eu passei a virada do ano na cidade mais bonita do mundo. na praia mais linda da cidade mais bonita do mundo. onde tem o povo mais simpático e mais sexy do mundo. que coincidentemente é o povo que mais copula e que mais trai no mundo. onde tem as mulheres mais lindas do mundo. onde tem a maior festa popular do mundo. onde tem o time de futebol que tem a maior torcida no mundo (fato). onde tem o povo mais feliz do mundo. onde tem a queima de fogos mais linda do mundo. tudo aqui é o melhor do mundo. não sou eu quem diz. são as pesquisas. fiquei na areia vendo aquela profusão de alcoólicos em alegria histérica. rolando na areia e no final parecendo bife a milanesa. abrindo champanhe dentro da água e gritando. eu sou feliz. como se para que a sentença se tornasse verdadeira fosse necessário repeti-la. um gringo. não me contive de tanta felicidade... ai. ai... realmente adorei o show. e a lua. e depois a queima de fogos com a trilha sonora formidável. e as propagandas da prefeitura com os principais artistas da cidade me convenceram de que vivo numa cidade maravilhosa. as pessoas no alto dos prédios admiravam a queima de fogos, como se dissessem para aqueles que estavam embaixo, temos uma visão melhor que a de vocês. e as pessoas nos transatlânticos admiravam de longe, e pareciam querer repetir a mesma frase de camarote. deviam se sentir salvas separadas por quilômetros de água daquela muvuca. eu também queria estar lá. num navio daqueles. só para que gente não tivesse dúvidas de onde estávamos.. vi alguns crackudos trombando as pessoas na areia com esperança de arrancar alguma coisa dos seus bolsos. e confesso que cavoquei o chão com os pés a procura de algum objeto perdido. um gringo alcoólatra caia em minhas costas. enquanto a minha mina sussurrava em meu ouvido. feliz ano novo...
sábado, 5 de janeiro de 2013
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
O Inimigo Oculto
Festa de fim de ano da empresa. Quando o chefe anunciou. Esse ano nós vamos ter um amigo oculto! Eu ouvi toda aquela lenga-lenga da importância da confraternização. E tive que dar um presente a alguém que detestava, e que eu sabia que não deixaria de me detestar por isso. A gente sempre se fode com esses presentes, e ganha um bem mais barato que o preço combinado. Eu queria que trouxessem a nota fiscal. Vi quando foi anunciado o nome do fulano. As brincadeiras com risinhos amarelos dizem que eu vou ganhar o regalo do chefe. Eu sou o puxa-saco da empresa. Trabalho mais que os outros. Dou informações quentes. E sonho ser promovido. Descrevi o meu amigo oculto como um espírito evoluído. O felizardo que tirou o chefe, disse que ele era isso, aquilo, e blá-blá-blá. Nessa hora me aproximei das mesas de doces, e peguei um refrigerante. De repente o poderoso chefão abriu a caixa. O artefato explodiu. Ele gritava com o rosto cheio de estilhaços. Eu me impressionei mais com aquele que levou o presente. Este metia a mão na cabeça e gritava. Meu Deus! E tive vontade de dizer. Feliz Natal Pra Todos...
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Não Dá Pra Morrer De Fome!
O gás lá em casa havia acabado. Eu tinha de gastar as últimas moedas, ironicamente, com as duas caixas de fósforos. Se estivesse no centro da cidade ia a um bar pedir pra tirar o lixo em troca de um café. O café é a melhor bebida que deus inventou. Depois vem a Coca-Cola. Como eu ia escrever o dia inteiro sem um gole de café. A literatura depende do café. Não do fumo, nem da bebida, nem de memórias afetivas, ou inspiração como alguns calhordas podem imaginar. Os escritores estão no ranking dos profissionais que mais bebem café. No posto de saúde pública não servem café de graça. Nas clínicas particulares é preciso ser paciente. Lembrei-me dos postos de combustíveis. No mais próximo existia uma placa em cima do café dizendo que era uma cortesia para os CLIENTES. O supermercado fica longe e nem sempre se tem a garantia daquele stand com cafezinho grátis. Pus a minha melhor roupa de ficar em casa, e corri para a biblioteca pública. Havia dois livros emprestados comigo. Então fiz cara de escritor em pesquisa para o próximo livro. E como quem não quer nada, eu me aproximei da garrafa térmica. Pena que aqueles copos descartáveis são ridiculamente pequenos. Peguei meu primeiro gole. Dei uma volta. Fingi que estava compenetrado. Voltei para o meu segundo gole. O bibliotecário sorriu com ironia e disse. O café da faxineira é bom... Respondi a ele. De graça é sempre mais gostoso... Sem tirar os olhos do computador ele me perguntou. Dá pra viver mesmo desse negócio de livro? Eu disse. Não dá pra morrer de fome... Nós rimos. Esmaguei o descartável com a mão. Fui. Agora eu poderia escrever em paz o resto do dia. A janta seria outro episódio. Mas a dúvida que pairava sobre a minha cabeça era se os empregados se cotizavam para comprar o café, ou se era comprado pelo governo. Essa dúvida me angustia. Se a biblioteca é pública o certo é que o governo compre o café. Vou perguntar ao bibliotecário da próxima vez...
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
O Papai Noel no Maracanã
Quando eu era criança nós éramos tudo felizes no Rio de Janeiro. Colorido, bonito, gel no cabelo, ombreira, e Atari dos colegas. A Blitz na vitrola e o Balão Mágico na tevê. Todo mundo imitando o Michael Jackson. Nossa vida era uma eterna tarde de sábado no programa do Chacrinha. Eu tinha doenças pra cacete. Diziam que era porque eu bebia água da bica e comia amêndoas do chão. Nós tínhamos pano branco, caxumba, rubéola, e coqueluche. O maior evento do ano era assistir à chegada do Papai Noel no Maracanã. Mas teve um ano que eu peguei catapora. Não queria espantar todo mundo do estádio. Esse até hoje é o maior trauma da minha infância. Se bem que eu não pude ter um videogame… A única desgraça que aconteceu naquele tempo foi o filme Pixote.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
O Meu Nome Não é Elano!
Eu tava bebendo um negócio com dois ou três bêbados amadores, e desconhecidos. A gente tava bebendo e assistindo uma banda de rock ruim. A banda era ruim. Não o rock. Um deles apontou a lata de Coca-Cola em cima da mesa, e perguntou: que porra é essa? Quando olhei percebi que tava escrito: quanto mais Rafa melhor. Alguém explicou que as latas vinham com vários nomes. Então a intenção é sair em busca da sua. Alguém disse: os caras do marketing são foda! Eu pensei. Os caras do marketing são foda. Mas eu nunca teria uma latinha com o meu nome. A vantagem de se ter um nome desconhecido é que as pessoas dificilmente se confundem. Já se você se chama Marcelo, Felipe ou Tiago, fica mais difícil. O lado ruim é ter que ouvir: eu não perguntei teu apelido, eu perguntei teu nome! Ou aquela: o dono da loja de móveis? Na verdade Delano é um sobrenome. O médico que fez o parto da minha mãe se chamava Jorge Delano. Até hoje não entendo a comparação com o ator Alain Delon. Não, eu não sou o Franklin Delano Roosevelt. Pior é ser chamado de Derlano por aqueles que não têm boa pronúncia. Quando o jogador Elano está na seleção... Eu respondo: o meu nome não é Elano!
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Oração de Delano Valentim
Senhor, que num milagre teu, senhor, toda essa gente comece a ler meu livro, que ele se torne um A Cabana, ou o meu Ágape igual ao do Padre Marcelo Rossi. E que o meu livro dispute ombro a ombro as prateleiras, e os passageiros dos ônibus, com o Harry Potter e o Crepúsculo. E que eu seja invejado e odiado como Paulo Coelho. Eu quero ver meu livro na mão daquele homem do povo que lê o Meia-Hora em pé no trem, e que escuta no celular, ou no radinho de pilha, o jogo do Flamengo, e a Patrulha da Cidade. Esse homem que mal sabe mexer na net, que não sabe nem o que é Face. Pois eu estou cansado daquele escritor que é um gênio para a história da literatura brasileira, mas que me dá sono no primeiro parágrafo. Senhor me leva para Hollywood, para que eu possa me prostituir como fez o irmão do Holden Caufield. Eu deixo o James Cameron me filmar. Ele faz do livro o roteiro que quiser, corta o personagem principal, muda o fim, eu não tô nem aí! Eu só quero que o filme propague o meu livro. Eu prometo que não vou à festa da entrega do Oscar. Dou uma de Salinger, que passou a vida toda lutando por aquilo, para no fim dizer que não queria. Os intelectuais adoram isso, escritores reclusos. Lembra-se do Dalton Trevisan? Do Thomas Pynchon? Do Carlos Castañeda? Do Rubem Fonseca? Mas senhor me afasta dos intelectuais, das resenhas, dos Prêmios Jabutis, das Feiras de Parati, da Academia Brasileira de Letras. Eu não quero ser condecorado, premiado, e estudado, para depois apodrecer numa estante empoeirada. Eu quero ser lido!
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
O Pé de Maria Joana
O Gordo disse pro magro esnobando. Aí tô com um pezinho lá em casa. O Magro surpreso. Mentira! O Gordo birrento. E já tá bem grandinho! O Magro curioso. Tu já fumou? O Gordo: ainda não. Mas tô pensando em estrear hoje. O Magro, vamo lá fumar um! O Gordo fazendo mistério. Mas ele tá no terraço do meu prédio... O Magro ainda sem acreditar. Você tá dizendo que plantou um pezinho no terraço do teu prédio? O Gordo: sim. O Magro: e se os outros vizinhos descobrirem? Eles não gostam, mas não sabem nem o que é. Pensam que é outra coisa. O Magro: o quê, por exemplo, trevo? É por aí! O Gordo disse já desinteressado. Continuou. Eu preciso de ajuda pra resgatar esse pé. O Magro: e qual é o tamanho dele? Vamo lá que você vai ver! Na escada o Gordo contou para o Magro: o porteiro fica admirado de como eu gosto de planta! Quando o Magro viu o pé, falou. Isto não é um pezinho, isto é uma árvore! O Gordo, sem escândalo. Vamo pela escada. Um tiozinho que ia abrindo a porta perguntou: que planta é essa, meu filho? E o Gordo: mandioca da serra! Eles riram desceram para a casa do Magro na noite suburbana. Carregando o vaso, suando. Uma patrulinha passou e um deles comentou. Que babacas, carregando planta uma hora dessa! Na casa do Magro, quando eles começaram a fumar, o relógio ainda estava marcando meia noite.
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