quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Marquise

A marquise fica numa esquina próxima a minha casa. Antes ali funcionava um bar onde um daqueles senhores portugueses que te olham por cima dos óculos ficava sentado o dia inteiro. Ele olhava as pessoas paradas no ponto do outro lado da rua. Esse era o seu passatempo. Analisar as pessoas. E talvez ele reparasse nas suas roupas ou para onde elas iam. E talvez ele traçasse até um perfil psicológico delas. Antes do bar fechar as portas, e esse senhor botar a viola dele no saco, os adolescentes ficavam ali parados a noite. Fumando maconha e fugindo do frio. Quem sabe até espantando alguém que quisesse se recolher da chuva. Ficavam ali e pareciam fazer questão que todo mundo visse que estavam fumando maconha. Eu passei a nutrir uma simpatia silenciosa por eles. Pois me lembram de uma adolescência longínqua. Andam dizendo que estão roubando. E se isso for verdade, daqui a pouco vão aparecer mortos. E será uma pena saber que eram apenas crianças que pularam a infância, e estavam brincando de herói. Como dizem os sociólogos em jornais de hora do almoço. Mas logo após o bar fechar e os adolescentes darem uma sumida. É impressionante, como rapidamente apareceram uns mendigos para se acolher. Como se na cidade não houvesse nenhum lugar vago. E muita gente precisasse apenas de um pedaço de concreto para se ficar embaixo.

2 comentários:

  1. Um verdadeiro escritor melhora seu trabalho a cada página escrita. Sem dúvida tu és um dos melhores que conheço. Parabéns!

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