segunda-feira, 5 de abril de 2021

Mãos

A mão do dramaturgo

A mão que amassa o pão

A mão da massa

A mão que colhe

A mão que acolhe

A mão do poeta

A mão que incendeia

A mão que silencia

A mão que dá força

A mão do escritor

A mão delicada da bailarina

A mão do gesto perfeito

A mão calejada

A mão que tapa a boca

Os ouvidos

E abre os olhos

A mão do toque

A mão que sinaliza

A mão que martela as teclas

A mão da curtida

Na foto

Da cortiça

A mão que abre mares

A mão ausente

Da dor invisível de quem é capaz

De conviver mesmo sem a mão

Física

Por assim dizer

Mas que consegue dar as mãos

A si próprio

Ou aos outros

E pinta mesmo com os pés

A mão que segura o berço

A mão descrente

A mão nas contas

No terço

A mão do frentista

A mão do ascensorista

A mão sorrateira

Dentro da roupa

A mão lasciva

A mão que calcula

A mão que simula

A mão sensual

A mão suspensa no ar

A mão ilustrativa da conversa

A mão que se comunica em todos os idiomas

Como as máscaras do teatro

A mão que expressa

O que sente

O que não diz

A mão do músico

A mão do cineasta

A mão do fotógrafo

Na câmera

A mão do pedreiro

A mão do garimpeiro

Em busca do ouro

Ou daqueles que tem em suas mãos

O seu maior tesouro

A mão do arquiteto

Do carpinteiro, do arqueólogo

A mão que abre portas

E caminhos

A mão dos prazeres solitários

A mão que desce a roupa

A mão que puxa o lençol

A mão da cama

Da toalha

De mesa

A mão da cozinha

A mão que traz o fruto à vida

A mão estendida para as palmas

Ou a mão

Que fecha

A cortina

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