O avô tomou a bicicleta dele,
E disse
Você vai se machucar!
O menino respondeu
Caindo é que se aprende!
O avô tomou a bicicleta dele,
E disse
Você vai se machucar!
O menino respondeu
Caindo é que se aprende!
no mesmo local de sempre,
no caminho de terra que leva ao centro.
Em meio...
Há natureza!
Na paz.
Na tranquilidade.
Deve ser um refúgio,
A sua área!
O seu lugar de meditação.
Quando em casa fica aborrecido,
busca abrigo.
Nada de concreto além dos elementos naturais.
e, o...
Gato.
Quando vi uma matéria sobre as festas de fim de ano no Brasil da
pandemia, imediatamente lembrei da música de Genival Lacerda: "A gente é
sem vergonha… a gente é que não presta! É mundo pegando fogo… E nós aqui na
festa!" Ironia trágica do destino o cantor morreu de Covid. Quando vejo
esse país bolsonarista e cafona negar a vida, eu lembro de certa vez, quando
num aeroporto uma equipe de televisão ao acompanhar tal apresentadora, após ela
ter fretado um avião para levar os seus amigos à comemoração do seu aniversário
na Disney, coincidentemente esbarrou com o Falcão, outro ícone brega. Ao ser
respondido sobre o motivo de estarem ali, Falcão cunhou: “Depois o brega sou
eu!”
O som das vozes de crianças e adultos conversando
descontraidamente durante os créditos nos dão a sensação de que estamos num
domingo. Um sopro convida à guerra como o toque de uma alvorada, pois é hora de
levantar-se para lutar. Um violino surge na tela e retornam os sons idílicos.
Não é um filme sobre guerra; veja bem, é um filme sobre música. No decorrer dos
seus dezenove minutos veremos que todo ele se compõe de três elementos: prazer,
trabalho, e a natureza como respiro.
Leonard Brockington ocupa o primeiro plano com o poema
Listening to Britain. Ele declama a obra onde diz ser canadense e ouvir os sons da Grã-Bretanha noite e dia, além de lembrar um respeitado americano
que comentou sobre o poder desse povo. São estrangeiros; portanto, mais
confiáveis, pois falar das próprias qualidades não soa bem. Nos tempos idos
focados aqui, um estimado senhor funcionário público de meia idade, como Brockington,
exalava mais credibilidade.
O distinto cavalheiro canta as referências musicais de
Listening to Britain olhando para a câmera. “Você irá ouvir os compassos
de todos juntos numa grande sinfonia e o hino matinal e os brados dos caças Spitifires.”
Esqueça a propaganda nazista da alemã Leni Riefenstahl em Triumph of the Will,
a sua idolatria não será vista. Muito menos o discurso virulento do americano
Frank Capra em Why We Fight, outro propagandístico. Os propósitos dos realizadores
Humphrey Jennings e Stewart McAllister de Listening to Britain em nada
se comparam aos referidos acima. Preste atenção, este é um filme sobre música.
“As pessoas irão dançar no Great Ballroom em
Blackpool, assim como o espectador há de ouvir o tilintar das máquinas e dos
trens. A BBC irá levar a verdade ao mundo…” é como se ele dissesse que a
rede é detentora da veracidade e que o certo estará conosco. “Os trompetes
chamam para a guerra… é o canto de uma grande nação e das primeiras notas da
marcha da vitória. Eu e você vamos ouvir a Grã-Bretanha…” no fundo parece dizer:
“Não se esqueça, este é um filme sobre música.”
Surgem os campos que apaziguam os ânimos. Duas mulheres
trabalham com um homem numa plantação. Pode ser que tenham ocupado o lugar de homens
que seguiram para o combate. Em cena observam aviões cruzarem os ares sobre
suas cabeças, assim como alguns soldados também o fazem. Ao contrário das
mulheres ornamentais dos nazistas, em Listen to Britain as mulheres
desenvolverão papeis fundamentais.
Uma mulher põe um candeeiro numa janela e a BBC entra
no ar com o primeiro raio da manhã. Vemos ondas tranquilas ao soar de um acorde
da orquestra. Dois soldados à meia luz contemplam o horizonte bucólico. Outro
soldado veste um paletó. Na porta de entrada do baile no Great Ballroom está
um cartaz onde se lê um aviso que soldados uniformizados têm direito à meia
entrada, ou seja, quem luta ainda ganha privilégios. Novamente… a música.
Mareada uma multidão de casais ondeia por um salão
enorme. A câmera fixa enquanto se movem. O recado implícito: “Nos apoie… Aqui
nós dançamos e quem sabe você consiga uma nova paixão!” Vemos uma menina sorrir
ao se recusar mostrar uma foto sua a um soldado e a outras duas jovens. Outro
soldado sorri para outra garota. A banda ataca um tema sobre barris de chope. “Em
nossa guerra, você irá dançar, namorar, e ainda beber uns copos…” lemos nas
entrelinhas da imagética. “Traga um barril de chope, triste nós não vivemos,
não…” diz a canção. Ah… sempre a música.
Acabou a festa. Os soldados põem os seus capacetes e
mergulhamos com eles na escuridão em frente às águas. O breu é o leitmotiv do
trabalho. Surgem homens carregando candeeiros. Poderia nos informar o locutor
da BBC: “Nós sabemos a hora de voltar ao batente!” O dia recomeça. Um homem na
semipenumbra espreita a chegada do trem. Soldados acompanhados por uma guitarra
e um acordeão entoam a cançoneta tradicional onde se fala em ser feliz num lar
doce lar. Um deles com o seu enorme cigarro nos lábios conta sobre o flerte de
um amigo com uma garota. Estamos longe da caretice e disciplina nazista. Ali
você vai beber, fumar, cantar, dançar, namorar, e ser feliz.
O homem deixado na semiescuridão retorna e o trem
parte para o negror da madrugada. Agora estamos num local onde homens trabalham
na montagem de um Spitifire – um orgulho nacional. Um dos aviões ao ganhar os
céus some no escuro. Somos levados para a estação das ambulâncias; uma senhora fardada
com voz soprano canta ao piano, as suas amigas de labuta acompanham
compenetradas a sua performance. Duas delas fazem crochê na primeira fila, seus
capacetes estão pendurados, o que é um indício de pausa no trabalho. Os olhares
absortos não contemplam tiranos como o Hitler do filme de Leni Riefenstahl, e
sim artistas cheios de lirismo.
Escuridão e sinos de uma capela ao amanhecer. O locutor Joseph Mcleod anuncia: “This is London
Calling…” Mar e nuvens se misturam com indústrias e
navios. O chamamento em vários idiomas. Os candeeiros reaparecem. Sinos ressoam
junto do bom dia aos soldados. Caí o pano. Amanhece numa paragem do interior. Ouve-se
o cantar de pássaros e insetos quando surge a carroça em frente às chaminés da
indústria. Vemos homens e mulheres chegando ao trabalho no início do dia. Uma
música fala sobre pressionar enquanto um orgulhoso homem ereto cruza a esquina
em direção ao emprego. A sua postura nos diz: “Trabalhamos felizes!”
Ranger de máquinas, imagens de folhas, e música; “não
é só pegar no pesado.” Corta para uma senhora numa casa estilo suburbana que
põe a mesa do café com um sorriso no rosto. Ela olha pela janela e vê um grupo
de crianças formadas em pares que dançam e brincam ao bater das teclas do piano
que martela a melodia pueril. Olha para um retrato sorridente, nele está um
jovem uniformizado, ela transparece orgulho em seu olhar como quem diz: “Lute
por nós.” No pátio os infantes continuam a coreografia. “Na Grã-Bretanha você
dança, canta, toca…”
Carros com soldados e suas armas e tanques cruzam a
rua para nos lembrar que estamos em guerra, mesmo que o sorriso infantil da
menina com os dentes expostos nos fale sobre alegria. Imagens do alto. A rádio
está no ar e agora chama os operários. Inserções da cidade culminam embaixo de um
viaduto. Um interior fabril está repleto de mulheres. “Música para trabalhar!”
o locutor informa. As operárias cantam ao limparem as peças e sorriem timidamente
quem sabe por causa da presença da câmera, mas mostram satisfação.
É hora do almoço. Soldados comem em pé. Mulheres pegam
os seus pratos. A famosa dupla de vaudeville Flanagan e Allen canta no Music
Hall. O cardápio exposto na tela; batatas, pudim de limão, salsichas etc. Outra
música que fala sobre felicidade e um lugar onde ninguém é triste e para onde todos
querem ir. O auditório está cheio de homens e mulheres da classe trabalhadora.
Estes artistas populares alcançam um genuíno momento de comunhão entre as
pessoas. Todos cantam ou assobiam felizes.
Já no National Gallery o clima é solene, com o
público sentado e bem comportado atencioso à música da orquestra. “Temos
músicas para todos os gostos e classes!” Surgem os violinistas e os sopros. Um
cartaz avisa estarmos perante a orquestra da força aérea. O público é outro. Mulheres
fardadas, descontraídas e independentes almoçam nas escadas. Soldados
contemplam quadros. “Temos cultura, somos sensíveis.” Eles são diferentes dos
nazistas que odeiam os judeus por estarem ligados ao pensamento e a
individualidade. Representam o espírito da Grã-Bretanha. A famosa intérprete Myra
Hess está sentada ao piano.
O foco em materiais de trabalho em outras salas; pás,
sacos de areia para barricadas, e baldes para incêndio nos lembram:
“Estamos alertas!” No concerto senhoras bem vestidas em meio a homens fardados.
O soldado em frente ao quadro, e a moça com olhar lânguido contemplam a música,
ela encostada a uma pintura. Na plateia está sentado um soldado de cabeça
enfaixada, talvez ferido em combate. “O que nos importa é a música!” os seus
olhos dizem. A embevecida rainha sorri com o seu colar de pérolas no pescoço
enquanto acompanha à impecável apresentação.
Estamos de novo na rua. Árvores e o zepelim em seu voo
ao fundo. Pessoas caminham num dia ensolarado. Vemos a arte das esculturas e da
arquitetura espalhadas pela cidade. A estátua de um antigo herói com a sua
espada, e em seguida na passagem para o futuro, um marinheiro de costas. Novamente
o zepelim, mas desta vez acima da fumaça derivada do trabalho. O fumo serve de
orgulho, pois é o resultado do esforço individual e coletivo, apesar das
abstrações. A música clássica continua com os seus violinos e nos conduz para
dentro de uma fábrica onde se constroem tanques de guerra. Ali as mulheres
trabalham tão duro quanto os homens.
A marcha invade a tela. Não como a sua contraparte do
filme nazi, mas sim com sua cadência mais leve, sem a chatice da sisuda
disciplina de Hitler e companhia. A banda marcial cede espaço aos homens que trabalham
na fundição. Voltamos para o vapor que sobe para o ar. Temos o retorno da
natureza e as chaminés das fábricas enquanto a música finalística e apoteótica
cantada em coro a plenos pulmões fala que a Grã-Bretanha é forte e que o seu
povo nunca será escravo e irá reinar. “A nossa guerra é justa e ao nosso lado você
vai beber, fumar, cantar, tocar, dançar, se apaixonar, e viver num lugar onde
todos são felizes.” Diferente de Triumph of the Will que começa no céu, Listen
to Britain termina no céu. Mais tarde a guerra seria vencida pelos aliados.
A música venceu.
Se Triumph of the Will de Leni Riefenstahl coopta
o público através da adoração a um homem, Listen to Britain ressalta a
liberdade singular. A empreitada é distinta à de Frank Capra que também
empunhou suas lentes contra o nazismo; e se este sensibiliza através da força
no melhor estilo jornalístico americano, e Riefenstahl no viés da pregação
ideológica do partido nazista, Humphrey Jennings e Stewart MacAllister capturam
os sentidos dos britânicos.
Não é uma ode ao lugar de fala; de pertencimento, ou a
uma causa como hoje em dia se encontra em voga no âmbito do discurso social, mas
sim de quem é a pessoa dentro do grupo. As idiossincrasias e interesses de cada
membro são postos em destaque. Entenda-se por isso, os seus maiores prazeres, e
não apenas os relacionados a servir à sociedade ou à comunidade em que se está
inserido. É uma negociação com os indivíduos, mesmo quando isto soa como
propaganda enganosa, como costumamos dizer atualmente. Listen to Britain
não apela ao rumo de um país, e sim de uma vida.
Ninguém vai se anular ou renunciar as suas vontades egoicas.
Com tal construção a clientela é manipulada sensorialmente. Não é preciso se erigir
como um falo e renegar aos seus desejos para ser parte do todo como sugere Triumph
of the Will. É possível perder tempo no ócio da contemplação. Em Listen
to Britain não existem apenas deveres, mas também direitos. Não é uma declaração
de guerra, ou uma campanha de ódio, na verdade é um apelo sedutor aos olhos, corações
e mentes. Listen to Britain seduz através do estilo de vida reverenciado.
Difícil acreditar que os britânicos fossem tão felizes
em tempos de guerra, embora esta ideia seja veiculada. O filme imbuí no
espectador a vontade de viver sua quimera. Listen to Britain está mais
ligado à propaganda que viria a se desenvolver tempos depois. É a mesma que
hoje vemos na venda de um carro ou de um xampu.
Listen to Britain
vende um estilo de vida. Uma panaceia possível apenas no escapismo de uma sala
de cinema ou nas páginas de um romance. É como um videoclipe de música pop que
exalta um viver que nem mesmo as suas estrelas possuem. O seu poder de
persuasão salta aos olhos, e faz com que muitos admiradores da imagem se sintam
enaltecidos com a sua construção harmônica, parafraseando o próprio filme.
Bibliografia:
Listen to Britain, 1942 Direção: Humphrey Jennings e
Stewart McAllister – Tempo de duração: 20 minutos. IMAGE ENTERTAINMENT, 2002
Bill Nichols/Introdução ao Documentário; tradução Mônica
Saddy Martins. – Campinas, SP: Papirus, 2005. – (Coleção Campo Imagético)
Fernando Mascarello (org.) /História do cinema
mundial/Fernando Mascarello – Campinas, SP: Papirus, 2006. – (Coleção Campo
Imagético)
Saunders, Tom, “Filming the
Nazi Flag: Leni Riefenstahl and the Cinema of National Arousal”,
Quartely-Review of Film and Video, Vol.33, Nº 1, pp. 23-45
Susan Sontag/Sob o Signo de Saturno – Tradução de Ana
Maria Coppovilla e Albino Poli Jr. L&PM Editores – Brasil 1986, pp. 59-103
Wagner Pinheiro Pereira, O Império das Imagens de Hitler
– Universidade de São Paulo – 2008
https://www.academia.edu/44829030/UM_FILME_SOBRE_M%C3%9ASICA
Deixando um lastro, de luz solar
É um atropelo, do que está para chegar
O destempero, que vem acomodar
Dentro do quarto, no escuro da tela, eu quem te vejo
dormir
A visão mais bela, daqui da janela, é sempre você a sorrir
Futuro sem trela, numa esparrela
Todo o prazer vem daqui
Vamos mergulhar na escuridão do mar
Fazer amor até o dia raiar
Em teu calor e sem saber nadar
Chegar tão fundo até o sol brilhar
A vida que resta, a tarde da sesta, é mais um dia de
verão
A sua mão destra, a rede na aresta, o rés desnível do
chão
Biquíni aperta, eu quem não presta
Você chamando a atenção
Todas as férias, com alguma féria, então será sempre
assim
Na casa fresca, de segunda a sexta, dentro do meu
pixaim
Com ânimo dobre, você quem resolve
Por mim nunca mais vai ter fim
Vamos mergulhar na escuridão do mar
Fazer amor até o dia raiar
Em teu calor e sem saber nadar
Chegar tão fundo até o sol brilhar
Esses
dois sujeitos mal-ajambrados caminhavam numa rua do centro baforando os seus
mata-ratos importados do Paraguai, quando uma viatura apinhada de policias com
braços e armas de fora se aproximou. Uma voz gritou: “Polícia!” Nelson comentou
entredentes para Otto: “Como se a gente não soubesse.” O policial ao sair do
carro disse para os dois – Documentos! - Nelson se preparava para pegar a
carteira no bolso detrás da calça, quando ouviu a pilhéria do amigo – Só temos
instrumentos… – o policial se virou para os dois irritados.
–
O que foi que disse cidadão? – Eu disse que está aqui. Otto respondeu enquanto
o amigo suava frio. O homem perguntou: “Vindo de onde indo para onde?”,
“Atrasados para uma entrevista de emprego, doutor.”, “Tem certeza de que estão
procurando trabalho?” o policial franzia o cenho enquanto conferia os
documentos. De repente os outros policiais acenaram para que o colega se fosse.
Devia ter surgido alguma ocorrência. O soldado devolveu os documentos e disse:
“Se adiantem cidadãos!”
Os
dois chegaram ao rabo da fila que dava volta no quarteirão. Homens e mulheres
com expressões cansadas e olhares sonolentos. Nelson disse para o amigo: “Mas
Otto, como aquele policial pôde me chamar de cidadão se o meu auxílio é tão
pouco?”, “É mesmo, como é que pode?” o amigo respondeu enquanto mais gente
parava atrás deles. O senhor que vendia cafezinho cochilava com a TV ligada.
Uma mulher próxima abria a boca num bocejo.
Na
televisão um político dava entrevista num desses jornais que pegam o
trabalhador ao sair da cama. Ele dizia: “O homem da rua sabe do que eu estou
falando!” Nelson tentava acender a guimba quando disse – Otto, será que quando
fala sobre o “homem da rua” ele está se referindo à gente? - “Creio que sim,
Nelson. Creio que sim.”, “Otto, o que você prefere, ser um homem da rua, ou um
cidadão?” Otto como um personagem de novela coçou o queixo antes de responder:
“Nelson, com sinceridade. Eu acho que prefiro ser chamado de cidadão. É mais
moderno!”
As
vagas oferecidas não passavam de setenta, mas havia um mar de pessoas encostado
naquelas paredes. Foi quando apareceu um morador de rua. Ele carregava sua
sacola nas costas, e era uma espécie de “homem do saco” com o qual as mãos
atemorizavam as crianças antigamente. Usava barbas longas e estava todo sujo.
Parou à frente da fila na altura em que os dois amigos estavam e disse – Vocês
só querem trabalhar com a caneta… Na pedreira tem vaga! - parte dos
desempregados desabou numa gargalhada contagiante. Nelson comentou com o amigo
– Otto, olha como é o humor do povo brasileiro! Mesmo na desgraça ele faz
piada! Olha a veia cômica do brasileiro!”, Otto perguntou: “Mas então Nelson, o
que você prefere: homem da rua? Homem do povo? Ou Cidadão?” Nelson pensou um
pouco e respondeu - Eu fico com homem do povo. Sei lá, soa mais original!
Um
helicóptero de noticiário da manhã sobrevoava o lugar onde estavam como que
para fazer alguma matéria. Desceu de um carro o homem de óculos; celular numa
das mãos, e uma revista Piauí na outra. Ele se dirigiu a eles
- Os senhores podem me informar que fila é esta aqui? - Nelson mais escrachado
respondeu: “Só se o senhor emprestar a revista para passar o tempo!” O homem
entregou a publicação mensal sem pestanejar. “É uma fila de emprego para
faxineiros de uma cadeia de lojas.” O sujeito falou no aparelho espreitando a
aeronave: “É uma fila de emprego.” Eles ouviram a voz do outro lado – Os
populares disseram isso? - Sim! ele respondeu e partiu.
Agora
Nelson e Otto estavam vidrados na revista. “Então Otto, nós somos cidadãos,
homens da rua, homens do povo, ou populares?”, Otto respondeu: “Eu acho que nós
somos isso tudo, Nelson!” O amigo disse: “É por isso que te admiro, Otto! Você
representa a inteligência brasileira!”, “É, mas agora para que ela seja mantida
necessito de um café.” Nelson contou as moedas e viu que a quantia estava certa
para a passagem da volta. Então leu uma frase na revista, se virou para Otto e
disse: “Imagine-se num barco num rio com árvores de tangerina e céu de
goiabada!” Otto lendo a revista respondeu por sobre os seus ombros: “E bebendo
tubaína!”. Nelson ao perceber que o amigo descobrira o plágio disse: “Otto,
ainda serei um frasista como você!”. Nesse momento um funcionário da empresa
apareceu - “Vamos organizar a fila!”, “Amém!”, disse uma voz sufocada por uma
máscara.