Mesmo depois de tanto tempo eu não consigo superar a sua morte. Embora hoje entenda os seus motivos. Mais do que negros nós éramos pobres. E não quero dizer com isso que os outros em outras condições não sofram. Mas nós tínhamos uma solidão diferente. Este abandono de não conseguir cumprir com o que esperam de nós. Somos homens que, ao carregar o peso da miséria, não comunicamos nossos sofrimentos. Era trabalhar excessivamente, ficar doente, beber a vida, e morrer relativamente jovem. Foi assim com o nosso avô, com os nossos tios, e até primos. Sempre era preciso buscar algum anestésico para aquela dor enorme; fosse o álcool, alguma droga, ou qualquer outro vício. As pessoas decentes e puras podem dizer o que elas quiserem sobre isso. Elas podem até conhecer o tipo de dor com a qual nós precisamos viver ou o contexto em que estamos inseridos. Mesmo assim, simplesmente não conseguem se pôr em nosso lugar. Nós pertencemos a mesma família. E isso faz com que a nós carreguemos esse temperamento. Para que um de nós sobreviva é preciso dobrar toda uma carga que apenas nós conhecemos. Pois ela é ancestral. Assim como um círculo que precisa ser interrompido.
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