Autor Desconhecido.
Observação: essa estória sempre é contada nos subúrbios brasileiros por alguém que conhece alguém.
Passei trinta anos preso. Isso foi antes das
visitas íntimas, computador doméstico, telefone celular e o cacete a quatro que
vocês têm hoje me dia. Quando fui preso o Escadinha ainda não sonhava bater
carteira ou Comando Vermelho havia sido fundado. Saí da colônia penal pela
porta da frente numa época em que a Lapa ainda era local de malandro decadente,
e não parque turístico de playboy. Antes do crack. A gente só fumava uma erva
do norte, e o pó era uma novidade no mercado. O chefe da boca tinha um trinta e
oito cano longo. Ninguém no morro podia fumar na frente de criança, pois era
falta de respeito. Enquanto caminhava em direção a qualquer lugar, eu só
pensava numa palavra: mulher. Peguei todas as minhas economias de pequenos
serviços prestados à comunidade carcerária, e parei para tomar uns tragos com
uma menina da Praça Mauá, vulgo Cinderela, ela parecia aquela menina, Brigitte
Bardot. Quando acordei estava nu deitado numa sarjeta da Rua do Ouvidor, e perguntei
ao policial: “Cadê a Cinderela?” Ele me respondeu: “Se foi com a carruagem.”
Desde então sou conhecido por esse vulgo de Roupinol, e o golpe ficou com a
alcunha de Boa-Noite, Cinderela...