domingo, 15 de dezembro de 2013

O Morcego!

a vizinha estava com a cara na janela. ela disse: tem um bicho aí no portão... eu disse a ela: é um morcego... e pulei o tal com medo do mesmo. o sol das três da tarde corta toda a onda. quando entrei em casa ouvi uns berros. olhei pela janela, e vi um velho correndo de um lado para o outro junto de outros adolescentes. eles estavam sendo atacados por outro morcego, que logo passou a dar um voo rasante em direção ao morcego que se encontrava preso ao portão. não sei como ele conseguiu resgatar o outro, e subiu voando com alguma dificuldade. e sempre que eu conto esta história, as pessoas fazem esta cara de quem pensa, nossa, como é mentiroso! é, mas você tinha que ter visto a cara que eu fiz ao assistir a cena!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Amy Winehouse...

conheci Amy na Carnaby em pleno fog. rondando na Swinging. ela era uma menina branquinha e corada que fumava e bebia um bocado. conversamos sobre música a madrugada inteira. tínhamos amigos em comum. ela disse adorar grupos vocais femininos, como as Shirelles e as Ronettes. e grupos femininos de hip-hop e R&B como Salt N`Pepa e TLC. Amy conhecia muitas cantoras de jazz. ela ouvia muito Billie Holliday. Amy tocava guitarra e estudava numa escola de música. ela também bolava umas letras. depois de termos rodado por alguns pubs, eu e meus amigos levamos Amy e uma amiga sua até o ponto para que elas voltassem para Camden. após telefonar de uma cabine vermelha Amy subiu no segundo andar do ônibus. quando eu a vi na televisão não acreditei que fosse aquela menina com quem eu havia conversado aquele dia.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O Grafiteiro e o Filósofo...

existe um belo grafite numa passarela próxima a minha casa. nele, um velho rastafári que segura um livro, e este livro ilumina o seu rosto. todos os dias eu olho aquele grafite, e penso o quanto eu queria ter a sabedoria que aquele rasta me transmite... eu havia encontrado o filósofo no meio do caminho, e ele havia me dito para tomar cuidado com o escrever por vaidade, e que não escrever, também era escrever. mas aí depois encontrei com o grafiteiro, um dos que assinaram aquela obra prima. eu disse a ele apertando a sua mão, obrigado, todos os dias admiro aquele grafite... ele me perguntou: qual? o do rasta em frente a passarela! ele sorriu, e disse, maneiro... mas é preciso compartilhar...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Analfabeto Funcional...

esqueça todos os preconceitos. precisamos reconstruir o mundo. se desfaça do véu que cobre o teu rosto. têm dias em que todos estão errados, e que só você está certo. não deixe que te privem da tua liberdade, te ameaçando com a fome, ou com a falta de moradia. não havia nada disso antigamente. o teu maior predador é o teu semelhante. assinado, Fulano de Tal. Fulano de Tal sai. Ciclano diz para Beltrano. estou besta contigo! não sei como consegue entender o que esses analfabetos dizem... gesticula. nem eu com o meu antigo ensino médio! Beltrano diz. engraçado que eu aprendi a ler sozinho... bufa.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Você Acredita em Papai Noel?

ele diz puxando os cabelos em frente a obra. o que esses calhordas fizeram? acabaram com tudo! o outro diz: isso começou ano retrasado. ele diz: vou falar com o meu irmão, o meu irmão é advogado! ele acende o cigarro tremendo. o outro diz: cara, esquece isso! os olhos dele ficam vermelhos de lágrimas. ele diz: esquecer isso? e a democracia! vocês são muito acomodados... o outro pergunta: você acredita em Papai Noel? o inferno está só começando... você vai ver quando essa obra ficar pronta. ele para. e pensa. o outro complementa. isso que dá ficar muito sem aparecer... ele diz: eu estava preso. o outro se cala.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Feliz Dia do Índio!

a gente cruza um estado do sul numa banheira velha. ouvindo Raul Seixas. a menina loura de cabelos curtos e olhos azuis está sentada atrás. fumando. o namorado dela está sentado na carona. é a cara do Kurt Cobain! eu me sinto o único preto no mundo. ela põe saliva na ponta do dedo, e apaga o cigarro. ela diz: merda! abana a fumaça. acho esse gesto tão falso quanto campanha antifumo, quando nos querem dopados o tempo todo. um dos índios vem em nossa direção. ele diz: vamos fechar a estrada daqui a pouco. e com o braço apoiado na janela da carona, completa: hoje o pedágio é dez 10 contos! Kurt Cobain pergunta: porquê? outros índios se aproximam. ele tem um facão na cintura que desce até a canela. o cara dá a nota cinza. o índio diz: feliz dia do índio! e libera a passagem.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Segredo...

ele está dormindo. ela o cutuca. ele acorda, e diz: fala. ela diz: quer saber um segredo? ele diz: não. ela diz: mas, é o segredo! ele diz: pior ainda para deixar de ser... ela diz: não vai te custar nada... ele esfrega as mãos, e responde: opa, chuchu beleza, que maravilha... de graça até ônibus errado! pode mandar! ela diz: é o segredo da busca da felicidade, da riqueza, do conhecimento, e da eterna juventude... ele diz: chega de lero-lero, manda! o ladrão encosta o cano da pistola em sua costela, e fala: é um assalto... passa o aparelho! ele responde: você está sendo filmado! o ladrão pergunta: mas, e daí?! ele dá o aparelho, e balbucia. ora, bolas... não se pode mesmo ser feliz!

domingo, 13 de outubro de 2013

Vômito...

euforia. crise nervosa. agressividade repentina. coragem em excesso. palavras inoportunas. cara na lama. dedo na goela para voltar a beber. a garrafa vazia jaz na mão. vomita no ônibus. desonra a família. remédio no banheiro. uns, cantam. outros, batem. dança desengonçado. fuma cigarro. dorme com a cara no prato de comida. cochila no vaso sanitário. acorda ao lado de alguém que não conhece. sexo de risco. má conduta. conduta libidinosa. pega uma doença. o vômito jorra de todos os poros. vaga pela cidade de madrugada. esquece o caminho de casa. volta pra casa. ciúme desperto. chaga exposta. briga. larga o pescoço. vê o corpo inerte. trabalha com bafo. suor. delirium tremens. julgado. espancado. morre sem saber que morreu.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Levantou Poeira...

duas horas da tarde. o moleque sentado na grade olha o céu. passa o ferro velho sacolejante. as pessoas atravessam por aquele buraco na parede. o velho caboclo de chapéu toma o guaraná que é vendido numa garrafa de cerveja, e diz: nossa, parece até que alguém esqueceu esse lugar... o outro que passa o pano no balcão, retruca: esse lugar não evoluiu... mas não fica nem uma hora do centro! os evangélicos de domingo atravessam a rua. o moleque pula da grade. ele pula, e corre atrás da pipa. a minha cerveja esquenta no balcão empoeirado. um ônibus lotado levanta toda a poeira que cabe num pulmão. o moleque da grade canta com a pipa na mão... levantou poeira...

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

1904...

pulo do bonde. desço a ladeira com as mãos nos bolsos. assoviando. ele me pergunta: você está assobiando, porquê? digo: não sei. está feliz? pergunta. respondo. talvez... diz: talvez, você está assobiando, e não sabe porque está assobiando? eu digo: tudo bem, talvez o fato de eu estar assobiando não seja tão importante assim, entendeu? ele diz: então você está me dizendo que é um bobo alegre? não, só que existem coisas mais importantes que isso. a revolta nas ruas... sei lá! e você acha que com toda essa náusea, com todo esse medo, e essa sensação de sufocamento que a sociedade nos dá, como se alguém estivesse com as duas mãos colocadas sobre nossa garganta, ainda exista motivo para se andar assobiando cançonetas populares, por aí? eu digo: cara, se isso te irrita tanto assim, eu não assobio mais, falou? muito obrigado, senhor, com licença, passar bem. e ele seguiu com o seu chapéu e a sua bengala de escritor famoso. entrou na rua do teatro.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Alice no País das Maravilhas...

Alice pergunta ao segurança com toda a educação. vai ter de dar a carteira de identidade? o segurança do local diz com ironia, sim, e ainda vai ser revistada! é uma casa famosa onde se toca jazz de raiz universitário. Alice toma chá para ficar mais tranquila. o centro boêmio e histórico foi revitalizado depois de uma novela das seis. um pouco antes da cidade ser eleita sede dos jogos. Alice olha para o resto da fila cheia de japoneses. brasileiros. americanos. italianos... faz um escândalo, e berra: é lógico que eu vou ser revistada neste país! com os olhos em brasa. vermelhos. balança o black power com todo o poder. por ser da sua cor, seu cretino! qual o nome do filme? Alice No País Das Maravilhas!

domingo, 6 de outubro de 2013

Programa de Domingo...

rola um louvor na maquininha de música. aquela hora não tem ninguém na rua. não, aqui, neste lugar, ermo. ela atravessa. está com um salto que não combina bem com a sua saia rendada. cheia de babados de festa de quinze anos. o salto branco, também, não. a pobreza é uma tristeza. o andar desengonçado. a gordura da comida grudada em nossos óculos. em nossas casinhas. assim como os canos de descarga dos caminhões estão enfiados em nossas narinas. o centro da cidade abandonada é assim. a poeira pinta todas as paredes de cinza. a menina do outro lado da rua está sentada em frente a uma casinha. sentada numa estrutura de cimento feita para barrar a água da enchente. a tevê ao fundo. a porta de madeira entreaberta exibe o programa de domingo. é um programa apresentado por um rapaz louro. e afetado. é domingo na zona...

sábado, 5 de outubro de 2013

...Pra Todo Mundo!

acorda no escuro. beija a mulher que diz: quero dormir! beija o bebê que produz o som de quem não quer ser incomodado. na sala vê a luz do aparelho do filho adolescente que cobre a cabeça com um lençol. sons de teclas. diz: bom dia... o filho não escuta. na rua da favela diz a um policial: bom dia... fica no vácuo de novo. o cara da plataforma diz: pô... tá foda esse trem atrasando todo dia... encontra o amigo de infância. por educação, pergunta: e aí? o amigo responde: tá foda... e começa a falar mal do trabalho. da mulher. de toda a família. do time. do governo. chega ao supermercado. encontra o colega na escada. com o aparelho em uma das mãos, antes dele abrir a boca, sem tirar os olhos do aparelho, o colega diz: hoje tá foda... ele irritado responde: tá foda pra todo mundo! e pensa, será que eu sou o único norueguês que vê isso!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Em Frente ao Buraco!

o segurança em frente a loja. o camelô desmonta a barraca de CDs e DVDs originais. ela olha para o meu black. para o meu casaco que parece ter saído de dentro de uma garrafa. pra minha cara de chapado. pros meus olhos vermelhos e gigantes como os do Lobo Mau, e me pergunta sobre o papelão em frente ao banco. fico em silêncio. ela estala a língua irritada, e diz para o menino: eu, hein... parece um retardado! eles desistem, e vão embora. graças a Deus. eu penso, quem me dera fosse um catador de papelão nesta cidade! um carro passa tocando funk. outro policial me pergunta: ocupação? e respondo: se disser escritor o senhor vai acreditar? ele me olha com pena, e me libera. acho que eles temem mais os terroristas. eu espero por minha mina em frente ao buraco de uma das estações do metrô de Nova Iorque. e o cara do transporte alternativo berra em nossas orelhas: Brooklyn, Bronx, Manhattan, Harlem!

domingo, 29 de setembro de 2013

O Julgamento...

mete a mão no bolso. gesto rápido. frio. cara suja. cabelo ensebado. alguém faz cara de nojo. dá um empurrão. perco o rastro. aperto o passo. vai tudo que cabe em seu trapo. a multidão fica hipnotizada com o espetáculo. seguro o seu punho. ela se desvencilha, e diz: eu quero assistir até ao final! eu olho ao nosso redor, e respondo: por hoje é o suficiente! longe dali ela me mostra. olha o quê eu trouxe para o vovô! e me exibe feliz um pedaço de pão. sussurro: esconde isso! ela me diz com pesar... o ladrão vai ser executado...

sábado, 28 de setembro de 2013

Sem Anestesia, Michael Jackson!

sem anestesia fica difícil Michael Jackson. encarar o mundo assim. frente a frente. cara a cara. botar a cara. bater de frente. sem religião. sem grana. sem ideologia. sem nada. no puro. no duro. careta. sem tomar um remedinho. sem beber um negocinho. sem fumar um Hollywood. botam na gente sem vaselina. a gente enlouquece. no pelo. liso. sem preservativo. sem uma musiquinha romântica. num vê essas passeatas que criaram toda essa expectativa e não deram em nada. vou ter que desligar, Michael Jackson da Silva! lá vem o carcereiro! pego o celular e coloco na entoca. onde alguém me disse que era melhor para alguém não ver.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Fim da Privacidade...

fotografa. grampeado. leitura labial. pede a Deus uma namorada. tapa a boca. escuta. sendo filmado sorria. cinco contra um. descasca a banana. ela também. mão direita. mão esquerda. na batida do funk. no ritmo do axé. tira a meleca. põe a mãozinha na boca. cospe a bebida. coça o saco. traje de banho. praia de nudismo. clube das mulheres. termas. em plenas sanitas. assistindo filmes impróprios para menores. sem as peças íntimas. com as peças íntimas. lendo contos proibidos. entrando em hotel. saindo de hotel. dançando sem roupa. medalha no bolso. malote na cueca. fuzil na mão. posa com bandido. vai na festa. mulher de silicone. mulher maravilha tecnológica. no flagra chama o outro pra fumar. choque. cacetada. tiro. gás. mata. esfola. pisoteia. corrompe. é corrompido. rouba. é roubado. preso na chaminé. ela é interrompida no meio da cópula em que perdia o velcro. enquanto produzia um ser mutante num coito avançado. uma espécie de ciborgue. talvez um ser alterado geneticamente. descendente. dependente químico. tóxicos. agro-tóxicos. agronegócios. agro-indústria. drogaria. farmácia. boteco. boca da estagiária da casa rosa no estacionamento.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Um Mergulho na Noite Chinesa...

ele balança o bebê que parece um embrulho que sorri. eu digo: posso segurá-lo um pouco? ele me passa o bebê que entorta os lábios, e chora como quem vê uma assombração. ele tem olhos grandes e luminosos. eu me viro e digo a sua mãe: acho que se assustou comigo... o moleque não gosta de mim! ela diz: ela não tem do que gostar... e o pega e me passa. é manhã. ele quer é farra... balança ele! balanço o bebê que volta a sorrir. olho o seu rosto e penso, meu Deus, parece um homem da minha família! pela primeira vez vejo os passos do outro. e grito em êxtase a sua mãe: ele anda igual ao pai dele! a mãe responde num muxoxo: todo mundo fala isso... fico assustado com a herança genética. o outro me puxa pela perna como quem diz querer participar da festa. e vejo o seu sorriso lindo de banho de chuva. o outro diz: o meu pai só que andar de táxi! o meu pai quer andar de táxi o dia inteiro.... só porque recebeu hoje! então todo mundo para no ponto de ônibus. eu me lembro da Pais e Filhos da Legião Urbana, e da All You Need Is Love dos Beatles... e beijo cada cabeça e digo. inclusive para o embrulho que dorme. te amo. o meu coração palpita ao caminhar para casa e saber que ela está me esperando. desço a ruazinha que termina com o muro. e dou um mergulho na noite chinesa...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Máquina de Escrever...

ela fuma, e diz: tem aquela festa! ele fuma, e diz: vai rolar aquele evento... ela fuma, e diz: aquele lançamento! ela fuma, e diz: e mais o sarau... ele fuma, e diz: vai tá todo mundo lá! ela fuma, e diz: vamu fazê muito contato... ele fuma, e diz: ainda tem a reunião... ele me pergunta: e você vai? do canto da sala eu berro até sufocar o som do aparelho. vou continuar escrevendo... e peço: tranquem a porta por favor! eles saem... e ao fechar a porta me atrapalham. penso, foda-se. batuco nas teclas da máquina. desligo o som. a pior coisa que existe para um escritor é o silêncio.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Fim da Novela...

um cara é atropelado por uma mulher que se apaixona por ele. uma esposa descobre que na verdade é irmã do marido. o casal principal tem um relacionamento vai e vem. um personagem é assassinado e todos os personagens são suspeitos do crime. dois irmãos brigam por causa de uma herança. dois irmãos brigam pela presidência de uma empresa. alguém vai se revelar viado ou sapatão. uma bicha afetada vai fazer fofoca. a empregada preta e pobre vai se meter na vida da família rica. alguém que todo mundo pensava ter morrido vai reaparecer para se vingar. uma irmã vai tentar roubar o namorado da outra. no último capítulo o assassino é descoberto, e o casal principal se casa numa cerimônia com todos os personagens. eu digo, não posso me esquecer do filho rejeitado. ele grita: ele pode ser filho da empregada! falo: eu não havia pensado nisso antes... afirmo: fechou. ele diz. toca aqui. bato em sua mão. bicho, dú caralho! dú caralho, bicho! foda! ele dá um giro. uh! já pensou enviar essa porra pra televisão? eu digo: mas a minha intenção é essa!

domingo, 22 de setembro de 2013

Que Horas Começa o Nacional Kid?

acorda no cubículo. apertado. acende o primeiro do dia. liga a tevê. olha para a garota que está conversando com uma de suas amigas. pensa igual alguns homens pensam... como as duas! a garota diz: gostou do meu bumbum? a outra fecha as duas mãos, e responde animada. ih, garota, adorei... você tem it! (aqui ela balança a cabeça) que sex appeal! depois pergunta: fez onde? ela conta. esfrega na cara da amiga. no Doutor Igor Maguari! diz a frase como uma máxima. e a amiga responde: ah, ficou lindo... você está cheia de bossa! e dos meus seios, gostou? está de arromba! a outra responde. a garota diz num muxoxo. só achei o da esquerda um pouco torto... a outra diz: que nada, você está um estrondo! eu, por exemplo, quero comprar um cérebro novinho, na caixa, lacrado! ele coça o saco. desliga a tevê. e diz: porra, têm uns filmes de ficção que são mentirosos pra caralho! que horas começa o Nacional Kid?

sábado, 21 de setembro de 2013

Acumulador Compulsivo Virtual...

John Smith com apenas 15 anos recebeu o diagnostico de acumulador compulsivo virtual. em sua casa todas as máquinas são infestadas de vírus. a mãe do John, Mary Smith, diz que precisou contratar um técnico para fazer manutenção semanal. a família sofre com o problema. são inúmeros programas e aplicativos que John sabe que nunca irá usar, ou músicas que nunca irá ouvir. pois considera velha qualquer canção que tenha um ano. mas seriam necessários anos, e mais anos, para que John ouvisse todas as músicas que estão em seus aparelhos. as fotos nunca serão reveladas. sobre os livros John admite. não gosto de ler. mas eu baixo porque todo mundo viu o filme. tá lendo. comentando. sobre os filmes John precisaria mais do que seus quinze jovens anos para assisti-los todos. na mesma velocidade em que tecla com o polegar esquerdo, John envia fotos para as redes sociais com o direito. fico surpreso: uau, como você consegue! começo a dizer: John, e se talvez você tivesse vivido... ele me corta. já ouvi esse papo, mas acho que hoje em dia as coisas são assim. faço aquilo que a maioria das pessoas já fazem normalmente, digamos, um pouco mais. eu insisto: isso não te incomoda? John responde: nas festas é um saco. pois eu não vivo. apenas registro o momento.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Os Órfãos do Mangue...

quando a antiga Zona do Mangue foi removida do centro perdeu todo glamour. e se transformou no que hoje chamamos de Vila-Mimosa. o Mangue era frequentado por escritores, músicos e jornalistas. e lá se encontravam alguma gringas fugidas da guerra, ou não. dizem que muitas ex-prostitutas daquela época, após remoção forçada, sucumbiram. como acontece hoje com pessoas que perdem suas casas para a construção de mais estradas. os terrenos são avaliados. não o imóvel. o valor sentimental não tem valor algum. chega alguém, e fala: você tem dias pra cair fora! ela diz. DEMOcracia é isso! deve ser o menos mal... num cortiço do centro da cidade converso com dois velhinhos centenários para a gravação de um filme sobre filhos de ex-prostitutas do Mangue que morreram deprimidas. o seu Bob de cabeça branca, brinca. dois filhos de Maria, um de Mary Jane, assim mesmo, em inglês, coisa de pobre, ele diz. Peter tem olhos claros e fala, eu sou filho de Maria Joana! e conclui: que eles acabassem com a zona! que acabassem com a prostituição! mas que não acabem com nossas mães... pois não temos nada com os problemas dos outros! os órfãos do Mangue olham tristes para a parede do muro em frente.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os Homens do Vagão Feminino!

ele se equilibra e me diz: ler é melhor que tudo. ler é melhor que escrever. vai por mim, escritor. eu digo: tô ligado! quando passa um cara gritando. dois mil louvor num DVD! uma música toca no último volume. o barulho de ferro velho se chocando. alguém grita. o fim do mundo está próximo! um novo grito: costelinha de porco! uma mulher diz: hoje eu mato o meu marido. ah, se não mato! picoto ele todinho e ponho dentro da mala! ninguém vai saber que fui eu... balança as pernas. pulamos na estação. ele diz: ler é mais importante do que ficar estudando 2, mais dois. faz sinais com as mãos. aponta com o nariz. olha esses caras que viajam todos os dias no vagão feminino. você acha que se eles tivessem lido alguma coisa em suas vidas fariam isso? estala a língua com insatisfação. que nada! faço cara de dúvida. nos despedimos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Na Boca da Favela...

o velho Ernest pergunta ao moleque: tem mulher nessa punheta? sem tirar os olhos do aparelho o moleque diz: várias... o velho Ernest, tosse, cospe e diz: vocês são do piru, vocês são do piru, mesmo! vô te contar, hein! num canto fica o pessoal da porrinha. na mesa do meio o pessoal do carteado. que é o pessoal do velho Ernest. que faça chuva, ou faça sol, está ali. o velho Ernest diz: dormem a pamparra... é um entra e sai danado. calor. alunos. sexta-feira. feirinha. funk. crente. remanescentes de religiões afro. o velho Ernest diz: foda-se. eu contribuí com a previdência social a vida toda. com a providência divina. paguei por tudo o quê me foi imposto. tenho direito de tomar uma cerveja sossegado! essa preta vai falar na casa do... cigarro. hambúrguer. refrigerante. barraca de fruta. o velho Ernest lembra do tempo exército quando visitava as favelas dos amigos, mas isso foi antes da guerra. reclamando o velho Ernest diz: boca de favela americana é tudo igual! um policial aparece na esquina e fala num radio. tudo tranquilo na entrada da favela!

sábado, 14 de setembro de 2013

Sábado, Sozinho em Casa!

consegue se livrar da mãe. dois dias. evento da igreja. abre os olhos. uh, hoje é meu dia! pensa em cagar de porta aberta. porque não? sozinho em casa, pô! dá um chute na porta. se limpa. arrota. e peida sem necessidade. anda de cueca pela casa. diz para si: quando quiser tomo banho! ignora o Nescau preparado pela mãe. dá uma mordida no pão. tô sem fome. como quando quiser! pega o telefone. liga para o cupincha. diz: e aí, tô sozinho em casa... arruma umas putas pra trazer pra cá... (acende um cigarro!). o outro, como quem toma um susto diz: que isso, rapá! tá pensando que eu sou agenciador de puta? num prometo nada, não, mas vô tentar! ele insiste por causa de uma história boa sobre essa cara. vai para a internet ver se tem uma puta online. tem uma porção. mas nenhuma delas dá ideia para ele. as horas passam. o outro não aparece. pensa, foda-se, ainda tenho dinheiro para sair. conta a merreca deixada pela mãe em cima da mesa. dá pra tirar uma onda na festa. e arrastar uma puta para casa. quem sabe. mas mal sabe ele, que no final da nossa estória, o mocinho chega a casa de manhã, sozinho. bêbado. toca uma punheta. e vai dormir.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Uma Garrafa de Big Apple...

passa um viado... um deles diz, olha ali a tua menina, olha ali! e força as risadas. passa o gordão... ele pergunta: e aí gordão, quando você vai arrumar uma namorada? o gordão responde: quando você arrumar um trabalho! ele faz cara de decepção, e diz, estalando a língua: ah! passa a magrela... ele diz: vem cá, magrela, feia pra caralho! a magrela lança o dedo. lá vem o retardado da rua... ele faz o gesto de quem tá de olho no retardado. o outro digita rápido, sem tirar os olhos do aparelho, diz: esse maluco não tem o que fazer da vida, não? fica zanzando o dia todo pra lá e pra cá! passa a gostosa da rua... ele tira os olhos do aparelho, e diz: gostosa pra caralho, puta que pariu! o outro diz: gostosa é o caralho! isso é uma vadia, o namorado dela é um bucha... a gostosa ignora a existência dos dois. ele digita. sexta-feira, qual é a boa? o outro diz: sei lá, num sei de boa, não aí. maior tédio, aí. maior tédio. ele começa a caminhar com os dedos ainda em ação. o outro acompanha automaticamente, e puxa seu aparelho do bolso. a esquina fica vazia. ele diz. vamos ao supermercado comprar uma garrafa de Big Apple.... depois a gente decide o que fazer... ambos mantêm os olhos em seus respectivos aparelhos.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Walter Mosley e Chester Himes na Penha!

Walter Mosley diz: essa favela tá um saco, tá parecendo um campo de concentração... cheia de soldado... Chester Himes responde: tá parecendo é um quartel, isso sim! daqui a pouco eu vou começar a bater continência! ele diz isso, e ri sozinho. eles voltam para o assunto anterior. Walter Mosley diz para Chester Himes: não me venha com essa de que sabia que o Adriano seria craque desde o Campo do Ordem, Joe! (não sei o porque desses apelidos.), dizer isso aqui na Penha, é o mesmo que dizer que apostava na estrela do Zeca desde a época do Cacique. todo mundo fala isso! Chester Himes diz: Joseph, você é um velho que fala de Carlos Lacerda! Eu digo a Walter Mosley: dizem que Lacerda era um bom orador... Walter Mosley dá um tapinha em minhas costas, e diz: tá por dentro hein, rapaz? Chester Himes fala: daqui a pouco esse velho vai querer falar do tempo em que o Tenório mandava em Caxias. Walter Mosley grita: mas eu morava lá! Chester Himes responde, num disse? vou cair fora! esse papo vai terminar na trama do Getúlio com o Prestes... Walter Mosley me aponta o espelho. gostou do corte? saindo da barbearia Chester Himes levanta o Meia-Hora para cumprimentar uma senhora que passa na calçada com bolsas de feira. ele diz: tudo bom, com a senhora?

domingo, 1 de setembro de 2013

Eu Queria Ser Um Vândalo...

ele me pergunta: qual a diferença de vagabundo pra desocupado? eu digo: acho que o desocupado é o desempregado. é o cara que tá atrás de um trampo, tá ligado? já o vagabundo, esse não quer nada com o basquete! ele me pergunta: então você é vagabundo, ou desocupado? digo a ele: não sou vagabundo, nem desocupado. sou, um artista! (arregalo os olhos e levanto o dedo), continuo, você não entende isso porque você acha que todo artista é famoso. o jornal na mão esquerda. ele fica o tempo todo se balançando. a cinza imensa no cigarro. a chama alcança o dedo. ele pergunta: porque esses cretinos cismaram com esse tal de cheirinho da loló? porque esses putos não fumam maconha? quando ele diz cretinos está se referindo aos adolescentes. eu digo: talvez seja mais prático. maconha tem fumaça. chama atenção. dá trabalho. respiro. normalmente esse pessoal já cheira outra coisa, ou bebe. agora superexcitado me pergunta aos gritos: qual a diferença de vândalo para arruaceiro? pigarreio, e digo. o vândalo é o cara que quebra as coisas, que dá prejuízo nos outros. os arruaceiros devem ser aqueles caras que ficam jogando lixo no meio da rua. desisto. ah, sei, lá! ele diz: eu queria ser um vândalo... quando chega o guarda do manicômio judiciário, e diz: vão bora retardados!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ele Fala Brasileiro!

ele disse: ele veio aqui.... tem que vê... humildão, ele... num foi, Charles? eu disse: foi... ele disse: ele é lá da Itália (e fez um gesto para longe). eu disse: é, ele é italiano. balançando as pernas. ele se mexeu, deu um tapa no braço do outro, e disse: ih, ele é maneirão! ele fala até  nossa língua, ele! sentimos um vento frio. cruzei os braços. ele pôs a mão no rosto e disse: ele fala brasileiro. eu disse: é, ele fala brasileiro. depois fiquei pensando porque ele disse ele fala brasileiro. será porque ele é de algum grupo secreto ultranacionalista, ou porque ele segue a lógica do brasileiro fala brasileiro, português fala português, alemão fala alemão, e por aí vai. quando ele grita: evém o busão! nós, pulamos, dentro. a minha mãe diria: você entendeu o que eu falei, não entendeu? e logo após ela balançaria a cabeça.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ninguém Vê Nada, Todo Mundo Filma Tudo...

a hora do beijo. Antônio Fagundes se aproxima da Ângela Vieira. é cena que Hollywood produz, duas, ou três vezes ao ano. vai rolar, o beijo. pronto. todo mundo levanta o celular, o computador, e seja o quê for em direção ao casal. você não vê mais nada. apenas as costas dos outros que não conseguem ver o planeta a olho nu. é assim na hora do batizado. é assim na hora do aniversário. é assim na hora da formatura. todo mundo está ocupado registrando o momento. num show que fui assistir tive a impressão de que todo mundo era jornalista, ou celebridade, porque parte do público estava filmando o show, e a outra parte tirando fotos e enviando para o ciberespaço. filmar e assistir é a mesma coisa? uma vez assisti ao vídeo de uma mulher se afogando, um cara ajudava com uma das mãos, e com a outra segurava a câmera. quanta briga e estupro podiam ser evitados se o cinegrafista amador esquecesse o YouTube. o gol do Fio Maravilha da música do Jorge Ben Jor, hoje, teria sido filmado, mas não, assistido.

domingo, 25 de agosto de 2013

A Geração dos Polegares Tortos...

o neguinho tá sentado na calçada da esquina embaixo da marquise. ele cruza as pernas longas como se estivesse em casa. o sorriso congelado no rosto. o moleque branco de óculos escuros tecla com os polegares que parecem mais longos, e ágeis. ele faz parte da geração dos polegares tortos. alguém passa de bike e grita alguma coisa pro neguinho que responde: viado, tu tá me devendo. aquela aposta! pensa que esqueci... o neguinho balança o dedo de forma negativa. a bike desce a rua. quando chega esse cara. tem isqueiro? o neguinho tira o isqueiro do bolso, dá ao cara, e continua em silêncio. o isqueiro prateado faz uma enorme chama. o cara fuma. devolve o isqueiro. o neguinho tá sem camisa, de chinelos, de bermuda, e o sorriso congelado no rosto. o cara fuma. o cara fala. domingo é chato pra burro, aí! o moleque branco tecla e responde: nada pra fazer, aí. na net. no Face. mó, tédio. o cara fuma. o cara fala. que horas é o jogo, hein? o branco tecla e responde: sei de jogo não, aí! e agora passa a teclar com apenas um dos dedos. e diz sem deixar de olhar pro aparelho. vou sair. dá um tapa na mão do cara. e um tapa na mão do neguinho. tecla atravessando a rua. ele diz: tenho de ir almoçar com a minha avó. o neguinho diz: ah, moleque, vai comer a gororoba daquela velha?! o branco diz: padrão Fifa. o cara fuma. o cara fala. Almoço de domingo... o neguinho sorriso congelado.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Guia de Sobrevivência no Centro...

não tem nada. foi atrás de alguma coisa. 45 graus na Presidente Vargas pira o cabeção de qualquer um. pão com manteiga e café no estômago. tontura. luzinhas azuis, e vermelhas. envelope pardo debaixo do braço. longas caminhadas. intestinos relaxados. dor de barriga. MacDonald`s. você finge que está falando com alguém no celular que está a sua espera no segundo piso. tampa pro banheiro. o carinha de uniforme nem vai notar. o sanitário do CCBB tem cheiro de eucalipto. esquece restaurante, e bar. esses caras não tem coração. pastelaria de chinês, nem pensar. agora, e o cafezinho? cai pra um sindicato ou pra uma associação. ainda mais se for algo cultural, sempre rola um pessoal marxista, meio cristão, que fala de ditadura, usa barba, e é magoado com o PT. mas o melhor de tudo, socializa o café. pergunta sobre futebol, eles adoram falar sobre futebol para se sentir parte do proletariado. faz alguma pergunta imbecil sobre alguma coisa que não se resolve ali, e cai fora. o cafezinho do Ecad era o melhor que existia. não sei se ainda é assim. mas alguém sempre grita: o podrão no Carioca, dois real, tô partindo pra lá! e é aquela correria. um atropelando o outro. botando o pé na frente pro outro cair. todo mundo com medo que acabe o pão. é aí que você vê o caráter do brasileiro. filipeta de puta. telefone público com foto de travesti. profetas enlouquecidos. você pergunta o preço que lê na placa para ter certeza. confere de novamente se as moedas ainda estão no bolso. o vendedor esfrega o valor na sua cara, como quem diz, eu sei que você só tem duas moedas e mais o RioCard! a pergunta: linguiça, ou salsicha? ouriça os pombos com quem você vai travar uma batalha por causa das batatas-palha. caju, ou maracujá? caju que maracujá dá sono, você diz, mas é mentira, é porque o de caju é mais aguado. se conseguir vencer os pombos e ainda tiver tempo antes da entrevista, ou da reunião, eu te dou uma dica. põe o traseiro num banco do Campo de Santana, e conheça o tédio de verdade.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O Poster!

o que está na janela fala: pô, que calor chato pra burro! dali se avista o cais. o cheiro da maresia podre empesteia os pensamentos. ela pinta as unhas em cima da cama. pôs um velho espelho quebrado próximo ao pé. a pintura da parede é verde. o esmalte é vermelho. ela diz: vai se fuder, maninho, calor do caralho! o outro que tá na rede enrolando tabaco numa Colomy, diz: pô, olha, seu mano, esse calor tá de fuder, mermo, ó! no radio alguma noticia. atrás da menina que pinta as unhas tem um poster do Luan Santana. numa noite em que o quê está na janela, que é marido da menina, chegou bêbado em casa, disse que ia tirar o poster do Luan Santana dali. foi uma confusão danada. dizem que até que uma pá de voou. ele disse: isso não canta, nada! isso, é um fresco! ela disse chorando, bêbada, você tem que me aceitar do jeito que eu sou! aos poucos a ressaca passou. os ânimos foram se aclimatando ao marasmo. e o poster ficou por ali. hoje não incomoda ninguém. ele fuma, bate a cinza do cigarro na janela, e fala: lá vem véio, ó! desce a rua na maior correria. pô, seu mano... quase que não te pego, ó! adianta um frila aí... o velho puxa um cigarro e dá a ele. depois o velho faz a mesma pergunta de sempre: e o nosso time? ele diz: eu acho que vai, ó, esse ano, num sei não, nós vamo arroxa eles aí, ó! então o velho desce a rua satisfeito.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Sossega Leão é Proibido?

ele disse: mostrou na televisão um cara zoando a Brasil, atrapalhando o trá-fe-go. eu disse: eu vi. tinha que dar um sossega leão, nele... ele me olhou como se eu fosse contra os direitos humanos, e essa treta toda. eu disse: sossega leão não é só porrada, não. uma vez fiquei internado na enfermaria de um hospital público. e aí tinha um velho que toda madrugada as 2 em ponto, ele começava a gritar que o filho era isso e aquilo, aquela treta dos velhos. e ninguém conseguia dormir. mas tinha uma enfermeira de cabelo vermelho, diziam as más línguas que ela cheirava éter no banheiro para suportar o plantão. ele com sotaque carioca me pergunta cantando... mentira? sério! quando era o plantão dela o velho começava. o que é, que há?! o meu filho fazer um papelão desses... me deixar no meio dessa porção de gente desclassificada! eu sou funcionário público, bacharel em jornalismo, ele erguia o dedo, cuspindo e concursado! aí vinha a enfermeira. ela sempre tava com uma coriza, e ficava mexendo no nariz o tempo todo. ela dizia toda ouriçada, balançando os dedos, vou dar um sossega leão, nele! ela ia lá dentro e voltava com o líquido que despejava naquela bombinha. o velho dormia como se fosse uma donzela. ele me pergunta: mas o sossega leão é proibido? eu digo: não sei. nós descemos do muro e vamos caminhando pela linha do trem.

domingo, 18 de agosto de 2013

Tem Cura Para a Compulsão Sexual?

o chileno está no fundo do bar, ouvindo a maquininha de música que toca Raul Seixas pela centésima vez, ele comprou cem fichas. a mesma música, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás. este chileno veio paro o Rio junto de uns peregrinos que vieram atrás do Papa, e acabou ficando por aqui. hoje ele trabalha na pastelaria de um chinês, e aluga um barraco na favela do Mandela. estou num canto do boteco com o meu violão encostado, e vendo a cerveja esquentar a minha frente. o casal ao lado briga por causa de uma revista que está em cima da mesa, e que tem uma matéria sobre um ator que diz ter compulsão sexual. ela diz: não se tem cura para a compulsão sexual. depois balança a cabeça. eles não dormem já faz uns dois dias. a garrafa de Big-Apple jaz na mesa. o namorado sacode o crânio e dá um trago no cigarro como quem diz que não se conforma com a assertiva. a menina com o cabelo tingido de rosa parece inconformada como um torcedor de futebol ao ver a marcação de um pênalti contra o seu time. ela se vira para o rapaz do boteco que passa o pano em cima do balcão, e pergunta: tem cura para a compulsão sexual? ele diz: como é que eu vou saber? eu sou apenas um atendente de boteco! aos poucos o Raul Seixas morre ao fundo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aí, Qual Foi Daquele Neguinho?!

se liga, aquele neguinho foi lá na reunião no morro lá, nós recebemo ele bem, certo. porque o amigo tinha dado o papo que o mano era maneiro. então nós recebemo ele bem, porque tu sabe que cum nós num tem esse bagulho de miséria, mesmo. que sempre vai ter um que vai salvar uma carne ou um baseado, que tu sabe que nós gosta de fuma nossa droga mermo, tá ligado? mas aquele mano levou o gringo, e o gringo ficou falando tudo enrolado, e nós num entendendo nada que o gringo tá falando, tá ligado? aí ele começou a falar do amigo. e disse que o amigo era muito fechado e que era isso e aquilo e que o amigo podia tá ganhando dinheiro com isso e com aquilo. mas que o amigo era devagar. aí nós se bolou com ele, e nós falamo, você num pode falar do amigo. porque se você tá aqui agora, desenrolando, trocando essa ideia com nós, é por que foi o amigo que abriu essa brecha pra você tá aqui. e nós já numa de partir pra cima dele, eu disse: o amigo é igual nós. a mesma merda. ele fica aí onde você tá sentado. foi esse papo que eu dei nele, e ainda disse pra ele se adiantar. porque se não a madeira ia cantar pra cima dele. interrompi a história, e disse: não. paz. por favor. ele perguntou: e, qual foi daquele neguinho?! eu disse: deixa ele pra lá. pus as mãos nos bolsos.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Brigitte Bardot...

ela era a cara da Brigitte Bardot. eu esperava dentro do carro. tinha certeza de que aquela seria a noite mais maravilhosa da minha vida. estava mais cheiroso que filho de barbeiro. levantei para pegar um ar, e fumar um cigarro. e também para não amassar o meu terno cheirando a lavanderia. trouxe todos os mimos. o chocolate. as flores. uma joia, uma correntinha de nossa senhora... e aconselhado por uma vendedora atenciosa, que me perguntou tudo sobre ela, trouxe uma blusinha de seda. disse a vendedora. ela se parece com a Brigitte Bardot. a vendedora fez cara de quem ouve isso todo dia. reafirmei, ela é a cara da Brigitte Bardot... bato com o sapato bicolor e engraxado na calçada. nunca saio sem dar um brilho no pisante. e hoje fiz questão de chamar o melhor barbeiro da família. estou com o meu melhor terno. não amassei as flores. o hálito está em dia com e trago a bombinha de própolis, caso exista alguma emergência. o cabelo engomado. ela surge vinda da porta. cambaleando. vejo a meia calça branca. ela não sabe andar de salto alto. parece bêbada. traz um casaco no braço. desligo a fita do Charles Aznavour. ela diz: matei o meu marido! e mostra a arma. o sangue espirra no meu terno novo. que droga. parte do sangue do marido dela espirra no meu terno novo. não gosto de ir à festa nenhuma de terno sujo. ainda mais com mancha de sangue. depois para sair é uma merda. tudo porque ela se parece com a Brigitte Bardot. tudo por causa da droga da Brigitte Bardot. ela bate o pó na mão. cheira. e muda para uma estação que toca música clássica.

A Banana Mecânica...

o Cadelão olhou pelo retrovisor. eu tô a fim de comer uma pizza. pôrra, é isso aí. tô a fim de comer uma pizza. hoje é o meu aniversário! tenho direito, pôrra, tenho direito! eu disse a ele tentando amenizar as coisas, Cadelão, a gente não tem dinheiro pra comprar pizza. o Alexinho disse. a gente pode não ter dinheiro. mas a gente tem uma boceta pra servir de isca, e um ferro. levantou a camisa Hering mostrando o trabuco. olhei pra Emma Bovary que chorava no banco do carona. Cadelão passou os braços em suas costas, e disse: num é, meu amor? pode deixar que hoje você vai chupar, e vai dar pra todo mundo. vai ser currada! vai ser divertido. eu disse ao Cadelão, sabe o que acontece, Cadelão, a gente pode pagar tudo com o meu cartão. eu tô com o meu cartão aqui. ele disse, já fazendo a curva, deixa o cartão pra mais tarde. pro motel. nada de cartão. só pago no cash! eu disse ao Cadelão. vamos liberar a Emma. ele me disse: vai dar pra trás, agora? liberar é o caralho! vai dar uma de escritor lá pras suas negas, filho-da-puta! insisti. Cadelão, ela não tá com vontade! ele entrou no estacionamento de uma pizzaria e ordenou, desce todo mundo. tinha um japonês num balcão. Cadelão disse: eu quero uma pizza portuguesa gigante, e a maior Coca-Cola que existir. o japonês disse: não tem mais. vou fechar. acabou tudo. quando o Cadelão puxou o velho pra fora do balcão pelo cangote. Alexinho me apontou a pistola e disse: se fizer alguma gracinha vai morrer junto! Emma chorava de cabeça baixa num canto, evitando olhar a cena e tentando sufocar o choro. enquanto Cadelão pisoteava o velho que gemia, e espirrava sangue. quando cheguei em casa o sol havia acabado de aparecer. no trajeto de volta viajei encostado na janela, e me arrependi de ter saído de casa naquele dia.

A Cela...

a menina loura que matou o pai está encostada na grade da cela enquanto brinca com um boneco de nome Pequerrucho. ela mesma o confeccionou nas aulas de artesanato. é bonita de perfil. já chegou a conclusão de que não valeu a pena matar o imbecil. mas pensa que a melhor coisa é esquecer tudo o que aconteceu e pensar daqui pra frente. hoje a situação dela é a prisão. a outra loura que picotou o japa também se arrepende de ter matado o infeliz. ela enxerga a cadeia como um lugar por onde se deve passar. um lugar onde algumas pessoas vivem. ela olha a menina, com o boneco, que dá um sorriso. sente ternura por ela. a morena de óculos que foi acusada de matar a enteada empunha a bíblia. em seu desespero ela diz. vamos começar a oração. a menina traz o boneco e brinca com ele como fosse um ventríloquo. ela diz, tia, vamos orar. as três riem. a morena de óculos vê a atriz na capa da revista, e pensa que aquele cabelo curto, e aquele visual louro não combinam com ela.

domingo, 4 de agosto de 2013

Lolita, Stanley Kubrick, Adrian Lyne e Vladimir Nabokov...

o filme de Kubrick se distancia do livro. ele apresenta o Humbert Humbert verdadeiro. sem a máscara social. conta os podres que Humbert Humbert só contaria a si mesmo. extrapola a imagem que Humbert Humbert cria das pessoas. no filme de Kubrick tanto Humbert Humbert quanto a mãe de Lolita são histriônicos. gosto do clima sombrio de thriller psicológico. do nonsense. aquela cena do atropelamento parece Hitchcock. gosto do toque noir. mas o Humbert Humbert de Adryan Line é mais próximo da descrição que o personagem faz de si mesmo. no filme de Kubrick, Petter Sellers impressiona já na primeira cena em que aparece dançando aquela música formidável. assim como Lolita. Peter Sellers tem todo seu ar canastrão. na cena do hotel tortura Humbert-Humbert psicologicamente. vi uma entrevista em que Nabokov evitou falar de Lolita de maneira mais profunda. ou ele não quis se limitar a falar de Lolita. também não sabemos que tipo de constrangimento sofria ao ter de falar de Lolita. o livro parece ter superado o conjunto da obra. Adrian Lyne acerta ao mostrar Annabel - a paixonite adolescente de Humbert Humbert - pois é uma substituta para ela que Humbert Humbert busca em todas as meninas até encontrar Lolita. a Lolita de Kubrick é mais sensual. mais tentadora. como na cena antológica em que toma banho de sol. mas é uma Lolita que não dá a mínima para Humbert Humbert. é uma Lolita cruel. já a Lolita de Adrian Lyne tem uns momentos de ternura com Humbert Humbert. pode até se dizer que rola uma lua de mel entre os dois. talvez isso seja mais próximo do livro. pois de alguma maneira ela alimenta o jogo. não pode ser sempre esnobe. a cena que Humbert Humbert reencontra Lolita é a cena que mais gosto do filme de Kubrick. a noção do fracasso está ali. e novamente a memorável cena do reencontro em que fica explícito toda decadência e desespero de Humbert Humbert. doente de ciúme. É a cena que mais gosto do filme de Adrian Lyne. mas o melhor é ler o livro, assistir aos filmes, e tirar as suas próprias conclusões.

Marilyn e JFK - François Forester

Marilyn Monroe. o sobrenome é do pai substituto. a mãe era maluca. vivia internada tentando se matar. do pai verdadeiro não sabia nada. nem sabia que tinha irmãos. a guarda dela foi dada a uma família, que depois passou a bola para outra família. um dia o patriarca da família bêbado tentou abusar de Marilyn que tinha apenas 11 anos. antes da família se mudar, eles casaram Marilyn com o vizinho que a levava de carona para a escola. onde sempre rolava uns amasso. ele tinha um trabalho. um cara bom que caiu na besteira de ir para guerra. quando voltou, Marilyn sabendo do seu poder de sedução, deu um chute no traseiro do rapaz, e partiu com um cara do exército em troca de umas fotos sensuais e uns trabalhos. começou a sua escalada rumo a fama. sempre o medo de ficar maluca igual a mãe. se entupindo de remédios. uma junkie de farmácia, como diz o autor. Marilyn conseguiu entrar na alta roda prestando serviços sexuais. e dizem as más línguas que era especialista na felação. o Kennedy adorava uma rapidinha. puxou o pai. dane-se o prazer da mulher. Marilyn não quis ficar como o Joe DiMaggio que representa para o Baseball, o que o Maradona representa para o futebol mundial. Joe amava, e respeitava Marilyn, e queria que ela se casasse com ele, e abandonasse toda aquela bajulação, lavasse a sua roupa no tanque, enfim. ele queria tirá-la daquela vida. mas não era isso que ela queria. Marilyn gostava mais da glória do que do dinheiro. tinha a síndrome de Madame Bovary. a matriarca da família Kennedy era uma carola que rezava depois do sexo. uma das filhas seguia o mesmo estilo. a outra retardada passou por uma lobotomia com a autorização do pai. uma delas era casada com um ator medíocre que trabalhava de atravessador de mulheres para Frank Sinatra, e para o próprio cunhado. uma vez Kennedy perguntou ao empregado negro o que os negros queriam. o empregado disse que não sabia. e Kennedy respondeu: eu quero comer todas as mulheres de Hollywood. aprendeu isso com o pai. Kennedy era de uma família de caipiras irlandeses, machistas e antissemitas. mas eles também eram discriminados. o sonho de ser presidente pertencia ao pai, que não conseguiu alcançá-lo, passou a tarefa para o filho mais velho, que infelizmente veio a falecer. Kennedy ficou na rebarba. o seu irmão Robert posando de ministro tentava dar uma de herói e provocou a ira de mafiosos, com os quais o pai tinha rabo preso. Jackie Kennedy era uma menina atrás de grana e fama. uma esposa perfeita com a sua classe e ambição. era um casamento de fachada que o pai Kennedy mantinha aos trancos e barrancos. mas o mais impressionante é saber que Marilyn Monroe não usava tampão higiênico. enquanto homens do mundo inteiro sonhavam casar com ela que não tomava banho direito, um reles mortal abria a braguilha para ela dar uma chupada em troca de um papel melhor num filme. segundo o livro. e saber que a sua casa era suja. que ela era uma acumuladora, e que um amante uma vez ao descer da cama pisou na merda do cachorro. enquanto o povo sonha com os seus heróis, eles se divertem na Casa Branca. Frank Sinatra e Arthur Miller (ex-marido) tomaram pavor de Marilyn. Jackie odiava Frank Sinatra e seus capangas. ele era o braço da máfia entre os artistas, é o que dizem. rolava o troca-troca de casais no poder e o Kennedy era fã dessa fofocada toda. e isso tudo aconteceu numa época em que a espionagem era uma paranóia generalizada. Marilyn e seus surtos de loucura. querendo se tornar uma atriz dramática. troca-troca. até o psicanalista se apaixona por Mariyin. provando que a vida da mulher bonita é um inferno. é difícil acreditar que Kennedy tenha sido assassinado por um maluco. mas tudo acabou. vamos voltar a democracia, e esquecer o tempo em que Marilyn Monroe andava nua dentro de casa tendo surtos de loucura.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Pulp Fiction!

então apareceu esse cara aqui em casa. ele era alto, usava calças jeans e chinelos. acho que era do Recife. parecia um personagem do Amarelo Manga, ou quem sabe o Selton Mello do Árido Movie. ele tem uma banda de vários estilos, e disse que em determinados países tem McDonald`s de acordo com os preceitos dos religiosos. eu tava com aqueles caras com quem fazia teatro em Ipanema, e esse cara que tinha uma banda underground, disse: eu vou no McDonald`s. olhei pro ator politizado pra ver a sua reação. ele disse: McDonald`s é um lixo! prefiro comer no Bob`s. o cara da banda disse: cara, o McDonald`s é mais barato, e mais gostoso. o politizado disse: eles exploram as pessoas, argh! olhei pro cara da banda que respondeu: o Bob`s também. ele atravessou a rua e disse. eu vou nessa! não entendi quando aquele cara disse que o Tarantino se repetia. ele disse: vai, por mim. concordei. eu quero perguntar a ele se o Pulp Fiction não é uma obra prima. e se uma obra prima não basta para um criador. pois assim como Nabokov não era só Lolita, chegar a um livro que é unanimidade de público e de critica não é quase impossível. mesmo cravar um livro entre os mais lidos de um país. tudo porque uma vez um cara me disse: tendo MacDonald`s se come bem em qualquer lugar do mundo. independente da cultura. lembrei que ele disse isso.

Um Dia, Sabotage...

quando eu peguei o disco do Sabotage pela primeira vez, tive certeza que ia gostar daquilo. não sei porque, era a capa, os nomes das músicas. País da Fome, por exemplo, é um nome sintético. foda. do caralho, porra! resume o Brasil. conheci gente que não gostava de rap, mas que gostava do Sabotage. agora, se você não é, vai ficar de bigode na pista. dificilmente vai entender o que Sabotage diz. já teve comedia que me disse não gostar do Sabotage porque ele só falava de um "cara" chamado Brooklin. mas vai pegar frases antológicas como. desencana. a fama que matou Daiana. El Ninho na Itália, na sul polícia mata. ele é um perito em comparações, não sei quem mata mais, a fome, o fuzil, ou Ebola, quem sofre mais, os pretos daqui, ou de Angola. muitos que estão com o pensamento ao contrário. e no seu trabalho com a imagem, o meu pivete se diverte. reparo o jeito dele, quando ouve o som do rap, esquece. Sabotage vem a público falar de pó. e a gente sabe que tem muitos irmãozinhos derramado, mesmo. o Sabotage diz que tem de parar de cheirar, ele fala isso com a maior naturalidade. não deixa de ser um pedido de ajuda. sem o pó, só verdim. sou Sabotage, para ter mais humildade, só tomando Sustagen! Sabotage dispara a sua metralhadora giratória. são muitas palavras por metro quadrado. é muito rápido. é muita gíria. muita palavra cortada pela metade. Sabotage era gente boa. falava com todo mundo. conheço que gente que teve contato com o Sabotage, é unânime que o cara era gente boa mesmo no meio artístico, que é um lugar aonde a vaidade impera. é lógico que sempre existem os invejosos. vou longe, não preciso de capataz, dou meu sangue! até loki sente. é muito triste. é difícil ser feliz. Sabotage provavelmente era aquele cara que nas ruas das favelas é chamado de tio. e que todo mundo gosta. tanto os velhos quanto as crianças. Sabotage da religigiosidade afro. sobre os orixás. é de uma religiosidade brasileira... olhe por mais um nessa terra, senhor do Bonfim! sincretismo religioso. subiu para cantar num show de terno branco, e de blusa vermelha. e se vivesse no nordeste provavelmente ia falar do Padre Cícero. Sabotage fala de saudade do irmão, e das dificuldades de quem é pobre. mas fala isso como num blues. num tom de lamento. Sabotage não é agressivo. apesar da revolta é sereno. não é como a maioria de nós. por isso que para além dos palavrões. das gírias. e das histórias do crime, todo mundo gosta do Sabotage. velho, ou criança. a sua filosofia é básica, e funciona. é só fazer o bem para todo mundo ficar bem. ele tem a classe do Cartola. Sabotage deve ter tido uma iluminação na cadeia. Sabotage fez filmes. Até que um dia Sabotage ia levar a sua esposa ao trabalho, veio um cara, atirou no Sabotage, e acabou com a sua vida física. mas o Sabota já deve tê-lo perdoado.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Nicholas Cage...

Nicholas Cage caminha pelas ruas do centro. Nicholas Cage dirigi ali pela Lapa. Nicholas Cage pega uma mina que é a cara da Eva Mendes. Nicholas Cage dá uma dura num casal. e diz: eu quero um naco desse baseado! o rapaz olha para o Nicholas Cage. ele faz parte da máfia. da máfia dos italianos, tá ligado? Nicholas Cage namora a Eva Mendes que mora num daqueles cortiços do centro da cidade, esses cortiços antigos que são bucólicos durante as tardes de domingo, e tristes durante os dias de carnaval, quando ficam mais tristes pois parecem estar mais expostos aos nossos olhares, assim como os barrigões de chopp. Nicholas Cage é todo malandreado. macumbeiro. Nicholas Cage fez capoeira na juventude, e hoje ele está um pouco enferrujado. Nicholas Cage é malandro a moda antiga. se vivesse antigamente ele ia usar chapéu panamá na cabeça e andar de tamanco. Nicholas Cage desce do carro. Nicholas Cage diz: me dá o cachimbo de crack. Nicholas Cage fuma o cachimbo de crack igual aquele advogado. Nicholas Cage é do povo da rua. Nicholas Cage entra na favela e diz. eu quero maconha, e pó, eu quero maconha e pó. Nicholas Cage é carioca. deixa o radio do carro ligado numa radio que toca pagode. Nicholas Cage ouve A Patrulha da Cidade. Nicholas Cage diz rindo: enfia os vinte centavos no rabo! Nicholas Cage foi a um jogo no Maracanã. Nicholas Cage ouve o Maracanã dizendo: Nicholas Cage! Nicholas Cage ficou sentado perto da Charanga do Flamengo, curtindo o jogo chapado com o sorriso no rosto. Nicholas Cage anda bêbado pela cidade enquanto rola um blues ao fundo. Nicholas Cage vai beber até morrer. Nicholas Cage bêbado na Praça Onze durante o carnaval, ele diz. o Rio é foda, uh! Nicholas Cage ouve a música Naquela Mesa numa barraquinha de camelô, e diz para o rapaz, essa me lembra o meu avô! Nicholas Cage pega um disco do Benito de Paula de um viciado. ele diz: esse, fica comigo...Nicholas Cage vai buscar o pão com mortadela e o jornal. Nicholas Cage diz para o bandido. me dá só a maconha, e rala! Nicholas Cage passa no carro. eu atravesso no sinal aberto. Nicholas Cage balança o dedo na minha cara me ameaçando por ter avançado o sinal. ele faz como se fosse me pegar. Nicholas Cage entra num grupo de anônimos. Nicholas Cage se mata? Nicholas Cage, morre? não, ele não morre. ele para com tudo, e fica com o a Eva Mendes. hum... e diz: o meu nome é Nicholas Cage. estou em recuperação... e depois Nicholas Cage se converte. só não consegue parar de fumar cigarro. é, maldito cigarro.

Subúrbio...

uma menina preta passa com o namorado preto. ele diz: cala a boca, oh, você só fala merda! ela mete a mão na cara do filho da puta e diz, cala a boca é o caralho! corta pra ele de novo. subúrbio. pô, cara, eu queria ler um livro que eu vi naquele sebo que fica embaixo do viaduto da Lobo Júnior...  ele se chama O Porteiro da Noite... dei mole. subúrbio. o Thiago da Dulcineia. o Thiago da Conceição. o Leandro da Belisário. o Leandro do Prédio. subúrbio. plataforma. subúrbio. o cara no buraco da Penha. o cara paga vinte reais em dois bifes desse tamanho! subúrbio. como é que tá o rap? tá bem! como é que tá o charme? tá bem! como é que tá o rock? tá bem, também! subúrbio. corta pra um bêbado no bar, eu conheço esse cara, é o cara do rap! subúrbio. vai lá assistir o jogo com nós... subúrbio. toca a bola, sangue bom. caralho, da antiga, aí! só relíquia. subúrbio. pai, vai com essa barriga do lado de fora? maior micão, aí! você vai me buscar assim? maior micão, aí! subúrbio. Parque Shangai, subúrbio. você só anda de tênis? só. subúrbio. aí aquele cara começou a dançar caindo em cima de mim. gente, medo. subúrbio. eu cortei o meu dedo cortando laranja, vi o sangue escorrer, e saí gritando e chorando no meio da rua... ah, o meu dedo! oh, o meu dedo! subúrbio. como é que tá o livro? o livro tá bem! subúrbio. e a banda? tá indo bem! subúrbio. vai chupar, ou vai lamber! senta, senta, senta na piroca! subúrbio. menina, você acredita que no casamento do Naldo... subúrbio. O Dia. O Meia-Hora. O Extra. O Globo. Na Globo todo dia. uma colher de açúcar. uma colher de sal. o dia da eleição. Festa da Couto. subúrbio. feira da Montevidéu. subúrbio. Feirinha de Itaipava. católico. macumbeiro. espírita. budista. crente. subúrbio. a menina me olha, e diz. ter de ver esse tipo de coisa no meio da rua! lembro Cartola que dizia, quando eu passo, a gurizada pasma, horrorizada, como quem vê um fantasma, e o esqueleto humano, assim, vai cambaleando, quase cai, não cai. esse cara estudou comigo. ele é casado com uma prima minha. um moleque fala com a mãe cantando: mãe, eu posso ficar com o troco do pão? maquininha de música. Maluco Beleza. Vida Louca. Papel de Pão. subúrbio. bicho. corrida de cavalo. Nextel. Tablet. vamos circular. circulando, rapaziada! subúrbio. subúrbio. subúrbio...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tipo, Rolando Boldrin!

este cara que eu conheço é um bom contador de causos. pouco importa se é história ou se é estória. ela te prende. gosto de bons contadores de causos. tipo, Rolando Boldrin. ser um bom contador de causos independe de profissão, ou formação didática. o cara não precisa nem saber escrever. no caso dele, ele lê, e escreve bastante. e também já viajou um bocado. o que com certeza ajudou no seu conhecimento. então paro e fico ouvindo esse cara durante todo o tempo. ele diz: o cara apareceu na rua. ele tava com uma Kombi da firma em que trabalhava, e queria que a gente fosse com ele no centro. aí nós fomos, eu, ele, e mais dois moleques. aí num dos sinais da Leopoldina um cara disse de outro carro: pô, que cheiro de maconha, hein! o motorista olhou pro lado com a cara mais cínica do mundo, e disse: num tô sentindo, não! aí a fumaça começou a sair da Kombi. pô, como é que tu não tá sentindo? o motorista não deu mais ideia a ele. o cara olhou pro sinal, e disse: polícia! encosta... aí todo mundo desceu da Kombi. o parceiro dele ficou olhando os documentos, e ele ficou fazendo pergunta. nisso o motorista disse: esses caras ficam tudo no meio da rua de bobeira. aqui tá tendo muito assalto... não deixa de ser uma segurança, doutor. e o policial disse: mas, fumando maconha! o policial me perguntou: o que você faz? eu disse: sou estudante. ele virou pro outro moleque, e perguntou. e você, o que faz? ele disse: também sou estudante. e quando virou pra esse moleque que eu tava te falando, ele perguntou: e você, faz o que? ele respondeu assim: eu não faço nada... e o policial perguntou: como assim você não faz nada?! ele disse: eu não faço nada! o policial disse: você não trabalha? ele disse: não, eu nunca trabalhei! aí o policial perguntou indignado. e como você, vive? o meu pai me banca! o policial bufou, e desistiu. o parceiro dele devolveu os documentos e entrou no carro. o carro saindo, ele pôs os braços pra fora da janela do carona, e perguntou: você nunca trabalhou? aí esse moleque reafirmou: não, eu nunca trabalhei! ele sorri e dá um trago no cigarro...

Perdi a Minha Primeira Gravação...

era um rap. gravei uma fitinha demo. quem conhecia a música a chamava pelo nome de Terra Encantada. mas na verdade a música se chama Uma Jogada Do Destino, porque era o título de um filme que eu gostava. a estória não tem nada demais. um turista se perde, esbarra com um bandido "consciente" (sem piadas, por favor), e vai para o desenrolo. gravei a música com um ódio que nunca mais consegui repetir. como um crente fanático gritava que a gente estava tudo ferrado, e que ia tudo morrer de fome. depois fui descobrir que a maior parte de nós não está nem aí para o apocalipse, ou pra hecatombe que provocamos com nossa indiferença perante a vida. mas gosto daquela performance. depois disso me transfigurei numa porção de coisas, do romântico suburbano ao piadista sem graça. popular ao extremo. obviamente, que essa, por ser a minha primeira gravação, tem para mim um valor sentimental. levava as copias desta fitinha para as rádios comunitárias num tempo em que praticamente não existia internet. não passei a música para o CD. ela é de uma época em que me perguntavam: você é do hip-rock? eu parava festinhas juninas, e festinhas de pegação em escolas para gritar palavras de ordem! e assim como um Tim Maia raquítico, e anônimo, abandonei palcos. fui expulso. boicotado. fiz inimigos. dei lição de moral em gente da plateia. parei bailes funk. bailes charme. festivais de rock. importunei pessoas. quanta besteira, meu deus! quantas vezes desafinei no underground, como diz meu tio músico, e sai do tempo com essa mania de querer fazer, apesar de tudo. mas se algum doido que não consegue se desfazer das coisas, não por sua qualidade, (risada nervosa.) e sim pelo valor emocional que elas têm, e se tiver uma fitinha dessas, ou se tiver esse material digitalizado, entre em contato comigo. não tenho a música porque assim como hoje, naquela época acreditava que tudo é o registro de um momento, e por mais que não seja perfeito, é para ser compartilhado com os outros, para que eles possam compartilhar comigo também. mas, nem a esperança, nem o texto, morrem com o ponto final.

domingo, 21 de julho de 2013

Recorde de Curtidas do Facebook é de um Brasileiro!

Eugênio é um pacato garçom de 23 anos, carioca, e morador do bairro da Penha no subúrbio. mas ele tem uma façanha histórica para o mundo moderno. conseguiu ficar sentado durante vinte e quatro horas consecutivas, compartilhando, curtindo, compartilhando, e consequentemente sendo curtido. o primeiro desses recordes estranhos do mundo virtual, era de um australiano que havia ficado o mesmo tempo que Eugênio em frente ao computador, só que tuitando, que atualmente já é um verbo reconhecido pelo corretor ortográfico. Eugênio preferiu o micro tradicional aos outros aparelhos, pois o australiano do Twitter havia feito o mesmo. talvez para dificultar um pouco. lógico que tanto o brasileiro quanto o australiano tiveram uma boa alimentação, eram hidratados de hora em hora, e passaram por uma correção da postura corporal. eles urinaram através de uma sonda. mais nada seria permitido pelo motivo óbvio de tomar mais tempo. também foram acompanhados por nutricionistas semanas antes das respectivas empreitadas. e uma junta médica os acompanhou durante a prova. perguntei a ele como foi ter que compartilhar tudo, até coisas com as quais não concordava? ele disse: foi como tratamento de choque, rapaz, lobotomia. troço pesado. Eugênio tuitou desde coisas como gente xingando deus, pornografia, e apologia ao crime e as drogas. até mesmo curiosidades como a filha pedindo a mãe para dar uma ligada para ela, ou uma irmã pedindo ao irmão que pusesse o feijão no fogo. e muito adolescente se dizendo entediado na própria internet. que nas palavras de Eugênio serve para matar o tempo. a diversidade religiosa do brasileiro também foi uma das coisas que o assustou. pois ao mesmo tempo em que uma pessoa compartilhava algo extremo sobre sua religião, vinha outra pessoa compartilhando algo no mesmo nível sobre a sua. Eugênio disse ainda que no mesmo momento em que repassava um baita protesto pelos direitos dos gays, vinha um homofóbico atrás, algo bem radical. ele disse não ter parado para pensar que isso existia com tanta intensidade no Brasil. essa diversidade, brasileira. perguntei a ele: mas porque você fez isso? e a sinceridade não faltou: olha, não vou mentir pra você, não, rapaz. fiz isso pra aparecer, mesmo. não ia ficar famoso. não tenho nada a perder. perguntei a ele: e se alguém quebrar o seu recorde? ele respondeu rindo: invento outro. e para finalizar pergunto:  o que ele ganhou com isso? ele diz: apareci na televisão, ora! você veio aqui me entrevistar. não sei se é motivo de orgulho. mas este recorde é nosso!

Que Porra é Essa de Funk Ostentação?

ligo pro meu pai. pai, tudo bem? ele diz: fala! pergunto: o que é funk ostentação? ele responde. num sei não, aí. e me pergunta: era só isso? digo: só. ouço o sinal de desligado. depois eu ligo prum amigo gangsta rap. digo: e aí, cara, tranquilo? ele diz: tranquilo. pergunto: o que é funk ostentação? ele rebate: qual é, cara? tá me tirando! ouço o sinal de desligado. viro para o lado. balanço minha mina. pergunto: o que é funk ostentação? ela pergunta: que horas são? digo: cinco da manhã. ela se vira. resolvo ligar pra minha irmã. aqui é o irmão, me responde uma coisa, o que é funk ostentação? ela diz: vai a merda cara! ouço o sinal de desligado. ela se vira para o lado, e responde: era um babaca se passando por meu irmão, meu irmão tá nem aqui, meu irmão tá lá na Antártida!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Whisky Nacional é Cachaça!

tem um vândalo no meu portão. tenho andando com medo dos vândalos, doutor. não consigo mais sair de casa, doutor. tenho medo de quebra-quebra. a televisão me diz que os vândalos estão chegando, doutor. o Brasil é um país pacífico... o estado não vai permitir que esses vândalos tomem conta da cidade. atos de vandalismos não serão tolerados. o cidadão comum, sabe que esses não são manifestantes e sim, bandidos. criminosos. tem um vândalo em cima da árvore. um vândalo depredou o patrimônio público, doutor. um vândalo foi acusado de apropriação indébita. o patrimônio público não pode ser depredado. o nosso país é um país livre, doutor. os vândalos tiram o nosso direito de ir, e vir. um vândalo matou... não, doutor, um vândalo não matou. mas é de matar. tem um vândalo sentado na praça comendo pipoca. tenho pesadelos com vândalos, doutor. eles descem de helicópteros. saem dos esgotos. tem um vândalo com uma camisa do Papa. quem sabe um vândalo peregrino. os baderneiros e os vândalos estão provocando arruaças. tento dormir. não consigo. ouço aquela voz vinda debaixo da minha cama. vândalos... vândalos... e aí coloco o meu travesseiro na cabeça. teremos uma comissão para cuidar dos atos de vandalismos. tem um vândalo mascarado no meu espelho. o vândalo mascarado fumando charuto, dá um trago no Whisky, cospe e diz: eca, nossa, Whisky nacional é cachaça!

A Molecada do Lava a Jato...

...sempre tem um sofá e um sonzinho rolando ao fundo. na maioria rola Racionais, ou Arlindo Cruz de leve para não contrariar ninguém. ah, às vezes, funk. mas dependendo do dono rola até uma Plebe Rude, Black Alien, eu já ouvi. encosta a tua bike, senta naquele sofá e fica a tarde inteira. depois do almoço, é claro. olha pro valão em frente, e sente aquela fedentina, olha para a parede em frente, e diz: que merda. de vez em quando alguém fala: me empresta a bike que eu vou dar um pulo na farmácia. some na esquina. e você apenas balança a cabeça. as vezes a rapaziada do lava a jato mergulha num silêncio prolongadíssimo. as vezes depois da rodada de domingo todo mundo dana a falar. as vezes no final de semana rola um churrasco. uma churrasqueira, e um isoporzinho. as vezes cola até algum velho que fica jogando buraco na praça. algum velho que não conseguiu entrar na internet. como dizem. mas a molecada do lava a jato está sempre ali. naquele sofá, faça chuva, ou faça sol. me empresta a bike aí que eu vou lá no meu primo pegar a máquina de cortar cabelo!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu Sei que Eles Sabem que Eu Existo!

eu pergunto a minha mina. você viu um furgão lá fora? digo olhando pelo canto da cortina. ela diz: deve ser a CIA atrás de você... ela abre a janela, que calor aqui... que cheiro ruim! tudo fechado. eu me jogo no chão e ponho a mão em frente a boca como fazem os jogadores tentando evitar a leitura labial. falo por sussurros. devem existir escutas por toda a casa.... ponho o telefone no ouvido e ouço um chiado ao fundo. ela me diz: você tá delirando! eu digo: tô cercado! os meus companheiros me abandonaram... ela diz: é impressão sua, amor. eles me boicotaram. disseram que eu sou um dissidente. entrei para a lista de traidores. ou será que eu sou apenas um capital dissidente? não sei! não rolou nem um sentimento de classe. consideração racial ou algo que o valha. disseram que sou uma ameaça. falo por códigos. sinais. driblo. não posso ser muito explícito para que não me descubram. passo na rua. alguém diz: esse cara com essa mulher de cabelo vermelho, não sei não! eu me escondo no supermercado. a câmera do supermercado me persegue. eles sabem que envio mensagens secretas. sou censurado. torturado. quero ir exilado para a França, Estados Unidos, Inglaterra. eles vigiam os meus passos. o meu vizinho me espreita do olho mágico na madrugada. alguém diz: é um artista do bairro que sequelou. outro diz: incapaz de fazer mal a uma formiga! alguém diz: tem de se relacionar. eu digo: sou tímido. o rapaz que recolhe o lixo faz sinal para alguém quando eu passo. o mesmo acontece com o cara falando no orelhão. o entregador de flores parece me apontar. mas um passarinho me traz notícias de campo da fronte. do campo de batalha. onde sempre há algo novo. ele me diz: você foi citado. eu digo: sério? ele diz: sério, num relatório da ONU! Obama tá na tua cola, malandro! eu digo: mentira! ele diz: eu lá sou homem de jogar conversa fora, rapaz!? tem caroço neste angu.... e eu vou descobrir o que é. ele reforça: aí, tem! eu digo: já avisaste ao Joaquim Barbosa? ele diz: sim. mas não mija fora do penico, não, rapaz, se não a coisa esquenta pro teu lado! vai sobrar pra mim, e não há quem te tire de lá! eu pergunto: batata? ele diz: batatíssima! eu digo: você vai me ajudar. ele diz: eu sou bem relacionado no jet set, como você sabe. vou ver o que posso fazer por você. mas não prometo nada! ele pigarreia, e diz: mas por enquanto segura a tua onda, que a tua batata tá assando! a minha mina diz: elas têm alucinações. e amigos imaginários. (e inimigos também, ela pensa). eu digo: amor, é verdade, o meu amigo intelectual, ele não cresce! ele nunca cresce! permanece do mesmo tamanho. com a mesma idade, desde que eu o conheci!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Caçador de Androides - Philip K. Dick

eu li o caçador de androides. e gostei da caixa de empatia. do Mercerismo. ou seria Cristianismo, Budismo, ou Islamismo... são metáforas do livro. e o teste Voight-Kampf para detectar os androides que ao que me parece são psicopatas, assim com a maioria de nós, que assim como psicopatas, nós homens da sociedade moderna somos mais inteligentes. e o preconceito contra os especias, que ao que me parece tem uma especie de esquizofrenia. assim como a maioria de nós. eu sei disso porque me observo. e o observo os outros. ainda existem homens "santos" que conseguem suportar todo esse estresse de viver numa grande cidade, competitiva, perigosa e veloz. as vezes corremos sem saber porquê. e na maioria das vezes nossa correria não nos leva a nada. ao invés de desejar mais, desejar menos, cada vez, menos. mas com a mídia nos aplicando um tratamento de choque, em que logo depois caímos numa Síndrome de Estocolmo amando aos nossos inimigos. mas na maioria das vezes, reagimos de maneira violenta. temos uma crise dos nervos, entramos numa escola atirando, temos um enfarto, ou esganamos o pescoço mais próximo. a gente segue comendo mais, bebendo mais, fantasiando mais, se drogando mais, trepando mais, consumindo mais, rezando mais, fazendo cada vez mais festa, e se entediando cada vez mais com todo o excesso. pois ninguém pode ser tão feliz. a nossa caixa de empatia é a nossa caixa de remédio tarja preta. é só engolir uma pílula. assim que funciona a caixa. é só apertar um botão. até a nossa tristeza normal, por causa do nosso vazio que a certeza da morte causa, estamos tratando com remédio. seja ele, sexo, cerveja, videogame, antidepressivo, ou esporte radical. para um tratamento com menos drogas é preciso tempo. e tempo é tudo o que nós não temos. pois somos uma sociedade dedicada ao prazer imediato. você pode até trepar com uma androide como fez Rick Deckard. não, é verdade? quantas pessoas acordam todos os dias ao lado de androides. androides com botox, bombas, enchimentos, silicones, recauchutadas, reinventadas, plásticas. bonecas infláveis. assim como no Mercerismo nos ligamos a todos. todos estamos conectados a internet que funciona como uma espécie de inconsciente coletivo. virtual. física quântica. androides incapazes de formular um raciocínio assim como os nossos analfabetos funcionais que acreditam no que o repórter, ou o pastor diz  a eles. que tem como exemplo de vida o empresário boçal. que teme os vândalos, e os quebra-quebras. o que eu mais gosto é da depressão do Rick Deckard, e de sua esposa Iran. e a falta de autoestima que é curada com a compra do animal de estimação. será que Deckard desejaria tanto qualquer animal de estimação, se eles não estivessem extintos? é parecido com nosso consumismo que paga por exclusividade. que diz que não sei o que é uma pedra preciosa só porque é rara. e a nossa incapacidade de lidar com outros seres humanos, e com outras culturas, descarregando todo nosso amor aos nossos animai de estimação. mesmo estando conectados com outros seres humanos 23 horas por dia. o que leva Rick Deckard a entrar em crise, é justamente uma trepadinha como uma androide. ah, nossos escândalos sexuais, e quem nunca pecou que atire a primeira pedra! como aquelas atiradas, Wilbur Mercer. que talvez seja uma fraude. um bufão. apesar de muito coerente em algumas colocações insatisfatórias. a polícia cobra a Rick Deckard que ele não sinta empatia por androides, para que isso não atrapalhe o seu trabalho. será por isso que amamos essas lutas em que se dá porrada no outro, e que o deixa retardado para o resto da vida, assim como ficou John Isidore. Buster Friendly que é o comediante que fica vinte e três horas por dia no ar, e que é a pessoa pública mais importante do mundo, declarou que a terra morreria debaixo de uma camada, não de pó radioativo. mas de traste. não duvido nada!

sábado, 13 de julho de 2013

Franz Kafka e Albert Camus

li O Estrangeiro de Albert Camus numa tarde, fiquei chapado, e desde então tive vontade de ler algo parecido com aquilo. fui ler mais Camus. peguei O Mito de Sísifo que é um ensaio filosófico maravilhoso. no final fui presenteado com um ensaio sobre Franz Kafka. talvez por aí eu conseguisse alguma coisa. em minha cabeça, ou na realidade, Camus foi influenciado por Kafka. numa tarde, deitei no mesmo sofá, e da mesma forma que aconteceu quando li O Estrangeiro de Camus, fui hipnotizado por aquela metamorfose de Kafka, não consegui me levantar enquanto não finalizei, o livro. não quero dar a minha interpretação da história. até porque esse negócio de achar que um livro tem uma interpretação é coisa de religião ou de intelectuais. e não quero que aquela pessoa feliz, que ainda não leu A Metamorfose, ou O Estrangeiro, seja poupada de qualquer novidade. mas no meu caso, o primor de Kafka, o que ele conseguiu fazer com este leitor ignorante, foi o seguinte, além de me levar a pensar sobre a profundidade do que foi abordado, é claro. ele me conduziu aquele quarto. até hoje os olhos de Gregor me perseguem. consigo descrever Grete. o senhor Samsa. conheço o cheiro das suas roupas. conheço as cores. e a voz de cada um deles. estive naquele quarto. posso jurar que estive lá  observando os durante algum tempo. até a sensação de sufocamento que a sociedade nos dá, senti com mais intensidade durante a leitura. consigo debruçar sobre aquela janela, e ver um sol que ilumina o mundo de maneira infinita. como num sonho. o livro caiu da minha mão. fiquei exausto.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Banheiro e a Leitura...

quando o meu livro foi lançado uma prima lembrou que na casa da minha avó eu lia no banheiro. morando numa casa cheia de gente, o banheiro torna-se o porto seguro para a leitura. na madrugada é a única luz que pode ficar acesa sem incomodar aos outros. ainda leio no banheiro. mais para não perder uma oportunidade de leitura, do que por necessidade. embora não sei porque sempre a sua luz do banheiro parece ser melhor. a batida do violão da bossa nova foi inventada dentro de um banheiro. pois João Gilberto gostava da  acústica do mesmo. caso queira ler em voz alta para melhor absorção da leitura, é uma boa pedida. dizem que o banheiro era o único lugar onde os Beatles não eram incomodados. hoje a leitura deixou de ser prioridade, assim como a verba para a cultura é a menor, a leitura é a última opção de passatempo, ou o que quer seja, para a maior parte das pessoas. com a chegada do livro eletrônico, em países como o Brasil, em que se lê pouquíssimo, a leitura tende a perder espaço. quanto mais se entulha músicas em um equipamento eletrônico, menos se ouve música realmente. poucas pessoas ouvem os discos completos. a maioria vive de sucessos. o chavão do conceito de trabalho parece ter se perdido. no caso da música, talvez o ideal fosse que os artistas lançassem apenas compactos. como acontecia na época da Carmen Miranda. pois hoje, uma música de um ano atrás, é velha para a maioria dos adolescentes, e das pessoas em geral. são raros os artistas que conseguem manter alguma resistência, e lançam o disco no tempo em que acredita ser necessário. por causa desse processo de banalização que estamos vivendo. embora saiba que alguns artistas sentem necessidade de criar mais. mas é bom que isso seja uma opção. durante algum tempo acreditei que o artista deveria tentar negociar com esse modelo que aí se encontra. eu mesmo, quando comecei a escrever para este blog tentei evitar textos longos. hoje não temo mais os caudalosos. é bom ter tempo para ler e pensar um Marcel Proust, que é eterno, ou um Mario Vargas. mas é preciso tempo para isto. e tempo é tudo o que nós não temos hoje. então o tempo passa a ser mais importante que o dinheiro. sempre foi. desisti de acompanhar a evolução tecnológica. não há mais para aonde se evoluir. não duvido mais de nada. temos que resistir um pouco, para que as coisas do espírito não se percam por aí. para que a hegemonia da falta de tempo cesse. quem só tem tempo para responsabilidades pode se considerar morto. pois como diz o filósofo, o ócio também é necessário. principalmente para a observação com a qual se aprende muito. enquanto o mundo, ou seja, nós mesmos, nos faz acreditar que não temos tempo nem para cuidar do próprio umbigo. o tempo investido em uma boa leitura, ou num bom disco, dizem que isso é um conceito relativo, mesmo para os seus criadores, tem um retorno inestimável. que nesta correria, nós não vamos conseguir perceber. mas ler um bom livro, e caminhar numa manhã de sol pensando nas questões que foram abordadas por ele, continua sendo um dos melhores refrigérios para a alma.

domingo, 19 de maio de 2013

Black Alien Se Retrata...

desde que assisti a este documentário sobre o Black Alien que não consigo parar de ouvir o Babylon By Gus. sou parte do pessoal da minha geração que era Racionais-Nação-Planet, e Rappa. vi o Black Alien ao vivo com o Planet, e, em dupla com o falecido Speed. sei que assim como o Sabotage, e o samba, que é preto na poesia, ele é um mestre. tem levadas, interpretações, e presença de palco infinita. seu estilo se aproxima do noir. de um trhiller-psicológico. ou de um filme pós-apocalíptico. cineasta, mostra cenas em suas letras que conseguimos visualizar com facilidade. pena não ter conseguido compreendê-lo de imediato. hoje entendo porque, porque ele desconstrói a linguagem. embaralha tudo. é um artista sem cerimônia. sem máscara. não é fanático em suas ideologias musicais, ou políticas. a sua cultura é caótica. assim como a sua cabeça. é um Itamar Assunção fluminense. é um cabeça de liquidificador. Black Alien é cru em sua entrevista. lava roupa suja em público, como poucos artistas, e assume a parte que lhe cabe. um dos melhores momentos do documentário em minha opinião, é quando ele diz que gastou muito dinheiro com mulheres e drogas na época do Planet. discorre sobre o "business" em sua palavras. fala sobre aquelas músicas que desaparecem nas mãos de produtores. espalhar coisas por aí é ao que me parece, é uma característica de quem produz muito. ele torna o improviso a regra. mas o que ele faz no improviso dentro do estúdio, são músicas antológicas. tenho a impressão de que ele solta frases no ar. volta e meia eu pego alguma. mas tem que estar concentrado, e saber que o que a primeira impressão parece uma verborragia, no final tem um significado profundo. pega essa: eu tive lá. mas não te vi lá. no documentário você vê o Black Alien gravando com o DJ. e reclamando, às vezes. e pessoas reclamando dele também. indo para um show passam umas minas de carro, e o confundem com o Falcão. ele fica puto. Black Alien toca num assunto chato que é o preconceito que um artista preto pode sofrer de "algumas pessoas" ( as aspas são minhas) em determinados segmentos, por não ser miserável. de forma madura diz que não liga mais para isso. ainda rola ele cantando pra dez pessoas no norte fluminense. sem holofotes. e o Black Alien na banda Reggae Bi, que tem o Bi Ribeiro e parte dos músicos do Paralamas. Black Alien nos ensina que a música é criação de um momento. não sei se ele concorda com isso. sem apego. bom filme. e bom disco para você que não conhece. Ele diz numa letra "tirar foto é fácil, quero ver quem se retrata". Black Alien se retrata.

domingo, 5 de maio de 2013

No Programa da Igreja...

...vi mendigo virar empresário. gente começar a andar, ouvir, e enxergar. cadeiras são levantadas no meio da multidão. quem nunca falou destrava a língua. há vinte anos viciada em crack, aparentemente sem nenhuma sequela. é água, óleo, rosa, toalhinha, e outros souvenires que devidamente pagos, auxiliam na cura. Aids. Câncer. besteira, pra gente não vale isso! sem resenha, filhinha, conta o milagre! eu quero saber do milagre... o Deus do senhor me curou! acabei de abrir uma empresa, e fechei um contrato milionário! ganhei uma licitação e aquela causa na justiça. a minha dívida sumiu. o carcereiro disse: pode ir embora. sonhei com o senhor. o senhor olhou para mim. eu me lembro de você! o senhor profetizou que alguém no meio da multidão tinha esse problema. tomei um gole do resto da sua água senhor, e passei a mão no teu suor. a oferta é para não tirar o programa do ar. mas ele subiu para o horário nobre na grade da programação. o representante deixou escapar numa revista, que com 1 culto se paga um mês de tevê. os milagres não podem parar. o que seria de nós sem esse ministério? os hospitais lotados. as clínicas de recuperação... fora o LEPROSO que é curado. e como é apregoado, os milagres da bíblia estão voltando! e se esses milagres são verdadeiros, Jesus voltou, e ninguém foi avisado. pois até médicos indicam a cura para os seus pacientes. como é dito no ar. ontem uma senhora foi ao banheiro, e voltou com pedras enormes na mão, pedras essas que ela havia expelido dos rins. provavelmente maiores que os rins da coitada. pois uma pedrinha minúscula dá uma dor tremenda. eu sei o que é isso. é aposentadoria. aluguel de tevê. pobreza dá dinheiro. que nos digam as ONGs. é rabo preso. é voto. e nós que somos brasileiros, mas não somos otários, vivemos a espera de um milagre!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

John Coltrane: O Santo

comecei a ouvir jazz um dia desses. não porque tem selo de bom gosto ou porque sou preto. mas por acaso estava ouvindo ao rádio e gostei de um programa de jazz. já fui a festival de jazz, e tentei ouvir diversas vezes. sempre gostei dos filmes. e das histórias dos músicos. o jazz diferentemente do chorinho, que acredito ser a música instrumental mais agradável do mundo, sempre me soou estranho. da mesma forma a música clássica, ainda hoje, embora ouça quando preciso relaxar. e também goste das histórias de seus compositores. mas o meu ouvido finalmente parece ter cansado um pouco, da sonoridade pop, não que eu tenha deixado de amar, ou ouvir a cultura pop, underground ou alternativa. mas é que nessa nova fase  posso experimentar coisas que antes não conseguia. ou para as quais não tinha ouvidos. acredito que assim como na literatura, na música, passamos por fases em que vamos amadurecendo. há exceções sempre. mas  no geral não adianta pular essas fases. pois sempre dá merda. vejo pessoas que forçam leituras para as quais não estão preparadas, e depois posam de sabichões sem ter entendido bulhufas. com isso se perde a novidade do primeiro contato. talvez acabe o tesão com a descoberta precoce. há livros que leio hoje, que não teria lido antes. então passei a ouvir jazz. não como uma obrigação. ou porque é cult. mas por prazer. estou no início da minha paixão por John Coltrane. ouço John Coltrane todos os dias. o que mais me impressiona em sua música, é que ela se adapta a meu estado de espírito, e o transforma. é a música que não me atrapalha. e não precisa da minha atenção para ser compreendida. ela me pega e me joga na serenidade. mesmo que esteja escrevendo. consigo raciocinar e ouvir John Coltrane. até me ajuda. e tecnicamente não entendo nada de jazz. e se o John é uma música intimista, e de improviso, como acredito ser uma música que pede a proximidade do ouvinte. não sinto nada assistindo jazz na tevê. ou em grandes shows. jazz é música para lugares pequenos. John Coltrane te dá essa sensação. John Coltrane havia dito que a sua música era religiosa. assisti isso num documentário sobre jazz. e nele um cara disse que John Coltrane, um pouco antes de morrer, perguntado o que faria dali para frente, disse que se tornaria santo. e como disse o meu vizinho ao ouvir essa história. ele conseguiu.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Lixo da Cidade...

eu vinha pensando numa música sobre o lixo. mas aí pintou aquele documentário Lixo Extraordinário, e era esse o nome que eu queria. desanimei um pouco. eu via isso escrito nos caminhões e achava sensacional. as ideias estão no ar. no carnaval eu fui ao local do Rio que eu acho mais bonito. o Arpoador. aquela vista, não vi todas, mas na minha opinião é a vista mais linda do mundo. vi o calçadão todo sujo. uma sujeira deprimente. não que eu me importe com aquele discurso enérgico dos moradores de Ipanema. eu quero que eles se explodam! mas me preocupo com a imundície. quem joga lixo no chão é porco e nada mais. mas pessoas insuspeitas são porcas, gringos de países europeus limpíssimos, esses que dizem aproveitar um pouco a liberdade que não tem em seu país, como gostam de apregoar sobre o Brasil. sei o tipo de liberdade em que eles estão interessados... o mesmo... que... ah, deixa pra lá.  cheguei a conclusão de que quem suja essa porra somos nós. de várias maneiras. e me veio o Robert de Niro de Táxi Driver que chama as pessoas de lixo por sua falta de caráter. ou pelo menos pelo que ele acredita ser falta de caráter dentro da moral de alguém que leva uma dama num primeiro encontro para assistir a um filme pornô num inferninho. Isso me inspirou um pouco. na musica falo de como o corpo expele o seu lixo. e que existem lixos sobre determinados pontos de vista. nós somos lixo orgânico. tenho os meus pecados. e se não existe uma merda de um banheiro químico por perto, eu simplesmente não consigo ir contra a minha natureza, senhor prefeito. não que ache isso bonito. é feio. mas fazer o quê, né? quem tem que limpar a sujeira do cachorro é o seu dono! disponibilizei o vídeo com a música em que estou tocando violão. não é uma música para se dançar ou conquistar garotinhas. a questão está na letra. se tiver interesse, dá uma ouvida. o nome da musica é O Lixo da Cidade.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Cena de Filme Nacional...

é um cenário conhecido, uma cena de filme nacional. um bar decadente na rua da zona. num domingo, ou num feriado santo qualquer. três da tarde, aquele sol vespertino, e deprimente. o dono do bar lendo um jornal velho atrás do balcão, com o qual também espanta as moscas. pega a toalhinha que está sobre o balcão e seca o suor da testa. o cheiro de gordura impregna o ar. no boteco adentra um rapaz de outro estado, nordestino, talvez, e que tenta manter algum tipo de raiz com o seu lugar de origem. uma mulher que foge. vai embora com outro. volta para a sua terra. enquanto o rádio ao fundo toca alguma música do Roberto Carlos.

terça-feira, 16 de abril de 2013

A Rua dos Quebra-Molas!

naquela esquina sempre colava uma rapaziada. que fumava um baseado, e que fizesse chuva fizesse sol tava sempre ali no carteado. com o tempo ele mesmos fizeram uma proteção contra a chuva. fizeram bancos mesas, e uma churrasqueira de cimento. sem a ajuda da prefeitura. e alguém arrastou um sofá cortesia de uma tia aposentada. existiam uns que praticamente moravam ali. independente das reclamações de "suas" "mulheres" ou da "polícia", ou dos fofoqueiros da rua. o que eles também eram. mas eram eles também que agitavam os blocos de carnaval e as festinhas juninas. e ainda o campeonato de golzinho. ou seja, eles eram imprescindíveis para a economia, cultura e desenvolvimento local. por isso que todo mundo acabava aturando aquela rapaziada que quando exaltada pelo jogo de buraco, falava mais palavrão que o Kid Palavrão. que era o moleque que mais xingava palavrão nas redondezas. numa manhã de sábado de sol escaldante, e de todo mundo sem um puto no bolso. na sexta feira todo mundo se entocou cedo por falta de grana, tudo que era malandro tava liso. olhando pro tempo naquele sol de onze da manhã. um deles com os olhos perdidos na parede da firma do outro lado da rua, disse: vamos fazer quebra-molas! como assim? lá em casa tá cheio de cimento e de material de construção que sobrou da obra do meu pai. e daí? e daí que a gente passa o caderninho, igual nós fizemos na copa pra pintar a rua. pra poder comprar as coisas pra fazer os quebra-molas. e aí todo mundo vai ficar tocado, e vai querer proteger as criancinhas dos atropelamentos, e vai contribuir nem que for com dez contos. é início de mês, e todo mundo tá com dinheiro. um deles disse: rapa, tu é um gênio! dito e feito. rolou toda aquela encenação de recolher dinheiro, e de ir comprar cimento. e a noite aconteceu o maior churrasco que aquela rua já teve. cortesia do pai do rapaz e dono da obra. pelo aniversário do filho que seria comemorado na semana seguinte. e a rua ficou conhecida como A Rua dos Quebra-Molas.

domingo, 14 de abril de 2013

Pé-Sujo!

ele sempre parava naquele bar que fica próximo ao hospital e funciona 24 horas. e parece não fechar em nenhuma data, seja ela, santa ou pagã. um ambiente frequentado por todo tipo de gente, ou melhor, pelo pior tipo de gente. esse que recebe adjetivos como boteco. caga-sangue. pé-sujo. última-gota. onde se encontra o clássico torresmo, a linguiça frita, e os ovos coloridos. amarelos e cor de rosa. onde a maquininha sempre toca Maluco Beleza. debruçado no balcão o cidadão tomava o seu refrigerante, quando adentrou ao local um bêbado conhecido. ele havia pulado o corpo de outro bêbado da redondeza, que derrotado, jazia na porta do bar. esse bêbado que ainda não chegara as vias de fato, um tipo que balança, mas não cai. ou vaso ruim não quebra. disse: cachaça na veia! e depois de cuspir ao apontar o bêbado caído na porta do bar. balão! e se dirigiu até um dos bolsos do bêbado derrotado, e tirou de lá algumas moedas. pôs no balcão, e ordenou: uma cachaça! o dono do distinto estabelecimento, sem pestanejar, serviu-lhe uma dose. depois de furtar o gole do santo, e jogar toda a maldita goela abaixo, o bêbado se encaminhou ao bêbado derrotado e vistoriou o seu outro bolso. puxou um pacote de biscoitos recheados. pôs no balcão. uma cachaça! o dono do ambiente familiar, não teve dúvidas. pegou o pacote, misturou na prateleira com os outros, e depois de uma que desceu na pancada, o bêbado que estava de pé, cedeu e caiu dormindo numa cadeira. o cidadão que tomava o seu refrigerante apoiado no balcão gritou. Caralho!

domingo, 7 de abril de 2013

Assassinos por Natureza!

nada justifica um assassinato. quando um psicopata empunha uma arma, e todos aqueles que têm armas são psicopatas, sejam eles das forças de paz da ONU, das polícias que foram criadas para nos "proteger", ou soldados que protegem os seus países, ou quem porte uma arma para proteger a sua família, ou o que quer que seja, é um assassino em potencial. mesmo que se apodere dessas imundícies ideológicas que justificam atos violentos. Lao Tsé disse que "a simples existência das instituições é uma prova de declínio do cárater do homem." se você dirige alcoolizado, você é um psicopata que gosta de desafiar a morte, e pôr em risco a tua vida, e a vida dos outros. quando você mata alguém, na verdade, você está matando quem irá ficar vivo. a pior morte que existe é a morte em vida. andar arrastando um corpo morto por aí. antigamente se acreditava que os homens nasciam bons, e que o ambiente os corrompia. hoje, eu acredito, que é o inverso, nascemos tenebrosos, e talvez alguém faça alguma coisa para mudar isto. a maior parte de nós, brasileiros, somos extremamente violentos. assim como a maior parte do povo americano, indiano, mexicano e etc. somos a favor da pena de morte, que já existe, não institucionalizada. Justiça é vingança, como já foi dito. e a maior parte de nós, agora, queremos ter o direito, de se vingar dos marginais ainda mais jovens. alimentando o ciclo de ódio. para se diminuir a violência neste país, será necessário mexer no bolso de muita gente corrupta, e materialista. inclusive de nós, mesmos. nunca o mundo irá viver numa paz eterna. a não ser que a você acredite em estórias da carochinha. sempre irá existir um psicopata trancafiando a filha num porão durante décadas. mesmo num país civilizado. vejo por mim, a minha esposa pintou os cabelos. eu estou barbudo e cabeludo. um verme ficou rindo da gente num supermercado. pois o brasileiro é racista e preconceituoso. mas quem vive com eu vivo, não pode reclamar de chamar a atenção de imbecis no meio da rua. a intenção é esta. pois sou um transgressor, e tudo que faço é lutar contra os preconceitos. mas se eu tivesse um revólver ali, teria matado o desgraçado. ainda bem que pelo menos, aparentemente, sou contra a violência. igual a todos nós. preferiria morrer. do que matar alguém em legítima defesa. ao invés de ficar igual o avô de Garcia Marques. que após voltar de uma guerra em que matou um homem. passou o resto da vida a dizer. caralho, como pesa a morte em minhas costas!

sábado, 23 de março de 2013

Eu Não Sou Cachorro, Não!

o Velho estava deitado ali debaixo daquela passarela que dá para o outro lado da Penha. quando veio uma dessas mulheres que passam Leite de Aveia Davene com um poodle no colo. o quadrupede vestido e calçado. esse deve fazer até ioga! pensei. quando o velho perguntou: pode me ajudar para que eu tome um café? ela não respondeu. e o velho retrucou: eu não sou cachorro não!

sexta-feira, 22 de março de 2013

The Beatles - Please Please Me

o primeiro disco dos Beatles fez 50 anos. dizem que foi gravado numa noite. entre um show e outro. aproveitando a sugestão de George Martin para que conseguissem um baterista melhor pelo menos para gravar. Pete Best entrou para a história como o maior azarado da música. Era o beatle mais famoso entre as garotas do Cavern Club. os Beatles sofreram com os protestos. antes de serem famosos! dizem que Paul e John tinham ciúme de Best que não foi nem avisado por eles de sua saída. Paul fazia o trabalho sujo. John confiava em Paul, e ao mesmo tempo tinha ciúmes do amigo. a recíproca era verdadeira. os dois mantinham uma amizade motivada pela paixão. ao ver alguém pestanejar diante de uma ordem de Paul, John dizia: faz o que ele está mandando! os amigos de John sabiam que ele apoiava Paul. antes de John morrer os Beatles se reuniram numa festa, e tocaram juntos. uma noite John e Paul assistiam à televisão juntos, e foi feita uma proposta milionária para que eles voltassem. olharam um para o outro. E depois, provavelmente John deu a palavra final. mas por Paul, os Beatles se reuniriam novamente. Paul foi chamado atenção por ir a casa dele sem avisar. ele dizia: não estamos mais na época dos Beatles! quando os Beatles voltaram de Hamburgo e Paul arrumou um emprego, John teve uma depressão tão forte que chegou a engatinhar no meio da sala. após o apocalipse quando os Beatles acabaram de verdade, Paul foi com Linda para uma casa no campo abastecido de erva, e numa fase alcoólica pesada, e dessa vez foi ele quentrou em depressão. deixou a barba crescer e dizem as más línguas que mal conseguia se levantar da cama para tomar banho. Yoko já falou sobre o ciúme de John perante os êxitos de Paul. os dois mandavam as suas namoradas se vestirem igual à Brigitte Bardot. Jane Archer a namorada mais sofisticada de Paul, uma atriz de teatro, não conseguia conviver com o seu machismo e ciúme. embora Paul fosse uma pessoa de vanguarda, e acredito que tenha sido o homem que mudou a música pop. pois a maioria daquelas experimentações partiam dele. embora seja óbvio que John e o ofuscado George também tinham as suas pirações. mas John sempre foi mais rock and roll. embora ideologicamente, o John pós Yoko (por influência dela ou não), seja impecável. e como letrista, sempre, é claro. os Beatles surgiram em Hamburgo. eles vinham numa onda de literatura e música beat, que é uma das supostas origem do nome da banda. na Alemanha conheceram um casal de existencialistas. a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr e seu namorado. alguns dão a ela os créditos pelo corte de cabelo moptop. outros dizem que é uma referência que John e Paul captaram numa viagem da dupla a França. Na Alemanha eles conheceram as anfetaminas. eles tocavam num bar durante horas. dizem que John frequentava bares de travestis. eles mantinham relações sexuais com prostitutas. os alemães bêbados queriam dançar. não entendiam muito bem John com seu humor sarcástico saudando Hitler. os Beatles ensaiavam o tempo todo.  o alemão dono do bar pedia para que eles acelerassem o ritmo. eles já vinham tocando juntos há tempos.  mas provavelmente daí veio a pegada própria das versões. Paul arrastou George que era um garoto com quem pegava ônibus. o caçula George ia na onda de Paul e John. foi por isso que que Pete Best se fudeu. não participava da farra. já o piadista, narigudo e bonachão Richard Starkey, amigo de camarim, o maior sortudo da história da música. além da habilidade com as baquetas, no convívio era igual aos outros, para os quais Pete Best não passava de um bom moço. quando voltaram de Hamburgo a banda acabou. depois se uniram com mais força. mas é como Ringo diz na Antologia, é a história de quatro rapazes que se amavam nas estradas da vida. Paul disse que depois que John morreu desejou nunca mais brigar com ninguém. quando George foi visitado por Paul, um pouco antes de morrer, sobre isso Paul diria. foi a primeira vez que eu abracei o meu amigo. eu nunca havia abraçado o meu amigo. sobre o disco, é melhor ouvir do que falar.