sexta-feira, 28 de maio de 2021

Não Entendi Nada

 Eu estava numa tasca imunda no centro de Guayaquil encostado num balcão tomando uma Imperial. Esse senhor pediu um abatanado e bebericava a olhar a TV. Perto do caixa, o dono cuspiu no chão coberto por escarros e beatas, o odor nauseabundo de urina exalava do mictório exíguo atrás das caixas de Brahma. Ele enxugou o suor da testa com o pano de prato. Quando este cara apareceu na tela, o velhote de boina jogou um gole de abatanado para o santo e disse: "Esse gajo é cheio de ares messiânicos, mas não possui ventura nenhuma." Então deu outro gole e continuou: "Antigamente quando um cachopo queria se revoltar contra os pais e a sociedade; virava hippie, punk, rapper etc. Hoje em dia o cara se tranca no quarto, vai jogar videogame e abraça uma ideologia exótica. E como a maior parte da sociedade hoje tende ao humanismo, ele tem de a ser do contra, sonha entrar numa escola atirando." O velhote se virou para o homem que agora assoava o nariz e disse: "Pendura na minha conta." E saiu. Não entendi nada do que ele falou.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Inspira: ação!

Hoje não há poema.
Não há inspiração.
Não haver o fato,
nāo quer dizer:
não exista!
Para compor..
à vida!
Das confluências de incongruências.
Isto pode, não, ser bom.
Inspirador.
Inspira, a dor!
Abrasador.
À brasa! À dor!
Abraçador...
Abraça! A dor!

terça-feira, 25 de maio de 2021

Vespertino

Vespertino...

numa terça.

No sono da tarde,

dentro do sonho,

nunca se perca.

Good afternoon...

Good beforemoon!

Acertei em cheio!

 A vista é bela;

do lado de dentro,

do lado de fora,

de fora para dentro.

E se apresenta como numa tela.

Mas o que realmente importa,

está no centro histórico,

no histórico...

do computador.

No meio,

no interior.

Onde se fuçar pode até ser até feio,

ao revelar o que está escondido.

Acho que dessa vez acertei em cheio!

domingo, 23 de maio de 2021

Não é Velho

Não é velho,

não é antigo,

e sim vivo.

História viva.

Se conservado,

nos leva ao futuro.

Repensa o passado.

E nos faz aprimorar...

A vida. 

E acertar...

os passos.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Coisas que a minha mãe dizia

Se eu dizia ter ouvido alguém me chamar e não via ninguém a minha mãe me mandava gritar: “Não vou não, estou com Deus!” Quando o meu pai vacilava ela dava o vatícinio: “Mas que merda de homem!” Quando caía um garfo no chão: “Vem um homem aí” Se fosse uma colher: “Vem aí uma mulher” Quando as crianças estavam fazendo muita algazarra a minha mãe sempre dizia: “Muito riso e alegria é sinal de choro e de tristeza!” E sobre os invejos após algum feito extraordinário: “Vai ter gente que vai meter o dedo no cu e vai rasgar!” E sobre pessoas metidas: “Não tem merda no cu pra cagar!” Se eu desejava que o meu pai voltasse logo ela me aconselhava: “Diz o nome dele atrás da porta!” E quando eu fazia alguma merda a minha mãe era certeira: “Depois vai chorar na cama que é lugar quente.” Hoje eu teria respondido a tudo o que ela me dizia com: “A voz do povo é a voz de Deus!” A minha mãe é de um tempo e de um Brasil místico em que se acreditava na sabedoria popular e a forma de repassar essa “sabedoria” era através dos seus ditados.

sábado, 15 de maio de 2021

Eu Tenho o Meu Trabalho

Pode ser aqui e agora,

dessarte quando triste,

ou até mesmo solitário.

Eu tenho o meu trabalho.

 

Nas festas de fim de ano,

quando todos comemoram,

e nas noites frias de inverno,

Eu tenho o meu trabalho.

 

Quando falta dinheiro,

quando falta amor,

quando sobra tédio,

Eu tenho o meu trabalho.

 

Caso não seja inteligente,

e não alcance a perfeição,

ou seja, bom o suficiente.

Eu tenho o meu trabalho.

 

Pode não valer a pena,

posso não ter talento,

mas ocupa a minha mente,

e constrói o meu tempo.