segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Serendipitoso

Quando eu pergunto a ele: E aí, como tá? Ele diz: tudo bem como sempre. O cara já foi preso, e quando conta sobre a cadeia é sempre de maneira engraçada. Mesmo ao falar da surra que o apagou durante dias. Ele passou um tempo na solitária onde deixava a comida azeda para os ratos, e comia o resto para que não cismassem com a sua refeição ou com ele.  Tem pouco mais de trinta anos. Nunca perguntei por que foi preso. Provavelmente por tráfico.  Realmente não acredito que faria mal a alguém se não fosse para se defender. Um dia me disse: eu não sei andar na cidade direito, sempre vivi dentro de favela. Enrola mais um cigarro e fuma tranquilamente sentado num caixote. Tem uma barraca de frutas na feira da favela, e talvez seja a pessoa mais tranquila que conheço. Mora num quartinho minúsculo. Não tem os dentes da frente. E diz: volta aí pra trocar idéia. Não me impressiono com as suas histórias. E sim com o fato de se sentir seguro nesse mundo com quase nada.

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