terça-feira, 9 de outubro de 2012

Adriano

Adriano, eu moro aqui na Penha, e este lugar realmente tem alguma coisa inexplicável. Até escrevi um livro sobre isso. Adriano, todo mundo sabe que o teu problema não é droga, e sim bebida. Você está doente, e tem que se cuidar. Pois tem um vício que leva a outro vício. E provavelmente tudo começou com uma depressão que você não cuida. Dá para ver em teus olhos. A depressão assim como o alcoolismo é uma doença que tem tratamento. Existem esses grupos de doze passos que funcionam. Mas cuidado para não culpar a bebida e o sexo pelos teus fracassos, ao invés de reavaliar o teu pensamento. E cuidado também para não substituir alguns vícios por outros, tipo, comida, videogame ou fanatismo. Eu sei que você vai enlouquecer se tiver que abandonar determinadas amizades e lugares. Mas dependendo do caso, isso se torna necessário. Ninguém afunda ninguém, Adriano. Cada um é que se afunda sozinho. Você falou em desistir, e parar de jogar. Após um jogo em dois mil e nove, eu fui dormir emburrado, pois estava colocando fé que com aquele time dava pra ser campeão. Mas sabia que a gente não podia perder aquele jogo. Eu deixei de acreditar assim como você está deixando de acreditar agora. No dia seguinte aquele jogo todo mundo disse: Já era! Mas vocês começaram a embalar. E a cada jogo que passava, eu me perguntava: será que vai dar? Você é o jogador mais forte que eu já vi jogar. Eu me lembro de que pisava na bola e a protegia com o corpo, e o zagueiro que trombasse contigo se dava mal. Você com a tua cabeçada, e o teu chute forte. Sempre a espera do próximo duelo, a gente começou a fazer as contas e a dizer que dava. Nunca valorizei tanto os minutos passados como naquela final. E cada um que passava me dava um alívio igual aquele vento que passa no rosto numa tarde de calor. Quando o juiz deu o apitou final e apontou o centro do campo, eu senti uma emoção que só havia sentido pela última vez naquele gol do Pet. Saí correndo portão afora, gritando de felicidade. Eu não acreditava mais na recuperação do Flamengo, e você me fez acreditar que a gente junto conseguiria. Espero que você agora aceite que eu te diga que você pode se recuperar. Não que a gente dependa de você, pois nós não podemos depender de jogador. Até porque o nosso time, é a nossa torcida, e não os nossos jogadores. E você criado no clube, sabe muito bem disso. Mas sim pelo que você já fez pela gente. É uma forma de gratidão. Por isso nós te aceitamos de volta. E tomara que você faça a sua parte. Não pela gente, mas por você mesmo, Adriano.

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