Coimbra está tão triste estes últimos dois dias sem autocarros. Fica parecendo que falta alguma coisa na paisagem. É como se as Escadas Monumentais de repente desaparecessem. Os autocarros deveriam ser tombados como parte do patrimônio cultural e imaterial da cidade. É difícil olhar para um congestionamento e não ver um autocarro. Carro é chato. Às vezes uma pessoa fica solitária ali dentro daquele trambolho. E são várias as pessoas solitárias. Os autocarros são coletivos e lugar de encontro e confraternização. Ouvi da boca de uma rapariga que os taxistas estão dispensando corridas. Imagina os úberes (com o perdão do trocadilho). Penso na quantidade de velhotes que ficaram em casa; pois só usam o transporte público, e não tem jeito ou dinheiro para pedir uma viatura. É preciso encarar as suas ladeiras e as suas ruas de calçadas estreitas e cheias de obstáculos. Numa outra ocasião em que os autocarros sumiram, eu ouvi de uma matrona cheia de bolsas: "O autocarro faz falta." Acho que é porque a cidade fica triste.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
A Xenofobia
Quando brasileiros me perguntam se os portugueses são preconceituosos eu respondo que parte deles é; assim como parte dos brasileiros. E que eles assim como os brasileiros, também sofrem preconceito em outros países. Inclusive parte dos brasileiros não gosta de portugueses. Na Europa eu descobri que parte dos povos não gosta de ninguém. Mesmo entre os povos brancos e ricos. Quando eu pergunto aos europeus o que eles acham dos seus vizinhos, parte deles vem com mil teorias para justificar sua falta de simpatia. E desconfio que na África; assim como na América do Sul, ou na Oceania, não seja diferente. Lembro do tratamento dispensado aos venezuelanos, chineses, e angolanos em terras tupiniquim. Inclusive contra aqueles gringos, brancos, ricos e "lerdos", que parte dos brasileiros olham como "otários". Esperança nenhuma no ser humano. Sem conversa fiada. Aqui, ó!
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
Dos Círculos
Não escrevo mais sobre isso. Das últimas vezes que escrevi fui enxovalhado e achincalhado. Como dizem. Ninguém muda de opinião. Ninguém quer saber da minha opinião. E existem bilhões de opiniões perdidas no espaço. Hoje tenho preocupações imateriais como as coisas da "mente" e do "espírito". E que aliás sempre foram o meu foco. Mas instigado pela mediocridade desviava do meu caminho. Deixa que eles morram fechados nas picuinhas de um ciclo histórico que se movimenta em círculos aos quais os mesmos não conseguem compreender ou explicar.
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
Não há mais espaço para velhos
Não há mais espaço para os velhos nas casas e apartamentos atualmente. Eles não foram projetados para isso. Antigamente se puxava uma edícula. Hoje, não. Pouco a pouco as crianças são substituídas por animais domésticos e as filhas que cuidavam dos velhos têm as suas próprias vidas. Os velhos de quem tem dinheiro são mandados para a casa de repouso. Se é um velho que produz e consome este é tolerado. Mas um velho que já foi chutado pelo mercado de trabalho é abandonado como um menino em situação de rua. Quem é que vai continuar pagando pensão para esses velhos? A sociedade não vai aguentar. E além do mais ela valoriza a eterna juventude. Aos poucos esses velhos imprestáveis terão de se afastar para morrer... assim como fazem os velhos elefantes.
terça-feira, 28 de novembro de 2023
É preciso andar para a frente
Mesmo que esta não seja uma ideia original… É preciso andar para a frente. Você não pode atrapalhar o fluxo do trânsito de pedestres na hora do rush. Ou os peões que se movem. Tem que se adaptar aos seus ritmos. Você precisa andar para a frente mesmo carregando peso. O seu peso não é problema de ninguém. É preciso andar para a frente sem olhar para cima, para atrás, ou para os lados. Não pare no meio da calçada porque senão vem algum transeunte tromba em você e te joga no chão. Aí eu vou querer ver você soerguer com o seu peso. É preciso andar para a frente. Não olhar para o outro. É preciso andar para a frente. Mesmo que o caminho seja o mesmo.
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
Pelo menos por vinte e quatro horas
Escrever para quê? Escrever para quem? Se o mundo sofre de ejaculação precoce e disenteria. Quando o objeto de desejo é meio que uma foda mal dada. Quando o sumo que é a gozada cai no chão antes mesmo da consumação do ato e o único tesão que existe é pelo álcool. Quando todos são influencers e todos os influencers são artistas e o ego se esconde embaixo das auréolas de santos. E as risadas são como expressões de plásticas mal feitas. E quando olhar para si mesmo é ver o reflexo de tudo isso. Quando os leitores morrem de cancro com cem anos em camas de campanha. Escrever para quê? Escrever para quem? É necessário parar. Pelo menos por vinte e quatro horas.
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
Eu e a Escola - Parte Dois
Renato Russo disse que teve um começo feliz. Mano Brown fala que aprendeu com a disciplina do colégio interno dos seus primeiros tempos. Eu penso que o meu início nas antigas escolas foi mais importante do que o que veio depois. Antes de declinar em direção à merda cheio de tédio e depressão e me juntado às gangues ao ter de decorar tanta bobagem e tanta fórmula naqueles salas lotadas e pixadas em meio ao calor e aos banheiros sujos... Mas, ah... os anos infantis... as tias... Os cadernos de caligrafia, e os beliscões da minha mãe quando eu cometia erros. Adorava cantar os hinos todos os dias. A comida das merendeiras. O futebol com amêndoas. O macarrão com salsicha. As festinhas juninas. Os completes, ditados, e continhas. Os uniformes novos, lancheiras, e cadernos. As explicadoras. As normalistas no fundo da sala. E o melhor... a pequena biblioteca em que vivia os livros. Não tenho a menor dúvida que os anos de formação da pessoa são os mais importantes tanto na escola quanto na família.