domingo, 14 de maio de 2017

Paralamas no Olaria!

>No alto de uma igrejinha iluminada seis horas tocou a Ave Maria que banhou toda a Penha e região. A lua cheia brilhava tremendamente no céu. Era uma noite dessas agradáveis em que se pode respirar o ar puro da Zona-Norte e sentir o odor das flores independente da estação. Antes do show um DJ tocava músicas que se estão por aí “Desde os anos oitenta...” como se diz por aqui. New Wave, Funk Melody, Miami bass. Então rolava Simple Minds, The Smiths, The Cure, Information Society, Stevie B, e com certeza o Toni Garcia deve ter pintado por lá. Havia um clima de flashback no ar... Os mesmos passinhos de antes. A pausa do DJ no mesmo lugar que se fazia na época em que os Paralamas foram lançados. O Olaria estava lotado. A iluminação era ótima. A temperatura da bebida e a simpatia no atendimento também. Quando Os Paralamas entraram no palco me veio à mente aquela época em que eles apareceram, e o Herbert e o Renato Russo, que entre tantos outros bons letristas do rock Brasileiro já eram idolatrados. Mas o clima de nostalgia começa a ser quebrado. E você vai entendendo porque nessas três décadas de historia musical eles estiveram presentes. Na plateia gente de todas as idades. Os músicos da fila do gargarejo com os pescoços esticados e boquiabertos. As músicas recentes, e aquelas que se apresentam como clássicos acompanhados por crianças. “Palavras duras, em voz de veludo, e tudo muda, adeus velho mundo, há um segundo, tudo estava em paz...” e adolescentes roqueiros cantando. Eles são amigos. E tem prazer de tocar juntos. O Herbert é um grande guitarrista que faz arranjos memoráveis para seus shows. O Barone parece uma bateria de escola de samba. As imagens do solo do Barone no telão... E o grave do Bi Ribeiro... Eles tocam com o mesmo fervor de sempre. E se você gosta dos Paralamas vai ao show e ainda se surpreende com os arranjos das músicas. A história no telão sendo passada. E ali embaixo a história da música brasileira acontecendo. Agora não me lembro dos Paralamas terem tocado Uns Dias? Que creio eu dá nome ao show. A versão de Caleidoscópio. A velha guitarra de blues. Ela Disse Adeus. A bateria de Perplexo. Os vocais do Herbert. A sua simpatia jogando as pessoas para cima. Sempre celebrando com palavras de incentivo. O João Fera nos teclados, sempre. Os outros dois amigos do sopro também. Eles nos passam uma boa energia, o grupo todo, os seis. É visível o quanto são amigos. Talvez por isso estejam nesse longo caminho. Eles respeitam o público que deseja ouvir seus sucessos. Ou pelo menos esse show é isso. E eles tocam Meu Erro e Lanterna dos Afogados com o mesmo apreço. O Calibre... que rock and roll! E Trac-Trac ao vivo? É lógico que também gosto de Brasília, O Trem Da Juventude, e Foi O Mordomo... Músicas que não sei com qual frequência os Paralamas tocam. E aquela guitarra de Herbert que acompanha os sopros de O Beco? Tudo ao vivo é jogado para cima e executado com precisão, como dizem. Herbert acenou para a rapaziada e olhou nos olhos das pessoas. Enquanto alguém empurrava a mesma cadeira a qual ele se refere, “em cima dessas rodas também bate um coração.” Alterando a letra de óculos. Eles tocaram tanto, e de repente acabou. Passou rápido. Deu esse gostinho de quero mais...

sábado, 6 de maio de 2017

Férias na Prisão!

Quando ele chegou à cadeia a primeira frase que ouviu foi: no crime todo mundo tem um vulgo! Ele ficou entre Ode. E Brecht. Ele escolheu o dramaturgo. Antes do almoço, Fernandinho Beira-Rio companheiro de cela de Brecht disse. Vai rolar um aperitivo, uma cachaça de arroz... Depois da bóia rola um fino de cadeia, o digestivo. O homem magro e de óculos. Disse: não, obrigado... Se tivesse uma pancadinha de Uísque. Fernandinho disse. Uísque é horrível! É pior que cachaça! Brecht perguntou à Beira-Rio. Porque você tá aqui? Tráfico! E você? Por causa do meu vício! Qual? Beira-Rio pôde ver o olhar lunático de Brecht para as grades, ele disse. O meu vicio era comprar as pessoas. Eu estava viciado em comprar as pessoas. Um amigo seu da firma disse isso no depoimento, Beira-Rio respondeu. Ele disse que o pessoal da empresa estava viciado em comprar os outros. Eu vi na Globonews. Beira-Rio balançou o cigarro. Quando a gente olha pra você não imagina que tenha esse poder todo! Nem eu quando comecei imaginava que pudesse ter esse poder todo. Você não entendeu... Eu era o homem da mala preta. E chega uma hora que você não tem mais quem comprar, e você fica de saco cheio! É fácil demais... É como um jogo. Depois que você conhece os macetes. E que não tem mais para onde ir, você começa a se sentir entediado. Eu não aguentava mais aquela mala. Ela havia se tornado pesada demais. Era hora de dar a vez para outro. Beira-Rio disse: você tem que me contar uma coisa. Advinha sobre o quê é que eu quero saber... Eu quero saber sobre aquelas festas. Eu tinha uma amiga que trabalhava como garota... O carcereiro passou o cassetete na grade. Ele diz: o nosso amigo do Deus Supremo, disse que vai rolar um habeas corpus. O Brecht abre um riso.