repeti-la. um gringo. não me contive de tanta felicidade... ai. ai... realmente adorei o show. e a lua. e depois a queima de fogos com a trilha sonora formidável. e as propagandas da prefeitura com os principais artistas da cidade me convenceram de que vivo numa cidade maravilhosa. as pessoas no alto dos prédios admiravam a queima de fogos, como se dissessem para aqueles que estavam embaixo, temos uma visão melhor que a de vocês. e as pessoas nos transatlânticos admiravam de longe, e pareciam querer repetir a mesma frase de camarote. deviam se sentir salvas separadas por quilômetros de água daquela muvuca. eu também queria estar lá. num navio daqueles. só para que gente não tivesse dúvidas de onde estávamos.. vi alguns crackudos trombando as pessoas na areia com esperança de arrancar alguma coisa dos seus bolsos. e confesso que cavoquei o chão com os pés a procura de algum objeto perdido. um gringo alcoólatra caia em minhas costas. enquanto a minha mina sussurrava em meu ouvido. feliz ano novo...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Inimigo Oculto

Festa de fim de ano da empresa. Quando o chefe anunciou. Esse ano nós vamos ter um amigo oculto! Eu ouvi toda aquela lenga-lenga da importância da confraternização. E tive que dar um presente a alguém que detestava, e que eu sabia que não deixaria de me detestar por isso. A gente sempre se fode com esses presentes, e ganha um bem mais barato que o preço combinado. Eu queria que trouxessem a nota fiscal. Vi quando foi anunciado o nome do fulano. As brincadeiras com risinhos amarelos dizem que eu vou ganhar o regalo do chefe. Eu sou o puxa-saco da empresa. Trabalho mais que os outros. Dou informações quentes. E sonho ser promovido. Descrevi o meu amigo oculto como um espírito evoluído. O felizardo que tirou o chefe, disse que ele era isso, aquilo, e blá-blá-blá. Nessa hora me aproximei das mesas de doces, e peguei um refrigerante. De repente o poderoso chefão abriu a caixa. O artefato explodiu. Ele gritava com o rosto cheio de estilhaços. Eu me impressionei mais com aquele que levou o presente. Este metia a mão na cabeça e gritava. Meu Deus! E tive vontade de dizer. Feliz Natal Pra Todos...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Não Dá Pra Morrer De Fome!

O gás lá em casa havia acabado. Eu tinha de gastar as últimas moedas, ironicamente, com as duas caixas de fósforos. Se estivesse no centro da cidade ia a um bar pedir pra tirar o lixo em troca de um café. O café é a melhor bebida que deus inventou. Depois vem a Coca-Cola. Como eu ia escrever o dia inteiro sem um gole de café. A literatura depende do café. Não do fumo, nem da bebida, nem de memórias afetivas, ou inspiração como alguns calhordas podem imaginar. Os escritores estão no ranking dos profissionais que mais bebem café. No posto de saúde pública não servem café de graça. Nas clínicas particulares é preciso ser paciente. Lembrei-me dos postos de combustíveis. No mais próximo existia uma placa em cima do café dizendo que era uma cortesia para os CLIENTES. O supermercado fica longe e nem sempre se tem a garantia daquele stand com cafezinho grátis. Pus a minha melhor roupa de ficar em casa, e corri para a biblioteca pública. Havia dois livros emprestados comigo. Então fiz cara de escritor em pesquisa para o próximo livro. E como quem não quer nada, eu me aproximei da garrafa térmica. Pena que aqueles copos descartáveis são ridiculamente pequenos. Peguei meu primeiro gole. Dei uma volta. Fingi que estava compenetrado. Voltei para o meu segundo gole. O bibliotecário sorriu com ironia e disse. O café da faxineira é bom... Respondi a ele. De graça é sempre mais gostoso... Sem tirar os olhos do computador ele me perguntou. Dá pra viver mesmo desse negócio de livro? Eu disse. Não dá pra morrer de fome... Nós rimos. Esmaguei o descartável com a mão. Fui. Agora eu poderia escrever em paz o resto do dia. A janta seria outro episódio. Mas a dúvida que pairava sobre a minha cabeça era se os empregados se cotizavam para comprar o café, ou se era comprado pelo governo. Essa dúvida me angustia. Se a biblioteca é pública o certo é que o governo compre o café. Vou perguntar ao bibliotecário da próxima vez...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Papai Noel no Maracanã

Quando eu era criança nós éramos tudo felizes no Rio de Janeiro. Colorido, bonito, gel no cabelo, ombreira, e Atari dos colegas. A Blitz na vitrola e o Balão Mágico na tevê. Todo mundo imitando o Michael Jackson. Nossa vida era uma eterna tarde de sábado no programa do Chacrinha. Eu tinha doenças pra cacete. Diziam que era porque eu bebia água da bica e comia amêndoas do chão. Nós tínhamos pano branco, caxumba, rubéola, e coqueluche. O maior evento do ano era assistir à chegada do Papai Noel no Maracanã. Mas teve um ano que eu peguei catapora. Não queria espantar todo mundo do estádio. Esse até hoje é o maior trauma da minha infância. Se bem que eu não pude ter um videogame… A única desgraça que aconteceu naquele tempo foi o filme Pixote.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Meu Nome Não é Elano!

Eu tava bebendo um negócio com dois ou três bêbados amadores, e desconhecidos. A gente tava bebendo e assistindo uma banda de rock ruim. A banda era ruim. Não o rock. Um deles apontou a lata de Coca-Cola em cima da mesa, e perguntou: que porra é essa? Quando olhei percebi que tava escrito: quanto mais Rafa melhor. Alguém explicou que as latas vinham com vários nomes. Então a intenção é sair em busca da sua. Alguém disse: os caras do marketing são foda! Eu pensei. Os caras do marketing são foda. Mas eu nunca teria uma latinha com o meu nome. A vantagem de se ter um nome desconhecido é que as pessoas dificilmente se confundem. Já se você se chama Marcelo, Felipe ou Tiago, fica mais difícil. O lado ruim é ter que ouvir: eu não perguntei teu apelido, eu perguntei teu nome! Ou aquela: o dono da loja de móveis? Na verdade Delano é um sobrenome. O médico que fez o parto da minha mãe se chamava Jorge Delano. Até hoje não entendo a comparação com o ator Alain Delon. Não, eu não sou o Franklin Delano Roosevelt. Pior é ser chamado de Derlano por aqueles que não têm boa pronúncia. Quando o jogador Elano está na seleção... Eu respondo: o meu nome não é Elano!