domingo, 24 de abril de 2011
Spray de Pimenta
Ele sabia que não era com ele, mas mesmo assim olhou para trás, a
velha mania de pensar que todo mundo na rua quer falar com a gente. Ou quando
toca o telefone. Interfone. O jato de espuma foi certeiro na cara. Era
carnaval. Todo mundo riu e ele ficou sem graça. Naquele bloco ninguém dançava
ou cantava, a praça foi tomada por uma guerra de espuma. Mas aquela cena o
lembrou da manifestação no centro da cidade. Ele não gostava de estudar, e não
pagava passagem, pois morava perto da escola. Então estava cagando para tudo
aquilo. Mas cedeu para não ter que aturar a aporrinhação dos colegas. E de lá
eles iriam para o shopping que era melhor que matar aula só e ficar sem nada
para fazer. O quê ele pensa desse tipo de coisa? Ele pensa que a maioria da
população prefere morrer de fome a fazer alguma coisa. Então que se danem! Ele
divagava que não tinha nada contra aqueles guardas do cordão de isolamento,
quando a bomba de efeito moral explodiu o deixando sem moral nenhuma.
Azucrinado ele pensou: “Não tenho experiência em guerras, meu deus, mas se uma
guerra for assim eu tô fora!” Quando conseguiu recobrar os sentidos falou para
si: “Está tudo bem, agora eu vou embora”. O guarda veio por trás e zás!
Espirrou gás-pimenta em seu rosto. Hoje seu apelido é Coquetel Molotov.
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