segunda-feira, 31 de março de 2014

Ele, Com Aquele Colete da Prefeitura...

todos os dias eu passo aqui nessa esquina, mais ou menos a essa hora. e, ele, com aquele colete da prefeitura está aqui. mas eu prefiro quando ele não está. pois me arrisco no meio dos carros, a adrenalina sobe pra cabeça, é uma loucura! eu sinto uma vibe parecida com a que um surfista sente perante uma onda gigante. mas os melhores dias são quando ele não está. pois quando ele está, eu tenho que esperar que venha alguma mulher. que alguma mulher me acuda, pois assim como muitos motoristas de ônibus, que só param no ponto se tiver alguma mulher, que ele julgue gostosa, é claro, este cara só fecha o sinal, se tiver alguma mulher por perto. ainda bem que ele não perde tempo escolhendo. a menina com o uniforme da empresa vai atravessar agora. é a sua vez de brilhar, ele gira o apito, e faz o escambau para impressionar a menina. eu vou aproveitar a carona, e atravessar. até mais! a gente se fala...

domingo, 30 de março de 2014

Cadê a Feira da Rua Montevidéu?!

hoje os moradores do pacífico bairro da Penha, acordaram com uma notícia inusitada. a tradicional feirinha da Rua Montevidéu, patrimônio histórico cultural e universal tombado do bairro, havia sido transferida por motivos de força maior, para a Rua Belisário Pena. a Rua Montevidéu no dia de hoje, deu lugar a mais um estacionamento ao ar livre, como muitos desse que temos espalhados por nosso bairro.  boa sorte aos moradores da Rua Belisário Pena, e boa sorte aos comerciantes da Rua Montevidéu. quem sabe o próximo passo seja mudar a Igreja da Penha de lugar. assim como foi extirpada a única área de lazer local que era o Parque Ari Barroso, onde, hoje inclusive, se encontra uma UPA que não funciona, digamos, adequadamente. num bairro que tem uma porção de postos, clínicas e hospitais.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Vai Ter Quebra-Quebra!

Dona Lídia grita, pergunto, sério? diz, sim! Fico imaginando uma porção de vândalos saindo do Buraco, invadindo, e saqueando tudo. corro em direção a um abrigo nuclear. perguntei a ela sobre o helicóptero que sobrevoou nosso pacato bairro a tarde inteira. com o dedo hasteado Dona Lídia disse, são os vândalos... vai ter quebra-quebra! depois baixou os olhos, e concluiu, dizem que tem um artefato que pode ser explosivo na Romeiros. os traficantes mandaram fechar o comércio! ela passa a mão nas crianças, e corre desabalada, vão bora! Dona Lídia contou trezentos e sessenta cinco assaltos na Nicarágua ano passado. entro em casa, e me escondo embaixo da mesa com medo dos terroristas.

sábado, 22 de março de 2014

Você Sabia Que a Passagem Vai Aumentar de Novo?!

parte um - ele disse, não. eu não sabia. e o outro disse, vai aumentar a passagem dús treins do Rio, e vai aumentar a passagem dús metrô. ele diz, aumentarú a passagem dus ônibus, tú num acha qui elis num vaum aumentar dus trem, não, coé! e dús metrô, naum? e surgem aquelas risadas sem graça ao fundo. fala tú? e vai aumentanú, aumentanú, e eu já tô ficandú boladú, moro? i só no nosso lombo, só no nosso courú, eu já tô ficando agúniado, ele gesticula, e já num tô vendo a hora de tê um colapso total nesse país, uma guerra civil, por causa dessa palhaçada, por causa dessa ninharia, que eles roubam da gente, é ninharia! ele corta, mas de grão em grão a galinha enche o bico! e diz, você acredita nisso, eu não acredito, aqui, não, no Brasil, não. nós já demos prova que somos pessoas pacíficas várias vezes, ele disse, é mesmo... besteira. vai tê copa do mundú aí, vamu comemorá, vamu comemorá! diz o ator fantasiado de negro na tela do aparelho da menina. ele mudou de assunto. parte dois - ele disse, eu me lembro de quando eu pegava esse 485 com um vale transporte de quarenta e cinco centavos. e o outro continuou, você conhece as vítimas do 485? ele diz, não. vítimas de quê? o cara vem pro Rio, e aí ele fica hospedado na Penha, vamos supor,ele fica na sua casa, e ele pega o 485 indo em direção a Copacabana, mas antes disso, mas ele não lê que aquele 485 vai para o Fundão. ele disse, mas isso acontece tanto assim, meu amigo? é, mesmo, eu estou sabendo disso, não. ele disse, é, acontece direto, pô... ele continua, caramba, caraca, aconteceu com todo mundo que ficou hospedado lá em casa. eles descem em Olaria. olham para um grafite do Amor. e saem andando. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

A Filhinha da Cláudia...

eu queria ser como a filhinha da Cláudia, ela não ficou choramingando como eu faria, e dizendo esperar que justiça seja feita, nós sabemos que justiça não será feita, nunca, mas a filhinha da Cláudia, não tem nada a perder, ela já perdeu tudo, ela já perdeu a sua mamãezinha que cuidava dos oito filhos, e na dor ela tem sido forte, creio que ainda nem teve tempo de chorar a morte da sua mamãezinha, mas ela já diz aquela verdade que está entalada em nossas gargantas, e mesmo estando filmado, nos falta coragem, dá medo dos tiros, dos ternos, das unhas bem cuidadas, das mãos lisas, dos dedos com alianças douradas, fardas, diplomas, cadeia, morte, pratos vazios, livros ultrapassados, hospitais sem anestesia, trens lotados, nós precismos da filhinha da Cláudia, nós precisamos mais dela do que ela precisa da gente, chega de ficar contando com o Joaquim Barbosa, lá, sozinho, feito uma voz solitária no fundo do mar, com aqueles ministros mandados perto dele, vem mais uma copa no Brasil, o gigante cochilou, e mais uma vez nós queremos jogar todas as responsabilidades em cima de um só Barbosa, mesmo na dor, a filhinha da Cláudia não teme os cargos públicos, as autoridades, a fala pomposa, e requintada, o suprassumo do saber como diria Bezerra da Silva, a filhinha da Cláudia tem a mesma força dos índios que resistem a nossa falta de cultura, essa guerra já deu no saco, já deu o que tinha que dar, já deixou vítimas demais, de todos os lados possíveis, e quem está na linha de frente do campo de batalha, nunca está na linha de frente das decisões, e vice-versa, para que tomar partido numa guerra que não é sua, vamos deixar a nossa breguice de lado, ninguém vai parar de usar drogas, é mentira, nós já nos entupimos o tempo todo, por todos os poros, assistindo, ouvindo, comendo, respirando esse ar poluído, vamos descriminalizar as drogas para que acabe essa guerra maldita, e ao invés de ficar correndo atrás de traficantes varejistas, vamos correr atrás dos nossos irmãozinhos que correm  o dia inteiro atrás do crack, vamos cuidar da nossa depressão de outra maneira, das nossas compulsões, e psicopatias, já sabemos que o homem nasce mau, e que talvez o meio o faça bom, tem uma porção que diz que não usa droga, e se encharca de bebida, e com droga, ou sem droga, mata, armado, de carro, com arma branca, às favas com as suas condolências! e que as suas malas cheias do nosso dinheiro, pesem em suas mãos, e que com todo o seu poder, vocês afundem até os seus infernos, demônios, já que é isso que vocês desejam, cheirem do melhor pó, bebam do melhor uísque, se deliciem com os melhores corpos, mandem seus filhos estudar fora, sejam felizes, enfim, mas deixem as nossas vidinhas em paz, e jornalistas Playboy`s, não é no morro de Congonhas, é morro da Congonha! errado ou não, eu tenho certeza que Deus existe, e que a filhinha da Cláudia, um dia, vai poder se reencontrar com a sua mamãezinha, no céu.

sexta-feira, 14 de março de 2014

O Frank Enlouqueceu o Maluco!

a mosca posa na borda do copo. o ventilador sopra, preguiçoso. o cachorro lambe as pernas em que o gato se enrosca. você dá cabeçadas no ar. o rapaz se agita, e diz ao policial, eu não aguento mais esses vizinhos... eles ficam batendo na parede a madrugada inteira! é como se tivessem batendo na minha cabeça, tum, tum, tum, e eles ficam ouvindo o Frank! eles sabem que eu não gosto dele... eles sabem que eu gosto do Raul, do Zé... o Policial olha para o rapaz que parece perturbado, e pergunta a ele, o quê eles fazem senhor? o rapaz responde, o quê eles fazem? você quer realmente saber o quê eles fazem?! eles ficam ouvindo o Frank o tempo inteiro, e ele dá aqueles gritinhos... é só isso que eles sabem fazer! pausa. e isso é enlouquecedor! eu sei que eu sou maluco, mas eu sou um maluco... a mãe dele diz, não diz isso, me deixa falar... ele continua, não, mãe, agora eu vou falar, agora eu tenho que falar! eu não gosto daquele tecladinho de churrascaria, aquilo é sofrível! você pensa, o Frank enlouqueceu o maluco. o cachorro lambe a sua cara. você tira a mão de dentro do copo. desliga a televisão. mergulha na tarde sonífera do subúrbio. colorento. a mosca posa em seu nariz. você cochila. sonha que está colhendo morangos num calor de cinquenta graus. o policial se vira para a câmera, e diz, como vocês podem verificar, a vizinhança dorme, silenciosamente...

quarta-feira, 12 de março de 2014

Volta, Elias...


volta Elias... porque o seu sorriso, e o sorriso do seu filho Davi, me lembram o sorriso dos meus sobrinhos, que parecem nos iluminar. porque tudo ficou mais difícil sem você, o calor voltou, e as pessoas estão mais estressadas, e só faltam esganar umas as outras no meio da rua. e voltaram aqueles linchamentos terríveis aqui no Rio de Janeiro. e as brigas nos estádios, e o racismo nos estádios. volta, Elias. nós prometemos te blindar contra os racistas. volta, Elias, pois sem você fica muito mais difícil aturar as ruas sujas, e ver os irmãozinhos viciados em crack. volta, Elias, pois os meus netinhos portugueses me disseram que eles também querem te ver em campo, jogando. e porque inocentemente, eles acreditam que dessa forma, talvez consigam reparar alguns equívocos de seus ancestrais. volta, Elias, porque os braços do Cristo estão sempre abertos para você. volta, Elias, porque sem você nós vemos o quanto as ruas estão sujas. volta, Elias, porque depois que você foi embora, o gigante cochilou novamente. volta, Elias, porque aumentaram a passagem depois que você foi embora, e chegar ao trabalho virou uma aventura. volta, Elias, para que a gente não fique pensando que o  futebol é só dinheiro, e que a vontade dos jogadores, e dos torcedores não importa. volta, Elias, e quando você voltar, aproveita para diminuir o preço dos ingressos, por favor. volta, Elias, porque sem você, nós ficamos cada vez mais deprimidos, e sendo assim bebemos mais, fumamos mais, tomamos mais remédios, mulheres são agredidas, falta escola, creche, leitura, e o número de vítimas da violência, aumenta, sem você. volta, Elias, volta para nos consolar um pouco. e para que os gringos não usem o futebol brasileiro para fazer turismo sexual, e que nenhum estrangeiro tenha de passar pelo que a gente tem passado nos dias que eles estiveram aqui. volta, Elias, porque sem você a obra tem acabado com a Penha. e a poeria tem sujado os nossos pulmões. porque não há vaga nos presídios que não recuperam ninguém. volta, Elias, se ajoelha, pede a Deus, deve existir algum jeito de se alcançar o coração desses homens de terno, que conseguiram acabar com a música, e agora querem acabar com o futebol. volta, Elias, porque o Seu Elias quer que você volte. volta, Elias, para que hoje a gente não tenha um buraco em campo, e outro no coração. volta, Elias, porque você está aí sozinho, e tem uma multidão aqui, sonhando com a sua volta. volta, Elias, porque quando você faz um gol, ou dá um passe para um gol, tudo aquilo que é ruim, desaparece naqueles breves minutos, que poderiam durar a vida inteira, e que são um refrigério para as nossas almas. volta, Elias, pois quem perde é o futebol. volta, Elias, porque senão, quem vai embora sou eu!

sexta-feira, 7 de março de 2014

O Mirrole...

ele entrou, e disse, eu posso fazer um mirrole? o outro disse, pode, ele foi até o cinzeiro, e catou todas as bitucas, e começou a enrolar o mirrole. o outro estava viciado em Investigação Criminal, e começou a dar uma de detetive, então ele ficava o tempo todo congelando a imagem do prefeito jogando o caroço de fruta, indo, e voltando. e pensando se conseguiria solucionar aquele caso. seria possível que dali de onde o prefeito estava, ele conseguisse acertar a lixeira? ele congelava, e voltava, e pensava que aquela historia de que ele jogou o caroço para um amigo segurar, talvez fosse verdadeira... então ele começou a pensar que talvez o prefeito seria um ótimo jogador de basquete, ele seria um baita dum cestinha, assim como é na prefeitura. quando o outro terminou o mirrole, na hora ele pensou em lixo reciclável, na greve dos garis, e em coleta seletiva. O Mirrole disse, eu vou sair... e o outro respondeu, valeu Mirrole! e o Mirrole saiu pela rua lateral que é a Rua do Lixo. e ao olhar para o prefeito na tevê de plasma, ele conseguiu desvendar o caso, e comemorou ao ficar sozinho no barraco, o apelido do cara é... Me-Enrole, prefeito!