terça-feira, 25 de abril de 2017

Um Livro no Bolso de Trás da Calça...

Um livro na fila do consultório. No elevador. No trem. Um livro no bolso de trás da calça. Ou no bolso de lado da bermuda. Uma edição de bolso. Um pocket book. Você quer um calhamaço ou uma brochura? Eu carrego um tijolão dentro da mochila! Um livro encadernado. Um livro sentado na privada... Eu fico triste por sentir enjoo com a leitura no ônibus. Por isso admiro quem consegue ler em pé no ônibus. E admiro quem consegue ler no trem... Outro dia fiquei impressionado com uma menina lendo andando. Mas a verdade é que eu faço o mesmo quando o livro é bom, e não dá para esperar o trajeto de volta da biblioteca... Um livro dentro do avião enquanto avisos incessantes disputam com a leitura. Um livro como uma única companhia. Numa casa vazia. Ou num leito de hospital... Quantos escritores começaram a escrever quando estavam doentes. Quantos escritores escreveram durante a guerra. E quantos em campos de batalha. Em prisões. Convalescendo. Passando fome. Sem dinheiro no bolso ou na conta. Cegos ditando para os outros. Escrevendo apenas com uma das mãos. Comendo comida de cachorro. Quantos tinham esquizofrenia. E quantos deles tinham depressão, epilepsia. Vícios. Quantos morreram de pneumonia ou tuberculose. E quantos mestres morreram sem ter a oportunidade de publicar um único livro. E quantos não quiseram aparecer. Quantos para que um livro repousasse em nossas mãos... Eu conheço gente que lê um livro de seiscentas páginas de um dia para outro. E não é leitura dinâmica, não. O negócio é sério! Mas dependendo do livro... Eu era só uma criança naquela época. E me lembro como se fosse hoje quando um livro se iluminou em minhas mãos. Eu nunca mais me senti sozinho. Ou entediado.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Mundo Pet...

Junto de uma tomada de consciência maior sobre os direitos dos animais o mundo pet cresceu tremendamente. Hoje se percebe mesmo na televisão onde parte dos noticiários se dedica a vida dos animais. Não a vida dos animais em seu habitat natural ou coisa assim. Mas sim, a vida social do animal doméstico. A sua relação com o seu dono e com o mundo em que vive. Normalmente os donos dizem que os animais os amam e os compreendem incondicionalmente. De maneira que nos dão a entender que nenhum ser humano seria capaz de ouvi-lo como o seu cachorro ou gato. Mas eu cheguei a essa reflexão caminhando pelo bairro onde moro. Pois aqui, como nunca se viu antes, aumentou consideravelmente o número de dejetos de animais nas calçadas. É impossível caminhar sem prestar atenção única e exclusivamente onde se pisa. Esse status social do animal que hoje anda no colo. Veste camisa do time preferido. Tem enterro. Identificação. E creche. Ainda é uma novidade cá por essas bandas. Aquele animal de rua que não tinha pedigree, que era chamado de vira-lata, comia resto de comida, e corria atrás dos carros praticamente evaporou. Ele que era o cachorro da vizinhança. O cachorro de todo mundo. Hoje esse animal seria visto como um mendigo. Um indigente. Como se não fosse ninguém. Alguém que não tem vida, e que não tem uma história. Por falar em indigentes, existem bilhões deles pelas ruas dessa cidade. A maioria pelos mais variados motivos, coroados com algum vício mais degradante que os nossos na esperança de amenizar a dor dessa cidade cheia de órfãos. E por falar em órfãos, existem até casais que brigam na justiça por seus animas, e que obtém a guarda compartilhada. Vou limpar a sola do meu sapato. Até mais...

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O Pão Aumentou...

Ele diz: eu quero dez pães, por favor. Ela diz: o pão aumentou... Ele diz: não, o pão não... Não pode ter aumentado! Ela diz: aumentou sim. Ele pergunta: aumentou quanto? Dez centavos. Ele diz. Num falei, aumentou o preço do pão! O pão continua pequeno... Talvez tenha até diminuído!

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A Natureza é Perfeita!

Ela odeia os gatos e os cães do parque, pois eles devoram o miolo de pão que ela leva todos os dias para alimentar os pássaros. Ela enxota os Pets. Cai fora daqui! Enquanto observa um vira-lata se afastar... Ela olha o parque a sua volta, pensa, e diz: a natureza é perfeita!

A Casa de Cada um...

Ela grita para ele. Eu ouvi da boca dela! Ela abraça a mochila onde estão todos os seus pertences e se dirige para outro canto da praça. Quem passa com os seus pensamentos não percebe a mulher sentada. E muito menos que ela é um travesti. Se eles tivessem uma casa ele continuaria na sala. Calado. Ela ia se trancar no quarto e ficar em silêncio.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Edson Jorge!

Como em todos os outros dias da minha vida aquele dia eu ia trabalhar. Estava lendo quando fui interrompido pelo telefonema de Carlos Macedo. Eu não tinha o dinheiro para voltar para casa. Mas ia arrumar no trabalho. não me importava se ia voltar para a casa de trem, metrô, avião, ou a pé. Como eu ia voltar não importava mais. Era isso que eu pensava quando desci daquele ônibus. E agora eu me encontrava em frente ao empresário Carlos Macedo. Ele estava atrás de uma mesa de vidro gigantesca, e as suas costas eu podia ver parte da Baía de Guanabara, Eu me encantei com a vista e percebi o riso de Macedo perante o meu deslumbre “Eu sei que aí dentro tá cheio de esgoto, mas mesmo assim a vista é bonita!” pensei. Carlos Macedo estava com um blazer azul e uma calça jeans clara. Ele calçava um sapato de couro marrom que reluzia assim como a sua careca. E também exibia uma barriga de chope. Apesar do estilo do cinto e da calça de grife. Carlos Macedo ostentava um relógio enorme no pulso que me lembrava dos emergentes e dos bicheiros. A secretária entrou na sala com uma pasta onde estava impresso Edson Jorge em letras enormes. Estela virou o rosto sorriu mexendo os cabelos. Seja bem vindo Edson Jorge! Eu senti como um baque aquela frase acompanhada do sorriso gratuito. E respondi muito obrigado tentando ser o mais simpático possível. Eu espero corresponder às expectativas, concluí. Eu diria: sexuais também, mas não disse. O senhor aceita um café? Estela perguntou com toda a simpatia. Respondi, aceito. Eu estava morrendo de fome. Estela saiu da sala rebolando. Os seus músculos iam sendo delineados por todo o caminho na medida em que pressionavam suas pernas tonificadas. E os bicos os mamilos roçavam a blusinha de seda. Estela vestia uma saia até os joelhos e estava de saltos altos. Estela era morena e possuía um sinal no canto da boca. Dizer uma pinta no canto da boca talvez fosse vulgar. Ela voltou com um carrinho de metal e pôs a minha frente. Eu agradeci a gentileza. Ele olhou para ela como se quisesse me dizer que ela era “sua”. É lógico que ela é parte de sua propriedade, assim como o prédio, e o carro no estacionamento. Nessa hora eu me lembrei de uma das frases pichadas: “A Propriedade é um roubo!” Joseph Proudhon. Eu olhava para o caminho que o raio de sol fazia dentro d’água, e pensava que logo assim que pedisse demissão eu me ia me sentar em Ipanema e torrar um baseado enorme. Era só nisso que eu pensava. Seria a coroação de todo a minha caminhada. Eu não me importava com a pressão psicológica que Carlos Macedo me impunha com o olhar, que me dizia: você não é nada sem mim! Eu não ligava mais pra nada! eu aceitei algumas questões do contrato porque eu sabia que não era mais tão novo para tantas exigências. É lógico que ela é parte de sua propriedade, assim como o prédio, e o carro no estacionamento. O gerente do supermercado em que eu trabalhava era mais covarde do que todos os empresários do mainstream juntos. Aquele filho da puta com bigodinho de Hitler! De repente a música Como Uma Onda do Lulu Santos começou a tocar no som embutido do escritório. Eu percebi que a vida era realmente como uma onda, vai e vem, e uma hora nós estamos por cima, e na outra por baixo. Eu me lembrei de uma vez em que eu estava em um ônibus em direção a Pavuna, e um motorista de ônibus começou a cantar aquela música. E percebi o quanto aquela mensagem era forte, e mesmo que ela fosse massificada, e saturada em nossos ouvidos, quando ela se interpunha entre nós é que nós víamos o seu peso. É isso que nós queremos Edson Jorge! Eu percebi a empolgação do empresário falando como se fosse fácil fazer um hit com conteúdo e transformá-lo num clássico. Assim como uma mulher havia rezado ouvindo o Epitáfio dos Titãs para que o avião não caísse. E um cara desistira de cometer o suicídio ao ouvir Tente Outra Vez do Raul Seixas no rádio na hora do ato. Aquela música me vinha na hora exata. Carlos Macedo sorriu e disse, assine aqui, por favor. Eu assinei lá no canto, embaixo daquelas letrinhas pequeninas, que eu tive não tive coragem suficiente para tentar decifrar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Mulher...

Mulher... É o teu cheiro, teu pelo, teu cabelo.
É ter você em março ou fevereiro
Do sempre seu, pra ti, mulher...
Mulher... É o teu jeito, o teu idioma...
Esse carinho que não te abandona
Que eu sempre faço, em ti, mulher...
Mulher... Você é ruiva, ou é cor de rosa.
A flor cheirosa orquídea mais formosa
Em minha prosa, é sim, mulher...
Mulher... A flor que Deus deixou em meu caminho
Você é rosa onde não há espinho
Nunca sozinho, em você, mulher...
Mulher... Você é negra é loura e é branca.
Você princesa, rainha, louca ou santa...
A vida nasce, em ti, mulher...
Mulher... Você é mãe é filha é avó...
Dorme ao meu lado, o sono é melhor.
Nunca me deixe, só, mulher...
Mulher... É um bom dia que muda o meu dia
É um sorriso que faz minha alegria
É todo o dia, assim, mulher...