Mundo
Se faz necessário atentar
para o fato de que a ordem em que as músicas estrangeiras aparecem não é a
mesma à qual foram lançadas. E sim, quando chegaram ao Brasil, especialmente no
Rio de Janeiro. Numa época em que ainda não havia internet, nem sempre as
músicas chegavam no tempo do seu lançamento. Isto está presente em todo o
início da história do Funk Carioca.
Depois
do intertítulo termina o silêncio. Como num baile as músicas só param quando
alguém começa a falar. Uma música se sobrepõe a outra. Surgem imagens caseiras
de adolescentes europeus cantando e dançando o Funk Carioca. Artistas
cariocas cantam em vários lugares do mundo. Títulos com os seus nomes e os
países onde estão. Festas na zona sul carioca com meninas dançando. Atrizes
famosas das novelas brasileiras dançam ainda meninas. O elenco de uma novela no
programa Vídeo Show da Rede Globo repete uma coreografia famosa. A
cantora Blaya, brasileira naturalizada portuguesa, canta num show lotado em Portugal.
Em uma entrevista ela fala sobre o que os portugueses sentem em relação ao Funk
Carioca, e como ele está presente no país. O cantor americano Don
Blanquito de frente para um microfone num estúdio grava uma música em
português e fica perceptível o seu forte sotaque. Ao ser indagado em uma entrevista
ele explica porque mora numa favela do Rio de Janeiro. Por cima da sua fala entram
imagens dos Estados Unidos no passado. O começo do Jazz em preto e
branco. Imagens de músicos de Blues, R&B e Gospel. Fotos do Rio de
Janeiro no início dos anos 70. Praias com pessoas na areia. Pontos turísticos
como Cristo Redentor e o Pão de Açúcar com famílias de turistas comportadas. Subúrbio
e favelas, com crianças soltando pipa, brincando na rua, e jogando bola de
gude. Inicia uma imagem com uma música de Soul Funk de James Brown no
histórico show do Canecão no Rio de Janeiro em 1973. Imagens antigas de
bailes de Black Music no subúrbio com a participação de Gerson King Kombo.
Som de vozes da multidão entra o intertítulo Brasil.
Brasil
Começa
a música Baile de Favela do MC João. Fotos apresentam muitos bailes pelo
Brasil atualmente. Cenas de festas na rua. Moradores reclamam da intensidade do
som num programa de tevê. Uma festa improvisada num posto de gasolina com a
música vinda dos carros de malas abertas que exibem a potência do equipamento. Meninas
num canto do posto em imagens embaçadas de uma reportagem que exibe atos
sexuais e o uso de cocaína. Fotos que focalizam garrafas de bebida e lixo no
chão. Alguém reclama da bagunça e do uso de entorpecentes no local. Imagens dos
rolêzinhos. Cenas de adolescentes invadindo shoppings em bando. Fotos de
postagens na internet e em redes sociais marcando os encontros. Entrevista de
um responsável público dizendo porque estas reuniões não podem acontecer. Depoimentos
de pessoas que afirmam que a proibição das reuniões dos adolescentes no
shopping é preconceituosa. Cenas do clipe da música You Get What You Give
da banda americana New Radicals que mostra adolescentes ocupando um shopping. MC
Magrinho está numa entrevista polêmica, começa uma música dele em que diz que
fuma maconha. Imagens suas num programa policial sendo preso. Entrevistas com
adolescentes que falam sobre as overdoses de seus amigos provocadas por
Lança-Perfume nos bailes. Começa a música do MC Garden Encostei num
Baile Funk. A música chama a atenção dos funkeiros para o perigo das novas
modas dentro do movimento. Enquanto toca a música volta a ocupar a tela
fotos de vários lugares do Brasil onde acontecem os bailes com os seus
respectivos nomes. Intertítulo Início.
7.3 Início
Rio
de Janeiro início dos nos anos 80. Praia de Ipanema. O antigo Circo Voador.
Imagens de baile Charme com pessoas fazendo uma coreografia. No programa
de televisão carioca alguns rapazes dançam o break. Chegam os pioneiros
do Hip-Hop. Afrika Bambaataa e The Soulsonic Force no clipe Planet
Rock. Por sua importância e impacto esta música toca desde o começo do
bloco. Grand Master Flash
e Furios Five no clipe The Massage. Fotos das capas do disco
da equipe Furacão 2000 e títulos com as suas datas. DJ Marlboro
apresenta o Hip-Hop nas ruas do Rio de Janeiro em 1986. Dessa imagem
passamos para o DJ Marlboro fazendo scratches num antigo clipe da banda de
rap e rock chamada G.U.E.T.O. Vemos surgir numa fusão desta com outra imagem a
capa do disco da Funk Brasil com o DJ Marlboro que segura um disco de
vinil. Toca a Entre Nessa Onda deste long play. O clima começa a
ficar tenso com Dance Tarnsformer música de Ice Man Já. Fotos de
funkeiros que representam a moda da época. Um rapaz com cabelo de molinha cheio
de creme na praia. Os cordões enormes e os bermudões. Os funkeiros posam para
as fotos nos bailes e em grupo. De repente o clima fica tenso. Aumenta o BPM da
música. Começa a música Push It do Salt-N-Pepa com algumas cenas do
vídeo. As imagens são de tensão. Its Automatic do grupo Freestyle começa
a tocar. Um homem puxa um rapaz pelo braço num programa de tevê. Garotos falam
com a câmera. Trechos do clipe. Imagens de funkeiros chegando num baile. É o
início da música Supersonic do grupo de meninas J.J Fad. A pancadaria
irrompe num baile de corredor. É possível ver os seguranças dando com a
corrente em rapazes que brigam. No final das cenas de agressões, numa
reportagem televisiva, uma menina diz que vai brigar com quem quer que seja
para defender a favela onde mora. Depois disso surgem alguns rapazes dizendo
porque brigam. Uns dizem que é diversão. Outros que são amigos. Uma frase
rápida e que dá um respiro. Uma frase da música Melô do Terror em que a
atriz Regina Casé e o ator Luiz Fernando Guimarães dizem que a briga não é
séria. “A gente é tudo gente amiga…. Por isso que nós se porra. Por isso que a
gente briga.” somos colegas, Foto de um morto numa reportagem de jornal num
baile. Começa o rock da banda brasileira Ultraje a Rigor. A música é Nós
Vamos Invadir A Sua Praia. Inúmeras cenas de arrastão.
Amor
Entra
o som de Funk Little Be, freestyle na voz de Deb Debbie em cima do
título Amor. Pessoas estão dançando juntas. Aparece muito do que se condicionou
chamar de Funk Melody e que na verdade é o Freestyle norte-americano.
Imagens antigas do cantor Tony Garcia são fundidas com as últimas imagens dele
no Brasil. Por cima de sua música Just Like the Wind. O mesmo acontece com Stevie B. Enquanto ele
aparece entra a sua música Spring Love. Trinere aparece com I`ll Be All You Never Need.
Numa
mescla de imagens antigas com imagens dela num festival em 2018 no Rio de Janeiro
em fusão. São takes rápidos. Com a cantora Connie também. Uma imagem dela
antiga, e depois entra uma atual em um festival de Freestyle nos Estados
Unidos. O mesmo acontece com Deb Debbie. Lil Suzy com Take Me in Your
Arms. Casais se beijam. Cenas
de namoros. Fotos do público. Pessoas num sofá de programa de televisão.
Declarações de amor de joelhos. É um respiro. Todo mundo se beija. É mostrado o
amor em épocas de baile. Pessoas que se casaram e estão juntas mostram suas
fotos antigas em bailes funks. Agora toca a música antológica da dupla
Claudinho e Buchecha Nosso Sonho, entra imagens de alguns cantores que
gravaram raps românticos brasileiros cantando com os títulos em cima de suas
imagens e fotos mostrando o legado dessas músicas. Latino, MC Marcinho, e
muitos outros.
7.5 Ódio
Começa
a montagem Chumbo Quente da dupla sertaneja Léo Canhoto e Robertinho. A
palavra ódio surge no silêncio. Cenas do Funk Carioca atualmente. O Baile
da Gaiola na tela. Homens armados circulam no meio das pessoas. Primeiro com
imagens de celular. Imagens de bandidos flagrados de helicópteros por câmeras
de tevê. Eles circulam livremente nos bailes. Diz um repórter. Um Proibidão começa
a tocar. É uma música de Smith MC em que fala sobre a Família Grande e
Complicada. São diversas imagens de homens armados e de bailes de Funk
Carioca. Entra a música do Menor do Chapa. Ele diz, quem é contra mete o
pé. São carros de polícia. Sirenes. Imagens do pesadelo brasileiro.
Presidiários dançam em cadeias. Vê-se inúmeras prisões de MCs. Cantores que
foram presos por associação ao tráfico e por porte de drogas. Muitas imagens de
bailes que aparecem em programas de televisão policiais. Imagens de reportagens
de meninas que foram abusadas. Caveirões invadindo favelas. Cenas de bailes em
que a polícia invadiu atrás de traficantes. Imagem de Adriano do Flamengo
fazendo o sinal do Comando Vermelho. Garotos atrás de repórteres fazendo o
mesmo sinal atrás de repórteres que mostram algum problema social local. Agora
toca o Dono do Ouro e da Prata do mesmo MC Smith. O jogador Vagner Love
aparece num baile na época em que jogava no time do Rio de Janeiro. Hordas de
adolescentes estão encostadas na parede na saída de um baile. Os policiais
revistam os adolescentes. Agora podemos ver inúmeros meninas dançando mexendo
requebrando o quadril o máximo que podem. Aparece a MC Loma nos seus quinze
anos em 2018 cantando a música Envolvimento completamente sensual ao
lado de suas amigas as Gêmeas Lacração com o seu Funk Brega do nordeste
do Brasil. Vai acontecer uma passagem de tempo. Começa a tocar a música do MC Fioti.
Ele está num programa da Rede Globo. Bum Bum Tam Tam ele canta no
programa Fátima Bernardes na Rede Globo. Muitas imagens de meninas que rebolam.
A flauta da música prepara para o próximo quadro. Aparece a palavra sexo em
letras garrafais. A palavra Putaria surge em letras garrafais.
Putaria
De
repente o silêncio. Cresce a risada de Mister Catra. Ele aparece cantando em
prostíbulos. Mister Catra fala sobre as suas mulheres numa entrevista. Em
contrapartida aparece Tati Quebra-Barraco. Ela fala sobre ser mulher feia e
estar na moda. Logo depois dispara a falar sobre sexo e o lugar da mulher e
sobre ser a outra. Toca a música da Valesca Popozuda My Pussy é o Poder.
Valesca Popuzuda está num programa de televisão onde as pessoas discutem o
lugar da mulher no Funk Carioca e se ele é vulgar ou não. Se é machista.
Ela se defende. Em seguida aparece Jojo Todynho. Ela está em casa e transmite
um vídeo na internet onde fala que mulher não tem de se sujeitar ao homem.
Volta para Mister Catra, ele fala sobre as usas mulheres, diz que elas não
podem traí-lo. A música dos Magrinho Lanchinho da Madrugada começa a
tocar. Mais polêmica num programa de televisão popular. Mister Catra discute
com os presentes. Ele defende que as amantes. Agora a música de fundo é a dele,
Mister Catra. Imagens do programa da Luciana Gimenez da Rede TV. Vai rolar um
adultério é o nome da música do Mister Catra. As pessoas discutem. Entre
depoimentos de feministas e passeatas. Aparece Bolsonaro agredindo uma mulher.
Fazendo discursos machistas. Mulheres agredindo os símbolos da igreja católica.
Enquanto a música volta e continua. A música de Mister Catra fala de orgia. De
estar na lama. Fala sobre as cachorras. Entra a música do Bonde do Tigrão. Eles
gritam, só as cachorras! Enquanto isto entra milhares de cenas de mulheres e
meninas dançando. Rebolando. Requebrando. Pondo a mão no quadril para poder
descer. Entra uma reportagem sobre a polêmica da letra de uma música de Valesca
Popozuda estar numa prova do ENEM. Entra o clipe da MC Loma com as Gêmeas
Lacração. Ela canta que irão sentar. MC Loma tem quinze anos na época do clipe.
Entram fotos suas e matérias na internet que falam que ela havia largado a
escola e que teve de se explicar. Volta para a imagem das meninas. Enquanto a
música sobre sentar toca entra um letreiro escrito criatividade que parece
pulsar junto com a batida da música.
Criatividade
Este
bloco começa com o Rap da Felicidade. Aparecem na tela pessoas de
diversos lugares pobres do Rio de Janeiro. Imagens que mostram o caos social e
a felicidade do povo carioca. Na sequência começa o Rap do Silva. Este final do
filme é como um grande baile. Ninguém vai falar nada, tudo será feito através
das imagens, sem se importar que muitas vezes elas ilustrem o que é dito nas
músicas. Começa a tocar o Endereço do Bailes de Júnior e Leonardo.
Começa os anos 90. Imagens do movimento dos Caras Pintadas que tomaram
as ruas do Brasil e derrubou o presidente brasileiro Fernando Collor de Mello.
Imagens dos arrastões. O Rap do Silva começa a tocar durante um longo tempo. Imagens
de funkeiros nos anos 90 em programas de televisão. No programa da equipe Furacão
2000. Logo em seguida aparece a dupla William e Duda cantando o Rap da Armas
em sua versão proibidão num baile. Enquanto no Xou da Xuxa na televisão
eles cantam o Rap da Morena que fala de amor. Aparecem diversas cenas de
baile e pessoas pulando. Depois entra o Rap do festival do MC Danda e
Tafarel e continuam as cenas de pessoas indo e vindo em imagens de televisão e
sinalizando para a câmera e sorrindo. Pessoas em praias, festas e bailes. Surge
na tela a dupla Claudinho e Bochecha ganhando um prêmio. É horas de ver as
pessoas felizes. O filme vai terminar com a música Carrossel de Emoções
de Claudinho e Bochecha. Tudo que é dor e sofrimento ficou para trás. Agora é
apenas a celebração da vida e da música. Não existem polêmicas. Nada disso. A
música para um instante e as crianças fazem o beat box, uma batida de
rap com a boca. Batem em seu próprio corpo. É hora de ver os idosos dançando o Funk
Carioca. Os feirantes. Pessoas que trabalham nas ruas. As pessoas
estão felizes. Dançam apesar de toda a dificuldade de suas vidas. A música fala
sobre paz e amor. E diz o nome dos lugares do Rio de Janeiro. As imagens surgem
com a música que é antológica por sua criatividade. De repente com o avançar
aparecem várias épocas do Funk Carioca vão se mesclando. Como se não existisse
nem maldade nem tristeza. Apenas alegria. Desde o breakdance no início
dos anos 80. O filme termina com a imagem de uma menina negra sorrindo.
Mostrando os dentes e segurando uma criança branca.
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