O menino leva a menina à esquina. Eles acabaram de comer um cachorro quente na praça. É sábado à noite. Os dois caminharam por ruas escuras até lá. Ele tentou beijá-la. Ela virou o rosto. Ela disse: você tá aonde? Ele respondeu: em casa. Ela disse: então vem pra cá. Ele se lembrou dela dizendo: eu te amo, porra! Mas agora ele ouviu: nós não podemos ficar juntos, pois somos muito malucos. Fazer o quê? Ele pensou que o melhor momento que tiveram foi aquele em que ela encostou a cabeça em seu ombro dentro do ônibus. Mas agora eles estão parados na esquina. Ela dá um beijo em seu rosto. Ele retribui com uma cara de bunda. E já decidiu uma hora antes que nunca mais vai ligar para ela. Que olha para ele com aquela cara triste de quem sabe disso. Os dois se despedem. Futuramente ele vai passar do outro lado da rua e não vai falar com ela. Normal. Eu saio do cinema com os olhos destruídos e vermelhos. Vou ao banheiro lavar o rosto.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
O Terror Dos Intelectuais!
Ela subiu para o ônibus que eu estava.
Roendo unha. Saia rodada. Faixa na
cabeça. Cara de hippie arrependida. De quem voltou de Woodstock a pé. Eu pensei
“ih... essa mina tá por fora do Brasil. Tá por fora. Nem sabe aí. Nem sabe.” O
Velho ao meu lado falava sozinho. “eu parei de ir ao Maracanã quando o Zico
parou. Num vô mais. Pra quê? só chutão! Só tem chutão pro alto hoje
em dia!” Eu percebi que ela me olhava por cima do livro. E quando isso
acontecia tinha que evitar o olhar. Só que meu interesse era maior. Ficamos
naquele jogo uns vinte minutos. Ela olha. Eu desvio. Ela olha. Eu desvio. Até que
vi o nome do livro. Harry Potter. Se não fosse o Harry, seria Crespúsculo, A
Cabana ou um Código da Vinci ensebado. Esses são os hits dos ônibus. País que
ninguém lê. Que leiam essa porcaria mesmo. Nada de clássico. Nada de Prêmio
Jabuti. Feira de Paraty. Eu sou o terror dos intelectuais!
sábado, 2 de julho de 2011
Pagode Meloso
Ele arrumou a casa toda. Posicionou os cigarros que
ela gosta estrategicamente. Preparou a comida e pôs o vinho na geladeira. Só
lamentou não saber fazer todas aquelas coisas direito. A felicidade subiu da
virilha quando ouviu a campainha. Na verdade era o telefone. A voz de taxi-girl
do outro lado da linha disse: você me desculpa? Desculpo. Primeiro ele desejou ser
uma mulher histérica para dar um chilique. Depois se sentiu uma mulher de
malandro. Mas foi o pagode meloso do outro lado da rua que estragou o seu
sábado.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Panaceia
O meu pai atravessou a rua. Eu fui atrás dele. Ele não disse nada. Não consegui
dizer nada. Ficamos uns bons cinco minutos calados. Séculos. Ansiedade. Eu estava
com um bolo confeitado cheio de glacê na garganta. E ia pensando “porque diabos
o velho não fala comigo? Preciso que fale!” olhei para os seus olhos e estavam
vermelhos. Mas consegui ver uma gotinha que venceu a batalha. Quando ele me
disse: cacete... Não se têm muitos shows bons assim nessa porcaria de cidade! Eu disse:
é... Esse cara é muito bom! Nunca me esqueci daquele show. Atravessamos a rua e
pegamos um ônibus em direção ao subúrbio. As outras pessoas ficaram por ali.
sábado, 25 de junho de 2011
Eu Acho Que Ainda Não Tá Bom
Por uma questão de educação perguntei a esse meu amigo. Você leu o meu
blog? Li. Eu sei que ele não gosta das coisas que escrevo. É o tipo que diz:
antigamente era melhor. Depois de algum tempo você
escreve porque não consegue parar de escrever e já não se importa mais com a
opinião dos outros. Ele disse: eu não gosto daquele troço de erro de português
e palavrão, parece que tá querendo chocar, porra! Um escritor me disse: você
não vai ler o meu livro porque já me conhece. Conheci alguns artistas
insuportáveis pessoalmente, e continuei lendo e ouvindo as suas obras. Até aonde
o artista é aquilo que faz? Eu penso que o artista e a sua obra se confundem,
mas não são iguais. Alguns clichês são sempre válidos. Fico assustado quando sou
associado ao que escrevo. Não sou aquilo, mas também sou. Eu ouvi o
último disco de fulano de tal que está quarenta anos na música. E posso
garantir que com o tempo ele ficou melhor. Embora ainda falem que não superou o
primeiro disco. E com um velho escritor acontece o mesmo. No Brasil se enterra
a pessoa viva. Ou será que é só a nossa inveja da capacidade do outro. As
pessoas próximas são as que menos se importam com o quê quer que eu faça. Não
aprenderam a separar a arte do artista. Todo mundo quando conversa comigo se
torna especialista em música e literatura. Interrompi meus pensamentos. Ele
parou e disse: eu acho que ainda não tá bom. Eu disse: eu também.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
A Cama É Um Lugar Seguro
Você chega a casa. Não há ninguém. Fica de quatro e começa a andar na
tua covardia. Do jeito que você consegue. Você engatinha como uma criança que
precisa de colo. Não acende a luz, pois não há Luz. Segue no escuro tateando o
quê sempre dá uma sensação de insegurança. Nessa casa não há dinheiro. Não há
mulher. Não há trabalho. Só as paredes. Você acabou de descobrir que não se
pode fazer apenas o que quer fazer e o quê gosta de fazer. O mundo não deixa. E
você sente a dor de uma furadeira varar tua barriga. Quer chegar a cama. Só
isso que sonha agora. Aquela água salgada descendo dos olhos não te deixa
respirar direito. Você consegue alcançar a móvel e se enfurna debaixo do
cobertor que te acolhe igual útero. Você treme e se esconde do mundo. A cama
agora é um lugar seguro. E você vai ter que ter o dobro de coragem para sair
dela amanhã de manhã.
domingo, 19 de junho de 2011
Sem Pau
No dia anterior eu havia desafiado deus. Quem você pensa que é? Desce aqui se tu é homem! Dormi exausto de tanto chorar. No dia seguinte fui cumprir o ritual de mijar ao acordar. E milagre! Não havia nada no lugar do meu pau. Nada. Só um campo liso. Eu me olhei no espelho e pensei “eu sou o homem mais feliz do mundo!” Temi que chegasse o dia em que sentisse vontade de dar o rabo. Balela. O que me fazia sofrer era o excesso de masculinidade e não a ausência dela. Hoje eu penso em quanto tempo perdi tentando enfiar aquele pau em tudo que era buraco. Agora sou mais produtivo, já que nenhuma mulher vai querer um homem sem pau, não tenho que me preocupar com mulher nenhuma. Hoje eu tenho um milhão de amigas. Não tinha uma. E consigo ver beleza na natureza. Nos livros. Nos filmes. Choro no cinema com qualquer comédia romântica. Consigo ver beleza até nas mulheres! Antes eu só enxergava um traseiro e um par de peitos. Atualmente sou muito mais feliz e muito mais livre. Não faço nada para impressionar ninguém. Saio para dançar e conversar com as pessoas. Todos os meus problemas estavam relacionados aquele membro. Hoje eu me sinto leve... Sem ele ali pendurado.
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