segunda-feira, 18 de julho de 2011

Teto-Preto

Naquele dia faltou água na favela. A criançada tomava banho no chuveirinho. Uma menina gritou: mãe, eu não tô aguentando esse calor... eu vou meter minha cara no balde! Eu disse a ele: qual é cara, não anda com esse violão na capa não, que os caras vão pensar que é fuzil. Ele tirou o violão da capa e falou: você é muito medroso! Nós fomos para debaixo da escada. O Neguinho tava sentado no sofá com um sorriso congelado e no olhar serenidade como se aquele fosse o lugar mais interessante do mundo. Ele alcançou a iluminação. Entrei naquela nuvem de fumaça. Dois moleques chegaram. Um preto e um branco. Tímidos. Ele disse: esse cara fez aquele som que vocês gostam... Conversamos. Ele segredou: os dois maiores 157 da favela. Quando eu vi o Neguinho começando a se encurvar até tombar do sofá. Um bêbado gritou: teto-preto! As pessoas começaram a se aproximar. E aos poucos vieram os gritos. Teto-preto! Teto-preto! Parecia gol do flamengo. Gritando e dançando, todo mundo. 

Um comentário:

  1. "O verdadeiro escritor não tem nada a dizer. O que conta é o modo que ele diz."
    ( Alain Robbe-Grile
    Parabens pelo seu dia....

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