domingo, 1 de maio de 2011

Bullying

Enquanto ele caminha para a escola em que estudou, ainda vê as fezes nas lentes dos óculos, escuta a gritaria de alegria no banheiro e sente a água da privada batendo em sua cara. Ele ainda escuta as risadas de quando aquele menino preto entrou com uma peruca loura na quadra. O menino estava vestido igual à menina que havia marcado com ele. O rapaz ainda lembra como ficou preso na lata de lixo em que foi jogado. Ele não falava nada na escola. Ninguém falava nada com ele. Ele não tinha amigos. Ele não tinha namorada. Às vezes sumia por um ou dois dias e quando voltava se sentava no mesmo lugar. Um menino gordo tentou se aproximar uma vez, mas como não obteve resposta, desistiu, pois ele havia olhado desconfiado como se o gordo quisesse debochar dele. Uma vez no corredor ouviu uma menina dizer: deve ser viado! O médico disse: ele apresenta um quadro normal. O sacerdote na tevê: deus tem um propósito pra tua vida! E o herói na televisão: eu não descanso enquanto não vingar a morte da minha mulher! E uma vizinha que o assistia passar todo dia para comprar refrigerante: moleque esquisito, não fala com ninguém! No trabalho ele era calado e prestativo como diriam os colegas. O sobrinho disse que o tio era estranho e que quando ia a sua casa passava a maior parte do tempo na internet. Dentro da escola um homem do governo e de terno dava entrevista dizendo que a solução era diminuir o tráfico de armas. Do lado de fora um vizinho respondia ao repórter: ele era um cara normal. Normal.

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