terça-feira, 5 de maio de 2020

Análise das Técnicas de Câmera e Iluminação em À Bout de Souffle de Jean-Luc Godard

Índice


1.2 Introdução


1.3 Desenvolvimento


1.4 conclusão


1.5 Bibliografia



1.2 Introdução

O presente trabalho tem por objetivo traçar um panorama sobre as técnicas de câmera e iluminação apresentadas no filme À Bout de Souffle de Jean-Luc Godard. Uma longa metragem símbolo da Nouvelle Vague francesa. Para falar sobre a obra de Godard é preciso lembrar o contexto em que ela foi realizada. A Nouvelle Vague francesa, uma das vanguardas mais importantes das novas vagas mundiais. Assim como o seu antecessor o Neo-realismo italiano, e o seu contemporâneo, o Cinema Novo brasileiro; são movimentos que enfrentaram a carência de recursos. Os filmes desses movimentos eram produzidos com pequenas equipes e exibidos majoritariamente em cineclubes e festivais. Os seus planos de rodagens eram bastante delimitados. As necessidades levavam a muitas saídas criativas. Os filmes eram feitos basicamente de cenas externas e possuíam forte ligação com o cinema documental. Não contavam com figurantes e grandes cenários. O improviso era regra. A assistência dos filmes pertencia a um grupo mais aberto as inovações. O público era frequentador de cineclubes e leitor de revistas de cinema. E muitos dos realizadores escreviam para revistas especializadas e organizavam cineclubes. Assim como Godard que pertencia ao quadro de críticos da Cahiers du Cinéma. À Bout de Souffle, inspirado num argumento de Francoise Truffaut foi rodado em duas semanas, com Godard escrevendo os diálogos para os atores durante os dias de filmagens. Assim como aconteceu no anterior La Terra Trema de Luchino Visconti, filme pertencente ao Neo-Realismo italiano. “Um orçamento de um terço do que era prática na altura, uma equipa reduzida, um “desenrascanço” constante: travelling feito a partir de uma cadeira de rodas, a transformação de uma película cinematográfica ultra sensível, a câmara escondida no triciclo de um carteiro e um excelente conhecimento do terreno.”  (Mandelbaum, 2007,  pg.17).  É possível ver os transeuntes olhando para a câmera. Assistindo ao que acontece. Na última cena em que Michel é atingido pelo policial, é possível ver a normalidade ao redor. Mas é perceptível que tudo são dificuldades inseridas no contexto fílmico, o que faz com que ainda hoje falemos de  À Bout de Souffle.

1.3 Desenvolvimento

Plano Aproximado

Numa das primeiras cenas de À Bout de Souffle Michel está dentro do carro com um plano aproximado de seu rosto. Nesta cena temos a sensação de sermos parte da ação pela proximidade. Somos cúmplices de Michel que acaba de roubar um carro. Como espectadores estamos ao seu lado e às suas costas, e podemos ouvir os seus pensamentos e reflexões, como se fôssemos a voz de sua consciência. É o único plano possível para o personagem que segue em seu solilóquio. Somos postos na cena junto da personagem. Michel fala para a câmera que está no banco da carona. Este plano aproximado transforma o espectador em comparsa. O plano aproximado também é usado na famosa cena em que Patricia, está em outro carro ao lado de Michel. A câmera foca o seu pescoço. Michel fala de Patricia por quem é apaixonado. Michel fala sobre a beleza de partes do seu corpo. A proximidade cria o tom de intimidade e obsessão presente em sua fala. A observação pelas costas dessa vez põe o espectador na posição de voyeur. Pois enquanto ele fala, somos nós que olhamos para o seu pescoço com olhar cirúrgico e invasivo.

Plano Geral

A cena em que Michel encontra Patricia à primeira vez é num plano geral em que a figura da heroína do filme aparece no meio do cenário da cidade gigantesca que a engole. Ela é apenas uma garota que vende jornais na rua e grita na esperança de conseguir alguns clientes. O plano geral é prova da importância que Patricia tem para Michel, mas que não se repete para a grandiosidade da sociedade. Ela é apenas mais uma figura frágil das grandes cidades. O grande plano apresenta Patricia e Paris. As duas serão focalizadas durante todo o filme. Da mesma forma que a garota aventureira que o irá acompanhar em sua jornada, Michel é apenas um marginal, uma criatura minúscula no meio de tanta informação visual. O grande plano dá a sensibilidade da insignificância das personagens diante do cenário grandioso. Só percebemos a profundidade desses indivíduos quando focalizados de perto. Para os pedestres que passam por eles, são apenas rostos não identificáveis no imenso panorama.

Plano Médio

Outro plano de destaque em À Bout de Souffle de Jean-Luc Godard, é o plano médio que diversas vezes flagra o casal a conversar nas ruas. Os dois estão próximos. Num mundo a parte. O plano médio em plena rua movimentada, destaca o casal no meio do vaivém da cidade e das pessoas. Eles estão a sós em seu próprio mundo e tem os seus próprios assuntos. Nunca são percebidos. A não ser por curiosos que vêem a câmera. Enquanto Michel pergunta a Patricia se ela dormiria com ele, os outros passam ao lado, a vida continua, nada muda, são apenas duas pessoas conversando. Michel com os seus óculos escuros não é o homem que está sendo procurado pela polícia, é apenas o namorado daquela garota.

Planos

Na cena mais longa de À Bout de Souffle, que acontece dentro do quarto de Patricia, temos o plano aproximado, o plano médio, e o plano americano. Eles estão presentes para contar a intimidade do casal e as suas divagações

1.4 Conclusão

À Bout de Souffle nos mostra este cineasta que vaga pelas ruas com uma câmera na mão, atrás do seu melhor ângulo, do melhor close, e com toda dificuldade de uma câmera balançando. A mesma câmera  que dá certa estabilidade e coerência ao que é contado. As opções estéticas surgem em uma época que se era necessário improvisar na falta de estrutura, e todas as decisões de escalas são tomadas dentro da imagética do filme, e que servem de amparo à narrativa.


1.5 Bibliografia


17. La Modernidad Cinematográfica Y Los Nuevos Cines, da obra Historia Del Cine de José Carlos Sánches Noriega (263-269)
Cinema Contemporâneo: Román Gubern, 1980. Salvat Editora do Brasil
Jacques Mandelbaum Coleção Grandes Realizadores, Cahiers du Cinéma, Edição exclusiva para o Jornal Público, 2018.
Luchino Visconti: Alain Sanzio / Louis Thirard, 1988. Publicações Dom Quixote

Luchino Visconti: Clareta Tonetti, 1983. Columbus Filmmakers

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