Todo dia eu venho a esse supermercado e ele fica me olhando. Eu estou a essa hora de chinelo e de bermuda com esse cabelo. No mínimo não estou pegando no pesado. E na visão dele o trabalho enobrece o homem. Ele não sabe que neste momento, só de olhar para ele e pensar sobre, eu estou trabalhando como escritor. Ele não sabe que eu sou escritor. Ele deve pensar que eu sou sustentado por minha esposa. Mal sabe ele que nesse quarteirão e no outro, e talvez até nesse bairro inteiro, eu seja um dos caras mais felizes. Por causa da minha liberdade, e de viver do jeito que sempre sonhei. Ele me olha e talvez não vá com a minha cara porque eu tenho cara de maconheiro. Isso justifica alguma coisa em sua cabeça. Ele me encara de cara feia, porque sente inveja da minha liberdade. Eu saio de fininho para não arrumar confusão. Mas em pensamento, eu enfiei a cabeça dele na lata de lixo!
domingo, 14 de outubro de 2012
sábado, 13 de outubro de 2012
Chico Buarque de Holanda
A minha vó me perguntou uma vez o que eu queria ser. Eu disse a ela que eu queria cantar samba e tocar violão igual aos pretos do morro. Agora eu estou aqui no meio dos pretos do morro. Intimidado com a viola no saco. E tenho a sensação de que estou clareando a noite. Os meus olhos claros que na beira de praia fazem tanto sucesso, aqui só fazem chamar ainda mais atenção para a minha pessoa exótica. Todo crioulo que me cumprimenta diz: e aí surfista? E talvez surfista seja uma forma de não me chamar de playboy. Ela requebra. Ela me olha. Eu dou um sorriso tímido com o canto da boca. O trafica encosta em mim e me diz: a tua papinha não é surfista? Eu digo: não, nada a ver, aí! Ele diz: qual é surfista, vai querer enganar nós? Eu calo. Ele me deu a melhor erva do morro. E disse: essa é só pra morador! Agora vem o homem gordo diretor da escola. Ele beija a mão da preta. Ela olha para a mesa como que para ter a minha aprovação. Eu sou um estorvo. Acendo um cigarro e encho o meu copo. O traficante gostou de Quem Te Viu Quem Te Vê, e disse: maior realidade aí... E depois ele contou uma história imensa sobre um caso dele com uma passista. Ele se identificou com a música, agora nós temos algo em comum. E toda vez que eu venho à quadra ele quer conversar. Ela está rebolando e olha direto na minha direção. Não consegue mais disfarçar, e eu estou com medo que eles fiquem chateados. Agora aquele crioulo mais velho cismou com ela. Ele parece querer que ela sambe com ele. Mas ela balança a cabeça e me olha novamente. Eu não posso me meter. Quem sou eu? Magro e desarmado. O trafica se levanta e caminha para o centro da quadra. Ele segura o coroa e daqui posso ler seu lábio. A mina tá com o cara! E me aponta. Ela vem. Depois o trafica. Ele diz: aí surfista, tá em casa aqui, você pode ficar tranquilo. Eu só consigo dizer: valeu... Ela me puxa e a gente vai sair. Ela não fala com ninguém. Eu penso. Sou eu, só quem sabe dela sou eu! Isso dá música.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Eu Não Consegui Roubar...
Naquele quintal só se comia angu e ovo. Por isso que hoje em dia eu só como ovo quando não existe outra opção. E tomei nojo de angu. Eu, e um dos meus primos que virou ladrão, e que por isso morreu assassinado, a gente era louco por pão. De tarde naquele sol do quintal, a gente tinha que se virar para comer pão. Então nós catávamos garrafas ou vendíamos alguma coisa no ferro velho. Eu ia com a minha prima as saudosas Casas da Banha, e ficava vigiando com medo enquanto ela jogava as coisas dentro da roupa. Hoje em dia isso não seria possível por causa das câmeras. Uma vez eu tentei roubar um doce na mercearia. O rapaz não brigou comigo. Mas me olhou de uma maneira tão desaprovadora, que antes ele tivesse me levado para a delegacia. Ainda hoje não consigo me esquecer daquele olhar. Mais tarde surgiram convites mirabolantes para furtos mais sérios. Detesto armas e violência. Só o pensamento de empunhar uma arma me provoca náuseas. Um amigo meu rouba canetas. Ele está conversando contigo, ou com uma atendente qualquer que lhe presta uma caneta, e ele escorrega a caneta para dentro do bolso. E vibra como se tivesse acabado de assaltar um banco. Ele diz: você viu, ela nem imaginava! Quando eu era criança pedi a um senhor que me emprestasse umas moedas para poder jogar fliperama. Na minha cabeça infantil aquilo era uma necessidade. Depois do que ele disse, eu passei a detestar pedir coisas aos seres humanos. Quando é dia de dar doces eu me tranco em casa. Fecho até as cortinas. Pois fico com pena daquelas crianças que pegam doces, não para se divertir, e sim para matar a fome.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
A Praia Mais Bonita Do Brasil
A praia mais bonita do Brasil fica num dos estados mais populares do nordeste. É uma praia pequena. Ela tem bancos de areia, areia branquíssima, e água cristalina com temperatura agradável. Mas o melhor de tudo, é que não existem muitos muitos seres humanos por perto para poluir o ambiente. Embora nessa praia tenha sido filmada uma novela, impressionantemente ela não se tornou popular. Esse estado do Brasil tem praias muito conhecidas, mas essa não figura entre as mais citadas. Não sei se por que bulhufas ela se mantém assim. Não sei se é contramão, ou o que acontece. Lá tem poucas barracas e as coisas não são tão caras. Trouxe algumas conchas que catei para fazer um colar. Eu não bebo cerveja. Mas naquele dia tive que beber. E enquanto o vendedor estava reclamando que lá era uma praia pouco frequentada, eu pensava, tomara que eles não venham sujar aqui, também, que fiquem pela cidade! Pensei isso não por uma questão de egoísmo, e sim de preservação. Quando olhei para aquele mar, matutei, eu posso até não ter conhecido a eternidade, mas que eu já conheço o paraíso, ah, isso eu conheço!
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Snoop Doggy Dogg No Programa Da Oprah Winfrey
Snoop Doggy Dogg foi ao programa da Oprah Winfrey. Quando ele sentou no sofá, a apresentadora, antes mesmo de saudar a plateia perguntou: você fuma maconha? E Snoop respondeu: exceedingly. Ou seja, excessivamente. Oprah abanou o ar com a mão e disse, está um cheiro aqui, que chegou a empestear todo estúdio. A plateia veio abaixo. Um minuto de risos. Snoop disse: é que esse baseado é o baseado do mês! E Oprah perguntou: como assim o baseado do mês? Ele explicou. Eu tenho um cemitério. E Oprah fazendo graça, eu não sabia... A plateia sorriu. Snoop disse: é um cemitério de pontas. E quando eu encho um potinho com as pontas do mês inteiro, eu tiro aquela erva curtida de dentro de cada cigarro, e enrolo um único baseado do tamanho de um charuto enorme, e isso aconteceu hoje! A Oprah disse: quer dizer então que eu fui sorteada? Sim, você foi sorteada! A Plateia desabou. O YouTube não permitiu que o vídeo fosse postado.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Adriano
Adriano, eu moro aqui na Penha, e este lugar realmente tem alguma coisa inexplicável. Até escrevi um livro sobre isso. Adriano, todo mundo sabe que o teu problema não é droga, e sim bebida. Você está doente, e tem que se cuidar. Pois tem um vício que leva a outro vício. E provavelmente tudo começou com uma depressão que você não cuida. Dá para ver em teus olhos. A depressão assim como o alcoolismo é uma doença que tem tratamento. Existem esses grupos de doze passos que funcionam. Mas cuidado para não culpar a bebida e o sexo pelos teus fracassos, ao invés de reavaliar o teu pensamento. E cuidado também para não substituir alguns vícios por outros, tipo, comida, videogame ou fanatismo. Eu sei que você vai enlouquecer se tiver que abandonar determinadas amizades e lugares. Mas dependendo do caso, isso se torna necessário. Ninguém afunda ninguém, Adriano. Cada um é que se afunda sozinho. Você falou em desistir, e parar de jogar. Após um jogo em dois mil e nove, eu fui dormir emburrado, pois estava colocando fé que com aquele time dava pra ser campeão. Mas sabia que a gente não podia perder aquele jogo. Eu deixei de acreditar assim como você está deixando de acreditar agora. No dia seguinte aquele jogo todo mundo disse: Já era! Mas vocês começaram a embalar. E a cada jogo que passava, eu me perguntava: será que vai dar? Você é o jogador mais forte que eu já vi jogar. Eu me lembro de que pisava na bola e a protegia com o corpo, e o zagueiro que trombasse contigo se dava mal. Você com a tua cabeçada, e o teu chute forte. Sempre a espera do próximo duelo, a gente começou a fazer as contas e a dizer que dava. Nunca valorizei tanto os minutos passados como naquela final. E cada um que passava me dava um alívio igual aquele vento que passa no rosto numa tarde de calor. Quando o juiz deu o apitou final e apontou o centro do campo, eu senti uma emoção que só havia sentido pela última vez naquele gol do Pet. Saí correndo portão afora, gritando de felicidade. Eu não acreditava mais na recuperação do Flamengo, e você me fez acreditar que a gente junto conseguiria. Espero que você agora aceite que eu te diga que você pode se recuperar. Não que a gente dependa de você, pois nós não podemos depender de jogador. Até porque o nosso time, é a nossa torcida, e não os nossos jogadores. E você criado no clube, sabe muito bem disso. Mas sim pelo que você já fez pela gente. É uma forma de gratidão. Por isso nós te aceitamos de volta. E tomara que você faça a sua parte. Não pela gente, mas por você mesmo, Adriano.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
As Minhas Mãos São Feias
As minhas mãos são cheias de calos. Calos do instrumento que toco precariamente, e outros calos. Calos nas pontas dos dedos. A ponta do meus dedos são queimadas, por falta de atenção. Eu faço um força terrível para não roer unha. Não sei cortar as unhas, e sempre que as corto sem ajuda, acabo arrancando um pedaço de pele. Mas o que há de feio em minhas mãos não é fruto de um trabalho pesado. Embora escrever me deixe com dor na coluna por conta da má postura. Elas são feias talvez em respeito a uma tradição familiar. Pois as mãos da minha mãe cheiravam a água sanitária. Por isso sempre que vou comer em algum lugar escondo estas mãos que pressionam as teclas. Que apesar de limpas, são feias. As minhas mãos estão sempre embaixo da mesa. Já cuidei das minhas unhas, mas não deu, elas chamavam ainda mais atenção para o resto. Por isso que as minhas mãos em determinadas situações estão enfurnadas em meus bolsos. Pois elas são os olhos do tímido.
Assinar:
Postagens (Atom)