00h00min cheguei à fila que dava a volta no quarteirão. uma
senhora de guarda-chuva e cabelos grisalhos disse: “Todo ano é esta palhaçada!”,
“É mesmo...” respondi para dizer algo. 01h10min dois moleques pularam o muro
de uma fábrica para pegarem goiabas. 01h15min eles voltaram da missão e a menina magra e loura de cabelo encardido disse: “Isso é
coisa de pobre mesmo!” 01h40min as pessoas começaram a socializar em pequenos grupos que formavam uma célula maior. 02h04min passou uma travesti e
um moleque foi atrás dela: “Vem cá boneca...” A travesti disse: “Boneca
é o caralho!” Todo mundo riu. 03h30min a mãe da menina magra e loura de cabelo
encardido disse: “Você não lava nem as tuas calcinhas e ainda quer que eu lave
as cuecas do seu namorado!” Esta discussão durou mais ou menos uns quarenta e
cinco minutos e todo mundo ria enquanto elas contavam os podres uma da outra. 04h28min comecei a
sentir sono. 05h03min eu soube que o atendimento só iria começar às
sete horas da manhã. 06h00 as pessoas desenvolveram uma espécie de amizade, e
tranquilas cotizaram um lanche de padaria. 06h25 uma repórter de televisão chegou, ela estava de cabelo molhado, banho tomado, limpa, bem
alimentada, e disse: “Eu vou entrevistar vocês, mas preciso que chorem e digam como é ruim ficar aqui.” Quando ela ligou o microfone a mãe da menina magra
e loura de cabelo encardido começou a chorar e a falar: “É uma covardia o que
fazem com a gente!”
segunda-feira, 11 de abril de 2011
A Menina Magra e Loura de Cabelo Encardido
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