segunda-feira, 14 de maio de 2012

Inadequado Para Homens Solteiros

Assistindo o casal de amigos brigões Mateus disse a Letícia. Esse casal briga demais. E Letícia disse. É normal casal brigar. E Mateus disse: é, mas tem hora que é chato. E Letícia: eu sei como você pensa e sei que você faz uma tempestade em copo d’água! E Mateus disse: é... eu só acho que as pessoas não deviam brigar a toa. E Letícia responde: a gente não briga a toa. A gente briga pra decidir as coisas. Mas briga é briga e... Não é briga! Mateus: então tá, é discussão. Letícia: não é discussão. É conversa. Se existe conversa com pessoas gritando eu desconheço, disse Mat. E Letícia contra argumentou: e de mais a mais nós não brigamos como eles. Ela apontou para os dois do outro lado da rua. Não dava para ouvir o que eles falavam. Ainda bem. Se não se ouviria uma porção de palavrões. Mas as mãos subiam e a descida era quase na cara do interlocutor/a. Letícia complementou. Nós só temos brigas bobas. E Mateus pensou, se essas brigas são tão bobas, então porque é que elas acontecem? Mas não disse nada. Pois já estava cansado de discutir, de brigar, conversar, ou seja, lá o que for!

sábado, 12 de maio de 2012

Mortinho da Silva

Ela só queria falar sobre a porra do ex-namorado dela. A porra do ex-namorado morto, que se fudeu num acidente de carro. Quando bateu o ponteiro parou no cento e vinte. No poste. Na marca. Se espatifou. Virou mingau. Cheio de pó e uísque na veia. Enquanto a boca de Karen se movimenta, Kevin não ouve mais nada de blá-blá-blá o quanto ele era legal. Só consegue observar os lábios vermelhos e tenta sentir o perfume entre os tantos odores do restaurante que uma daquelas revistas de fresco diz ser muito bom. Kevin pensa que não vai mais poder dormir um dia da sua vida sem essa mulher. Quando o garçom chega com o vinho branco suave, Kevin diz: o seu namorado devia ser alguém interessante de se conhecer... E Karen responde: acredito que você fosse gostar muito dele. E Kevin sente uma imensa vontade de dizer: foda-se a porra do seu ex-namorado! Mas depois pensa, que se foda, ela não vai poder mais trepar com ele mesmo! Pode viver esse amor platônico por toda a eternidade. Pois ele está morto. Mortinho da Silva.

domingo, 6 de maio de 2012

Lendas Urbanas 1 - O Motel

Ele parou na garagem do motel. Havia acabado de se despedir da balconista da lojinha de roupa. E daquele sexo fast food de hora do almoço, estilo machão latino americano. Quando viu um carro que desconfiou ser do seu amigo de ofício. Deu um sorriso e resolveu ligar pra ele do celular. Aí, tú tá onde? eu tô aqui na firma. E ele, sei, firma. Tô parado em frente ao teu carro. E o outro: hoje ele não tá comigo, não. Hoje é dia da minha esposa fazer compra. Ele respondeu: tô de brincadeira, queria saber sobre aquele contrato. Daqui a pouco eu tô chegando... E o outro sem entender nada se despediu. Tá bom. Até mais. Som de telefone sendo desligado.

Autor Desconhecido.

Observação: essa estória sempre é contada nos subúrbios brasileiros por alguém que conhece alguém.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Roupinol ou Boa-Noite, Cinderela...

Passei trinta anos preso. Isso foi antes das visitas íntimas, computador doméstico, telefone celular e o cacete a quatro que vocês têm hoje me dia. Quando fui preso o Escadinha ainda não sonhava bater carteira ou Comando Vermelho havia sido fundado. Saí da colônia penal pela porta da frente numa época em que a Lapa ainda era local de malandro decadente, e não parque turístico de playboy. Antes do crack. A gente só fumava uma erva do norte, e o pó era uma novidade no mercado. O chefe da boca tinha um trinta e oito cano longo. Ninguém no morro podia fumar na frente de criança, pois era falta de respeito. Enquanto caminhava em direção a qualquer lugar, eu só pensava numa palavra: mulher. Peguei todas as minhas economias de pequenos serviços prestados à comunidade carcerária, e parei para tomar uns tragos com uma menina da Praça Mauá, vulgo Cinderela, ela parecia aquela menina, Brigitte Bardot. Quando acordei estava nu deitado numa sarjeta da Rua do Ouvidor, e perguntei ao policial: “Cadê a Cinderela?” Ele me respondeu: “Se foi com a carruagem.” Desde então sou conhecido por esse vulgo de Roupinol, e o golpe ficou com a alcunha de Boa-Noite, Cinderela...


terça-feira, 1 de maio de 2012

Ainda Bem Que Eu Sou América!

Eu tava em frente a drogaria esperando a minha mina adquirir algum analgésico. Quando vi uma família toda com camisa do Flamengo. Pai, mãe e filha. Havia um cidadão próximo a mim com a mesma camisa vermelha e preta, e com um riso de cumplicidade para a garotinha. Observei que nesse dia existiam muitos flamenguistas na rua. Quando um gaiato perguntou ao cidadão: o Flamengo jogou ontem? ele respondeu: não. É que o Vasco foi vice de novo, e nós estamos felizes. Ele devolveu: ainda bem que eu sou América!

Um dia desses ao ver o irmão de um amigo surgir na sala perguntei a ele: qual é o teu time? Ele respondeu: o meu time é América. Eu disse: não me lembro desse time, não... Ele irritado me respondeu: ah, mas você lembra sim, você vai lembrar... lembra de quando vocês precisaram de um campo pra treinar ano retrasado? Que vocês tavam sofrendo? Claro que você lembra! 

Na rua ouvi um cara de uma barraquinha de doces gritar para um velhote. Aquele campo lá vai ser leiloado! Ele respondeu: O América não tem dívida não. Quem tem dívida é o Flamengo, o Fluminense, o Botafogo...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Autor de Periferia é o Cacete!

A gente foi naquela bagaça de debate. E enquanto o apresentador falava ele ficou resmungando ao meu lado. Autor de periferia é o cacete! Autor é autor. Ninguém diz que um autor que nasceu em área nobre é autor de área nobre. Essa porra parece um prêmio de consolação do tipo: ah, que bonitinho! os pretinhos pobres sabem escrever... Eles falam sobre a realidade deles. É só sobre isso que eles sabem escrever. Eu posso escrever sobre a vida de um Extraterrestre se eu quiser. E não é porque a gente é envolvido com rap, que essa é a nossa literatura. O Chico Buarque é autor de MPB? E de mais a mais, o termo periferia no caso do Rio não é adequado, pois a periferia é longe do centro. Ele continuou com aqueles comentários ácidos. E a gente mora no subúrbio, que eles nem sabem definir direito. Uma favela na zona sul do Rio é periferia cara pálida? Toma cuidado com essas definições preconceituosas. O apresentador pigarreou. Ele se calou. E eu fiquei pensando no que ele disse.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Cura da Depressão

Eu tenho uma depressão terrível. Mas que já foi pior numa época em que eu dizia: vou me jogar da ponte Rio-Niterói! Ou então dormia e chorava o dia inteiro. Hoje não. Agora eu tomo um remédio chamado Paroxetina. Que é uma espécie de pílula da felicidade. E fumo uma ervinha recomendada por um médico que não quer se identificar. De vez em quando converso com deus. E minha oração sempre começa assim, se o senhor existe, e se está me ouvindo, me dá uma força aí! A depressão é a doença mais justa que existe. Assim como os suicidas têm razão, na opinião de quem vive num lugar equilibrado como esse planeta. Mas sempre que estou deprimido e ansioso, que é o meu estado normal, eu ligo o som e começo a arrumar a casa. Igual a minha falecida mãe fazia, sempre ouvindo Roberto Carlos. E aos poucos vou apaziguando. Pois viver é a coisa mais maravilhosa que existe. Não sei por qual motivo. Então a palavra que eu mais uso no meu dia a dia é: foda-se.