Mesmo depois de tanto tempo eu não consigo superar a sua morte. Embora hoje entenda os seus motivos. Mais do que negros nós éramos pobres. E não quero dizer com isso que os outros em outras condições não sofram. Mas nós tínhamos uma solidão diferente. Este abandono de não conseguir cumprir com o que esperam de nós. Somos homens que, ao carregar o peso da miséria, não comunicamos nossos sofrimentos. Era trabalhar excessivamente, ficar doente, beber a vida, e morrer relativamente jovem. Foi assim com o nosso avô, com os nossos tios, e até primos. Sempre era preciso buscar algum anestésico para aquela dor enorme; fosse o álcool, alguma droga, ou qualquer outro vício. As pessoas decentes e puras podem dizer o que elas quiserem sobre isso. Elas podem até conhecer o tipo de dor com a qual nós precisamos viver ou o contexto em que estamos inseridos. Mesmo assim, simplesmente não conseguem se pôr em nosso lugar. Nós pertencemos a mesma família. E isso faz com que a nós carreguemos esse temperamento. Para que um de nós sobreviva é preciso dobrar toda uma carga que apenas nós conhecemos. Pois ela é ancestral. Assim como um círculo que precisa ser interrompido.
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Portugal Proibiu o Uso da Burca
A guerra Hamas-Netanyahu serviu para mostrar o quanto a esquerda odeia os judeus e o quanto a direita odeia os muçulmanos. Agora temos a pr...
-
“Estar bem ajustado a uma sociedade doente não é medida de saúde.” Jiddu Krishnamurti Johann Hari conclui em seu livro, que a depr...
-
O algoritmo é onipotente, onisciente, onipresente. O algoritmo sempre vence. Ele nos dá o que nem sabíamos que precisávamos. O algoritmo tr...
-
Eu vou-me embora para Marte. Pois em Marte não há vida. Sem vida não há depressão. Em Marte apenas, o silêncio. Em Marte apenas, a solid...
Nenhum comentário:
Postar um comentário