domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um ou Dois Contos

Eu tava na casa dele. E lá é tudo sujo, jogado e quebrado. Ele mora num buraco e trabalha varrendo aquelas ruas sujas. Do lado de fora existe um armamento pesado de guerra. Crianças, mulheres e homens que vivem no meio do lixo em função do deus crack. E meninas que se prostituem por um ou dois contos. Roubam qualquer coisa. Comem qualquer coisa. E sempre me lembram zumbis sem vontade própria. Quem me levou naquele lugar não interessa mais. E sim a propaganda que fez sobre aquele homem. O barraco parecia uma casa de ópio de tanta fumaça. Eu li parte do meu livro pro homem que ouviu com o olhar mais sereno que já vi. Nunca ouvi um silêncio tão respeitoso. E o riso no canto da boca e dos olhos era de quem tava gostando muito. Todo homem do pensamento é assim igual a você, ele disse. Não entendi a frase, mas senti que era algo maravilhoso vindo de quem vinha. E respondi: tem o lado bom de quase ninguém ter acesso ao que eu escrevo, ou ouvir as minhas músicas; que assim eu posso fazer aquilo que realmente gosto de fazer. Ele disse: é isso aí. Temos que fazer o que deve ser feito. E me olhou como se a gente não tivesse conversando em clichês. Logo assim que entrei naquele ambiente pensei que ele não devia ter nada a me dizer. E ele não me disse quase nada. Mas fiquei com a sensação de ter conhecido um homem sábio. E não entendi aquela serenidade no meio daquele inferno.

2 comentários:

  1. é um alívio poder escrever e fazer a música que a gente quer, realmente! sou cantora e blogueira, amiga da beá, ela me recomendou seu blog. gostei, vou voltar ;)

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  2. Que bom que gostou... e volte sempre! Vou dar uma olhada em seu trabalho também. É bom produzirmos o que der vontade, realmente... A Beá é muito bacana!

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