Antes da bossa-nova qualquer um que tivesse acesso aos músicos e cantores podia compor letras que eram vendidas, compradas, ou assimiladas em lugares como à casa da Tia Ciata, o ponto dos músicos na Praça Tiradentes, no Café Nice, e etc. Em épocas diferentes é claro. No final do século dezenove e início do vinte, o brasileiro tinha à mania dos versos, como é dito no livro O Rio de Janeiro Do Meu Tempo de Luís Edmundo. Olavo Bilac era reconhecido na Rua do Ouvidor. Assediado por senhoritas. Era o que hoje podemos dizer de famoso. Um poeta. Os cantores lançavam uma ou duas músicas na época do carnaval, por exemplo. Não gravavam discos com uma quantidade grande de músicas. Existia o profissional letrista de música, e alguns não tocavam nenhum instrumento. João de Barro é um deles. A música popular perdeu muito com o letrista sendo deixado de lado. Existiam algumas besteiras, mas boa parte eram ótimas. Basta lembrar Cartola, Noel Rosa, Geraldo Pereira, Wilson Batista, e… Ainda não existia o cantor profissional personalista que compõe às suas próprias músicas e ganha muito dinheiro com os direitos autorais. Depois de João Gilberto, embora tenha ficado mais fácil ser cantor, pois não era mais preciso ter aquele vozeirão de longo alcance, mesmo por conta da evolução tecnológica, a poesia da música popular brasileira pode-se dizer que chegou ao ápice de sua exigência com os compositores Caetano Veloso e Chico Buarque. Mas com o vaivém do mercado e o grande glamour, infelizmente, a figura do letrista foi pouco a pouco abandonada, e o acesso aos cantores ficou mais difícil. Ainda existem registros do apenas letrista nos anos oitenta, mas já pessoas ligadas intimamente ao mercado da música. O jornalista Nelson Motta pode ser citado. Com as novas tecnologias, o progressivo desmantelamento da educação no Brasil, e a voracidade da indústria, os letristas foram praticamente abandonados. Hoje na maior parte dos casos, quando alguém compõe, mas não aparece, já faz parte dos bastidores. Não é porque o cantor procura por autores e boas músicas, como fazia Bezerra da Silva que ia com o seu gravador aos morros, e gravava às composições para depois fazer uma seleção. Zeca Pagodinho é outro que tem por hábito gravar músicas de muitas pessoas, e a prova é o impacto de sua carreira. Sempre existiram bobagens na música. Mas essas besteiras hoje dominam às rádios, os estúdios de televisão, gravadoras e porque não dizer home.studios. Eu ouvi da boca de um cantor famoso num debate, que se ele tivesse de gravar música de alguém, ele gravaria dos seus amigos. E de outro, que os direitos autorais rendiam a ele um bom dinheiro. Concluí que por isto ele gravaria apenas músicas de sua própria composição, independente do impacto que a música de outro compositor pudesse produzir. Talvez por isso os últimos bons letristas da música popular brasileira tenham surgido até o final dos anos oitenta. Com algumas exceções no início dos noventa, como Mano Brown e Chico Science. Os melhores que existem vem daquela época ou de antes. Independente de estilo. É por isso que a poesia na música popular brasileira acabou.
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